sábado, 1 de junho de 2013

A Cruz de Hainaut - Capítulo XVII ( 2ª parte)

Calais – 9 de Abril de 1347

 


Após o terrível ataque inglês na noite do Domingo de Páscoa, Eduardo mandou reforçar a vigilância do porto. Terminou a construção de outro castelo de madeira à beira-mar, com quarenta homens armados com canhões e duzentos arqueiros, preparados para atirar em quem quer que fosse ousado o suficiente para tentar entrar na cidade. O rei Felipe, notificado do ocorrido, organizou uma frota de trinta navios para verificar a situação pessoalmente. Apesar de toda a vigilância e fortificações erguidas pelo inimigo, pelo menos um dos navios, atravessando o fogo pesado, conseguiu chegar ao porto. Um grande número de caixas contendo mantimentos, vinho e algum tabaco foi desembarcado, para alegria dos sitiados. Quando a maior parte da carga e dos marujos estava em terra firme, um tiro certeiro de canhão acertou o casco, provocando um rombo tal, que levou a embarcação a afundar em poucos minutos. 
Batalha Naval

Das naus restantes, várias foram capturadas ou destroçadas pelos ingleses, enquanto umas poucas conseguiram recuar e fugir, incluída a do próprio rei.


Quase dois meses se passaram. A indignação e o orgulho ferido de Felipe, ainda o instigavam a não desistir de Calais. Sendo assim, nesse período, reuniu forças e formou um exército, para lançar um contra-ataque, por terra, e pôr um fim ao cerco, que, segundo ele, durava há tempo demais.
Numa agradável e enluarada noite, no início de Junho, cavaleiros franceses, em suas brilhantes armaduras, subiram na colina de Sangatte, próxima à cidade, por trás do exército inglês. Lá montaram grandes tendas brancas, propositalmente, para que os calesianos pudessem alegrar-se com a visão da chegada de seu soberano, que seguia à frente da cavalaria.

Felipe e seus oficiais contavam com apenas dois caminhos que poderiam levá-los ao seu destino. Um deles era a estrada costeira. No entanto, devido à presença da frota inglesa para inibir qualquer ajuda vinda por mar aos sitiados, o acesso apresentava grande risco. O outro era uma passagem, que corria através de uma região pantanosa e terminava em uma ponte de pedra, antes de alcançar a cidade. Ali, o Conde de Derby, amigo e companheiro de Eduardo em várias batalhas, com seus melhores homens, fortemente armados, mantinha ferrenha vigilância.

Confrontos ocorreram. Diversas tentativas foram realizadas no intuito de minar as forças inglesas e readquirir o controle da cidade e a liberdade dos cidadãos de Calais, que continuavam crentes no poder de seu rei. Porém, Felipe foi derrotado em todas elas. Não satisfeito, decidiu lançar mão de um último recurso. Mandou um de seus cavaleiros com uma bandeira branca em punho, portando uma mensagem para Eduardo.
- Abram os portões! – gritou o sentinela após receber autorização de Eduardo.
O homem foi arrancado de sua sela e examinado minuciosamente, à procura de armas escondidas. Nada encontraram. Foi levado até a sala de reuniões do castelo de madeira real, ao encontro com o rei inglês.
- Reverencie o rei, cão francês! – ordenou um dos guardas que acompanhara o cavaleiro.
Com evidente má vontade, sendo forçado a ajoelhar-se diante de Eduardo, o mensageiro reverenciou-o e entregou sua preciosa carga. Uma mensagem do Rei Felipe.
A carta com o lacre da coroa francesa  lançava um desafio ao seu oponente. Queria  uma batalha justa, em campo aberto e determinado por eles.
Ao receber tal provocação, Eduardo caiu na gargalhada. Tão logo parou de rir, tornou-se sério e a ira tomou conta de seu semblante.
- Quem este imbecil pensa que sou? Já estamos aqui há quase um ano, sem qualquer tipo de ação contrária efetiva, investindo grandes quantidades de ouro e prata  neste cerco. E agora, ele simplesmente vem, às vésperas de eu conseguir meu intento, para pedir uma batalha em campo aberto? Pobres calesianos que tem um rei como esse! Pobre povo francês! – proferiu ironicamente.
- Ele pode exigir o que quiser. – apaziguou Sir Walter. – Isso não significa que será atendido. 
- Obviamente que ele não será atendido. – afirmou Eduardo lançando um olhar frio sobre o orgulhoso cavaleiro francês, em sua armadura prata, que mantinha semblante impassível. – Pode dizer ao seu rei que não pretendo abrir qualquer concessão ou aceitar qualquer desafio que venha dele. Calais será inglesa em muito breve. Se ele e seu exército não conseguem abrir caminho por nossas estradas, que tente outras.
O cavaleiro partiu, altivo, apesar de intimamente abatido, sob os olhares desafiadores dos ingleses, levando a  resposta negativa.
Inconformado, nos três dias seguintes, Felipe ainda tentou novas propostas, sem obter qualquer anuência por parte do inglês. Derrotados e desacorçoados, Felipe e seu exército não tiveram outra escolha a não ser seguir o caminho de volta para Paris.
Assim, ao final daquela semana, os franceses de Calais viram suas ínfimas esperanças de retomada da liberdade desaparecendo numa nuvem de poeira sobre a colina de Sangatte.
Desesperados, centenas de cidadãos colocaram-se às portas da prefeitura buscando mais informações de Jean de Vienne. Infelizmente, devido às novas limitações e vigilância rígidas em torno das muralhas da cidade, o prefeito não conseguira  contato com seu rei e, portanto, sabia tanto quanto seus questionadores a respeito de novas tentativas de libertá-los. Mais uma vez a tristeza tomou conta do povo, juntando-se esta à fome e à total desilusão.
- Não poderemos resistir mais! – gritou um cidadão.
- Eles vão matar todos nós se nos rendermos! – argumentou outro.
- Prefiro morrer de fome que sob uma lâmina inglesa em meu pescoço! – justificou um terceiro.
As opiniões eram cruelmente controversas. O medo da morte era evidente. A questão era decidir sobre qual a forma menos desagradável de encontrar o fim de suas vidas. Questionavam o que seria pior. Ver suas mulheres e filhas estupradas e seus filhos pequenos usados como escravos, vê-los assassinados diante de seus olhos, ou vê-los morrer de fome.

