sábado, 2 de março de 2013

A Cruz de Hainaut - Capítulo XIV(contin.)

 
Olá para as minhas amigas e amigos, seguidores que ainda persistem aguardando a continuação do romance A Cruz de Hainaut. Tenho que pedir milhões de desculpas por ter desaparecido do blog sem nenhuma explicação para o ocorrido. Eu mesma me surpreendi ao perceber que fiquei quase dois meses sem fazer qualquer postagem. O tempo passou muito rápido (e ainda continua correndo rápido demais, na minha percepção...). Obviamente passei por uma série de problemas que não permitiram que eu tivesse tempo ou inspiração para continuar o blog, mas também gozei um período de férias maravilhoso, que certamente serviu para amenizar o estresse e a depressão do final do ano de 2012. Infelizmente, as férias acabaram, os problemas ainda existem e tenho que conviver com eles... Coisas da vida. Como diz uma letra de música aqui na minha terra: ..." não podemo se entrega pros home, de jeito nenhum!" Sendo assim, cabeça erguida, tocar em frente e tentar abrir espaço para as coisas que nos dão prazer. Quero deixar aqui o meu agradecimento a Nadja, minha amiga de fé, que sempre tem uma palavra e um carinho para oferecer nas horas ruins. Muito obrigada, querida! Também quero agradecer aos amigos que, de uma maneira ou de outra, preocuparam-se com a minha ausência e me apoiaram. Um beijo grande a todos!
Retomando o fio da meada, nessa segunda parte do capítulo quatorze, conheceremos mais um personagem sitiado em Calais - Jean de Fiennes . Eduardo continua em sua reconquista pelo coração de Filipa. Na próxima postagem, que espero seja em breve, veremos como anda a situação da Filipa moderna em sua fuga de Amsterdã com o misterioso e sedutor Galen. 
Até mais!


