domingo, 31 de março de 2013

A Cruz de Hainaut - Capítulo XVI (1ª parte)

Preparavam-se para sair do restaurante quando Galen ouviu o som das hélices de um helicóptero.
- Bem que eu estava achando muito fácil fugir desse pessoal...
- Você acha que é a Interpol?
- Tenho certeza... Venha. Vamos ter que achar outro meio de transporte.
- Como assim?
Sem responder, Galen a pegou pela mão e mais uma vez a deixou com o coração acelerado. Mais uma fuga. Isso estava começando a se tornar rotina.
Esgueiraram-se pela porta dos fundos, mas, ao invés de seguirem até o carro, ele a levou na direção do estacionamento de caminhões de carga, sempre atento ao movimento sobre suas cabeças. O helicóptero ziguezagueava nos céus a procura deles. Haviam localizado o carro de Galen e aguardavam as ordens de Matthew, que se encontrava na sede em Amsterdã.
Notou a movimentação em um dos caminhões. Galen pediu a Filipa que esperasse sob a cobertura do prédio e, colocando uma boina, que ele afanara do bolso de um dos frequentadores do local, enterrada na cabeça, foi até o motorista que se preparava para sair. Após uma rápida conversação, o homem abriu o compartimento de carga. Galen olhou para o céu e fez sinal para que Filipa o seguisse, aproveitando o desaparecimento momentâneo do helicóptero. Ajudou a subir na carroceria e imediatamente as portas foram fechadas. Aparentemente era um caminhão que trabalhava para alguma loja de móveis, pois havia sofás de vários tamanhos, poltronas coloridas e algumas mesas de centro espalhados no interior do espaço de carga.
- O que você disse a ele?
- Que estávamos fugindo do seu  marido rico e violento.
- O quê?
- Um francês não resiste a uma boa história de amor e a uma mulher indefesa.
Ela não pode deixar de sorrir, apesar de estar com o estômago contraído pelo medo e a descarga de adrenalina ainda continuar acelerada em suas veias. Segurava a bolsa contra o corpo como se dela dependesse sua vida. Logo, duas mãos grandes e fortes a envolveram, levando-a para o fundo do caminhão, que começava a manobrar para sair do posto. Colocou-a sobre um sofá de dois lugares que ali se encontrava, recoberto por uma camada de plástico-bolha, e sentou-se ao seu lado.
- Para onde vamos? – perguntou, fazendo um barulho desagradável quando se moveu sobre o plástico, tentando acomodar-se num dos cantos.
- Para Brugges. Fica um pouco fora do caminho habitual. Vai ser bom para despistá-los. De lá damos um jeito de seguir para Paris.
- E o seu carro?
- É alugado. Depois aviso a locadora sobre onde deixei o carro.
- É sempre tão simples e fácil para você assim?
- Nem sempre... – respondeu deitando-lhe um olhar que a fez estremecer. – Você me deixa confuso.
Filipa não esperava aquela declaração e ficou sem fala, presa àquele olhar de azul intenso. Não esperou que ela respondesse. Lançou seu braço sobre os ombros de Filipa e abraçou-a, ficando com o corpo grudado ao dela.
- Eu lhe ofereceria um casaco se o tivesse, mas...
- Eu não estou com frio.
-Por que está tremendo?... Está com medo? – indagou com olhar preocupado.
No momento, Filipa achou que esse seria um bom argumento para explicar o tremor que a percorria. Não podia negar que o medo era uma sensação presente, mas o simples contato com Galen e o calor que ela sentia irradiar de seu corpo, inflamando seu desejo por ele,  eram a verdadeira causa.
Porque eu tinha de trazê-la nessa fuga maluca? Eu devia tê-la colocado em segurança e resolver isso tudo sozinho. Será que foi egoísmo de minha parte?... Eu não consigo tirá-la da minha cabeça e não podia imaginar ficar sem vê-la... Não... Não poderia arriscar a deixá-la. Se eles a pegarem, não sei o que podem fazer a ela...
- Galen?...
- Sim?...
- Onde você estava? De repente ficou como se estivesse a quilômetros de distância daqui.
- Na verdade, eu estava pensando em você.
Ela sorriu.
- Estranho... Pensar em alguém que está ao seu lado e ficar distante.
Num movimento, ele dobrou a perna, sentou-se de frente para Filipa e a fez virar-se igualmente para ele. Acariciou seu rosto e, com a mão em seu queixo, focou os lábios rosados e carnudos.
-  Estou aqui... – murmurou junto aos seus lábios.
- Vai me beijar? – sussurrou, sentindo o calor avançar rapidamente do peito ao estômago e mais abaixo.
- Algum problema? – perguntou sorrindo, mas sem afastar-se um milimetro do seu rosto.
- É que eu não pretendia gritar...
- Então terei que encontrar outro motivo prá te beijar...
O hálito quente de Galen, junto a sua face, a entorpecia. Fechou os olhos. Não conseguia mais falar ou pensar, afundando nas sensações que aquela proximidade cada vez maior lhe proporcionava.
Andries andava de um lado ao outro da sala do chefe de polícia. Falara com o policial que tomara o seu depoimento no dia do sumiço de Filipa. Só não entendia como não conheciam a tal de Emma Donahue que procurara  Filipa no hotel. Agora estava furioso e perdido. Perdera a chance de finalmente por as mãos na esmeralda de Hainaut, se é que ela estava mesmo em poder de sua convidada. Tolamente ficara de quatro pela jovem brasileira. Essa era uma realidade... Jamais imaginara que Filipa pudesse ser tão encantadora... Não se importava mais com a pedra, mas sim com ela e o que poderia lhe acontecer de mal. Quem era aquele miserável que a levara? Lembrava o olhar desesperado dela atrás do vidro do carro que partira em desabalada, levando-a para “deus sabe onde”. Agora a polícia não sabia de nada! Como poderia achá-la? Talvez... O namorado de Dirkje... Claro! Como não pensara nisso antes. Fora ele que deu a dica para Dirkje a respeito de Filipa, que por sua vez o alertou e deu a ideia de convidá-la para visitar o museu com aquela história ridícula da tese publicada na revista italiana. O fato é que dera certo e Filipa viera inocentemente ao seu encontro.
