quinta-feira, 3 de junho de 2010

Coração Atormentado - Capítulo XI - Mais uma vítima...

Sozinha, Cláudia chegou de táxi ao prédio onde morava. Eram 17 horas do domingo. Estava irritada. Já não tinha certeza se Marcelo realmente a queria ou amava. Tivera uma discussão com ele, devido a sua relutância em contar para Diego sobre o relacionamento dos dois. Seu ex-noivo já deixara bem claro que não a queria mais. Não compreendia porque Marcelo ainda sentia-se mal em assumi-la. Maldizia-se por ter continuado com aquele noivado, apesar de já não amar Diego. Por pressão de sua família, por comodismo ou para continuar próxima de Marcelo, acabara por ceder ao pedido e noivara. Nos últimos meses já não conseguia tirar o futuro “sogro” da cabeça. Cada vez que o via, seu coração disparava. Pretendia romper com Diego antes de seu aniversário, pois achava que ele esperava a festa para marcar a data do casamento. Infelizmente, aconteceu aquele trágico acidente. Ver o noivo entre a vida e a morte e, depois, preso a uma cadeira de rodas, só tornava mais difícil dizer a verdade. Obviamente, todos pensariam que a causa era a sua paralisia, principalmente ele próprio. Porém, o fato era que, desde que conhecera Marcelo, sentira uma inexplicável atração por ele. Mas havia Ágata, de quem ela gostava muito. Por este motivo, tentara negar seus sentimentos. Mas quando tudo aconteceu, e Marcelo inesperadamente enviuvou, não conseguiu permanecer discreta. Ele estava frágil e passando por uma hora extremamente dolorosa. Não resistiu e, apesar de sentir-se a pior das mulheres por conta disso, acabou por apoiá-lo mais que o esperado, aproximando-se pouco a pouco e envolvendo-o com palavras carinhosas de consolo e fazendo-lhe companhia sempre que possível. Não conseguia mais pensar no que era certo ou errado. Sabia que seria julgada e execrada por muitas pessoas por suas atitudes, mas pouco importava. Ter Marcelo ao seu lado era a única coisa importante. Tinha muita pena de Diego e ainda sofria com a culpa pela morte de Ágata. O fato de desejar o seu marido e, em seus pensamentos mais egoístas, considerá-la um empecilho para sua felicidade, já era suficiente para sentir-se moralmente culpada por sua morte.
Lembrava da surpresa e da indignação de Marcelo quando lhe declarou seus sentimentos. Diego ainda estava na UTI. Chegou a pensar que ficara com raiva dela, mas aos poucos ele foi se modificando, tratando-a com mais carinho, correspondendo aos olhares sedutores e até arriscando algumas carícias. Continuou a respeitá-la, apesar de todas suas tentativas de seduzi-lo. Finalmente ele aceitara passar com ela o fim de semana. Tudo tinha sido perfeito, além de suas expectativas. Porém, quando ela voltou ao assunto de assumirem-se como um casal, Marcelo mais uma vez mostrou-se ambíguo. Agora, já não tinha tanta certeza se ele realmente gostava dela ou se tinha sido apenas uma fantasia sua. Quando entrou no apartamento, assediada por estas incertezas, sentiu um perfume familiar no ar. Colocou as malas para dentro e, ao fechar a porta, sofreu uma pancada violenta na parte de trás da cabeça que a fez perder os sentidos.

