sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo VI

- Meu grande amigo, vejo que algo muito sério está acontecendo. – concluiu Brett em tom sarcástico.
- O que quer dizer com isso? – perguntou Crow de cenho fechado, ainda a lembrar do olhar cheio de rancor de Ana.
- Jamais pensei em vê-lo apanhar de uma mulher e não apresentar nenhuma reação. Acho que essa rapariga conseguiu penetrar onde muitas já tentaram e nenhuma conseguiu...
- Sobre o que está falando, Brett? – indagou aborrecido.
- Sobre isto aqui, meu caro – respondeu batendo de leve sobre o lado esquerdo do peito de Crow. – Terei de cumprimentar a moça se ela conseguir realizar essa proeza.
- Não diga bobagens, Brett! – afastou-se mal humorado do companheiro pegando a luneta para mirar o horizonte e disfarçar o efeito provocado pelas palavras do camarada.
- Tomara que sejam bobagens... – divagou Brett, tornando-se subitamente sério. – Crow...
- O que você quer agora? – perguntou irritado sem olhar para o imediato.
- Ela é quem eu estou pensando?
Crow, ainda de costas, largou a luneta.
- Quem? – tentou fazer-se de desentendido, mas percebeu que Brett não poderia ser enganado por muito mais tempo.
- É ela, não? A filha do Duque de Vilardompardo e da inglesa... Por isso você a soltou da prisão e a trouxe para cá. Custei a acreditar, mas tenho percebido os cuidados que tem com ela. Depois do que vi agora há pouco, tive certeza. – O silêncio de Crow confirmou suas suspeitas. – A mãe sobreviveu?
- Não. – respondeu após alguns segundos de ponderação silenciosa. Não era justo manter segredo da situação com Brett. Ele vivenciara a ação de Drake e sua vida também fora marcada de certa forma por tais fatos do passado.
- Que tal conversarmos sobre isso?
Crow virou-se e o encarou de frente.
- Eu ia lhe contar quando chegássemos a Eleuthera.
- Não precisa explicar as razões. Apenas quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar. Sabe que tenho uma dívida com você...
- Não há dívida alguma, Brett.
- Nem culpas, suponho.
- Esse é outro assunto.
- Tudo bem... – Sabia que o tema culpa exigia mais que uma conversa superficial. Por isso não insistiu. – Agora, me conte essa história e me diga o que pretende fazer.
- É melhor manter essa conversa em sigilo. Vamos sair daqui. – Pensou em ir para sua cabine, mas ela estava ocupada pelo motivo da discussão. Por isso, rumaram para os porões. Talvez a sala de armamentos estivesse livre de intrusos.
Olharam para os lados enquanto se deslocavam para baixo, a procura de curiosos, sem saber que a revelação de Brett já tinha encontrado um bom e ganancioso ouvinte que passava sob a ponte minutos antes. Munido da valiosa informação, saíra sem que os dois amigos percebessem sua presença.

