sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo III




Dois sujeitos andavam abraçados pelas redondezas da casa de detenção de La Rochelle, aparentando adiantado estado de embriaguez. Cantavam músicas populares entre os grumetes e riam de piadas sem graça. Já passava das nove horas da noite, quando, na rua defronte à prisão, surgiu um soldado levando um prisioneiro pelo braço. Bateu no portão de madeira, chamando a atenção do vigia.
- Abra! Trago um prisioneiro! – ordenou a voz grave e firme.
- A essa hora? – objetou o guarda sonolento olhando pela pequena abertura gradeada do portão, tentando visualizar o colega fardado que lhe dava a ordem.
- Ordens do Chefe Menotté – complementou em voz baixa sob a sombra de seu chapéu.
Ao ouvir aquele nome, as dúvidas desvaneceram-se no ar e o portão imediatamente foi aberto.
- Didier? – admirou-se o vigia, permitindo a entrada dos dois. – O que você aprontou dessa vez? Veio fazer companhia para sua filha?
O outro permaneceu mudo e cambaleante.
- Podemos acabar logo com isso? Quero voltar para meu posto na residência do Chefe – disse o soldado novato.
- Eu nunca o tinha visto por aqui... Veio de Bordéus acompanhando Monsieur Menotté? – Acenou enquanto passavam pelo segundo vigia noturno e caminhavam em direção aos fundos da construção onde ficavam as oito celas do município, sendo que apenas uma estava ocupada naquela noite.
- Sim, mas provavelmente eu volte para Bordéus – falava naturalmente enquanto os olhos observavam um vulto que se movera dentro de um dos cubículos.
Quando o guarda tentava abrir a cela onde ficaria Didier, o auxiliar de Menotté desferiu um golpe com o cabo de sua espada, sobre a cabeça do pobre homem, deixando-o desacordado. Imediatamente pegou o molho de chaves que ele deixara pendurado na fechadura e correu para onde Marie estava encerrada. Enquanto isso, Didier colocava o guarda dentro da cela que anteriormente seria dele.

