terça-feira, 19 de maio de 2009

Um Sonho de Férias



Quando finalmente sentei na poltrona daquele avião, jurei que ia deixar para trás todos os problemas, decepções e tristezas dos últimos meses. O fim de uma relação de quase 10 anos não é fácil. Nunca foi... Não sei como sobrevivi tanto tempo. Ainda bem que a separação tinha sido amigável. Não por ele, mas por mim, já que a traída tinha sido eu. No final das contas, eu saí ganhando, libertando-me daquele tirano. Agora, estava livre para fazer o que eu realmente sempre desejei: viajar. Graças a Deus, consegui a minha licença para tratar de assuntos pessoais por seis meses e ia gozar das minhas economias de quase 10 anos como bem entendesse. "Seu dinheiro é para os seus alfinetes", como ele dizia. Neste caso, até que ele foi muito bom, já que não me deixava gastar um centavo do que eu ganhava, o que não era tão pouco. Ah! Já estava eu gastando o meu rico tempo ocioso, pensando naquele grosso. Chega! Agora ia curtir minhas férias.
Já estava tudo acertado. Ao chegar a Londres, eu pegaria outro avião, que me levaria direto para Glasgow. Lá teria um carro me esperando para realizar um dos meus grandes sonhos que era conhecer a Escócia. Antigamente, eu sonhava em pegar uma mochila e sair pedindo carona. Agora, com 35 anos, eu já estava meio velhusca para ficar de dedão apontando para o além, na beira de uma estrada. Teria um pouco de mordomia, mas o espírito de mochileira seria o mesmo.
Depois do jantar, tomei um Dramin e, em cerca de 30 minutos o sono começou a chegar. Só acordei na manhã seguinte, com a movimentação dos outros passageiros que iam aos toaletes para se arrumar, antes do café da manhã.
Logo depois das aeromoças retirarem as bandejas, o comandante deu o aviso que estávamos chegando à Londres. A temperatura era de 10ºC. Estávamos em Novembro, ainda outono por lá, mas já estava ficando bem frio. Que bom! Adorava o frio. Se tivesse sorte, naqueles próximos meses, ainda veria muita neve.
Eram 07h30min, quando desembarcamos no Aeroporto de Heathrow. O meu vôo para Glasgow só sairia às 19h15min. Portanto, teria um bom tempo para dar uma chegada ao centro de Londres e respirar um pouco do ar britânico. A última vez que tinha estado por lá, há mais ou menos cinco anos atrás, era verão e a cidade estava linda, as pessoas alegres, os pubs repletos, com as pessoas na calçada, curtindo o calor, que é tão raro por aquelas bandas.
Graças ao meu passaporte italiano, conseguido por ser bisneta de italiana, não precisei ficar aguardando na fila dos sul-americanos. Como cidadã européia, tinha meus privilégios.
Tinha pouca bagagem. Assim que atravessei a área da alfândega, procurei um armário para guardar meus pertences. Munida só de minha bolsa, com o passaporte e dinheiro, fui em busca do Heathrow Express, que me levaria para o centro de Londres em 15 minutos. Viva o sistema de trens da Europa!
Passeei o resto da tarde, revendo aqueles monumentos maravilhosos: Trafalgar Square, o Big Ben, o Parlamento... Obras de tirar o fôlego. Às vezes me beliscava para ver se não estava sonhando. Eu, sozinha, em Londres, sem nada para me atormentar, sem relógio. Minha única preocupação era voltar ao aeroporto, a tempo de pegar o avião para Glasgow. Que delícia!
Depois de 1:30 hora de viagem, chegamos à Glasgow.
Peguei minha bagagem, fui até o balcão da National Rent A Car para saber se estava tudo certo com o meu carro e que horas eu poderia pegá-lo no dia seguinte. Fui informada de que o meu KA seria liberado a partir das 10 horas do dia 12 de Novembro.
Peguei um táxi e fui até o endereço do hotel que a agência de turismo tinha reservado, próximo ao aeroporto. Como ele ficava meio longe do centro da cidade, resolvi me acomodar, tomar um banho e dormir cedo. No dia seguinte, depois de pegar o carro, daria uma volta para conhecer a cidade. Esperava conhecê-la com calma, na volta do meu tour escocês.
No dia seguinte, recuperada pela boa noite de sono, fechei minha conta e peguei um novo táxi em direção ao Glasgow Airport, para pegar o meu carrinho.
Fiquei surpresa ao verificar que até GPS tinha naquele mini carro. Assim não me perderia, pensei. Depois de ouvir todas as explicações do simpático escocês da National, coloquei minhas coisas no banco de trás e tomei o volante. Saí da garagem sem problemas, apesar da mão inglesa. Já tinha dirigido lá da outra vez. Era só manter a atenção na sinalização. Aí resolvi ligar o GPS, conforme as explicações do manual que estava no porta- luvas. Até o centro da cidade tudo correu às mil maravilhas, com a voz metálica feminina instruindo todos os meus passos. Tão logo entrei no centro de Glasgow, a coisa começou a ficar confusa. Eu não sabia exatamente para que ruas me dirigir, por isso "ela" não podia me ajudar, como antes. Desliguei o aparelho e segui observando as placas nas ruas. As cidades européias são extremamente bem sinalizadas. Não há como se perder.
Parei para comer alguma coisa leve, antes de partir da cidade.
