domingo, 28 de março de 2010

Paciência

Olá, meus queridos leitores ( minhas amigas fiéis de sempre e quem quer que esteja a mais por aí, sem que eu tenha conhecimento - Apareçam, por favor!).
Demorei, mas cheguei. Pretendo começar a postar hoje um novo romance. Saibam que não é muito fácil passar as idéias que temos dentro da cabeça para o papel, digo, Word, de forma a fazer um texto que prenda a atenção. Provavelmente é uma dificuldade minha... Esta estória, que começo a publicar hoje, já estava na "incubadora" há quase um ano. Muitos vão pensar que me inspirei numa novela que passa atualmente na TV, mas sinto dizer que não. É mera coincidência mesmo. Vou pedir paciência a vocês, pois apesar de tê-la praticamente finalizada na cabeça, só comecei a escrever há poucos dias, por isso posso demorar um pouco a postar entre um capitulo e outro. Tenho tido alguns problemas pessoais que têm me ocupado grande parte do tempo que tinha para escrever. Minha esperança é que consiga me organizar melhor e volte a ter um pouco mais de horas para poder me dedicar a esta minha paixão e ao blog.
Espero que curtam bastante a estória de Diego e Ângela.
Beijos!


CORAÇÃO ATORMENTADO



CAPÍTULO I



O Acidente





Era uma bela manhã de sábado, quando se ouviu a voz de Ágata despedindo-se de Diego:
- Querido, vou sair. Quero comprar algumas flores para o jantar de hoje à noite e alguns petiscos para a entrada.
- Por que você não pede para a Glória fazer isto? – respondeu ele, referindo-se ao braço direito de sua mãe, descendo dois a dois os degraus da escadaria de madeira de lei.
- Você sabe que eu mesma gosto de providenciar este tipo de coisa. Gosto de dar o meu toque pessoal.
- Que tal se eu a levar? Enquanto você faz as suas compras, dou uma olhada num presente para a Cláudia. Falta só uma semana para o aniversário dela – propôs, após dar-lhe um beijo na bochecha.
Há dois meses, Ágata se recusara a ter o motorista a sua disposição, com a desculpa de querer ter liberdade de poder dar suas voltas quando bem quisesse, sem precisar dar satisfações a ninguém. Na verdade o marido andava demonstrando ciúmes infundados do motorista José. Uma bobagem, segundo ela. Comprou um veículo do tipo utilitário, apenas com alguns confortos como ar condicionado e direção hidráulica, para ir ao escritório durante a semana, ao shopping, à academia ou ir ao encontro das amigas. Ágata sentia-se melhor desta maneira. Aos quarenta e oito anos, continuava a ser a mesma mulher independente de sempre. Não aceitava ser controlada ou vigiada, mesmo que isto fosse para seu próprio bem ou segurança. Casara muito cedo, por amor, tendo seu único filho aos dezoito anos. Assumiu o negócio da família quando seu pai faleceu e, com a ajuda de Franco, seu esposo, conseguiu aumentar ainda mais seu patrimônio. Foi muito feliz no casamento durante duas décadas, quando ele descobriu que estava com câncer. Tornou-se viúva aos trinta e oito anos, permanecendo assim até conhecer Marcelo, um dos fornecedores de sua fábrica de produtos alimentícios. Apaixonou-se e casou-se novamente aos quarenta e três. Mantinha-se ativa e empreendedora, contando com a ajuda de seu filho Diego, especializado em Engenharia de Alimentos.
- Diego, você é um doce. Não poderia desejar um filho melhor que você.
- Pode deixar que depois eu mando a conta... – ameaçou, com expressão brincalhona, despertando o riso de sua mãe.
- Pago o que você pedir.
- Então pode começar me dando um abraço e um beijo – disse envolvendo-a pela cintura.
Depois de receber o pagamento exigido, Diego avisou:
- Me espere na entrada.
- Antes vou deixar um recado para o Marcelo, lembrando do jantar. Espero que ele não esqueça. Já liguei para o celular, mas ele não atende. Saiu cedo, dizendo que tinha uma reunião no escritório. Deve ser por isso.
Diego acenou com a cabeça, concordando, e saiu.
Logo estavam a caminho do shopping predileto de Ágata, há cerca de 20 quilômetros da casa. Como sempre, ela se recusara a colocar o cinto de segurança. Este era um dos poucos motivos de discussão entre eles. Mas, naquele dia, Diego resolvera dar uma trégua à sua mãe. Depois de lhe pedir uma vez e obter um muxoxo como resposta, desistiu de tentar educá-la para o trânsito. Conversavam animadamente, quando iniciaram a descida do primeiro dos três declives que tinham pelo caminho. Foi quando Diego começou a apertar o freio e sentiu que este não respondia. Logo estariam chegando ao final da rua, que desembocava em outra avenida movimentada da cidade.
- Diego, diminua a velocidade! – ela solicitou aflita ao filho.
- O freio não está respondendo! – respondeu nervoso – Coloque o cinto!
- Como?
- Não sei o que houve! – sua voz era puro pânico pelo que estava por vir. Via a transversal seguinte aproximar-se, e a sinaleira com o sinal vermelho apontando para eles. Tentou estudar rapidamente as possibilidades de diminuir o choque eminente com outros carros, mas não havia muita escolha nem tempo para pensar.
- Mãe! O cinto! – gritou.
Foi a última coisa que Diego falou. Depois disso, sentiu apenas a velocidade cada vez maior assumir o controle das rodas, seguido pelos gritos de sua mãe, ao seu lado, e um estrondo violento. Foi quando perdeu a consciência.