Calais  - Janeiro de 1347


O inverno chegou intenso. Eduardo, juntamente com Filipa e seu filho mais velho, festejou o Natal em grande pompa, dentro de seu castelo de madeira, fazendo transbordar, propositalmente, sua alegria diante dos olhos e ouvidos dos ilhados cidadãos de Calais.  Em Janeiro de 1347, a neve cobria os campos em torno da fortaleza. A esperança em relação ao auxílio real de Filipe ainda persistia. Notícias levadas por emissários, que conseguiram romper o cerco inglês, contavam sobre como o soberano francês havia enviado cavaleiros às cidades e castelos vizinhos, numa tentativa de intimidar os inimigos e facilitar o acesso de alimentos à cidade. A fome ainda era um fantasma que os perseguia. Não fosse por alguns barqueiros experientes, que arriscavam a vida, trazendo mantimentos através do mar, a situação estaria muito pior. Naqueles primeiros quatro meses de cerco, Eduardo fizera inúmeras tentativas para invadir a cidadela. Iniciara com ataques utilizando pontes improvisadas para atravessar o imenso fosso que o separava dos muros, cordas e escadas, em tentativas de chegar às ameias do forte, passando pelo uso de aríetes, flechas incendiárias, lançamento de pedras e, finalmente, a utilização dos temidos canhões. Nada disso dera resultado. Calais persistia incólume em seu exterior. Se o medo de morrer nas mãos dos ingleses era grande, o racionamento de alimentos começava a gerar desespero e consequentes episódios de violência entre a população. As brigas junto à entrega das rações defronte à prefeitura ou pela visão de simples migalhas de pão nas mãos de outros, eram cada vez mais frequentes. Esta dura e triste realidade levou a uma difícil resolução dos gestores da cidade.Naquela fria manhã, no início de janeiro, Jean de Vienne andava de um lado a outro de sua sala de onde acabara de sair Fosseaux e outros representantes da comunidade. Com o coração pesado e temendo a ira divina, tentava convencer a si mesmo da falta de alternativas à situação a que estavam expostos. Era preciso eliminar as “bocas inúteis”, como seu comandante denominara aos miseráveis sem teto e mendigantes que pululavam pelas ruas a reclamar e roubar o pouco que conseguiam estocar. Não tinha ideia por quanto tempo Marant e Mestriel, os corajosos marujos de Abbevillle e profundos conhecedores da costa, conseguiriam driblar a vigilância dos soldados inimigos. Durante todo o outono, eles haviam levado pão e carne através das longas e perigosas noites, orientado outros barcos a fazerem o mesmo. As visitas tornavam-se mais raras à medida que o inverno avançava, mas eles ainda faziam suas entregas uma a duas vezes por semana.
Vienne foi arrancado de suas divagações pelos gritos vindos da praça principal. Os soldados da armada iniciaram as detenções dos ”inúteis”. Fosseaux previra que em menos de 48 horas conseguiria reunir algumas centenas deles na praça. O passo seguinte seria despejá-los para fora dos muros, onde morreriam de fome e frio ou cairiam nas graças do monarca inglês. Vienne já ouvira falar da benevolência da Rainha Filipa, mas não acreditava que ela fosse capaz de amolecer o coração de seu Rei.
A previsão do comandante mostrou-se correta. Para surpresa dos ingleses, dois dias depois da terrível  decisão, a ponte levadiça foi baixada por breves momentos, suficientes para expulsão de cerca de trezentos homens, mulheres e crianças de aspectos famélicos e vestidos em andrajos. Abordados, contaram sobre a resolução tomada pelo prefeito, escandalizando os soldados inimigos. Ao saber do ocorrido, o próprio Eduardo mandou acolher os  desterrados, alimentá-los com sopa quente e oferecer roupas para os mais desagasalhados. No dia seguinte, foram liberados para iniciarem a procura de outras terras onde pudessem buscar proteção.
Agradavelmente surpresa com a atitude benevolente de Eduardo, Filipa dirigiu-se a ele logo após a debandada dos pobres infelizes expulsos. Vê-la aproximar-se, altiva, mas com um discreto sorriso nos lábios, foi o bastante para que ele tivesse certeza de que marcara mais um ponto a seu favor, no intuito de reconquistar sua mulher. Nos últimos meses, tivera momentos de grande prazer com Filipa, que se mostrava mais carinhosa e menos arredia às suas investidas. 
- Algum problema, minha querida? – perguntou após praticamente expulsar os homens que estavam em sua companhia, alguns criticando, outros elogiando sua tática.
- Pelo contrário, vim lhe agradecer pelo que fez... Fiquei muito contente...
- Talvez eu tenha um coração, afinal... – disse com uma leve mesura.
- Você sempre teve um coração, Eduardo. Não fosse por isso, eu não teria me apaixonado por você. – disse desviando os olhos timidamente nas suas últimas palavras.
Animado pela inesperada declaração, pegou a mão de Filipa e levou-a aos lábios, beijando-a levemente. Depois com a outra mão, com o dedo indicador sobre seu queixo, elevou sua cabeça, para encará-lo.
- Apenas você consegue despertar essa pedra que mora em meu peito, Filipa. – falou amorosamente.
Ao ver as maçãs de seu rosto ruborizadas, voltou a falar.
- Você não costumava ser tão tímida quando me conheceu... – disse insinuante.
- Meu rubor não é por timidez, mas por alegria em ouvi-lo dizer que ainda consigo emocioná-lo de alguma maneira.
- Filipa... – disse, envolvendo-a em seus braços. – Você nunca deixou de me emocionar.
Antes que ela pudesse dizer alguma palavra de rejeição, beijou-a apaixonadamente e sussurrou palavras em seu ouvido, antecipando a noite por vir. O olhar que recebeu de volta já não demonstrava mágoa ou vergonha. Apenas desejo...
Por trás dos monumentais muros, um homem solitário mirava o céu límpido, salpicado de estrelas e dono de uma esplendorosa lua crescente.  Pensava em quanto tempo ainda teria para admirar coisas belas e simples como aquela. Acabara de sair da casa de seu amigo e sócio, onde costumava ir para conversar, hábito adquirido nos últimos meses. Jean de Fiennes retornara de uma viagem de negócios no início de Setembro, quando os ingleses iniciavam o cerco a Calais. Em seu caminho de volta, recebera notícias a respeito do que estava por acontecer em sua cidade natal e muitos o alertaram, tentando dissuadi-lo da loucura que seria entrar em uma cidade prestes a ser invadida e sobre a qual pairava a sombra da morte. Chegou a pensar em retornar a Brugges, de onde acabara de sair, e aguardar pelos acontecimentos. Era um homem solteiro, sem mulher ou filhos para quem voltar. No entanto, tinha amigos, como Eustache, a quem considerava como um irmão mais velho. Sendo um filho bastardo do pai de Andrieu d'Andries, sempre fora considerado um pária dentro da sociedade. Levava uma vida desregrada, fazendo pequenos serviços aqui e ali para poder sobreviver. Eustache fora a única pessoa que confiara nele e o empregara como mercador em seu negócio, iniciado quase vinte anos atrás. Movido pelo anseio de melhorar de vida e pelas palavras de estímulo e confiança do novo amigo, tornara-se o braço direito de Eustache.  Alguns anos mais tarde, recebeu o convite  para se tornar sócio no empreendimento. Jamais pode considerar a Andrieu como irmão. Foi ao lado de Eustache, Flora e seus filhos, que encontrara o verdadeiro significado da palavra família e conhecera os laços de carinho que o ajudaram a estruturar sua vida. Quando se conscientizou da importância dessa amizade e de tudo que dela resultara, não teve mais dúvidas. Voltou para Calais, pronto para enfrentar seu destino.
 
