domingo, 7 de março de 2010

Na Rede do Pescador - Final do Capítulo IX e Epílogo

Inesperadamente, uma sirene tocou próxima a casa. “Polícia?”, foi o pensamento dos três. Ao mesmo tempo, Isadora e Lucca tiveram suas esperanças renovadas na conclusão daquele pesadelo ao vislumbrar um vulto às costas de Ana.
- O que foi? – foram as últimas palavras dela antes de sentir o peso de uma grande e grossa rede de pescador sobre a cabeça. Viu seus reféns correndo para a porta, quando sua arma disparou contra um ponto a esmo na parede da sala.
Jonas imobilizou Ana e conseguiu agarrar a pistola que caira de sua mão. Lucca abriu a porta, esperando encontrar policiais prontos para invadir a casa, mas nada viu.
Entre os gritos histéricos de Ana, Jonas avisou:
- A polícia já está a caminho, seu Lucca.
- Mas, e a sirene que ouvimos?
- Depois explico. Primeiro, tenho que acalmar esta bichinha doida aqui. Oxente! Mulher dos demônios!
Ajudado por Lucca, conteve Ana amarrada em uma cadeira, bem longe da arma, já descarregada. Logo tiveram que amordaçá-la, pois não parava de esbravejar.
- Deste nó especial ela não escapa – disse Jonas, orgulhoso de seu trabalho.
Isadora continuava parada no mesmo lugar de antes, olhando para o corpo estendido de Mauro. Lucca foi até ela e a abraçou. Foi o que bastou para que ela saísse do estado de choque em que se encontrava e começasse a chorar.
- Calma, princesa. Já está tudo sob controle. Você foi muito corajosa. Estou muito orgulhoso de você – tentou acalmá-la, mas também sentia-se tenso, começando a sentir os reflexos da situação de perigo, a que estiveram expostos, no corpo todo. Sua cabeça latejava e ainda tinha alguma dificuldade em respirar normalmente.
- Pensei que íamos morrer – choramingou, agarrando-se a ele com mais força.
Ana bufava atrás de sua mordaça. Lucca puxou ainda mais Isadora contra si, não conseguindo expressar por palavras o alívio que sentia em tê-la em seus braços, viva e segura.
Enquanto esperavam a ajuda policial, solicitada por Jonas, quando este os viu em dificuldades, Lucca perguntou novamente a respeito da sirene que tocara providencialmente.
- Jonas, agora me conte. Que sirene foi aquela que ouvimos?
- Lembra que o senhor me mostrou uma sirene que tinha sido usada na época da construção do Mairi, que anunciava as trocas de turno dos operários?
- Não brinca! – exclamou estupefato, lembrando de como achava graça do som emitido pelo alarme, e brincava com seu pai dizendo que parecia uma ambulância chegando para levar os operários “mortos” de cansaço para o hospital até o próximo turno.
- Ela estava guardada na garagem da casa. Quando vi o que estava acontecendo aqui dentro, pela janela, pensei em dar um susto nestes assaltantes.
- Grande idéia, Jonas! Você merece um aumento de salário só por esta iniciativa.
- Óxente, seu Lucca. Não foi nada, não...
Isadora esboçou um sorriso e começou a secar suas lágrimas, quando bateram na porta. Era a polícia.
Logo, dois guardas fardados entraram no local, empunhando suas armas. Jonas gritou que era ele quem tinha feito o chamado. Olhando a cena do crime, ainda não entendiam exatamente o que tinha acontecido. Um deles reconheceu Lucca, como o dono do Mairi, e o cumprimentou.
- Boa noite, senhor Girard. O que aconteceu aqui? – perguntou sondando o ambiente, procurando algum perigo oculto, quando viu o corpo de Mauro caído no chão. Imediatamente encaminhou-se para ele, a fim de verificar se havia necessidade de chamar socorro médico, sem aguardar a resposta de Lucca.
- É uma longa história, policial. Mas para resumir, posso lhe dizer que estávamos sendo ameaçados por aquela mulher – disse apontando para Ana – quando ela, subitamente, matou o seu comparsa. O Jonas é nossa testemunha. Não fosse por ele, provavelmente minha noiva e eu estaríamos mortos.
Ao ouvir as últimas palavras de Lucca, Isadora lançou-lhe um olhar surpreso, mas não comentou nada, apesar da satisfação íntima causada pela declaração dele quanto a serem noivos.
- Bem, nós vamos ter que chamar a perícia e isto pode demorar, pois eles vem de Maceió. Infelizmente nós teremos que interditar a casa e manter a senhora ali presa até esclarecermos tudo. Em consideração ao senhor, depois que fizermos algumas perguntas, o senhor e sua noiva poderão ficar no Mairi até serem chamados para o depoimento oficial. É possível isso?
- Claro. Sem dúvida. Eu lhe agradeço muito.
- Podemos tirar a mordaça dela?
- Eu se fosse o senhor não faria isso, não. A mulher berra feito doida, seu guarda. – atropelou Jonas.
Levados para a sala de jantar do casario, Jonas, Lucca e Isadora foram entrevistados rapidamente pelo oficial e liberados para irem ao hotel. Jonas preferiu ficar e aguardar a perícia, já que a casa era responsabilidade dele, como zelador. Pelo rádio do carro policial, foi feito o contato com a delegacia local e de lá partiu a denúncia e o pedido de ajuda para Maceió.