Antes de partirem de Casa Branca, Diego teve a grata surpresa de, na hora das despedidas, ser abordado por Isabel, que o abraçou e pediu desculpas por seu comportamento deplorável. Desejou-lhe felicidades e pediu que ele cuidasse bem de sua única filha. Gabriel prometeu que visitaria a irmã em Belo Horizonte na próxima semana. Passariam por sua cidade natal antes de dar início às suas férias. De lá, viajariam para o Rio de Janeiro e, depois, para o Nordeste. Queria mostrar algumas das belezas do Brasil para Nancy antes de voltarem para Chicago. Lourdes, como não podia deixar de ser, arrumou uma grande caixa contendo algumas de suas compotas e geléias, juntamente com uma porção considerável de massa de pão de queijo, para que Ângela pudesse fazê-los em casa e degustá-los quentinhos no seu próximo café. “De preferência, na companhia do Diego”, sussurrou ao seu ouvido, no momento em que entregou o presente. Acomodaram-se no carro e pegaram a estrada pouco antes das cinco horas da tarde.
O riso de Ângela e Diego calou-se quando entraram na mansão da Cidade Jardim e encontraram Marcelo sentado numa das poltronas da sala, segurando um copo de uísque, com aspecto de deprimido.
- Oi, Marcelo! – Diego saudou-o, estranhando ver o padrasto naquele estado – Aconteceu algum problema? Como foi de viagem?
- Ah! Olá, Diego! – respondeu, sem levantar-se, com voz levemente arrastada – Não se preocupe. Nada que não seja solucionável...
Notando que Marcelo não parecia muito bem naquele final de tarde, Ângela sugeriu a Diego:
- Talvez fosse melhor eu ir embora para que vocês possam conversar. Ele não parece muito bem – murmurou com discrição, lançando um olhar para Marcelo, que continuava sentado e indiferente a presença deles.
- Tem certeza que não quer ficar aqui esta noite? – sugeriu Diego.
- Tenho sim. Preciso ir para casa, desfazer a mala e estudar um pouco para minha tese. Além disso, não quero desencadear mais boatos... – respondeu desculpando-se – Vou levar a sua maleta lá para cima e arrumar suas coisas. Quando terminar, volto para me despedir. Fiquem à vontade.
- Não saia sem se despedir.
- Claro que não – disse, beijando-o no rosto.
- Obrigado... – agradeceu enquanto pegava sua mão e a tocava com os lábios.
Assim que viu Ângela subindo as escadas, virou sua cadeira na direção de Marcelo, dirigindo-a até colocar-se ao seu lado.
- Marcelo, acho que precisamos conversar.
- Se é sobre os negócios, fique tranquilo que está tudo sobre controle. Com a Glória a me ajudar, não temos tido problemas. Esperamos que você volte logo para a empresa, mas só quando estiver sentindo-se seguro disso.
- Obrigado, Marcelo. Provavelmente estarei de volta muito breve. Mas não é sobre isso que quero falar com você.
- Não? Ah... E sobre o que é?
- É sobre você. Notei que tem me evitado há alguns dias e...
- É impressão sua – afirmou sem olhar para Diego, remexendo-se na poltrona.
- O que está acontecendo?
- Nada. Por quê? – indagou, mantendo os olhos vidrados no copo em sua mão.
- Você não costuma beber. Agora, chego em casa e encontro você nesse estado. O que há?
Depois de uma pausa para pensar em suas próximas palavras, Marcelo respondeu.
- Diego, na verdade, eu preciso lhe contar uma coisa. Algo que não posso mais esconder de você – respondeu titubeante – Só espero que não me odeie por isso.
- Tem alguma coisa a ver com o acidente? – perguntou temeroso, pois desde que tivera aquela conversa com Ângela sobre a inocência de José, muitas dúvidas passavam-lhe pela mente. Dúvidas e suspeitas terríveis.
- Com o acidente? Não... Por que teria a ver? Não... – continuou com a fala arrastada – Você sabe como eu era apaixonado por sua mãe, apesar de ela não corresponder da mesma forma que eu. Seu pai sempre esteve presente entre nós.