Didier
- Didier! O que é isso? Quem é esse soldado e para onde vão me levar? – indagou Marie, encostando-se na parede ao fundo, incerta do que estava ocorrendo.
- Não acha que faz perguntas demais para quem está prestes a perder a cabeça?
- Você de novo? – perguntou espantada com a presença do homem que a perseguia há dois dias. – Onde conseguiu essa farda?
- Peguei emprestada. – respondeu irreverente. – Vamos sair daqui antes que o outro idiota venha saber por que estamos demorando tanto. – Vendo Marie imóvel, tratou de puxá-la pelo braço para fora da cela. Ela o seguiu sem resistência.
- Remi? – gritou o outro soldado preocupado com a demora – Algum problema por aí?
- Não houve nada! O prisioneiro apenas vomitou! – respondeu Crow, fazendo com que ele desistisse imediatamente de verificar a situação do colega de turno.
Marie não pode deixar de rir e admirar a presença de espírito de... Como era mesmo o nome dele?... Nigel... Por que ele lhe parecia tão estranhamente familiar?
Crow trancou a cela em que Didier colocara Remi, que ainda estava desacordado, e partiram para a segunda parte do plano.
- O que deu em você para se unir a esse maluco e tentar me salvar? – sussurrou Marie a Didier, intrigada com a súbita nobreza de seu pai adotivo.
- Afinal você é minha filha querida... – redarguiu o velho oportunista com voz melosa.
- Quanto está pagando para esse fingido ajudar você? – Dessa vez a pergunta sussurrada foi para Crow.
Antes de obter resposta, ouviu uma série de batidas no portão da frente.
- Agora vamos todos para a guilhotina. Que ótimo! – suspirou Marie.
- Será que não consegue ficar de boca fechada? – reclamou Crow irritado, tentando ouvir o que se passava na sala da frente.
- O que querem aqui? Vão já para suas casas ou vou dar voz de prisão para os dois!
- É agora! Esperem aqui até eu mandar o contrário... – ordenou Crow e andou até a saída do calabouço atento ao que ocorria por lá.
Sumiu pela porta, deixando Marie inexplicavelmente aflita.
Ela não se conteve e foi logo atrás dele em tempo de ver o guarda cair ao chão desacordado depois de levar uma paulada na cabeça desferida por Crow. Viu espantada quando ele abriu a porta e cumprimentou alegremente a dupla de bêbados que havia chamado a atenção do agora inconsciente vigia.
- Conseguiram os cavalos? – perguntou.
- Estão aí fora. Vamos levar os dois? – indagou apontando para a dupla de marginais. Marie já tinha escondido a cabeleira sob seu gorro e parecia mais uma vez um menino.
- Peter, você fica na retaguarda e o velho vai com Sam. Eu levo o... "garoto". – comandou dando uma olhadela para Marie, que continuava desconfiada daquela ação toda para salvá-la. Nunca ninguém tinha se arriscado por ela, a não ser seus pais. Todos os outros que se aproximaram tiveram o intuito de aproveitar-se de sua situação. Com este Nigel não seria diferente. Se ele pensa que vai ficar mandando em mim... Seu pensamento foi interrompido quando sentiu o a mão de Crow em torno de sua cintura puxando-a para fora da Casa de Detenção.
- Melhor corrermos antes que a dupla aí dentro dê o alarme. – explicou Crow.
Três cavalos selados os aguardavam na rua. Marie foi erguida do chão com facilidade por Crow, e posta sobre o cavalo, rapidamente seguida por ele, que sentou atrás e tomou as rédeas. Mal ela teve tempo de reclamar da posição incômoda sobre a montaria, espremida contra o corpo de Crow, que a mantinha presa pressionando sua cintura com um dos braços. A sua frente, Sam já galopava com Didier agarrado a sua cintura. Peter e Crow os seguiram a toda velocidade.
- Ei! Nossa casa não é por aqui! – observou ela.
- E quem disse que vou levá-la de volta para aquela pocilga?
- Posso saber para onde estamos indo?
- Logo saberá e posso assegurar que será para um lugar muito melhor.