(continua...)

Voltei!
Não vou falar mais uma vez sobre os motivos que ocupam meu tempo e que me forçam a demorar tanto a lançar essa postagem. Quero, isto sim, agradecer, do fundo do meu coração, a Nadja e a Léia, minha amigas muito amadas, que, com suas palavras de afeto e amizade, me fizeram reconhecer o quanto esse cantinho é importante para mim e que não devo desistir dele,  de meus sonhos ou da minha imaginação  para inventar histórias. Beijos superespeciais para vocês! Ao lado delas, todos amigos e seguidores que deixam seus comentários, às blogueiras literárias, como a Jessica Gomes e a Gabi Prates que continuam a me procurar para parcerias e promoções, me levando a crer que meus textos ainda conseguem alcançar sua intenção de fazer sonhar e divertir.  Por vocês, eu insisto em voltar. Além disso, como já disse uma vez, sou teimosa e não costumo deixar as coisas que inicio sem finalizar.
Portanto, aqueles que tiverem paciência, saberão o final do romance atual, mais cedo ou mais tarde, e, se Deus quiser, ainda vão poder ler muitas outras histórias, que continuam povoando a minha mente, só esperando um tempo para poderem sair.
Antes de terminar, gostaria de deixar um abraço e um super beijo especial para uma amiga escritora, muito querida, a Andréa Bertoldo, que está de aniversário hoje, dia 01 de Junho.
Também não posso deixar de lembrar uma resenha maravilhosa, feita pela minha grande amiga Tânia Lima ( o que seria de mim sem amigas como vocês?...) do livro Confusões de um Viúvo. Confiram aqui.  Um beijo, minha linda!
Todo o meu amor para vocês! Beijos e até a próxima postagem!
 




4 comentários:

  1. Rô, adorei poder ler mais um capítulo dessa história maravilhosa que só alguém incrível como vc é capaz de nos brindar.
    Como já disse antes, compreendo os revezes dessa vidas, até porque também passo por eles. Então, espero o quanto for preciso pelas suas postagens. Desistir jamais, não faça isso! Esse cantinho é muito importante para vc, e para nós que o apreciamos!
    Bjim e dias melhores para ti, minha querida ♥

    ResponderExcluir
  2. Oláa Rô, como sempre nos saudando com um lindo capítulo...
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  3. Rô, mais um capítulo emocionante amiga!
    Que situação difícil a da população, se ver no meio de uma guerra sem nada poder fazer a não ser resistir! E isso o povo francês sabe fazer bem.
    Ler sobre a Guerra dos Cem Anos assim dessa forma romanceada é maravilhoso amiga, o fato de imaginar como os cidadãos se sentiam durante o cerco é emocionante! Você conseguiu fazer com que a realidade da época se tornasse mais tangível, mais próxima.
    Que bom que você conseguiu um tempo pra escrever, imagino que deve estar sendo difícil, mas não fique angustiada pela demora em postar, estaremos aqui sempre, esperando os próximos capítulos.
    Beijos querida amiga, você está sempre no meu coração e em meus pensamentos.

    ResponderExcluir
  4. Alguns trecho me fez lembrar o filme 300 em Esparta, são bravos homens apesar do derramamento de sangue e causas egoístas, muitos sem opção se encontravam ali, nessa pressão aterrorizante em prol de sua família não pagar injustamente por um NÃO bem lançado. Mas sempre há um vagalume na caverna, seja voltando com a vitória nas mãos ou em cima do escudo o propósito é o mesmo.

    Rô não sabe a alegria imensurável que trás retomando ao Blog, claro que nem tudo são flores tem seus espinhos, cedo ou tarde alguns imprevistos ruins se manifestam, mas como havia dito antes é preferível que demore o tempo for para postar do que abandonar esse cantinho de luz. Que Deus conserve sua volta e afaste qualquer pensamento de largar mão desse espaço tão significativo pra nós.

    Bem vinda novamente e dessa vez pra ficar,

    Te adoro muito, aquele beijo com carinho!!

    ResponderExcluir

Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!