O meu plano inicial era ir direto para Edimburgo, mas em vista do horário - já eram 17h quando encontrei a saída da cidade - resolvi passar a noite numa cidade próxima, da qual haviam me falado muito bem, chamada Paisley. Ela ficava exatamente para o lado oposto à Edimburgo, mas estava distante de Glasgow menos de 40 km. Como deveria anoitecer ali pelas 19h, achei que poderia chegar cedo para pegar um hotelzinho simpático e conhecer a cidade à noite. Peguei a rodovia, indicada pelas placas. Nem lembrei de ligar o GPS. Acabei pegando uma estrada vicinal, que parecia encantadora, quando, de repente, o carro começou a engasgar. Não é possível, pensei. O carro acabou de sair da garagem, é novíssimo, baixa quilometragem. Acabei parada, no meio de uma estrada praticamente deserta, sozinha e me sentindo a pessoa mais azarada do mundo. Isto devia ser praga do Aírton. Que raiva!
Tentei me acalmar e recostei-me no banco do carro, de olhos fechados, tentando achar uma saída daquela situação. Acho que acabei cochilando.
Acordei assustada com batidas no vidro do carro. No meio do susto, não conseguia nem descer o vidro nem abrir a porta. Depois de alguns segundos, lembrei onde eram os controles das fechaduras e abri a porta. Ao lado do carro, com olhar questionador, estava um homem alto, levemente grisalho, uma barba que apenas lhe sombreava o rosto e dois olhos de um verde azulado que faiscavam. Perdi, momentaneamente, o dom da fala.
- Você está se sentindo bem? Pode falar?
- S-sim, estou bem. Obrigada. Devo ter cochilado.
- Pensei que estava passando mal. Você não deveria ficar parada nesta estrada, a essa hora. Pode ser perigoso.
- Desculpe, por tê-lo assustado. É que o meu carro enguiçou e eu estava pensando o que ia fazer. Devo ter pegado no sono. Eu cheguei de viagem, do Brasil, ontem e ainda não devo ter me acostumado com o fuso horário.
- Brasil?? Sério? Olha, eu não entendo nada de mecânica e já está ficando noite. Acho melhor te dar uma carona até Paisley e amanhã você manda guinchar o seu carro. Ele é alugado, não? É só entrar em contato com a locadora, ainda hoje, possivelmente, e eles terão de dar um jeito.
- Por favor, eu não quero incomodar - disse, porém adorando a idéia de ser ajudada por aquele homem charmosíssimo.
- Vai ser um prazer, Srta...?
- Marina. Meu nome é Marina.
- Marina - disse ele com aquele sotaque escocês delicioso - Belo nome, Srta. Marina - falou com um sorriso largo, encantador.
Ela saiu do carro e sentiu o olhar dele percorrer todo o seu 1,70 m de alto a baixo. Sentiu-se ruborizar e viu que ele havia notado, apesar da luminosidade de final de tarde. Ele deu um sorrisinho malicioso e perguntou pela sua bagagem.
- Está no banco de trás do carro.
- Só isso?
- Aí tem o básico. Pretendo comprar alguma coisa durante a viagem.
- Ah, sim. Então, vamos?
Tão logo deu a partida, começou a fazer perguntas:
- Você é do Rio de Janeiro?
- Não sou de Porto Alegre, uma capital do sul do país, bem diferente do Rio.
Comentei sobre minha cidade. Ele parecia muito interessado em tudo o que eu dizia. Contei que era pediatra, que trabalhava em Saúde Pública e que conseguira uma licença longa para poder viajar. Ele pareceu ler meu pensamento e disparou uma pergunta:
- Alguma decepção amorosa?
- Como você adivinhou? - disse eu, surpresa com a pergunta.
- Para uma bela mulher como você, estar viajando sozinha pela Europa, sem noção de quando voltar, não fica difícil de imaginar.
Ele deve ter notado que as lágrimas logo brotariam de meus olhos, apesar do meu sorriso amarelo.
- Desculpe, eu não queria te ofender ou magoar. Se você não quiser falar sobre isto.
- Não, é que é muito recente e... Desculpe, mas eu mal o conheço, nem sei o seu nome e você já está sabendo de detalhes da minha vida sentimental.
- Perdão, Marina. O meu nome é Thomas Gallagher, mas pode me chamar de Tom. Assim me chamam os amigos.
- Você mora aqui em Paisley ou só está de passagem?
Ele abriu um largo sorriso, com um misto de surpresa.
- Já fui de Paisley. Agora trabalho entre Londres e Los Angeles. Quem ainda mora aqui é minha mãe e meu padrasto. Vim passar alguns dias aqui, fugindo do trabalho, para matar as saudades. Prometi à minha mãe que estaria aqui no dia do meu aniversário.
- Sério? Quando é o seu aniversário?
- Amanhã.
- Oh! Parabéns, então. E eu atrapalhando a sua volta para casa. A sua mãe vai querer me linchar quando souber que eu atrasei a chegada do filho pródigo.
- De maneira alguma. Tenho certeza de que a Janet vai adorar você.
- Como assim???
- Acabei de decidir que você vai para a minha casa hoje. Já estamos quase chegando lá e, tenho certeza de que será bem vinda. Pode segurar o queixo e fechar a boca. Já está decidido - e caiu na risada, de um jeito tão simpático e jovial, que não tive como contra argumentar.
- Tem certeza de que não vou atrapalhar?
- Tenho certeza que não - disse ele lançando um olhar reconfortante.
Senti que podia confiar plenamente naquele homem. Apesar de um pouco ansiosa, me sentia segura ao seu lado. Não nos falamos mais, até a chegada na linda casa estilo vitoriano onde Janet morava. Ao fundo, podiam-se ver as montanhas e uma extensa vegetação. O jardim era muito bem cuidado.
Ele chegou buzinando feito um menino, com a felicidade estampada no rosto.
Uma senhora de cabelos grisalhos, um pouco cheinha, simpaticíssima, saiu correndo de dentro da casa, gritando:
- Thomas, Thomas, meu filho querido!
Tom abriu a porta do carro e saiu na direção dela. Tão logo a alcançou, a levantou no ar com um abraço efusivo. Beijaram-se muito. Não deviam se ver há muito tempo.