- Eu sei, Marcelo, eu sei... – disse melancólico – Mas você nunca ficou dessa maneira, por este motivo, enquanto ela era viva. É algum tipo de culpa tardia? – insinuou.
Marcelo não parecia entender as insinuações de Diego, pois continuava na mesma posição, atirado sobre a poltrona e com expressão entorpecida.
- Não... É que queria que você entendesse porque eu me deixei levar... – continuava reticente em seu discurso – Depois que ela morreu, no período em que você estava mal no hospital... – a voz tornou-se embargada – ... Eu passava por um período terrível, pois acabara de perder a mulher que amava e via você, a quem sempre quis muito bem, entre a vida e a morte. Naquelas horas difíceis, em que eu estava sem chão, uma pessoa foi importante, me apoiando e me mostrando que a vida continuava e...
- Esta pessoa por acaso foi a Cláudia? – perguntou secamente.
Marcelo pareceu curado da bebedeira instantaneamente.
- Como soube? – perguntou sobressaltado, ajeitando-se na poltrona.
- Marcelo, não sou nenhum ingênuo. Desde que voltei para casa reparo os olhares dela para você e a coincidência de sua presença, sempre em casa, quando ela me visita. Já imaginava algo entre vocês, mas não queria acreditar.
Marcelo levantou-se e caminhou discretamente cambaleante até o meio da sala. Quando se virou para Diego, apresentava os olhos marejados.
- Diego, você sabe como eu amava a sua mãe, não sabe? – tornou a repetir. O álcool ainda embaralhava suas idéias.
- Sei disso, Marcelo. Vocês estão tendo um caso?
Quanto à ex-noiva, já tinha percebido, mesmo antes do acidente, que ela já não gostava dele como antigamente. A relação vinha tornando-se mais fria e sentia que o noivado tinha sido um erro. Só não conseguia crer que suas atenções haviam se voltado para seu padrasto.
- Não! Quer dizer... Perdoe-me, Diego, mas... Sei que agimos muito mal – disse por fim resignado, pois não conseguia perdoar a si mesmo por seus atos.
- Não me interessa o que aconteceu entre vocês. Quero que me diga apenas uma coisa. Vocês têm algo a ver com a morte de minha mãe?
A expressão de espanto e indignação, ao ouvir a pergunta pronunciada por Diego, estampou-se no rosto de Marcelo.
- Pelo amor de Deus, Diego! Não pode estar pensando que Cláudia ou eu seriamos capazes de uma coisa destas! Eu amava demais a sua mãe. Além do mais, Cláudia aproximou-se de mim só após a morte de Ágata. Jamais tive nada com ela até vocês romperem o noivado na semana passada.
- Não me importa o que está acontecendo entre vocês – repetiu – Só preciso que você me convença que não teve nada a ver com o acidente – Diego estava tenso e ressentido, mas tentava controlar-se.
- Nunca traí sua mãe – afirmou com voz inesperadamente firme e sincera – E muito menos tramaria sua morte para ficar com outra mulher, se é isso que quer saber. Cláudia aproximou-se de mim após o acidente, quando você estava no hospital. Nunca houve nenhum tipo de relação entre nós, que não fosse o socialmente cordial, antes disso. Precisa acreditar em mim, por favor!
Marcelo demonstrava todo o seu desespero, diante daquela acusação, na voz e na expressão dilacerada de seu rosto. Diego aprendera a gostar de Marcelo como um grande amigo e conselheiro e não conseguia imaginá-lo cometendo um crime hediondo como aquele.
- Eu acredito, Marcelo – disse finalmente.
- Tenho me sentido o maior dos canalhas por achar que fui o responsável pelo rompimento de vocês. – confessou depois de alguns instantes de silêncio.
- Não se culpe. O nosso relacionamento já não estava bem antes. Eu tentava me enganar, mas no fundo sabia que não duraria.
- Gostaria que soubesse que terminamos tudo, hoje pela manhã, antes de voltarmos de Salvador – falou com tristeza indisfarçável.
Nesse instante, o telefone tocou. Ângela, que descia as escadas e estava mais próxima do aparador onde soava o aparelho, atendeu.