- Acho que não quero apostar sobre isso. – Mal acabou de falar, começou a lutar para se desvencilhar do abraço de Crow em plena cavalgada.
- O que está tentando fazer? Vai jogar a nós dois no chão, sua retardada!
- Não fale comigo desse jeito! Pare esse cavalo agora mesmo!
A resposta de Crow foi o aumento da pressão de seu braço sobre a delgada cintura de Marie, que passou a ter dificuldades em respirar.
- Está me machucando!
- Então fique quieta!
Em alguns minutos chegaram à orla onde o Highlander estava ancorado. Um bote já esperava para levá-los a bordo.
- Você não me disse que sua casa era um navio! – reclamou Didier.
- Eu não vou entrar em navio nenhum – Marie estava paralisada sobre a sela, com as mãos crispadas a ponto de os nós dos dedos embranquecerem.
Crow desceu do cavalo e, mesmo na penumbra da noite, sentiu o medo na voz e na postura de Marie.
- Não precisa ter medo. Confie em mim... – Tentou acalmá-la, imaginando o trauma que uma viagem marítima deveria representar para ela.
Marie olhou petrificada. Um fio de voz saiu de sua garganta.
- Por que eu confiaria em você?
- Um dia terá que voltar a confiar em alguém... Talvez seja esta a hora...
Por um momento ele pensou que a tinha convencido. Ofereceu sua mão para ajudá-la a descer do cavalo, mas inesperadamente ela golpeou a barriga do animal com os pés e este disparou. Crow, que ainda segurava as rédeas, foi arrastado. Felizmente conseguiu engatar o pé esquerdo no estribo e montar, assumindo novamente o controle da montaria, para total indignação de Marie.
Sem falar nada, pois começava a ficar realmente zangado com a jovem, voltou para o bote, obrigou-a a descer, apesar de ela lutar contra isso. Sem cerimônia alguma, agarrou-a e jogou-a sobre as costas como se fosse um saco de batatas. Um saco muito desbocado e de modos bastante agressivos.
Crow sentou-a ao seu lado no escaler. Sentiu que ela tremia junto ao seu corpo e se sentiu um crápula por estar obrigando-a a passar por aquela situação. Abraçou-a com força. Gostaria de apagar de sua mente todo o horror e sofrimento que enfrentara desde que a vira na última vez há dez anos. À medida que o barco se afastava da praia, mais ela se encolhia junto a ele, escondendo o rosto em seu peito. Uma ternura que desconhecia até então, tomou conta dele. Naquele instante, jurou para si mesmo que não deixaria nada de mal acontecer a ela e que a levaria de volta à sua família. Sam e Peter começaram a desconfiar que o rapaz de voz fina e silhueta delicada que acabavam de salvar da prisão não era o que aparentava, mas se mantiveram calados.
Já tinham remado para longe da praia cerca de vinte metros, quando ouviram tiros de arcabuzes vindos da beira-mar. Um grupo de soldados chegara a tempo de vê-los embarcando e começaram a atirar. Por sorte, a escuridão da noite serviu para piorar o suficiente a pontaria deles, de forma a não conseguirem atingir ninguém. O grupo fugitivo logo alcançou o Highlander. Com alguma resistência, Marie aceitou a ajuda de Crow para embarcar e quando passou os olhos sobre a tripulação entendeu quem ele era de verdade.
- Você é um pirata?
- Ora, ora... Então somos colegas de profissão e eu não sabia... – sugeriu Didier ironizando.
- Tem algum problema com isso? – perguntou a ela, ignorando o comentário de Didier.
- Olha, sou grata por ter me livrado da prisão...
- E a mim, você não é? Também arrisquei o meu pescoço por você... – interferiu o "pai".
- Não entendo nem quero saber os motivos que o fizeram arriscar o pescoço essa noite por mim. Só quero deixar bem claro que não vou a lugar algum com você.
Ele a encarou calmamente, estudando a figura delgada, vestida como um rapazinho, com a cabeleira ruiva escondida pelo barrete de tecido puído e o rosto de feições delicadas sujo de fuligem e terra.