Achei aquela cena tão linda . Não estava acostumada a ver um filho tão carinhoso. Aírton sempre foi muito frio em relação aos pais. Mais um ponto para o meu salvador.
Resolvi sair do carro, de fininho para não atrapalhar aquele momento de encontro maternal, mas logo senti o olhar de Janet, já me analisando.
- Tom, querido, que surpresa é esta? Não diga que criou juízo e resolveu arranjar uma boa moça para casar e ter filhos? Venha cá, meu bem. Não se acanhe!
- Mãe, esta é Marina - disse ele, todo sorridente, sem nem fazer menção de desfazer o mal entendido da mãe.
- Marina... Meu filho recuperou o bom gosto, aleluia! Ela é italiana? - perguntou, sem tirar os olhos de mim.
- Não, mãe. Ela é brasileira.
Aí, senti um olhar muito sutil de reprovação, mas que logo se transformou num sorriso.
- Meu filho sempre teve uma quedinha pelo Brasil. Seja bem vinda, minha filha. Vamos entrar.
Então me senti na obrigação de desfazer o mal entendido, antes que a situação tomasse proporções maiores.
- Desculpe, Sra. Janet, mas está havendo um equívoco aqui. O seu filho e eu nos conhecemos a pouco, lá na estrada. Eu estava perdida, com meu carro enguiçado e ele se ofereceu para ajudar. Ele realmente foi um amor. Gostaria que a senhora soubesse que estou muito lisonjeada com seus elogios e que esteja livre para aceitar-me na sua casa esta noite ou não. O Tom me convidou para ficar, mas eu posso perfeitamente me hospedar num hotel. Não quero dar trabalho algum. Por favor, fique à vontade.
- Minha filha, - disse ela me cortando a fala - o que o Tom resolver, está resolvido. Claro que você fica. É uma pena saber que este filho ingrato ainda não me arranjou uma nora decente.
Dizendo isto, deu um puxão de orelha no filho e seguiu para dentro de casa, gritando para que entrássemos, pois estava ficando frio e não queria ninguém doente naquela semana.
Tom pegou as minhas duas maletas e, passando o braço ao redor de meus ombros, sorrindo, me disse, em tom bem baixo para a mãe não ouvir:
- Podia ter deixado ela na ilusão de que teria uma nora – dizendo isto, apertou-me contra si.
- Você é louco? Onde já se viu enganar a pobre senhora?
- Estou brincando. Você está certa. Vamos lá enfrentar as feras!
“Feras?”, pensei. Comecei a ficar preocupada.
A casa tinha uma decoração muito alegre e aconchegante. Poltronas e sofás com estampas florais, inúmeros porta retratos com fotos de família espalhados por todo o lado. Quase podia me sentir em casa. Logo, fui apresentada ao padastro de Tom e aos seus irmãos mais velhos, Mary e Carl. Todos muito simpáticos e acolhedores. Fui levada, por Janet, ao quarto de hóspedes, no segundo andar.
- Querida, fique à vontade. Tome um banho e relaxe. Sinta-se como se estivesse em casa, está bem?
- Nem sei como agradecer, Sra. Janet.
- Eu sei. Seja amiga do meu filho e tente colocar um pouco de juízo na cabeça dele.
Não soube o que responder.
O quarto era espaçoso, no mesmo estilo da sala, com estampas florais nas cortinas e na colcha sobre a cama. Tudo parecia um sonho, do qual eu ia acordar em breve. Que loucura! As coisas acontecendo tão rápido que eu não estava conseguindo assimilar os acontecimentos. Na porta do armário, havia um grande espelho de corpo inteiro, onde pude ver a minha imagem refletida. Até que eu não estava mal, apesar dos cabelos ligeiramente desgrenhados. A imagem era de uma mulher jovem, aparentando menos de 30 anos (as mulheres da minha família sempre pareciam mais jovens do que realmente eram), corpo bem proporcionado, com seios fartos e quadris arredondados. O rosto anguloso, com olhos negros, levemente amendoados e uma boca carnuda, bem desenhada. Minha avó dizia que eu seria a cara da Sofia Loren. Coitada da Sofia... De qualquer jeito, até que, no geral, eu estava bem. Espere aí! O que eu estou pensando com esta análise toda? Marina, Marina... Não invente moda! Você mal saiu de uma roubada e já está pensando em bobagens.
Com um desconhecido, ainda por cima. Mas, que ele era um pedaço de mau caminho, era. Sem dúvida. Eu deveria ser que nem algumas amigas, recém-separadas, que só pensavam em curtir a liberdade, sem grandes preocupações. Porém, eu sempre fora mais introvertida. Era só olhar para trás e imaginar porque mantive um casamento infeliz por quase 10 anos, até não agüentar mais. Uma covarde, isto sim! Sabe que mais? Vou tomar um belo banho e relaxar um pouco antes do jantar. Chega de pensar besteiras. Deve ser o cansaço devido à diferença de fuso horário.
Quando abri a porta do quarto, quase cai para trás. Dei de cara com Tom, seminu, vestido apenas com uma toalha amarela pequena, que ele segurava para não cair, lindo como um deus bárbaro, na porta do banheiro.
- Oi, Marina! Estava indo tomar banho. Não quer ajudar a economizar água e vir junto? - dizendo isto, soltou uma gargalhada.
- Estou brincando. Não precisa ficar nervosa. Se você desmaiar, vou ser obrigado a soltar esta toalha para ajudá-la.
Devo ter ficado vermelha em todos os tons possíveis e imagináveis, para ele sorrir do jeito que sorriu.
- Prometo não demorar, ok? Você deve estar precisando dar uma relaxada também, não?
Dizendo isto, entrou no banheiro e fechou a porta, sem trancá-la.
Mas que tipo mais convencido! Mas ele bem que pode. Ai, ai, ai... Te segura, Marina!