- Residência dos Bernazzi, boa noite... Sim... Como? Um minuto, por favor – pediu e, colocando a mão sobre o bocal, invocou – Diego, é o pai de Cláudia ao telefone. Quer falar com você ou com Marcelo. Parece que ela foi hospitalizada e não está bem.
- O quê? – exclamou Marcelo, andando em passos rápidos até onde estava Ângela e tirando o aparelho de sua mão – Deixe que eu atendo.
À medida que Nicolas, o pai de Cláudia, contava o ocorrido, Marcelo empalidecia, até que despediu-se dizendo que já estava a caminho do hospital.
- O que houve, Marcelo? – perguntou Diego, preocupado.
- Cláudia. Parece que ela tentou o suicídio.
- O quê??
- Os vizinhos sentiram cheiro de gás vindo do apartamento dela e arrombaram a porta... Preciso ir até lá saber o que houve e ver como ela está.
- Eu vou com você – disse Diego.
- O Luis está aí? – perguntou Ângela, diante do estado semi-alcoolizado de Marcelo.
- Não. Eu o dispensei assim que chegamos do aeroporto, pois eu não pretendia sair novamente.
- Neste caso, é melhor que eu leve vocês. Não posso permitir que o senhor dirija nas condições em que se encontra.
- Obrigado, Ângela – agradeceu Marcelo – Mas eu estou melhor e...
- De jeito nenhum. Não queremos que aconteça mais um acidente por aqui. – proferiu Ângela com firmeza – Vamos. O meu carro está estacionado na entrada da garagem.
Marcelo ajudou a colocar a cadeira de Diego no porta-malas do automóvel e em seguida estavam a caminho do hospital. Era a segunda vez, em menos de sete dias, que Ângela se deslocava ao Hospital Joaquim Xavier.
Quando chegaram, Cláudia já tinha sido transferida da emergência para a UTI, onde estava em ventilação mecânica, recebendo oxigênio e tendo o coração monitorado pelo risco de infarto. Sua intoxicação havia sido grave e poderia ter causado a sua morte se os vizinhos não tivessem suspeitado do vazamento de gás e arrombado o apartamento a tempo.
Os pais de Cláudia aguardavam por notícias na sala de espera da UTI.
- O que aconteceu? – perguntou Marcelo aflito e cheio de culpa, após os cumprimentos de praxe.
- Não sabemos ao certo. Parece que ela tentou se matar – respondeu a mãe chorosa – Por que a minha filha faria uma coisa destas? Ela parecia bem. Foi passar o fim de semana com umas amigas e... Acontece isso?
- Marta, ainda não é certo que tenha sido isto que aconteceu – interferiu Nicolas, que parecia um pouco mais controlado – A polícia foi alertada pelos paramédicos e eles estão investigando. Já conversaram conosco por alto. Disseram que ela traumatizou a cabeça e que isto pode ter sido na queda, quando desmaiou devido ao gás, ou pode ter sido agredida por alguém. Talvez até um assaltante. Temos que ver se falta algo de valor no apartamento... Enfim – revelou a voz trêmula, que tentava manter-se firme até aquele momento – O que importa agora é saber se ela vai ficar bem. O médico nos falou que há risco de vida...
Antes que Marcelo ou Diego confortassem o pobre senhor, um estranho homem carrancudo entrou no recinto. Ele era moreno, de estatura mediana, aparentando 50 anos, cabelos escassos e despenteados, nariz grande e vestia um terno surrado. Seu aspecto era de quem tinha acabado de acordar.
- Boa noite – cumprimentou os presentes com uma voz melodiosa, que nada tinha a ver com sua aparência - Quem são os familiares de Claúdia Gutierrez?
- Somos nós – respondeu o casal quase ao mesmo tempo.
- Perdoem a minha presença neste momento de aflição, mas eu gostaria de fazer-lhes algumas perguntas em particular. É possível?
- Mas quem é o senhor?
- Eu o conheço... O senhor não é o policial que está investigando o caso de minha mulher? – interrompeu Marcelo.
- Boa noite, senhor. Tem boa memória... Meu nome é Romildo Corrêa e sou o mesmo investigador do caso de D. Ágata, sim.