Sua boca estava seca, a cabeça doía com se tivesse um capacete de chumbo sobre ela. Lembrou do homem da máscara de ferro, de Dumas. Os pensamentos eram confusos. Máscara de ferro, histórias para dormir, sua mãe sentada ao seu lado quando pequeno, acariciando seus cabelos e... Mãe! De repente, quis saber onde ela estava. Onde ele estava. Ouviu os gritos de Ágata dentro de sua cabeça. A dor era agora insuportável, mas a voz não saía. Tudo era escuro ao seu redor. Não conseguia abrir os olhos, apesar de tentar. O som ensurdecedor de ferragens retorcendo-se. Dor... Perdeu a consciência mais uma vez.



A escuridão ainda estava ali. Agora ouvia vozes ao longe, além da sua própria “em off”. Tentou mexer-se, mas não conseguia. Sua voz ainda estava presa em sua garganta. Queria dizer que não entendia o que falavam. Queria perguntar onde estava ou onde estava Ágata, mas ninguém o ouvia ou respondia. Confuso, sentiu um toque em seu braço. Logo veio a dor fina, seguida por uma ardência que invadiu seu corpo, queimando-lhe as veias do braço e levando-o a um novo torpor.



- Diego... Está me ouvindo?
Ouviu uma voz que parecia ser a de seu padrasto. Tentou responder, mas não conseguiu. Tentou mover-se, mas seus membros pareciam petrificados. Foi quando ouviu outra voz conhecida. Uma voz feminina. Porém as palavras, articuladas e embaralhadas ao chegar aos seus ouvidos, nada tinham de confortadoras.
- Ele não pode nos ouvir, Marcelo... Mesmo que possa, duvido que nos entenda – disse.
- Cale-se! ... – a voz era quase um sussurro, repleto de raiva.
Sua cabeça parecia que ia explodir. Uma sensação de estar se desintegrando em meio a dor e à náusea ocupou seu espaço. Queria dizer a eles que os ouvia e entendia, mas por mais que se esforçasse não conseguia expressar-se.
- Olhe o monitor cardíaco! Disparou. Será que ele ouviu algo? – indagou a mulher num cochicho.
- Melhor chamar a enfermeira!
Após um tempo não determinado, ouviu uma terceira voz, mais forte e próxima ao seu lado.
- Vou pedir que saiam. Vamos lhe dar um tranquilizante. Ele precisa descansar.
- Será que ele está consciente? – perguntou Cláudia.
- Provavelmente não, mas ele às vezes superficializa no coma e luta contra o respirador.
Mais uma vez sentiu a incandescência infiltrando-se por seu corpo e o relaxamento voltou a atordoá-lo. Não ouviu mais nada.