Fiquei distraída no meu quarto, imaginando a água do chuveiro escorrendo por aquele corpo malhado, quando, repentinamente, bateram na porta:
- O banheiro está livre, milady!
- Obrigada - foi só o que consegui dizer.
Tomei meu banho e me preparei para o jantar. Vesti um conjunto de malha esportivo, branco, que realçava o bronzeado discreto que eu adquirira antes da viagem. Já estavam todos prontos para jantar, inclusive ele. Senti o olhar de admiração de Tom, ultrapassando o moletom e fazendo com que me arrepiasse toda.
Tudo transcorreu tranqüilamente. Todos estavam muito alegres. Fiquei sabendo qual a profissão de Tom. Senti-me completamente idiota, pois nunca tinha ouvido falar dele. Há muito tempo não freqüentava as salas de cinema. Porém, ele não pareceu ficar chateado. Pelo contrário, parecia aliviado.
Logo após a sobremesa, notei que ele se retirou da sala de jantar e foi para os fundos da casa. Não soube dizer com certeza, mas Janet me olhou, como que pedindo que eu fosse atrás dele. Ainda fiquei por ali alguns instantes e fui ao encontro dele.
Havia uma pequena varanda, atrás da cozinha, toda envidraçada, com cadeiras estofadas, reclináveis. Em uma delas, estava Tom, pensativo, olhar distante, uma ruguinha deliciosa no meio da testa e a boca fazendo um beicinho, que atraía para um beijo. Fiquei algum tempo contemplando aquela visão, tão lindo e perdido em pensamentos, com medo de tirá-lo daquele transe. Mas, de repente, ele percebeu a minha presença e disse:
- Que perfume bom que você está usando. Venha sentar aqui e apreciar o meu cartão postal predileto.
Sentei na poltrona ao lado da sua e percebi o que ele queria dizer. Diante de nós, à luz da lua cheia, podíamos vislumbrar uma paisagem linda com as montanhas ao fundo, digna das Highlands.
- É, realmente, é uma vista linda de se ver, ainda mais com este luar. Tom, eu vim te agradecer por tudo que você fez por mim hoje e desejar uma boa noite.
- Por favor, fica aqui comigo. Vamos conversar um pouco. Por favor?
Como que hipnotizada por aquele olhar, tornei a me sentar. Só a luz do luar iluminava a saleta. Tudo parecia um sonho.
- O que você quer conversar?
- Por exemplo, o que ou quem a fez fugir para cá?
- Não quero estragar a noite com este assunto.
- É bom desabafar, Marina. Além do mais, depois do nosso encontro no corredor, já somos praticamente íntimos - disse ele dando uma risada gostosa. Tive de rir também, meio encabulada.
Acabei contando como havia me enganado com o Aírton, de como ele se transformou depois do casamento, as humilhações, traições. Enfim, tudo que tinha levado ao fim da nossa relação. No final, senti que não conseguia mais segurar as lágrimas, chorando por mim, por tudo que eu tinha suportado naqueles anos e, principalmente, pelo medo que sentia de "encarar" um novo relacionamento.
Tom levantou-se da cadeira e pôs-se de joelhos na minha frente. Começou a afagar meus cabelos. Foi se aproximando, devagar, e quando dei por mim, ele estava secando minhas lágrimas com beijos suaves, por todo o meu rosto. Meu corpo reagiu, como se uma brisa quente o percorresse. Minhas mãos passaram a acariciar os seus cabelos sedosos, suas orelhas e sua face. Do rosto, ele passou a beijar meu pescoço. Seus braços fortes enlaçaram minha cintura e me puxaram contra ele. Uma de suas mãos abria o zíper do meu moletom, enquanto a outra descia pelas minhas costas, me apalpando com força e sofreguidão. Quando seus lábios estavam próximos aos meus seios, ouvimos uma voz, aproximando-se: - Crianças, vocês estão aí?
Como dois adolescentes pegos em flagrante, rapidamente nos afastamos e tentamos nos recompor. Ela entrou na varanda, a tempo de notar nosso mal estar. Deu um sorriso malicioso (tal mãe, tal filho) e falou:
- Marina, querida, estão ligando da National para avisar que vão rebocar o seu carro e querem saber onde devem entregar o novo veículo.
Àquela altura, eu não sabia de mais nada. Até tinha esquecido que tínhamos ligado para a locadora e estávamos esperando o retorno.
- Mãe, por favor, diga a eles que a Marina não vai querer o novo carro, no momento, porque resolveu ficar em Paisley alguns dias. Quando ela estiver pronta para reiniciar a viagem, ela entrará em contato.
- Tom, não. Eu não posso ficar aqui. Além do mais tenho um contrato com eles, podem me cobrar multa... Sei lá.
- Marina, em primeiro lugar, você quer ficar aqui, sim. Você acabou de me dizer isto, agora mesmo - falou em tom mais baixo, lançando um olhar de súplica - Segundo, eles é que devem ter medo de um processo depois de lhe darem um carro com falha mecânica, que a deixou na mão nas primeiras horas após ter saído da garagem. Portanto, já está resolvido. Não se preocupe mais com isso. Mãezinha, você pode fazer este favor por nós?
- Claro, meu filho! Ele está certo, Marina. Vai ser muito bom tê-la aqui conosco estes dias. Ainda mais que amanhã será um dia especial, de festa, pelo aniversário do meu caçula. Disse isto e saiu rapidamente para responder o telefonema.
- Vocês estão armando um complô contra mim, isto sim - falei, já recuperada do flagrante e dos argumentos de Tom, sorrindo divertida. Aos poucos o meu medo estava sendo substituído por uma vontade enorme de ficar ali, ao lado daquele homem encantador e da sua simpática família.

Assim que Janet deu as costas, Tom avançou em minha direção. Fui envolvida por aqueles braços magníficos e pude sentir a sua respiração, enquanto ele cheirava meus cabelos e beijava minha testa.