Romildo Corrêa

- Nós somos os pais de Cláudia, senhor Corrêa.
- Ah, que bom. Por favor, podem me seguir? Consegui uma sala privativa onde podemos conversar. Com licença? – dirigiu-se aos demais, com um meneio de cabeça, sendo, logo então, seguido pelo casal angustiado.
Enquanto o investigador Corrêa desaparecia com os pais de Cláudia, Ângela tentava falar com Nair, sua amiga e enfermeira-chefe da UTI, para saber sobre o real estado da ex-noiva de Diego. Logo a recepcionista entrou em contato com Nair e pediu que Ângela entrasse na unidade.
- Vou tentar conseguir mais informações sobre ela e já volto – disse tentando apaziguar os ânimos de Marcelo e Diego.
- Obrigado – disse o primeiro extremamente agradecido.
Entrou e seguiu diretamente para a sala da colega e amiga, onde estivera poucos dias antes.
- Ângela! O que a trás de novo aqui? A estas horas de um domingo? Espero que ninguém da sua família...
- Oi, Nair! Não, ninguém da minha família, graças a Deus. É a respeito da moça que acabou de internar, Cláudia Gutierrez. Ela é ex-noiva do meu paciente, Diego Bernazzi. Como ela está?
- De novo esta família? Coitados... – pensou alto. – Na verdade, ela não está muito bem. Vão encaminhá-la para uma tomografia de urgência agora. Suspeitam que possa haver uma hemorragia cerebral por causa da pancada que levou na cabeça. Ela está comatosa. O neurologista que a avaliou ainda não sabe se é pelo TCE(traumatismo crânio-encefálico), pela intoxicação por gás ou por ambos motivos. Acho que só amanhã teremos mais informações. A princípio o estado dela inspira muitos cuidados.
- Parece que a polícia está investigando. Sabe de alguma coisa?
- Não. A única coisa é que as visitas estão proibidas, tanto por ordem do médico intensivista que está cuidando dela, como por ordem judicial. Sinto não poder dar notícias mais agradáveis a você ou à família.
- Muito obrigada, Nair, mais uma vez.
- Ligue para mim amanhã. Talvez já tenha melhores novidades, está bem?
- Está bem. Ligarei, sim.
- Vou indo, pois acabou de trocar o plantão e tenho que dar umas instruções para a nova equipe noturna. A gente se fala. Até amanhã.
- Até, Nair.
Despediram-se e Ângela foi até o box onde Cláudia aguardava para ser removida para a realização do exame. A visão de qualquer pessoa intubada e ligada a um aparelho de respiração artificial sempre era terrível. Era melhor mesmo que ninguém na sala de espera a visse naquele estado lastimável. Intimamente rezou para que a jovem conseguisse sobreviver sem sequelas daquele infortúnio.
Quando saiu da UTI, encontrou apenas três pessoas na sala de espera. Aproximou-se deles e perguntou por Marcelo.
- Ele quis falar com o investigador. Depois explico. E Cláudia? Conseguiu saber alguma coisa? – perguntou sob os olhares ansiosos dos pais dela.
- Não muita coisa. Ela vai fazer uma tomografia agora. Só amanhã teremos idéia do que aconteceu. Ela está inconsciente e não sabem dizer se é por causa da batida na cabeça ou pelo gás. A enfermeira-chefe é minha amiga e amanhã falarei novamente com ela para obter mais informações. Desculpem não poder oferecer melhores notícias...
- De qualquer forma, muito obrigado pelo seu interesse. – agradeceu Nicolas.