À noite, Crow manteve-se acordado por horas, andando no convés, adiando o retorno à cabine e o encontro com Ana. A conversa com Brett pelo menos o deixara mais seguro acerca de seus planos, mas não o fizera esquecer as sensações provocadas por Ana quando a beijou e que ainda faziam seu coração bater mais forte a simples lembrança.
Quando o sono se tornou um peso insuportável em suas pálpebras, resolveu ir para o pedaço de chão que sua cabine ainda lhe reservava. Certamente Ana estaria dormindo e não precisaria enfrentá-la. Na penumbra, onde apenas a chama fraca de uma lamparina ainda brilhava por trás do biombo que dividia o aposento, ele entrou e foi direto a procura de seu travesseiro e do lençol com que costumava dormir. Ao olhar para a cama, uma surpresa. Estava vazia. Lençóis intactos. Nem sinal de quem os utilizava nas últimas noites. De repente, entrou em pânico. Teria ela se jogado ao mar? Não seria louca a esse ponto. Estaria dormindo em um dos botes, arriscando-se a ser descoberta por algum marujo com na primeira noite? Mataria qualquer um que ousasse tocá-la, mesmo que isso significasse um motim. Olhou em todos os poucos cantos da peça e quando já pensava em sair e procurá-la no convés, viu um pequeno vulto a um canto, não percebido quando entrou, meio que sob a escrivaninha, enrodilhado em si mesmo, coberto por um cobertor. Tinha uma almofada sob a cabeça e sussurrava palavras desconexas que pareciam fazer parte de um pesadelo. Aproximou-se dela e confirmou que dormia, apesar de agitada por prováveis maus sonhos. Quase sem se dar conta, sua mão rumou direto para os cabelos avermelhados que se esparramavam revoltos sobre o travesseiro improvisado e o assoalho. Retirou uma das mechas que lhe caíam sobre a face. Movido pelo alívio de vê-la em segurança e pela necessidade de dar-lhe conforto, envolveu-a como a um bebê e levou-a para a cama. Imaginava que ideia infantil tinha sido aquela de dormir no chão, escondida. Sorriu ao ter esse pensamento, enquanto a carregava. Seu rosto podia sentir a respiração cálida e perfumada, agora mais tranquila. O pesadelo parecia ter chegado ao fim, pois ela suspirou aliviada na segurança de seus braços. Ao colocá-la sobre o leito, viu seu pescoço envolvido pelas mãos quentes e macias, insistentes em não deixá-lo afastar-se. De olhos fechados, Ana sussurrou seu nome de batismo.
- Nigel...
Ela ainda dormia, mas agora seu rosto expressava uma estranha paz e uma candura que fizeram de Crow prisioneiro. Relutante entre o desejo de beijá-la novamente e a improbidade deste ato enquanto ela se encontrava indefesa pelo sono, acabou por ceder ao primeiro, tocando de leve os lábios em sua face e arrancando-lhe um discreto gemido. Incentivado pelo doce gorjear de aprovação, continuou a roçar-lhe de leve a pele com a boca até chegar à região carnuda e rubra que tanto o atraía. Ali depositou o seu "durma bem" seguido de um casto beijo. As mãos o liberaram e, com a mesma expressão de tranquilidade, Ana virou-se para o lado e continuou a dormir, deixando Crow em estado de agradável transe. Em segundos, a sua voz interior voltou a ameaçá-lo, caso não parasse de se enganar. Ela está inconsciente, seu idiota. Provavelmente está sonhando com outro e você fica aí todo bobo, imaginando coisas. Vá dormir! Obediente, foi isso que ele fez. Seguiu para onde Ana dormira e lá se deitou, caindo no sono a sorver deliciado o cheiro que ela deixara na almofada e na coberta.

Ao abrir os olhos na manhã seguinte, Ana espreguiçou-se e constatou que a noite fora estranhamente repousante. Sentou-se confusa na cama, olhou em volta e só então percebeu onde estava. A tênue linha entre o sono e o despertar se quebrara e ela estava de volta à realidade. Como fora parar ali? Quem a levara para a cama? Perguntava-se, apesar de intuir a resposta. Pelo menos ainda continuava vestida, sinal de que ele não tentara nenhuma intimidade maior. Lembrou o pesadelo que tivera. Terrível, com perseguições, o rosto do horripilante Capitão Drake perseguindo-a, querendo jogá-la aos tubarões. A angústia de não ver saída e a certeza da morte certa. Também lembrou que alguém apareceu para salvá-la. Um homem saído da sombra de Drake. Um homem de cabelos negros, verdes olhos cativantes... Nigel... Parecera tão real... O toque dos lábios em sua pele... As lembranças da manhã do dia anterior confundiam-se com as sensações em seu sonho e o desejo por Crow percorria seu corpo como frêmitos incandescentes.
Levantou-se e, na ponta dos pés, foi verificar se ele dormia do outro lado do biombo. Constatou aliviada que estava só. Viu apenas a almofada e a coberta em que se deitara na noite anterior sobre a cadeira junto à escrivaninha. Voltou ao quarto e viu a jarra com água limpa e uma muda de roupa sobre os pés da cama. Por que ele tinha que ser tão gentil? Culpa? Sua suspeita de que ele a conhecera no navio de Drake era cada vez mais forte. Quem era esse homem? Por que ele lhe despertava sentimentos tão ambíguos? Por que não conseguia parar de pensar nele e em seus beijos? E se ele realmente fosse parte daquela tripulação que vira sua mãe e ela serem jogadas ao mar e nada fizera para evitar? O que faria com tudo o que estava sentindo se isso fosse verdade? E se... Perguntasse a ele?