(continua...)

6 comentários:

  1. Quantas saudades Rô!!
    Amei a continuação, passei por vários sentimentos durante a leitura do capítulo, desde a indignação com a falta de alimento, à admiração aos corajosos pescadores até a alegria por ver que o amor entre Filipa e Eduardo continua forte!! Ai, ai, tá lindo amiga!!!
    Simpatizei muito com Jean de Fiennes, assim como ele também amo olhar o céu.
    Fico muito feliz que você esteja conseguindo continuar!!
    Conta comigo tá?
    Agora é esperar ansiosamente pela próxima postagem.
    Beijos amiga e lembre sempre que você mora no meu coração!!!!
    Te adoro!

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  2. Que bom que vc voltou, Rô. Estava morrendo de saudades (e curiosidade também) de vc por aqui, alimentando nossos sonhos.
    Realmente, nesse capítulo, a gente tem diversos tipos de sentimentos. Vc é definitivamente boa nessa coisa de fazer esta leitora aqui mergulhar na história.
    Aguardo ansiosamente pelo desenrolar da história de Filipa, O'Neall, Andries...
    Bjim :*

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Que ótimo tê-la de volta Ro, espero que os imprevistos estejam sanados ou amenos. Gosto muito de você e sabe que pode contar comigo também.

    Adorei a entrada triunfal do novo integrante, vamos acompanhar esse outro desenrolar.

    Que Deus siga sempre contigo e os anjos digam amém!

    Beijão com muito carinho!!

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  5. Oláaa, Rô que sua volta traga lindas histórias para alegrar o dia a dia, e agradeço imensamente o comentário no meu blog, Sucesso com as novas histórias =)
    Beijoss =)

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  6. Olha, esses pescadores são verdadeiros heróis, pois graças a estes valentes homens que ainda havia algo para se alimentarem. Essa coisa de cerco à cidade funciona, pois as pessoas vão tornando agoniadas com a situação, os alimentos e remédios vão ficando escassos e logo não há mais como se impedir a invasão. Ainda bem que Eduardo não fez o que se costuma fazer, ao contrário, reconheceu o sofrimento daquelas pessoas, ajudou-as a se alimentarem e as deixou partir para novos rumos. E fazendo o bem, ganhou o reconhecimento de seu amor, ou seja, o bem que plantou, colheu!
    E o Jean tomou a decisão acertada, os laços de amizades são, muitas vezes, muito mais fortes do que os de parentesco. Há um ditado popular que diz que os irmãos são os parentes de sangue e os amigos são os parentes de alma. É muito melhor a conexão por amor, do que a mera ligação sanguínea (que, algumas vezes, ainda leva ao ódio).
    O teu conto está um espetáculo, amiga! Tua mente brilhante desenvolve um capítulo mais delicioso de ser lido do que outro. É um prazer vir aqui!

    Querida amiga, espero que os problemas estejam mais amenos, mais fáceis de serem superados. A vida é linda, mas o que a faz tão dura é a perversidade das pessoas. Infelizmente, o ser humano tem ultrapassado os limites da razoabilidade em seus despautérios. Se as pessoas fossem mais amáveis, generosas, menos egoístas, o mundo seria muitíssimo melhor, as pessoas mais felizes, haveria menos problemas. Todavia, enquanto a frieza humana persistir, temos que nos munir de muito amor e fé para erguermos a cabeça e seguir em frente, sempre!
    Seja quais forem as vicissitudes que te cercarem, saiba que vc sempre poderá contar com a minha amizade, o meu sigilo, o meu apoio. Infelizmente, moramos em localidades distantes, temos tido poucos contatos, mas saiba que o meu amor, respeito e consideração por ti é e sempre será infinito. Torço pela tua felicidade e dos teus queridos. Que os Anjos te iluminem, amiga, indicando um caminho mais suave para vc trilhar. Beijinhos

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