Decidido a não esperar mais por aqueles oficiais babacas que nada sabiam, despediu-se, dizendo ter um compromisso urgente e que gostaria de ser avisado caso soubessem sobre a tal Emma. Saiu em passos largos e rápidos. Pegou seu carro e rumou para o apartamento de Dirkje, que ainda morava no mesmo local da época em que tiveram um caso.
Chegando lá, apertou no botão de número 4 do interfone. Foram cinco chamadas até que a voz suave de Dirkje respondesse.
- Quem é?
- É Andries! Preciso falar com você.
- Não pode esperar até segunda, no Museu?
- Não! Tem que ser agora.
A voz emudeceu do outro lado durante alguns segundos infindáveis para Andries. Finalmente ela voltou a falar.
- Suba.
A ordem seguiu-se de um barulho estridente e de um clique, quando a porta de madeira e ferro foi destravada.
Dirkje esperava na porta de casa, vestida com um roupão atoalhado, pois acabara de sair do banho. Os cabelos louros e úmidos caíam desalinhados sobre os ombros.
- O que aconteceu para vir aqui a essa hora?
- Filipa foi sequestrada de novo.
- De novo? Como assim?
Andris lembrou-se que não falava com a secretária desde o dia anterior.
- Preciso de sua ajuda. Deixe-me entrar e conto tudo.
- Entre... – permitiu, afastando-se para dar passagem.
Notou a expressão transtornada dele e experimentou uma sensação de medo.
- Ainda está namorando aquele homem?
- Quem?
- O agente da polícia.
- S-sim.
- Ele deve saber o que está acontecendo, afinal foi através dele que você soube sobre a Filipa. As informações dele é que possibilitaram que eu a trouxesse até aqui para conseguir a esmeralda.
- Você a conseguiu?
- Não... Eu... Isso não importa agora. O que importa é que Filipa foi sequestrada por um desconhecido e acho que o seu “amiguinho” pode me ajudar a encontrar esse desgraçado.
- Eu nunca o vi tão ansioso por causa de alguém... Está gostando dela, Andries?
- Que pergunta é essa, Dirkje? Diga-me como encontro o seu namorado, ou seja lá o que ele for seu. Preciso falar com ele!
- Não sei.
- Não sei, o quê?
- Não sei como encontrá-lo.
- Você está brincando comigo. Vocês não são amantes? Como que você não sabe onde encontrá-lo.
- Ele é um agente secreto e não tem endereço fixo. Quando ele está livre, me procura.
- Não acredito... – disse pondo as mãos na cabeça e fechando os olhos.
Por que não me quis, Andries? Nós seríamos tão felizes...
- Não é possível que não tenha nem um telefone para que possa achá-lo, falar com ele.
- Não tenho.
- Que tipo de relacionamento é esse?
- Melhor do que o que tivemos, Andries.
Ele revelou um sorriso de escárnio.
- Você não perde a oportunidade para me alfinetar, Dirkje. Por quê? Eu a avisei desde o inicio que não queria compromisso. Não a enganei... Mas isso não interessa agora. Tem que haver uma maneira de encontrar esse cara. Só ele pode ajudar.
- Afinal, o que aconteceu? Vou preparar um café forte. Vá falando e vamos ver o que podemos fazer.
Ainda tinha sua xícara de café pela metade quando terminou de ouvir a história de Andries.
- Já foi à polícia?
- Já. Eles sabem tanto quanto eu. Não conhecem a tal policial Emma que tomou o depoimento de Filipa.
- Por que acha que o meu namorado vai saber algo mais?
- Dirkje, eu não nasci ontem. Ele não daria uma informação como essa e a sugestão de como trazer Filipa para cá se não tivesse interesse nisso. Aliás, interesse que você não deve desconhecer. É bom começar a me contar exatamente o que vocês pretendiam me envolvendo com essa historiadora.
Por um momento, a secretária pareceu perplexa com a insinuação de seu chefe.
- Ora... Que diabo está querendo dizer! Eu apenas quis ajudá-lo. Sempre soube da sua fascinação sobre a história da Cruz de Hainaut. Quando O’Neill me falou sobre a possibilidade da última esmeralda perdida estar em poder de uma brasileira...
- Por que ele falou sobre esse assunto com você? Ele sabia que eu estava a procura dela? Falaram a meu respeito enquanto se amassavam na cama? – perguntou com indisfarçável irritação.
- Estúpido mal agradecido! ... Não sei... Não lembro como surgiu o assunto. Só sei que achei que gostaria de saber disso e o avisei.
- Essa história está muito mal contada, Dirkje.
- Por que só agora você resolveu desconfiar de alguma tramóia? É por que a sua queridinha sumiu? – Sua voz agora deixara de ser suave e seu tom demonstrava toda a mágoa por ter sido rejeitada por ele e o ciúme de Filipa, que tinha impressionado tanto seu ex-amante. – Por que acha que temos alguma coisa a ver com isso?
- Não vou sair daqui enquanto não me disser onde encontro esse tal de O’Neill.
- Acho que vai perder o seu tempo.
- Não creio. – respondeu, acomodando-se na poltrona, cruzando as pernas e encarando Dirjke com determinação. – Posso ser muito paciente.