Enquanto isso, Marcelo mantinha sua conversa com o investigador Corrêa. Remoído pela culpa, acabou revelando ao detetive o seu relacionamento conturbado com Cláudia e do sentimento de responsabilidade pelo que tinha acontecido a ela, imaginando que tivesse sido uma tentativa de suicídio.
- Nós discutimos e eu acabei dizendo que talvez fosse melhor acabarmos com tudo, antes que começássemos algo mais sério. Agora, sinto que errei e, se ela morrer, jamais me perdoarei.
- Sinto muito ainda não poder dizer com certeza a causa deste incidente, mas creio que logo esclareceremos. Agradeço muito por sua informação. Será muito útil em nossa investigação.
- Espero que esta investigação tenha melhor sorte que no caso de Ágata – disparou irritado com o aparente desleixo e desmotivação do homem.
Corrêa olhou Marcelo de alto a baixo, contraindo os lábios finos no canto direito da boca e semicerrando as pálpebras.
- Mais alguém sabia deste... “affair” de vocês? O senhor Bernazzi,...? – indagou intrigado.
- Não. Só contei ao Diego sobre nós hoje, pouco antes de nos avisarem que ela estava hospitalizada.
- Tem certeza disto? – reiterou.
- Sim... Isto é – refletiu – Eu contei para a secretária da empresa Bernazzi, Glória, antes de viajar, na sexta-feira. Ela descobriu as passagens em nossos nomes e veio me cobrar uma posição.
- Ela tem tanta intimidade assim? – redarguiu curioso.
- Ela é quase da família, senhor Corrêa. Mas não vejo no que isto possa ter relação.
- É. O senhor tem razão. Este fato não deve ter importância no caso – disse baixando os olhos para a caderneta onde fazia suas anotações. – O senhor gostaria de me contar mais alguma coisa que considere importante?
- Não... Acho que já lhe disse tudo... – respondeu inseguro – Só gostaria que me esclarecesse uma coisa.
- Pois não?
- Por que o senhor está tão interessado no que aconteceu a Cláudia, já que isto não deve ter relação com o assassinato de Ágata?
- O senhor acha que não há relação? Pois eu já não teria tanta certeza assim.
“Este homem deve ter visto muitos seriados americanos de detetives e está tentando achar ligações que não existem. Não conseguiu nem descobrir ainda quem foi que provocou o acidente de Ágata.”, pensou desiludido com as investigações que vinham sendo feitas.
- Só espero que o senhor não desista de investigar o caso de minha mulher, que continua insolúvel.
- Não se preocupe, senhor Marcelo. O caso da senhora Bernazzi continua sendo minha prioridade – afirmou com um sorriso enigmático nos lábios – Boa noite, senhor.
- Boa noite.
Marcelo voltou à sala de espera e mostrou-se desanimado com as notícias que Ângela tinha conseguido.
- É melhor irmos embora – sugeriu Diego.
- Diego, meu filho – interviu Marta – Cláudia me contou que rompeu com você. Só queria lhe dizer que fiquei muito triste, pois gosto imensamente de você, assim como admirava sua mãe também. Não sei o que deu nesta menina...
- Não se preocupe com isso agora, D. Marta. Está tudo bem. Este rompimento foi uma atitude ajuizada e uma resolução de nós dois.
Ângela notou o retraimento de Marcelo diante deste diálogo. Talvez não estivesse errada em suas suspeitas, afinal.
Despediram-se e retornaram para casa. No caminho, Marcelo agradeceu a gentileza de Ângela levando-os ao hospital e conseguindo informações sobre Cláudia. Queria ter ficado na porta da UTI aguardando notícias, mas a presença dos pais o inibiu, principalmente depois de ouvir o último comentário a respeito do rompimento com Diego. Dessa maneira, recolheu-se ao seu quarto, dando apenas um “boa noite” antes de sumir degraus acima.
- Você está bem? – perguntou Ângela, receosa que o abatimento de Diego naquele momento fosse motivado por ainda nutrir algo além de uma amizade por Cláudia.
- Ainda não tenho certeza do que estou sentindo – disse referindo-se principalmente às revelações de Marcelo – Foram muitas informações desagradáveis para uma só noite.
- “Informações”? Quais foram as outras?
- Na conversa que tive com Marcelo antes do telefonema, ele me revelou que tem mantido um envolvimento com Cláudia desde quando eu estava internado, após o acidente. Neste fim de semana viajaram juntos, mas acabaram brigando. Agora ele está sentindo-se responsável pelo que aconteceu a ela.
- Eu já imaginava que isso pudesse estar acontecendo, mas não tinha certeza. Como você se sente em relação a isto?
- Desconfortável... Tinha visto alguma coisa entre eles?
- Nada além de olhares e cochichos nos cantos da casa.
- Eu também já percebera algumas evidências, mas as negava.
- Então... É melhor que eu vá agora. Você precisa descansar.
- Eu não estou cansado... Por que não fica aqui esta noite? Por favor... – rogou de um jeito que ela não poderia negar.
- Tem certeza que quer que eu fique? – queria ouvi-lo pedir de novo.
- Por que duvida disto? Ainda não percebeu que eu a amo e que não me agrada nem um pouco a idéia de ficar longe de você?
Um arrepio percorreu o corpo de Ângela ao ouvir a inesperada declaração, que colocava por terra todas suas dúvidas em relação a Diego.
- Tinha medo que você ainda sentisse alguma coisa por Claúdia.
- Sinto sim. Pena, remorso, algum afeto pelo que tivemos no início do namoro... – enquanto falava aproximava-se dela devagar. – Mais alguma coisa? Acho que não... – respondeu a si mesmo – Estou triste pelo que aconteceu a ela. Espero que se recupere e fique com quem ela realmente ama... – disse, enlaçando Ângela pela cintura, abraçando-a, colocando a cabeça de encontro ao seu ventre e finalizando sua frase – Assim como eu.
- Diego, meu amor... – segurou seu rosto entre as mãos e possuiu seus lábios com ternura.
- O que a gente ainda está fazendo aqui em baixo? – perguntou ele com voz rouca – Preciso de você esta noite, mais do que nunca...
Sem responder, Ângela, com um sorriso lascivo, acompanhou-o até o elevador.