- Como você cheira bem. Estou ficando louco por você, sabia?
Fui sentindo as pernas fraquejarem, quase me entregando de novo aquelas carícias, quando consegui forças, Deus sabe de onde, para afastá-lo, delicadamente, antes que aquilo se tornasse irreversível.
- Tom, acho que estamos indo rápido demais. Nós mal nos conhecemos. Também estou ficando louca por você e isto está me assustando.
Aqueles olhos verdes me olhavam de um jeito. Minha vontade era me jogar nos seus braços e transar ali mesmo, à luz do luar.
- Você diz isso, mas o seu olhar diz outra coisa, Marina. Mas eu respeito os seus temores. Eu posso esperar pelo seu sinal verde. Temos alguns dias pela frente para nos conhecermos melhor. Então, vamos só conversar mais um pouco?
- Está bem, só conversar.
Conseguimos ficar mais de duas horas conversando, conseguindo controlar o desejo, sabe-se lá como. Tom era muito brincalhão e conseguimos dar boas risadas enquanto ele contava fatos pitorescos da sua vida e situações difíceis, das quais ele tinha se safado. Senti que poderia passar o resto da vida ouvindo aquela risada, vendo os trejeitos que ele fazia com a boca, enquanto falava , ouvindo aquele sotaque levemente chiado no meu ouvido e sentindo a virilidade emergente a cada movimento de seu corpo. Eu estava ficando irremediavelmente perdida de amor.
Com dificuldade, tivemos que encerrar nossa conversa. Gentilmente, me acompanhou até a porta de meu quarto e, após um “boa noite” com voz rouca, me beijou a boca com suavidade. Esperou que eu entrasse e se recolheu.
Tive dificuldade em acordar na manhã seguinte, pois ficara muitas horas pensando em tudo que estava me acontecendo. O medo de sofrer ainda era um fantasma que eu tinha de eliminar.
A movimentação na casa era grande. Ouvia, com freqüência, a voz de Janet ordenando alguma coisa. Parece que o almoço de aniversário estava sendo preparado em grande estilo. Resolvi levantar, apesar da preguiça, vestir meu robe e ir ao banheiro para me lavar. Dei uma ajeitada no cabelo e abri a porta com cuidado, verificando se o corredor estava livre, e saí na ponta dos pés. Quando estava alcançando a porta , ouvi um sonoro "Bom dia!". Era Tom! Quase tropecei com o susto. Ele não podia me ver naquele estado, com os olhos inchados, totalmente desalinhada. Um horror!
- B-bom dia!
Entrei correndo no banheiro e fechei a porta com mais força do que desejava. O que ele vai pensar? Nem dei os parabéns! Bem, nem tinha cabimento fazer isto com estes olhos remelentos e hálito horrível. Nunca mais ele ia querer saber de mim. Calma! Depois que estiver recomposta, vou até ele para felicitá-lo. Que idade será que ele está fazendo? Pergunto ou não? Acho que vou perguntar para Janet.
Com milhares de pensamentos estúpidos passando pela mente, consegui tomar outro banho, escovar os dentes, passar uma maquiagem leve e pentear os cabelos.
Agora, tinha de passar pelo corredor novamente. Abri a porta, torcendo para que ele não estivesse por ali. Parece que estava tudo calmo. Corri para o meu quarto e fechei a porta rapidamente. Quando me virei, soltei um grito ao verificar que Tom estava recostado na cama, me olhando com olhar divertido.
- T-Tom, o que você está fazendo aqui??
- Vim receber minhas felicitações pelo aniversário - falou com aquele sorriso maroto estampado no rosto.
- Você não podia esperar que eu me arrumasse? Por favor, saia daqui, agora, Sr. Thomas Gallagher.
Foi só o tempo de me virar para abrir a porta e ele saltou da cama, me pegou nos braços, passando as mãos por todo o meu corpo e me deu um beijo de tirar o fôlego.
- Estava com saudades. Passou bem a noite?
- Péssima! Você consegue tirar o sono de qualquer uma.
- Qualquer uma não me interessa. Só você.
Suas mãos continuaram a me acariciar, até que meu robe foi aberto. Ele me jogou sobre a cama e começou a me torturar com seus beijos. Eu sentia latejar cada músculo do corpo. Eu já estava tentando tirar a camiseta dele, quando, novamente, a voz de Janet alcançou nossos ouvidos:
- O almoço já está quase pronto. Preparem-se! Thomas!! Onde está você?
Parece que ela sabia exatamente o momento de nos interromper. Nos olhamos decepcionados, ambos sorrindo amarelo.
Não tivemos alternativa, além de nos ajeitarmos e nos despedirmos.
- Vou te esperar lá embaixo. Não demora.
Me deu um beijo rápido, esperou um momento para que pudesse voltar ao normal e saiu cabisbaixo.
Depois de tentar escolher alguma coisa jovial para colocar, no meu "vasto" guarda roupa de viagem acabei escolhendo uma calça de lã marrom e uma blusa de malha marfim, com decote em V, que valorizava meus seios. Estava com visual jovem e sensual. Será que o decote não estava demais? Será? Chega de dúvidas! Afinal, eu não tinha grandes escolhas. Breve, eu teria de comprar algumas roupas novas.
Vamos lá, e seja o que Deus quiser.
Entrei na sala de jantar, que estava toda decorada com balões coloridos e uma faixa de "FELIZ ANIVERSÁRIO, THOMAS". Dei bom dia para todos. Fui até o aniversariante, desejei feliz aniversário e lhe dei um beijo fraternal no rosto, recebendo de volta um sorriso irônico e um muito obrigado.
- Infelizmente não pude comprar nenhum presente para você. Mas depois dou um jeito nisto.
Ele se abaixou e falou sussurrando no meu ouvido:
- Meu presente é você!