Os dias seguiram calmos para a navegação. Ana às vezes ia até o convés para respirar um pouco de ar fresco. Nessas horas, Brett a acompanhava de perto, a pedido de Crow. Aos poucos ela parecia estar se adaptando à vida no navio e perdendo um pouco de seus medos. Por sua vez, Crow sempre dava um jeito de manter-se ocupado, longe dela e seus passeios a bordo. Era à noite que ele, depois de fazer sua ronda noturna, que acabara por tornar-se um hábito, entrava na cabine, certificava-se que ela dormia e ficava a admirá-la em seu sono durante uns poucos minutos. Em alguns desses momentos, Ana apenas fingia estar dormindo. Sentindo a presença de Crow, no início, esperava que ele tivesse uma atitude condizente com sua condição de pirata. Poderia atacá-la, vingar-se da bofetada que recebera, humilhá-la ou, quem sabe, acabar com o serviço que Drake iniciara, jogando-a para fora do Highlander. Porém, nada disso ele fazia. Ao contrário de qualquer expectativa, ele apenas a olhava. Podia sentir sua respiração acelerada, o calor de sua pele a medida que ele se aproximava da cama, o perfume natural de sua transpiração que provocava seu desejo de esconder-se naquele peito amplo e forte. Lutava contra a vontade de abrir os olhos e chamá-lo para junto de si.
Numa dessas noites, foi derrotada pela luxúria e acabou por denunciar-se ao abrir os olhos para vê-lo. Pego em flagrante, tentou disfarçar.
- Pensei que estivesse dormindo... Precisa de algo? – dissimulou com voz rouca e tensa.
- Não... – Sim, pensou.
- Então... Boa noite. – ...Por que eu terei outra noite infernal..., pensou ele.
Com um peso em seu peito e um nome na ponta da língua, ao sentir que ele a deixaria, não suportou.
- Nigel...
A voz saíra como um doce sussurro que o fez estremecer.
- Sim? – Permaneceu parado, tentando evitar o olhar de Ana, numa demonstração de embaraço que a excitou ainda mais.
- Quero me desculpar pelo que fiz no outro dia.
- Pelo o quê?
- O tapa que dei no seu rosto.
Um sorriso tímido surgiu na penumbra do quarto.
- Acho que mereci por ter agido como um canalha.
- Você não agiu sozinho... – Sentia a pele de seu rosto arder em brasas e o corpo reagir à proximidade dele.
A necessidade imperiosa de tocá-lo a fez sentar-se na cama. Antes que se colocasse de pé, ele se ajoelhou ao seu lado e pegou sua mão.
- Eu não sou digno de você... – Ondas de verde intenso a envolveram e sua mão foi pousar sobre a face que antes ela agredira.
- Nigel... – Irresistivelmente atraída aproximou os lábios da barba macia que cobria a expressão embevecida dele.
Digno ou não, ele não pode conter a vontade de beijá-la ao sentir aquele toque e ao ouvir a voz que tornava seu nome em melodia. Mais uma vez, como magnetizados por um potente imã, entregaram-se numa ânsia voraz ao desejo de sentirem mais uma vez o gosto e o calor um do outro. Logo, os beijos já não eram mais suficientes para lograr a cobiça. As mãos de Crow buscavam sentir a maciez dos seios de Ana sob a camisa de algodão, enquanto ela gemia agarrando-se às espáduas musculosas e suadas, puxando-o contra si. Logo estavam deitados sobre a cama e os dedos de Ana buscavam os botões da camisa de Crow. Necessitava senti-lo de forma mais completa. Quase gritou de prazer quando ele beijou e mordiscou seus seios, um a um. Foi quando sentiu algo duro e pulsante sobre sua coxa. Então, surgiu o medo. Já ouvira coisas terríveis a respeito das relações entre homens e mulheres. Nunca tivera quem lhe explicasse como isso ocorria. Já ouvira falar na dor e nas sensações desagradáveis que um homem poderia provocar em uma mulher, da boca de prostitutas. Era difícil imaginar que aquilo que estava sentindo naquele instante pudesse levar a algo tão ruim. Entretanto este pensamento a resfriou e a fez pensar em uma pergunta.
- Nigel...
- Sim...? – respondeu enrouquecido quando passava a língua em torno do mamilo esquerdo.
- Diga que você não estava no navio de Drake naquele dia...
Como se a lâmina de uma guilhotina o partisse em dois, ele fechou os olhos por alguns instantes, sentindo o amargor de ter sido descoberto. Lentamente, voltou a cobrir os seios de Ana com a camisa e levantou-se, como se carregasse o mundo nos ombros.
- Infelizmente, Ana... Não posso mais mentir para você..., apesar de saber que vai me odiar por isso. Sinto muito... – conseguiu responder, intimamente recriminando-se pela insensatez de seus atos momentos antes. Aturdida pela confirmação de suas suspeitas e sem forças para reagir, permaneceu deitada, ainda com o rosto afogueado, encolhendo-se sobre si mesma, maldizendo sua pergunta e o destino que permitira que sua vida cruzasse mais uma vez com alguém de um passado que ela desejava de todas as maneiras esquecer. As lágrimas rolaram livres em seu rosto assim que Crow saiu em triste silêncio e a porta da cabine se fechou.