Chegando ao quarto, despiu-o lentamente, abusando dele com o olhar, admirando seu corpo perfeito que a incendiava de desejo. Com um rápido movimento, Diego foi para a cama onde ficou sentado observando-a, ansioso por tê-la em seus braços. Como queria, naquele momento, ter suas pernas de volta. Às vezes quase tinha a certeza que sairia andando, mas alguma coisa o impedia. Podia sentir sua musculatura vibrando, a sensibilidade a flor da pele, o calor e o toque das mãos, tudo a espera de um comando seu para voltar a movimentar-se, mas acabava por se manter estático. Estes pensamentos foram interrompidos pela imagem de Ângela a se despir sensualmente a sua frente, torturando-o. Mais uma vez pode sentir-se vivo e potente, pronto para viver mais uma deliciosa aventura através do corpo de sua amada.


Espero que tenham gostado deste capítulo. Acho que agora as coisas devem começar a esclarecer-se melhor, com a entrada do investigador Corrêa. Que acharam dele e de seu aparecimento na estória? Volto muito breve, se tudo der certo. Mais uma vez o meu muito obrigada às demonstrações de carinho e preocupação. Agora está tudo bem.
Beijos à todas!!

6 comentários:

  1. Rosane!!!!!He,he,he
    De novo eu,isto já esta virando hábito,não?Este cap. foi ótimo cheio de mistério e suspense,gostei mto.Acho que já sei quem foi quem matou a Ágata e quem tentou matar a Claúdia mas ainda não tenho certeza,estou esperando as próximas pistas.
    Não demore mto pra postar o próximo.

    Bjs.

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  2. Rô, a estória está cada vez mais envolvente e misteriosa, estou amando e ansiosa pelos próximos capítulos. Nas minhas férias vou reler as anteriores, estou com saudades.
    Que bom que tudo está bem, fico feliz.
    Um cheiro amiga!!!

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  3. Amiga, agora foi a vez da Cláudia!
    Não aprovo as atitudes dela nem um pouco, sei que não devo julgar os outros, mas tenho direito a ter minhas opiniões e acho que o mundo seria muito melhor se as pessoas soubessem respeitar umas as outras. Tá certo que ela só ficou com Marcelo após a morte de Ágata, mas ela estava com Diego e poderia ter causado muitos danos a ele. Não é certo ficar com um só porque não pode ficar com o outro, ou mesmo por querer ficar próxima ao outro. E ela já é grandinha para saber disso. No caso em questão só não foi pior tão somente porque o Diego já não nutria por ela nada especial, mas já imaginou se ele estivesse realmente apaixonado? Aí, olha só o que teria que agüentar: a morte da mãe advinda de um crime, a separação de sua amada e ainda saber que sua amada está tendo um caso ou teve com o seu padrasto. Ninguém merece... Ela errou feio...
    Rô, eu gostei do investigador Romildo. Acho perfeito, ele tem mesmo um ar de mistério, de quem está estudando os fatos, compenetrado, ideal para o seu conto.
    Meu palpite do assassino/a está quente! Tô ansiosa pelo que está por vir!!!
    Fico feliz que tudo deu certo com sua filhinha. Agora, é só enchê-la de mimos e carinhos, mas tenho certeza de que isso vc faz de montão!!!
    Beijinhos

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  4. Ai Rô, que mistério é esse!?
    Pronto, minhas teorias já cairam por terra, kkkkkkkk...
    Tô doida pra saber quem tá matando quem nessa história...
    Bjim querida, e até o próximo capítulo!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Arreégua! Que trem doido sô!
    Agora fiquei com ozói virando, tamanha zonzeira. Quem será o "enfusado" (expressão muito usada no "interiorzão" de MG, lá no Vale do Jequitinhonha, de onde vêem minhas raízes), que tá aprontando esse furdunço?. Agora é que não paro "mez" de ler essa história. "Vô ali um poquim e já já eu volto".

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