- Brett! Zarpar! – ordenou ao seu imediato, que apenas aguardava sua ordem para içar velas.
- Com prazer, Crow! – respondeu satisfeito. – Vamos embora, homens! Içar velas! – Logo em seguida, baixando o tom de voz, perguntou afetadamente a Crow – Posso saber a direção, senhor?
- Para a baía de Cádiz.
- Mas, capitão... Espanha? Não é muito arriscado?
- Crow? Espanha? – questionou a nova passageira espantada – O seu nome não é Nigel? Não ouviu quando eu disse que não vou a lugar algum com você?... Muito menos à Espanha!
Antes que Crow pudesse responder, Marie jogou-se da amurada do navio para as águas escuras do Atlântico.
- Homem ao mar! – gritou Brett.
- Já estou começando a perder a paciência... – disse Crow irritado enquanto tirava a túnica de couro e a camisa para se lançar atrás dela. – Dê-me uma corda! Rápido! Puxe-nos assim que eu conseguir agarrá-la.
- Agarrá-lA?... Então é uma garota? – perguntou sorrindo o imediato.
- Você está sendo muito otimista, Brett. – disse enquanto amarrava a corda a cintura. – Puxem quando eu mandar! Siga o curso! – ordenou pouco antes de atirar-se na mar gelado.
Podia ver Marie debatendo-se nas ondas. Ela não sabe nadar?, perguntou-se quando a viu desaparecer. Acelerou as braçadas para alcançá-la mais rapidamente. Conseguiu segurar seus braços tão logo ela voltou à superfície, tossindo e agitando-se desesperadamente.
- Pare! Deixe que eu a leve para fora!
- Me larga! Prefiro me afogar a seguir para a Espanha com você!
Sem lhe dar ouvidos, Crow usou da força para contê-la em seus braços.
- Puxem! – gritou.
Os homens puxaram o casal até que eles estivessem a bordo novamente. O Highlander já se afastava da enseada a grande velocidade. O gorro de Marie havia sido perdido e seus cabelos abundantes e avermelhados caíam molhados sobre seus ombros. A camisa que usava estava colada ao corpo deixando em evidência os seios empinados.
- Você é louca? – exclamou Crow, percebendo os olhares de alguns de seus homens sobre Marie.
- Louco é você! Por que está fazendo isso?
Preocupado com a platéia que ouvia a discussão entre eles e antecipando que o teor do que tinha a conversar com Marie era altamente perigoso naquele meio, simplesmente libertou-se da corda e a pegou pelo braço.
- Venha comigo! – falou com rispidez, puxando-a a contragosto rumo a sua cabine.
Didier fez menção de segui-los, mas logo foi coibido por Crow.
- Você, fique aqui. – lançou um olhar de tal forma furioso que Didier não pensou em contradizê-lo. – Sirva uma caneca de rum para ele, Brett. – falou logo em seguida. Afinal o velho larápio os tinha ajudado na fuga da prisão.
- Em primeiro lugar... – disse, mal tinham entrado no camarote. – É melhor tirar essas roupas molhadas antes que pegue uma gripe e morra antes de eu a entregar ao seu tio.
- Tio? Do que é que está falando?
Sem responder, foi até um armário de onde tirou algumas roupas secas. Separou uma calça justa e uma camisa branca, olhando para ela e para o traje alternadamente como se a imaginando dentro daquelas roupas que certamente eram muito maiores que ela, já que eram suas.
- Vista isso! Pelo menos até chegarmos em Cádiz e eu comprar alguma coisa mais adequada para você.
- Você é surdo? Fiz uma pergunta!
- Vai tirar sua roupa ou vou ter que eu mesmo fazer isso.
- Você não se atreveria... – disse dando um passo atrás e colocando os braços cruzados protetoramente sobre os seios.
Sua face agora estava livre da sujeira e Crow pode ver seus belos e nobres traços. À luz dos lampiões da cabine, os grandes olhos castanhos revelavam feixes dourados que se irradiavam na íris. A boca de lábios carnudos e insinuantes enfeitava o rosto oval e delicado. Uma ponta de desejo atingiu-o na boca do estômago e um pouco mais abaixo.