(continua...)


Essa dupla dá um trabalho que vocês não imaginam... Não sei quanto tempo ainda eles vão ficar nessa situação aflitiva. Para que vocês entendam um pouco dessa culpa do Crow, que às vezes parece meio absurda, temos que lembrar que ele já alimentava a culpa de outra morte no seu belo inconsciente. A de sua mãe. Lembram? Por isso o desespero para ajudar aquela outra mãe e sua filha e a culpa sentida por algo que estava totalmente fora do seu controle. A mente das pessoas pode ser bem complicada, não acham?
Bem, espero voltar com mais emoções em breve.
Beijos!!

5 comentários:

  1. Adorei, o capítulo de hoje, ai achei que fosse enfim rolar alguma coisa mais hoje, nossa como esse povo enrola!! eheheh
    Acho que ele deveria contar de uma vez pra ela o que aconteceu no navia quando Ana e sua mãe foram jogadas no mar. E dai ela própria tiraria sua conclusões.
    Sei que é preciso esse desencontro para que o final seja maravilhoso, só que a ansiedade me mata!!!

    Adorei td hoje!!!
    Beijos Enormes, vc acredita que já até pensei em uma capa para o seu livro?!! minha mente voa, não consigo controlar!!
    Beijokas enormes e bom final de semana Rose. *-*
    Brih
    Meu Livro Rosa Pink

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  2. Ai Rô, sinto cada vez mais dó do Nigel tadinho... tanto sentimento de culpa por situações que independeram dele, mas imagino como ele deve se sentir, o medo do ódio que ele pensa que ela vai sentir deve ser maior que qualquer racionalização.
    Adoro esse jeito cavalheiro dele, tão romântico...., é um mundo totalmente irreal e é por isso que gosto tanto dele, acredito que seja uma parte de você exposta em palavras, como também foram outros de teus romances e adoro cada um deles, nossas obras são feitas à nossa imagem e semelhança não é? Acho que já li esse termo antes, rsrsrss.
    Estou louca pra ler a continuação e super ansiosa pelo fim de todo sofrimento que foi a vida deles.
    Beijos amiga!!!!

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  3. Adoro esse encantamento que vc traduz nos relacionamentos entre um homem e uma mulher, é uma delícia de ler e de ficar se imaginando na cena.
    Sabe, Rô, eu acredito que essa coisa de culpa faz parte do ser humano. E quanto mais sensível, mas parece que essa coisa danada se manifesta.
    É que a vida é complicada, as vicissitudes vão se intercalando e, por mais que possamos fazer, sempre há espaço para algo que poderia ter sido feito ou que deveria ter sido feito de outra forma melhor. E aí vem a culpa. E a culpa vai minando os pensamentos até que acaba por tolher as nossas ações. Isso é perigoso, é preciso controlar os pensamentos, afastá-los e perseverar no que pode ser feito.
    E no caso do que o Nigel passou, de ter visto o destino cruel das mulheres, sem poder ajudar, é muito duro. A injustiça, a impotência é algo que machuca demais.
    E a Ana acabou por fazer a fatídica pergunta naquela hora tão boa porque estava com um misto de sensações: paixão e medo. Então, a grande questão veio a sua cabeça e ela teve que expor, o que acabou esfriando o relacionamento.
    Contudo, acho que foi bom, pois é melhor as coisas se esclarecerem primeiro para depois continuar a tão esperado entrelaçamento de corpos e almas...
    Tô amando o romance, Rô! É tão lindo, tão cheio de encantamento!
    ♥Beijinhos♥

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  4. Olá Rosane, tudo bem com você?
    Olha adorei esse capítulo, o que o Crow está sentindo pela moça é muito bom né...essa sensação, o coração acelera quando agente tá com quem gosta...e quando beija então vixe falta sair pela boca...rsrsrsrrs
    Parabéns pelo capítulo de hoje...

    Beijoss

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  5. Ufa depois de muito me abanar, vamos lá a esse casal de causar inveja colorida com tamanha pegação de categoria... pena q as lembranças do passado e as interrogações de ambos atrapalhe. ficaremos aqui na expectativa desse desenrolar.

    * * *Beijão* * *

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