Quando chegaram ao bangalô 12, estavam exaustos. O susto fora muito grande. - Pensei que fosse te perder, Isa. Todos momentos que passamos juntos nos últimos dias passaram de relance em minha mente. Me perdoa por ter te feito passar por tudo isto, mesmo que sem intenção.
- Não tem o que perdoar, meu amor. Não vou dizer que não fiquei com medo de morrer, pois fiquei, e muito. A minha reação lá, com aquele homem apontando uma arma nas minhas costas, foi puro instinto de sobrevivência. Olhando para trás agora, acho que arrisquei nossas vidas demais com aquela atitude impensada. Ele poderia ter atirado em mim ou em você, e eu morro só de pensar que a bala poderia tê-lo atingido. Ainda bem que tudo passou, graças a você, que teve sangue-frio o suficiente para manter aquela conversa com eles, e ao Jonas que conseguiu deter aquela maluca na hora certa.
- Que tal mudarmos de assunto – sugeriu, abraçando-a de frente e levantando-lhe o queixo, para poder olhá-la melhor – e tomarmos um banho para relaxar.
- Lucca... – sorriu incrédula.
- Só um banho de banheira para relaxar, eu disse, sua depravadinha – alertou rindo – Até porque não sei se conseguiria fazer alguma outra coisa hoje, depois de tudo que passamos...
Começaram a rir. Um riso exagerado, mas desestressante, que terminou por fazê-los esquecer, temporariamente, os momentos de aflição passados. Acabaram por perder-se um nos braços do outro, finalizando com um longo e apaixonado beijo.


Epílogo


Nos últimos dias das férias de Isadora muita coisa ainda aconteceu. Os depoimentos oficiais sobre o incidente na casa da praia dos Girard foram colhidos e Ana foi enviada para a capital de Alagoas para aguardar presa seu processo judicial. Acabou por ser avaliada por um psiquiatra forense que a diagnosticou como psicopata. Em um de seus depoimentos, numa crise, acabou por revelar que a morte de Guilherme não tinha sido acidental, como pensavam. Na verdade ela não aguentava mais viver com o marido e suspeitava que ele soubesse de seu caso com Mauro. Por isso, na manhã do acidente, colocou vários comprimidos de sonífero, pulverizados, no seu suco do desjejum. No caminho para a academia, para onde se dirigia, provavelmente Guilherme deva ter sentido o efeito da medicação e dormido na direção. Como não havia sido feita autópsia, o caso foi encerrado como sendo o de um mero acidente causado por negligência do motorista. Este foi mais um baque para Lucca, que encontrou apoio emocional em Isadora.
Os meses se passaram. Isadora voltou ao seu escritório de arquitetura para tocar todos os projetos pendentes e iniciar novos. Em pouco tempo reergueu-se dos prejuízos adquiridos com a compra da parte da sociedade de César. Este por sua vez, acabou por ser desmascarado como um grande patife, quando o pai de Isadora soube que a filha havia pagado por algo que ele próprio comprara ao emprestar dinheiro ao futuro genro. Ao cobrar de César uma retratação, ouviu os maiores desaforos, que revelaram a verdadeira índole do ex-noivo de sua filha. Finalmente reconheceu seu erro em relação à ela e pediu desculpas por seu comportamento, reconsiderando suas atitudes para com a filha dali em diante.
Lucca retornou ao Rio e assumiu a direção da rede hoteleira Girard, com grande responsabilidade e maestria. A dor pela perda trágica e precoce de seu irmão ainda não cicatrizara, mas o processo de cura tinha uma grande auxiliar. Isadora. Eles continuaram a encontrar-se. A ponte aérea Rio-São Paulo tornou-se uma constante em seu relacionamento. Nem mesmo a distância conseguiu abalar o amor encontrado e solidificado nas areias e corais de Maragogy.
Após seu noivado, cerca de um ano depois de terem se conhecido, Lucca acabou por transferir sua matriz para São Paulo, onde já funcionava um dos escritórios da empresa.
Hoje, casados, esperam, ansiosos e felizes, pelo nascimento de seu primeiro filho, que será um menino, e cujo nome, escolhido por Isadora, será Guilherme. Sempre que possível, voltam à Maragogy para lembrar e festejar o dia em que Isadora caiu nas redes do pescador Lucca e em que este ficou definitivamente encantado por sua presa.