Marie/Ana
- Não duvide disso... – provocou-a. – Se preferir trocar-se sozinha tem um reservado bem ali. – falou indicando um biombo de madeira que usava para dividir o ambiente em gabinete e quarto.
Pegou duas toalhas. Jogou uma delas para Marie, que a pegou por reflexo, enquanto a outra passou a usar para secar seu próprio corpo.
Por sua vez, ela nunca tinha estado com um homem de maneira tão íntima. Fascinada, passou a olhar para os músculos que se sobressaiam nos ombros e braços a cada movimento dele. No peito amplo, pelos escuros emaranhavam-se e partiam numa tênue linha, através do abdômen rijo, até ressurgirem em torno do umbigo voltando a descerem e desaparecerem sob o cós das calças que ele vestia.
- E então? Vou ter que despi-la? – perguntou ele com a voz ligeiramente rouca.
Como se acordada de um sonho, Marie pigarreou e correu para trás do biombo indicado. Ele sorriu à sua passagem e tratou de tirar as calças. Distraído, não reparou os olhos dourados e curiosos à espreita, atrás da divisória. Marie não resistindo à tentação de ver um homem nu pela primeira vez, se deliciou ao vislumbrar coxas e glúteos firmes e musculosos. Viu também cicatrizes em suas costas, que provavelmente haviam sido feitas por um chicote. Quase sem fôlego, tratou de se despir e vestir rapidamente a roupa seca, antes que ele quisesse verificar se já estava pronta. A calça ficou larga e muito comprida, bem como a camisa. Sentia-se boiando ali dentro.
- Tem algum cinto para que eu possa prender essa calça?
- Aqui está. – disse ele, depois de alguns segundos, alcançando-lhe um bonito cinto de couro, com uma fivela prateada finamente trabalhada, que conseguira em um dos saques a um navio francês.
Marie olhou-se no espelho que havia na parede oposta ao biombo e até gostou do resultado final. Sacudiu os cachos vermelhos que já começavam a ficar secos e prendeu-os com uma fita que carregava no bolso de sua calça molhada.
- Já posso sair? – perguntou com receio de pegá-lo ainda "desprevenido".
- Esteja à vontade, senhorita.
Quando ela surgiu, ele não pode deixar de rir. Parecia uma menininha brincando de vestir as roupas do pai. Ele já estava com outra calça, uma túnica de camurça escura sobre a camisa branca e acabava de fechar um cinto largo de couro sobre o conjunto.
- Está rindo do quê? – reclamou enfurecida. – Assim que minhas roupas estiverem secas poderei parar de bancar a palhaça.
- Você não parece uma palhaça. Na verdade ficou muito bem nessas roupas. – elogiou, mas não deixou de rir novamente. – Mas se fosse você, não sairia dessa cabine. Meus homens não vão resistir e tentarão seduzi-la.
Brincava para disfarçar seu próprio desejo. Ele não tinha o direito de seduzi-la. Certamente ela o odiaria, caso soubesse que ele era o imediato de Draco e que nada havia feito para evitar o que aconteceu com ela e sua mãe.
- Agora, vamos conversar sobre meu desembarque na próxima parada ainda dentro da França. – falou determinada.
- Acho que não ouviu direito a minha ordem. Estamos a caminho de Cádiz, na Andaluzia, onde vive o seu tio, senhorita Ana de Villardompardo.
A expressão de Marie anuviou-se com uma expressão de medo e incerteza.
- Não entendo a que está se referindo, capitão Crow – disse enfatizando seu nome pirata.
- Tenho certeza que me entende, Ana. Tenho informações suficientes para crer que você é a filha do Duque Ramon de Villardompardo, que foi perdida quando tinha dez anos após um ataque ao navio que os levava para a Inglaterra.
Ela engoliu em seco a informação e desviou o rosto para que ele não visse seus olhos marejarem.
- Então é isso... Acha que sou filha de um duque e pretende lucrar um belo e gordo resgate... – concluiu um pouco decepcionada.
- Se quiser, pode pensar o que quiser. Pretendo levá-la de volta à Villardompardo para que recupere seu título de nobreza e sua herança. Tenho certeza que seu tio será generoso. – Talvez fosse melhor que ela pensasse nele como um reles interesseiro.
- Com um inglês? Esquece que Inglaterra e Espanha estão em guerra?
- Eu não tenho pátria há vários anos. Não me considero mais um inglês.
- Mas esse Villardompardo pode não aceitar a sua condição de apátrida.
- Não mude de assunto. Por que está negando suas origens?
Ela emudeceu, pensando em como ele conseguira aquelas informações. Didier não sabia sobre sua ascendência. Podia desconfiar, mas acreditava que ela havia perdido parte da memória e que não lembrava exatamente quem era. Como faria aquele pirata desistir de levá-la para Villardompardo, onde certamente seria jogada numa masmorra e morta. Tinha que tentar convencê-lo de que não era quem ele pensava.