A dor diminuíra. Ainda não conseguia emitir sons, apesar de tentar. Algo o impedia. Alguma coisa em sua boca o incomodava. Tentou morder. Os olhos pareciam cobertos por vendas. Não sentia as mãos ou os pés. Queria lembrar o que acontecera, mas sua mente parecia ter sido esvaziada. As vozes ao seu redor agora eram mais claras.
- Como ele está, doutor? – a preocupação na voz de seu padrasto era evidente.
- Vamos desligar a ventilação mecânica e ver se ele consegue respirar sozinho. Vai ser a segunda tentativa. Espero que desta vez tenhamos sucesso. Ele não está mais sedado desde hoje pela manhã.
A sensação de náusea apoderou-se dele quando sentiu alguma coisa mover-se do seu interior. O tubo que o mantinha respirando foi retirado. Tinha vontade de tossir, mas o movimento não era efetivo. Parecia estar afogando-se em sua própria saliva.
- Aspire-o, rápido – ordenou o médico à auxiliar.
O grosso cateter foi introduzido em sua boca, aumentando a náusea já presente. Mas não havia o que vomitar. Era uma sensação horrível. Finalmente o ar voltou a entrar em seus pulmões e a secreção que o impedia de respirar foi retirada. Ainda sentia um ardor em todo o trajeto realizado pelo ar, desde suas narinas até as profundezas de seus brônquios. Ainda teria que repetir aquele processo de aspiração várias vezes até que suas vias aéreas estivessem recuperadas do longo tempo em que o equipamento de ventilação mecânica estivera presente em seu corpo ajudando-o a respirar.



Um toque em sua mão o fez despertar. A escuridão continuava. Apenas manchas avermelhadas atravessavam como que nadando na imensidão negra onde estava mergulhado. Sua garganta ainda doía e falar era impossível. Mal conseguia mexer os lábios. A pessoa, de mão magra e fria que acariciava a sua, parecia chorar baixinho, sem falar nada. Podia sentir o afeto emanando daquela presença. Seria sua mãe? Sentiu-se agitado diante deste pensamento. Estaria ela bem? Foi quando a porta se abriu.
- Acho melhor você ir agora, Glória. Se houver alguma mudança no quadro dele nós a avisaremos – a voz de Cláudia era estranhamente fria.
- Não me conformo em vê-lo neste estado. Um rapaz tão saudável, forte... Não é justo... – lamentava chorosamente.
- Ele precisa descansar, Glória.
- Desculpe. Não quero incomodar. Sei que não devia estar chorando, mas...
- Está bem, querida – interrompeu-a impaciente – Eu entendo. Agora, vá.
- Estamos todos rezando por você, Diego – o som voltou-se para ele e mais uma vez sentiu o dorso de sua mão ser alisado carinhosamente – Estou indo, mas volto assim que possível para vê-lo – despediu-se.
Aparentemente, estavam a sós agora. Cláudia e ele. Talvez pensasse que ele estava dormindo. Ouvia apenas o barulho do seu monitor cardíaco e das folhas de uma revista sendo manuseadas por sua noiva. Repentinamente um celular ecoou no minúsculo box da UTI onde ele estava internado.
- Alô? É você?... Sim. Estou com saudades... Não... Ele está dormindo... À noite? Claro que sim... Beijo... – seu tom era meloso, tal como ela lhe falava antes do acidente.
Sentiu ganas de gritar. Quanto tempo se passara dentro daquele lugar para Cláudia já estar envolvida com outro. Era este o amor eterno que ela tantas vezes lhe declarara? Então ouviu um grito. Sentiu que ela se aproximou, mas sem tocá-lo. Em menos de um minuto, a porta do recinto se abriu novamente.
- O que aconteceu? – perguntou a técnica de enfermagem.
- Olhe! O sangue na mão dele!
- Ele arrancou o abocath! – expressou-se surpresa – Como conseguiu? Viu quando ele se mexeu? E usou bastante força para conseguir este resultado...
- Não! Não vi nada.
- Vamos avisar ao doutor. Ele está começando a movimentar-se sozinho. É um bom sinal, mas vamos ter que imobilizar melhor este braço.
- Quer dizer que ele está reagindo? – perguntou incrédula.
- Sim! Não é uma ótima notícia? – vibrou a técnica.
Não houve resposta, apenas um silêncio doloroso.