Mais uma vez, me arrepiei toda.
Sentamos todos, sendo que Tom ficou sentado ao meu lado e Janet, com a ajuda de Mary, passou a trazer os pratos. O almoço estava ótimo. A comida escocesa já estava fazendo parte da minha lista das prediletas. Já não estava me sentindo como "uma estranha no ninho”. Cerca de duas horas depois, todos satisfeitos com a sobremesa deliciosa (uma receita caseira da avó de Tom), resolvi ajudar a tirar a mesa e oferecer-me para lavar a louça.
Enquanto conversava animadamente com Janet e Mary e ajudava a secar a louça, senti que Tom me observava à distância, se deliciando com a cena familiar. Mais uma vez, me senti em casa.
Quando tudo já estava arrumado, Tom entrou na cozinha e perguntou se eu não gostaria de dar uma volta. Estava uma tarde mais quente. A temperatura de 20º naquela época do ano tinha de ser aproveitada. Havia poucas nuvens no céu. Talvez mais tarde chovesse, mas naquele momento ainda havia um sol brilhando com intensidade.
Saímos pelos fundos, em direção ao campo. Ele pegou minha mão e, como um casal de namorados, seguimos por uma trilha. Ele foi me contando sobre a sua infância, sobre as travessuras com os irmãos, sempre com aquele bom humor que lhe era peculiar.
Já devíamos ter caminhado uns 2 km, quando chegamos a um pequeno lago. Estava tão lindo e agradável que resolvemos nos sentar e apreciar a vista.
Ele sentou-se com as pernas dobradas e os cotovelos apoiados sobre a relva, olhando perdido em lembranças, sério e, novamente, com aquela ruguinha entre as sobrancelhas. Ele parecia tão frágil, que tive vontade de abraçá-lo. Ao invés disso, perguntei no que estava pensando.
- Estava lembrando a minha adolescência. Eu tinha tantos problemas, a falta de meu pai, um vazio tão grande. Eu fugia para cá, me deitava neste mesmo lugar e ficava olhando para o céu, tentando esquecer.
- Tom, agora tudo isto ficou para trás.
Não resisti à tentação. Me inclinei em direção ao seu rosto e o beijei. Senti seus braços me envolvendo, seus lábios devolvendo meu beijo com força, sua língua penetrando a minha boca, ansiosamente. Perdi a noção de tudo. Nossas mãos seguiam ávidas, explorando um ao outro. Comecei a sentir pingos de chuva sobre nós. Nem havia notado que o sol tinha sido encoberto por nuvens cinzentas e que o tempo estava virando. Nada importava. Num instante, ele arrancou minha blusa e meu soutien, e passou a me beijar o colo, mordiscando meus mamilos e fazendo meu corpo estremecer. Pedi que tirasse a camisa e, logo pude encher meus olhos com a visão daquele tórax poderoso, seus braços malhados sem exagero. Fiz com que ele se deitasse e tomei o comando das carícias, fazendo uma deliciosa viagem pelo seu corpo, com as mãos e a boca, palpando e beijando cada milímetro daquele ser amado. Ouvia seus gemidos de prazer, me excitando cada vez mais. A esta altura, a chuva caía forte, refrescando a incandescência que sentia. Nos amávamos frenéticamente, então. Seu corpo molhado contra o meu só aumentava o prazer, até chegar a satisfação completa, que se prolongou por alguns minutos. Então, caímos exaustos sobre a grama molhada. Eu nunca tinha experimentado uma sensação como aquela. Não poderia haver felicidade e paz maior que a que eu sentia naquele momento.
Sentindo frio e completamente molhada, me abracei a Tom. Senti um calor gostoso me possuindo. Ele se levantou e me ajudou a ficar de pé. Tentei cobrir-me com as mãos, envergonhada, ao que ele sorriu deliciado e disse:
- Não precisa encabular. Você está linda assim, nua e molhada. Vamos pegar nossas roupas e sair daqui. Conheço um lugar onde podemos nos abrigar.
Corremos nus pelo campo. Era uma situação completamente insólita para mim. Chegamos a um velho barracão de madeira. Lá dentro, por incrível que pareça, havia lenha, fósforos, varas de pescar, linhas e anzóis e uma pequena prateleira com cobertores e toalhas.
- Meu padrasto tem mantido isto aqui como antigamente.
- O que é isto aqui?
- Construímos este galpão há muitos anos atrás, Carl e eu, para servir de refúgio durante nossas pescarias no verão. Muitas vezes vínhamos à tardinha e passávamos a noite aqui, conversando e contando casos e estórias de terror. Já tinha até esquecido disto... Bem, agora é nosso refúgio - disse ele se aproximando de mim e me abraçando com ternura, tentando me proteger do frio. Ruborizei e ele soltou uma risada.
- Depois de tudo que aconteceu, você ainda fica ruborizada? Você não existe!
- Não é todo dia que uma coisa destas nos acontece, sabia? Olha em que situação você me meteu.
- Eu meti? Quem me atacou na beira daquele lago, foi a senhora.
Ele tinha razão. Resolvi ficar calada, mas notei que ele estava se divertindo muito com tudo aquilo.
- Cubra-se com esta toalha, enquanto tento acender uma fogueira.
Ele pegou uma espécie de gamela de ferro fundido que estava num canto, jogou umas toras de madeira e um pouco de álcool, que também estava na prateleira, e ateou fogo. Logo tínhamos uma pequena lareira improvisada no centro do barracão. Estendeu dois cobertores no chão.
- Vamos estender as roupas perto do fogo e torcer para que elas sequem, senão vamos ter que ficar um bom tempo por aqui - disse maliciando.
Tom colocou uma toalha em torno da cintura e sentou-se sobre o cobertor.
- Vem prá cá, vem - me chamou.