- E então? Imaginando uma história para que eu mude de ideia? Vai me dizer que não é Ana de Villardompardo?
- Quem me dera ser uma rica e nobre senhora... Acha que eu não aceitaria voltar para casa?
- Não tente me enganar... – Ele começava a ficar confuso com a recusa dela em reconhecer sua verdadeira identidade e voltar para a Espanha. – Ou existe algum motivo para não voltar para sua casa? – De repente lembrou-se que eles rumavam à Inglaterra quando foram presos por Drake. Estariam fugindo de alguém? Notou que Marie ficou ansiosa com sua pergunta, apesar de tentar esconder este sentimento.
- Você está enganado, Capitão Crow. Infelizmente eu não sou essa tal de Ana de Villar... Sei lá o quê...
Então ele se aproximou dela e inesperadamente colocou a mão em sua nuca. Marie tentou afastá-lo com as mãos, empurrando seus ombros, certa de que ele queria abusar dela, visto que não possuía mais valor para um resgate. Porém, ele continuou seu cerco de forma determinada, mas suave, deslizando a mão em direção a raiz de seus cabelos, provocando-lhe um estremecimento e uma sensação de torpor. Aos poucos a obrigou dobrar o pescoço, para então levantar seus cabelos e deixar a mostra a mancha cor de café em forma de coração que trazia na nuca. Marie arfava e sentia como seu coração fosse saltar de seu corpo. Desconhecia tal reação diante do toque de um homem.
- Por que não quer voltar para a Espanha, Ana? – disse soltando a cabeça da jovem, que não conseguia encontrar a voz para rebater a nova investida na história que não queria revelar. – Por que estavam fugindo de lá quando Drake os abordou?
- Por que insiste nessa história? – virou-se de costas para ele tentando esconder a irritação e a vergonha que sentia por ter gostado do "carinho".
- Ana... Eu quero apenas ajudá-la... Acredite em mim.
Mais uma vez uma voz relutante em seu coração dizia que devia confiar naquele homem, apesar da razão ser contrária a qualquer trégua.
- E se eu disser que está certo e que sou Ana de Villardompardo, promete que não me levará para a Espanha? – continuou virada de costas, com medo de estar abrindo seu coração para a pessoa errada. Esteve por tantos anos com esta verdade enterrada com suas lembranças, juntamente com a dor de ter perdido os pais precocemente e de formas tão abomináveis, que lhe era muito difícil falar agora.
Crow colocou as mãos sobre seus ombros e virou-a delicadamente. A seriedade contida em seu olhar fez Ana estremecer mais uma vez.
- Dê um motivo para não levá-la de volta ao irmão de seu pai.
- Eu não quero morrer... – respondeu com a voz embargada, deixando-o surpreso com o motivo apresentado.
Quando pensava em aprofundar sobre a causa desse medo, ouviu uma batida nervosa na porta.
Era Brett com ar aflito.
- Precisamos conversar, Crow.
Ele pediu licença a Ana e saiu com seu imediato.
- O que está havendo?
- São os homens. Eles não ficaram nada contentes em saber que vamos mudar nosso curso original. Estou com medo de um motim.
- Eles não fariam isso...
- Já são quase três meses navegando. Já fizemos saques e armazenamos mantimentos suficientes para abastecer a vila e nossos cofres por um bom tempo. Eles precisam desse descanso, nem que seja por alguns dias. Temos que voltar para Eleuthera o quanto antes.
Crow pensou um pouco, concordando com seu "braço direito". Depois de sua conversa com Ana, talvez este fosse um bom motivo para voltarem à rota inicial.
- Pois bem... Diga a eles que aceitei seus motivos e decidi retornar a Eleuthera. Espero que essa notícia os torne satisfeitos.
- Certamente será uma excelente notícia, capitão. – afirmou sorridente, mostrando-se igualmente satisfeito com a volta do bom senso de seu comandante. – Acho que seria melhor ainda se você mesmo desse a notícia.
Do outro lado da porta, Ana suspirou aliviada ao saber que Crow desistira de ir à Espanha. Agora só precisava dar um jeito de voltar à França. Teria que engolir seus medos e enfrentar as consequências. Não podia confiar sua vida nas mãos de um pirata. Já ouvira muitas histórias sobre eles. Seria muito boba se depositasse sua confiança em um deles só por ele ser extremamente charmoso e envolvente. Provavelmente esta fosse apenas uma fachada para enganar jovens donzelas. Ela não se deixaria enganar. Há muito tinha deixado de acreditar nos homens, quanto mais em um pirata.