FIM




Olá! Como havia prometido, publiquei o final do romance entre Lucca e Isadora. Espero que tenham gostado. Já estou pensando no próximo romance, é claro, mas não vou colocar prazos. De qualquer maneira, vocês sabem que não consigo ficar muito tempo sem escrever.
Queridas, até a próxima, o mais breve possível.
Grande beijo a todas!!

6 comentários:

  1. Ai Ro, que linda história! O mais mágico nela é o fato de ser possível, linda, redonda, perfeita! Fiquei com pena do Mauro ter morrido, mas faz parte. Parabéns querida! Você tem aperfeiçoado essa sua habilidade e eu muito feliz por poder apreciá-la. Já sou apaixonada por leitura e você tem acrescentado ainda mais tempero nessa parte de minha vida! Valeu amiga!

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  2. Rosane!!!!
    Meus parabéns,mais um conto escrito,já já vai dar para publicar um livro com estas histórias maravilhosas que escreves,E cuidado pra que o inspirador não descubra e que te queira cobrar alguma taxa por uso de sua imagem.kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
    Tive pena de Mauro por ter morrido mais ele tb não prestava.
    Bjs.

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  3. Rosane!!! Amei, amei, amei, que estória linda, como disse a Tania, você está cada vez mais se aperfeiçoando e nos tornando mais sonhadoras e felizes com esses romances lindos. Acho que se o Gerry descobrir ele vai ficar muito lisonjeado em saber que é o herói de nossos sonhos femininos. Beijos e parabénssss!!!

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  4. Rô, correndo o risco de ser repetitiva, não canso de dizer: VC É ABSOLUTAMENTE TALENTOSA!
    A cada história, vc nos surpreende com sua riqueza de detalhes em suas histórias.
    Mas a sua maior dávida, foi transformar uma mulher pouco romântica (eu), em uma leitora assídua de seus romances. Vc é Rô, a milagrosa! kkkkkkk...
    Aguardo a próxima!
    Bjim♥
    PS: Não tenho pena do Mauro não, kkk...

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  5. Carel disse:
    Puxa, demorei mas consegui terminar de ler!!!Ando atolada e com pouquissimo tempo pra net, infelizmente... O que dizer Ro?? Lindo!!Ótimo!! Tu continua com a mente super afiada, criando estórias empolgantes e apaixonantes... parabéns flor... Ai,ai.. quem não gostaria de cair na rede de um pescador desses hein?????kkkkkk

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  6. É bom poder contar com amigos fiéis, como o Jonas que, não obstante todo o pavor da situação, teve coragem e ousadia suficiente para ajudar em um momento tão crucial.
    Quando você disse “noiva” deu até um friozinho no estômago, tão bom...
    Já havia ficado meio desconfiado de que o que o Guilherme havia sido assassinado porque ele era meticuloso.
    Eu não fiquei com pena do Mauro não, oras... Ele é tão canalha quanto a Ana. O fato dele não ter conseguido atirar, não o torna menos pior, já que ele não tem pena em “exterminar” a vida das pessoas de outras formas, igualmente penosa para quem a sofre. Bem feito, menos um para encher o saco no nosso planeta...
    Eu já conheci uma pessoa como esta “Ana”. Infelizmente, se fez passar por minha grande amiga durante seis anos, enquanto eu cursava a faculdade. Eu me formei e abri um escritório em sociedade com ela e, em pouco tempo, ela me deu uma rasteira que me tirou os pés do chão. A gente nunca acredita que essas coisas possam acontecer na nossa vida, que esse tipo de criatura seja capaz de nos envolver, mas isso é bem mais frequente do que possamos imaginar, infelizmente.
    Ainda bem que, ao menos, o nosso querido casal saiu ileso de toda essa situação.
    Que final mais lindo, Rô! Que história maravilhosa!!! Como em todos os teus contos, estou aqui, estendida em minha cama com o notebook no colo, suspirando de emoção.
    Que delícia! Criatividade, mistério, romance, enfim, muita emoção do início ao fim!
    Amei, amiga! Parabéns!!! Seu talento é magistral!!!

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