Meio sem jeito, mas já com aquele calorão começando a subir pelo peito, sentei ao seu lado.
- Para a gente se esquentar melhor você tem que ficar bem pertinho de mim... Assim...
Dizendo isto, me puxou para junto dele. Foi como se um pavio de um barril de pólvora tivesse sido aceso. Minha toalha foi desprezada para algum canto do galpão e as carícias tiveram início. Suas mãos percorriam novamente meu corpo, que respondia com tremores de prazer. Desta vez me possuiu como um selvagem, mordendo e apalpando com força. Eu respondia igualmente, quase cravando minhas unhas nos seus braços, costas e nádegas. Nos amávamos com frenesi, como dois insanos. Chegamos ao orgasmo juntos e mais uma vez caímos naquela sensação boa de relaxamento e luxúria, esquecidos de tudo do mundo exterior. Ficamos abraçados um bom tempo, ouvindo apenas as batidas descompassadas de nossos corações. Agora, eu entendia o que era sentir prazer. Queria aquele homem só para mim, o resto da vida. Seria capaz de qualquer coisa para ficar com ele. Acho que acabamos por pegar no sono, curtindo o calor de nossos corpos.
Acordamos algum tempo depois, já com o fogo quase apagando e a escuridão tomando conta daquele dia. A temperatura começara a cair. As roupas já estavam quase secas.
- Tom, acho que temos de voltar. Bem que eu gostaria de parar o tempo aqui, neste momento, neste lugar, mas...
- Você está certa. O pessoal vai começar a ficar preocupado. Vamos nos vestir e voltar. Se bem, que por mim, eu ficaria aqui, fazendo amor com você a noite toda - dizendo isto, me olhou muito sério e me beijou. Um beijo apaixonado, longo e arrebatador.
Lentamente, nos obrigamos a sair dali e tomar o caminho de volta, pensando em que desculpa daríamos pela nossa ausência até aquela hora. Já passava das 20h.
Deixamos de nos preocupar com explicações, quando fomos recebidos alegremente por Janet, dando olhares de quem sabia o que tinha acontecido. Fez-me sentir envergonhada. Imagina o que ela devia estar pensando "essas brasileiras não tem jeito. Mal conhecem um homem e já vão logo se deitando com ele... Uma vadia". Já devia estar com a minha reputação totalmente enlameada junto àquela família. Será que o Tom não estava pensando da mesma forma? Oh, não! Porque eu não tinha resistido? Agora era tarde demais. Não, não, não... Não pense assim, Marina. Deixa de ser boba. Ele já me conhece o suficiente para saber que tudo aconteceu sem planejamento. Não tenho culpa de ele ser tão sedutor. Não tinha como resistir.
Melhor parar de pensar besteiras e ir direto tomar um banho.
Como que lendo meus pensamentos, Janet falou:
- Vão logo tomar um banho quente, antes que peguem uma pneumonia. Um de cada vez, por favor! - complementou, tão logo viu Tom me abraçando e se dirigindo às escadas.
- O que é isso, mãe? Que história é essa?
- Vamos, Thomas! Eu sou sua mãe e te conheço muito bem. Dê uma folga para que ela possa respirar! Vá, meu bem. Tome o seu banho sossegada que eu o seguro um pouco por aqui.
Com esta ordem, segurou no braço dele e disse:
- Nós precisamos conversar.
Pronto! Agora ela teria a conversa que acabaria com todas as minhas chances de tê-lo junto a mim. Eu devia começar a preparar minhas malas e meu coração para o fim daquela aventura amorosa. Sabia que era bom demais para ser verdade. Fui para o banheiro, segurando o choro.
Saí do banho e entrei no quarto, com esperança de que ele estivesse me esperando como da última vez. Fiquei desapontada ao ver que o quarto estava vazio. Certamente, a conversa com a mãe já frutificara e ele havia começado a esfriar comigo, antes de chegar ao fim da linha. Com um aperto no coração, terminei minha arrumação e desci para a sala de jantar. Para minha surpresa, ele já estava pronto, de banho tomado, junto com os pais, aparentemente, me aguardando. Notei a ausência de Mary e de Carl. Provavelmente tinham decidido ir embora, para não ter que conviver mais tempo com alguém promíscua, como eu. Oh, meu Deus, em que situação eu me metera. Sempre fui uma pessoa tão certinha, sem deslizes e agora, de repente, seria considerada uma devassa, logo por pessoas a quem passara a admirar tanto. Que vergonha!
- O que houve, Marina? Você andou chorando? – perguntou Janet. Olhei para Tom, que estava me olhando preocupado e disse:
- Não! Foi um pouco de sabão que caiu nos meus olhos e eles ficaram irritados - menti.
Durante todo o jantar, Tom não tirava os olhos de mim, tentando me sondar porque eu estava tão distante, não participante das conversas. Tanto Janet como o marido continuavam simpáticos como sempre. Criei coragem e perguntei sobre os dois irmãos ausentes. A resposta, claro que uma desculpa, foi de que eles tinham retornado a Glasgow para retomar o seu trabalho, pois estávamos em plena quarta feira e eles tinham conseguido escapar por um dia, apenas para poderem rever o irmão e participar da festa de aniversário. Qualquer um teria aceitado isto como um fato normal, mas eu só conseguia enxergar aquilo como uma bela desculpa para não precisarem cruzar seus olhares com o meu. Tudo havia se virado contra mim. Não conseguia pensar de outra forma. Quem me dera estivesse enganada.
Depois daquele jantar torturante, resolvi ir até a saleta envidraçada da noite anterior. Hoje não havia a luz do luar. Tudo parecia tão triste. Fiquei ali sentada, pensando se Tom viria para conversar e colocar um ponto final naquele nosso "afair". Poucos minutos depois, senti a sua presença e o seu perfume preenchendo todo o vazio do ambiente e do meu coração. Ele contornou minha cadeira e, mais uma vez, se ajoelhou diante de mim, me olhando daquele jeito que me deixava louca e onde eu queria me perder para sempre.