(continua...)

Feita a nova postagem do meu corsário e meu primeiro dia de férias. Duas razões para entrar no final de semana feliz da vida, não acham?
Não tive tempo de agradecer aos comentários da última postagem, mas saibam que adorei todos. Muito obrigada! Fico muito contente em saber que o meu Crow e a sua aventura foram bem recebidos.
Um grande beijo a todos vocês que me acompanham! 


7 comentários:

  1. Rosane: estou adorando cada postagem... Esse pirata é um ladrão de corações, isso sim!
    Parabéns! Não me canso de elogiar sua iniciativa, amiga.
    REcebi seu e-mail e em breve responderei.Bjos!

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  2. Oiii Rô!!!
    Amiga, o romance tá cada vez mais envolvente, que plano mirabolante o da fuga, adorei.
    E os sentimentos que estão surgindo, sei não mas acho que essa aventura vai ser uma daquelas que faz o coração ficar apertadinho, de alegria, de tensão e de outras coisitas, rsrsrsrs.
    Estou tão curiosa pra saber o que fez com que Ana e sua família fugissem, a causa desse medo dela, mas o que mais me deixa na expectativa é como ela vai encarar o fato de o Crow ter estado presente no navio responsável por tanto sofrimento.
    Beijosss amiga e parabéns por mais esse romance lindo!

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  3. Ai, meu Deus, um lindo cavaleiro veio salvá-la, a agarrou pela cintura para colocá-la em seu cavalo...
    Amiga, que posição incômoda, que nada! “espremida contra o corpo de Crow, que a mantinha presa pressionando sua cintura com um dos braços” – depois dessa, tenho que me abanar!!! Que caloooooooooooooorrr.....
    Coitada da Ana, dá para imaginar o pânico em entrar no navio. Acho que qualquer garota só voltaria a entrar um navio se fosse realmente empurrada ou arrastada, ainda mais diante do convite de um desconhecido, pois certamente ela poderia ter o mesmo destino que teve quando era ainda criança. Certamente, não ficou apenas com medo, ficou em pânico!
    Oh, amiga, mas a Ana tinha que ser tão bonita assim?! Desse jeito, as minhas chances são zero... oh dó... hihihi
    O problema de ver um corpão como o do Crow é que, depois de se ver uma vez, a pessoa vai querer ver sempre... ooooobaaaaaaaaaaa...
    Pelo visto os problemas da Ana começaram bem antes do seu navio ser atacado, estou curiosa para saber os detalhes que a levaram para tão distante de sua terra. E ela está certa em se precaver não revelando a sua história inteira, pois quem já passou por tantos percalços como ela, sabe que as pessoas maldosas sabem se mostrar ‘boazinhas’ para conseguirem o que desejam. E ela ainda não conhece as intenções reais do nosso gostosão...
    O conto está uma delícia de se ler, Rô!
    Beijinhos

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  4. Esqueci: desejo-te ótimas férias!
    Descanse, relaxe, divirta-se muito!!!
    Beijinhos

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  5. Meu Deus como tem mocinha burra, eu no lugar dessa Ana já tinha agarrado o Nigel e feito dele sopa de pirata! kkkkkk
    To Adorando a história!!
    Beijos
    Brih
    Meu Livro Rosa Pink

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  6. Essa pegada do Crow, somando a sua coragem de pirata deixa qualquer mulher de estruturas ameaçadas de deslizes... ploft

    * * *beijão* * *

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  7. Rosane, estou adorando essa história. Esse pirata é demais!!!
    Me lembrou o livro Amável Tirano de Johanna Lindsey, que eu amei.
    Tomara que vc o publique logo.
    Beijos, Carol.

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Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!