(continua...)
 
 
Agora a coisa complicou mais um pouco... Será que o Galen está aprontando com a pobre da Filipa? E o Andries? Sabia da esmeralda e acabou virando vítima por ter se apaixonado ? Veremos nos próximos capítulos...rsrs
Espero que continuem gostando.
Fiquei muito feliz essa semana com uma entrevista que dei para o blog da Daniele Nhasser, Amante de Livros (http://amantesdelivros-2012.blogspot.com.br/2013/03/entrevista-com-rosane-fantin.html ), que aliás tinha feito uma resenha excelente do livro Confusões de Um Viúvo no final de Janeiro (http://amantesdelivros-2012.blogspot.com.br/2013/01/confusoes-de-um-viuvo-rosane-fantin.html ). Outra resenha muito boa, do mesmo livro, me deixou muito contente. Ela foi escrita por Mari Scotti, também autora de romances (Insônia é o seu último livro, lançado pela Aped) e dona do blog TBF.
Obrigada aos meu amigos amados que deixaram seus comentários, Nadja e Luiz Fernando. Beijos, queridos!
Não posso esquecer de deixar de registrar aqui  outro grande motivo de festejos dessa  semana, que foi o nascimento da Anelise, primeira filha da minha amiga e parceira no romance, O Vampiro de Edimburgo, a Aline Kodama.  Que Deus as abençoe e lhes traga muita saúde, amor e felicidade!
Para finalizar, desejo a todos vocês uma FELIZ PÁSCOA, com muita alegria e harmonia com seus familiares e amigos. Um super beijo e um abraço caloroso! Até a próxima!!
 
 

3 comentários:

  1. Meu Deussss amiga, que reviravolta!!!
    Quer dizer que o Sr. Galen era namorado da secretaria do Andries e envolveu o pobre e inofensivo professor nessa confusão, rsrsrsrs.
    Fiquei surpresa, que imaginação prodigiosa você tem.
    Uma coisa pra mim é certa: Os dois estão apaixonados pela sortuda da Filipa, e fossem quais fossem os interesses iniciais, eles parecem ter mudado né? Como você disse "tudo é possível nessa história...." e a vilania pode não ser definitiva...
    Ohhhh, Andries tá tão preocupado com ela, um amor!!!
    Muiiiito curiosa pelos próximos capítulos Rô!
    Beijos amiga e uma semana amena, de paz e alegrias!

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  2. Nossa Rô, as revelações desse capítulo.... Nossa! Conexões muuuuuuito próximas.... e a balança a cada capítulo pende para um lado.... OMG! Só sei que a Filipa é uma moça de sorte, com dois gatos caidinhos por ela.... Wow...
    Nem preciso dizer que estou curiosa pelos próximos capítulos, claro.
    Até a próxima, querida. Bjim ♥

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  3. Ai minha nossa senhora da Glória que turbulência quando penso que a poeira está se assentando eis que surge mais pulgas atrás da orelha mal posso esperar o próximo post pois meu tico e teco fundiu de vez... kkk

    Rô que poder tens em mexer com nossa imaginação bendito seja!!

    Beijãoo

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