- Diego, vou tirar a venda agora. Quero que fique com os olhos fechados até que eu diga para abri-los. No início, mesmo a mínima luz vai incomodá-lo, mas aos poucos irá acostumar-se. Entendido?
- Sim – apesar da rouquidão, já conseguia articular as palavras. A cada dia melhorava sua fala, porém, a grande expectativa agora era quanto a sua visão. Vários estilhaços de vidro tinham sido extraídos e esperava-se que a cicatrização não deixasse sequelas graves.
- Pronto. Pode abrir.
Um facho de luz radiante feriu seu campo visual, mas logo os vultos começaram a surgir mais definidos a sua frente. O primeiro rosto a possuir um contorno e uma expressão amigável, foi a do médico oftalmologista que falava com ele. Um pouco mais atrás, surgiu Cláudia. Linda, mas com um sorriso forçado. Ao seu lado definiu a presença de Marcelo, seu padrasto, com aparência preocupada e de uma desconhecida em uniforme branco, provavelmente uma enfermeira. Ninguém mais...
- E então? Está conseguindo nos ver?
- Sim, cada vez mais claramente...
- No início a visão poderá ficar um pouco turva, mas depois irá acostumando-se, até voltar ao normal. Faremos averiguações periódicas até você sair do hospital e depois que for para casa. Mas, pelo que posso ver, logo ela voltará a ser o que era antes. Talvez precise de óculos apenas para leitura.
- Muito obrigado, doutor.
Antes que todos saíssem, Diego interpelou o padrasto.
- Marcelo, quando vocês vão me dizer o que houve com minha mãe?
- Diego, eu estava esperando que você se recuperasse. Você ficou em coma por duas semanas, passou por uma cirurgia da coluna e por muito tempo esteve sob risco de vida. Já completou um mês do acidente... – parecia tentar encontrar as palavras certas para dar a notícia ao enteado – Infelizmente... A sua mãe não resistiu. Você se salvou por um milagre. Nem os médicos acreditavam na sua recuperação, tal a gravidade de seus ferimentos...
Diego deixou de prestar atenção a partir do momento em que as palavras “não resistiu” foram ditas por Marcelo. Apesar de já desconfiar, ouvir aquela frase confirmando seus piores temores era terrível. Sentiu uma grande fraqueza apoderar-se de seu corpo. Dor semelhante àquela só sentira quando recebeu a notícia da morte de seu pai, dez anos antes.










Diego Bernazzi

10 comentários:

  1. Rosane!!!!
    Mais um sucesso a vista,adorei a história,mto bem contada,mais parece que vai ser triste, e o Gerry está mto lindo nesta foto que vc.escolheu.
    Bjs,amiga.

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  2. Aiiii amiga, fiquei tão feliz quando entrei no blog hoje e vi que tinha novidades!!!
    Já percebi que vamos ter grandes emoções novamente, fiquei tensa de tanta expectativa logo que comecei a ler o romance e, como sempre está ma-ra-vi-lho-so, tão emocionante, quando digo que temos que criar uma Academia Gerryana de Letras não estou brincando, e você vai ser a Presidente!
    Um cheiro Rô e brigadinha por sempre nos trazer essa felicidade. E como disse a Cris a foto dele está lindaaa!!

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  3. E claro, uma semana de muita inspiração e felicidade! te adoroooo!!!

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  4. Oi, minhas queridas, Cris e Nadja! Que bom que gostaram. Estou tentando fazer um romance um pouco mais recheado de emoções que os anteriores. Espero que gostem das novidades. No fundo, o amor entre duas pessoas é o tema principal, não importa quantas dificuldades tenham que enfrentar para ficarem juntos.
    Um grande beijo a vocês, minhas amadas amigas!

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  5. Ro...
    To de volta!!!
    Já começei a gostar!!!
    Posta mais q eu to curiosa!!!!
    Beijos.

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  6. Luh! Que bom te ter por aqui! Fiquei muito feliz com o teu comentário. Bem vinda, querida! Beijos!

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  7. Carel disse:
    Ce tá brincando flor??? Parar bem agora!!!!!??????? Não quero meter pressã, mas.... quando tem mais???kkkkkkkkk Já adorei o Diego... hum... e quem não gostaria hein???kkk

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  8. Rô, minha querida! Que bom ver mais uma obra sua se iniciando! E eu tenho certeza que todas nós, suas fãs, compreendemos os seus problema com tempo. Afinal de contas, vc é multimulher, né!?
    E como assim!? Parou bem agora que eu estava na aior aflição com a história de Diego!
    Vou correndo, ler a segunda parte.
    Fui!

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  9. Menina, mas a coisa já começa com emoção pra todo lado!
    Tadinho do Diego, eu aqui tão solícita para amenizar o seu sofrimento, dando-lhe muitos carinhos e beijinhos e ele lá com a megera da Claudia, ninguém merece!
    E perder uma pessoa tão especial em um acidente assim, deve ser muitíssimo doloroso, imagino mesmo que depois de ouvir isso, ele já não conseguiu entender mais nada do que diziam.
    Que sufoco, amiga, vou logo ler o outro capítulo pra ver se me acalmo um pouco...
    Beijinhos

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  10. Oi amor! Comecei hoje! Atrasada né?
    Mas já deu pra sentir que a coisa só tem a esquentar e já tenho minhas suspeitas, mas vou ler com muita calma, para não estragar a surpresa.
    Bjs

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