- O que está havendo? Porque você andou chorando?
- Eu já disse que não estava chorando. Foi sabonete nos olhos.
- A quem você acha que engana? Porque você não diz que está com saudades daquele seu ex-marido? Que me usou para passar o tempo e agora se deu conta do engano!
Ele demonstrava mágoa e raiva na voz.
_ O quê? Não! Você está entendendo tudo errado! - disse, admirada com a reação dele.
- Ah, é? Então me explique porque andou chorando? Porque quase não falou durante o jantar? Porque a indiferença?
- Eu pensei que você não ia me querer mais. Que eu era só mais um caso. Uma mulher fácil, sozinha, liberada, em busca de uma aventura - falei ,tentando engolir o choro.
- Mas, de onde você tirou uma idéia destas? Depois de tudo que aconteceu conosco? Como pôde pensar que eu seria canalha a este ponto?
- Quando chegamos do lago e a sua mãe quis conversar com você. Pensei que ela ia te pedir prá me mandar embora. Eu vi como ela nos olhou quando chegamos. Até entendo, que ela, como mãe, esteja protegendo o filho e o seu lar de uma provável oportunista.
- Marina, sua bobinha! - disse isto, já me abraçando. Uma sensação reconfortante foi tomando conta de mim, mas, ainda não conseguia acreditar que eu estava errada.
- Mas que conversa foi esta que Janet teve com você, afinal!
- Quer mesmo saber?
- Claro que quero!
- Marina, eu nunca havia trazido mulher alguma nesta casa, desde que saí de Paisley há anos atrás. Nem seria capaz de fazer isto, em consideração a meus pais. Minha mãe sabe disso. Tanto que ela demonstrou sua animação quando chegamos. Lembra?
- Lembro... Mas você não me trouxe até aqui como namorada. As coisas foram acontecendo, sem controle, depois.
- Pode parecer loucura, mas quando te vi naquele carro, de olhos fechados, sozinha, frágil e linda, senti algo que nunca tinha sentido antes. Quase tive certeza de que você era a mulher dos meus sonhos, Depois, conversando e vendo o seu jeito de ser, me encantei ainda mais. Se dá para acreditar em amor à primeira vista, acho que foi isto que aconteceu comigo. Marina, eu já tive várias mulheres, mas acredite, nenhuma provocou as reações que você provoca em mim. Eu estou apaixonado por você, pode acreditar. Estava ficando louco pensando que pudesse te perder - dizendo isto, segurou minha cabeça, próxima à sua e me beijou. A princípio, com ternura, passando a um beijo ansioso, como se quisesse sugar minha alma. Ahhh! De novo aquele calor gostoso foi tomando conta de todo meu corpo e a alegria de saber que eu estava errada foi se transformando em puro desejo. Fomos perdendo a noção de onde estávamos e logo estávamos fazendo amor sobre os tapetes da pequena sala, sem nos importar se alguém pudesse chegar naquele momento. Ainda bem que isto não aconteceu. Nos amamos loucamente, sem sermos importunados.Nossos corpos, mais uma vez, fundiam-se como se fossem um só. Mas, agora tínhamos a certeza de que aquela não seria a última vez , e sim, a primeira do início de uma relação sólida, cheia de amor e desejo.

FIM




Nos romances a gente pode imaginar que uma paixão como esta possa existir. Eu realmente acredito que é possível, caso contrário não escreveria sobre isto. Talvez não seja muito comum, talvez seja raríssimo, mas a gente pode acreditar no que quiser, não é mesmo?

Este foi o segundo romance que escrevi depois de pegar esta mania de escrever. Vão notar que ele foi dedicado a um ator em especial, do qual sou grande fã. Aliás, tenho muitos textos dedicados a ele, pessoa pela qual tenho grande admiração, não só por sua beleza e charme, como por sua personalidade, seu carinho para com as fãs, sua força de vontade e dedicação extremada à sua carreira. Com uma história de vida muito peculiar, ele já conquistou milhares, talvez milhões, de fãs no Brasil e no mundo. Várias comunidades no Orkut e diversos blogs são dedicados a ele. Meu blog não tem exatamente esta intenção, até porque acho que os existentes em homenagem a ele são excelentes, como os de minhas queridas amigas Ly, Pati, Rose, Tânia e Paty, entre outros.
Mas não posso deixar de falar deste grande homem e ator, que é fonte de inspiração para os protagonistas masculinos de meus romances. Quem sabe um dia ele não protagoniza de verdade um destes romances, não? Como eu sempre digo, sonhar é preciso...

Beijos!

4 comentários:

  1. Carel disse:
    Adoro esse conto Ro... Aliás, gosto de todos, mas tem alguns especiais... Esse,resgate de amor... nossa... Continue postando querida...To sempre de olho nesse blog...
    Bjkas

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  2. Quero viver um romance assim! Quente e verdadeiro!

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  3. Lindo Rô! vc tem razão devemos acreditar numa paixão o poder da mente, a força do desejo faz a "ficção" da mente se tornar real!
    Realmente nosso Escocês está sendo bem representado pelas demais fãs,através de noticías, fotos, homenagens, mas seus contos é o tempero que faltava nós faz levitar como o nosso eterno Érick é sentar á frente do pc depois de dias difíceis e se transportar a outro mundo.
    Agora miga ñ podia deixar d comentar, claro belo romance, mas a Sofia Loren, ñ consegui segurar a gargalhada...rss e o apelidinho charmoso de Milady...Ai,Ai deixa eu me recompor q estou viajando na maionese.
    Bjkas

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  4. Olhe...
    so vou dizer uma coisa:
    AMEI!!!!
    Bjokas

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