Isabel insistira em levar Júlia ao Aeroporto. Pegou a Hammer, pois era o único veículo disponível no momento. Seu Smart estava na oficina da polícia e só Deus sabia quando poderia ser levado a um chapeador para desamassar a lataria danificada no acidente. O Civic de seu irmão, bem como o Jeep, havia sido confiscado. Júlia despediu-se de Rosário, de quem se tornara mais próxima nos últimos dias. A ideia de que ela era a noiva escolhida por Miguel e que lhe dedicava algum carinho, fez com que a mulher deixasse um pouco de lado a frieza e a distância que dedicava aos estranhos. Com os olhos marejados, conseguira dar um beijo na face da brasileira e agradecer-lhe por ter amado seu filho. Júlia conversara suficientemente com Isabel para isentar-se da culpa pela morte de Miguel, mas ainda tinha restrições quanto à ideia de enganar Rosário sobre os sentimentos por seu filho. Contudo, não teve coragem de desmenti-la. Contar-lhe que, na verdade, descobrira não amar o namorado como pensava amar e que seu verdadeiro amor era um agente da CIA por quem se apaixonara indevidamente enquanto ele a enganava para obter informações sobre seu filho seria muita loucura. Certamente essas revelações não fariam nada bem àquela mãe já tão amargurada. Em meio a essa abstração, notou que Isabel dirigia muito lentamente, o que não era o seu habitual. Provavelmente fosse um resquício dos terrores por que passara noites atrás, mas ao olhar o relógio, deu-se conta que perderia o avião se não chegasse logo ao aeroporto.
- Isabel, quer que eu dirija? Está se sentindo bem?
- Estou ótima!
- Então por que está dirigindo tão devagar? Não haveria problema, não fosse o meu horário de embarque. Tenho a impressão que o avião não vai esperar por mim.
- Ah! Claro! Desculpe! É que não estou acostumada a dirigir este monstrengo... Vou acelerar um pouco mais – E imediatamente acelerou, mas não muito. Júlia não quis reclamar novamente, mas achou a atitude de Isabel um tanto incomum.
Passados quase quinze minutos, chegaram ao aeroporto quando era dado o aviso para o seu embarque imediato. O mais rápido possível foi até o guichê de check in, onde liberou sua passagem e entregou a bagagem. Despediu-se de Isabel e estranhou, entre lágrimas e votos de reencontrarem-se em breve, o fato de que ela sorria, parecendo feliz com sua partida. Preocupada com a amiga, encaminhou-se correndo para o RX da bagagem de mão e detector de metais. Ao passar, o alarme soou. Uma funcionária pediu que se aproximasse e usou o detector manual sobre seu corpo. Apesar de não ter identificado nenhum artefato ameaçador, Júlia foi levada sob protestos até uma sala da Polícia Federal. Nervosa, não conseguia acreditar que o mesmo que ocorrera em Nova York estava se repetindo. Só que agora, se eles não a liberassem logo em seguida, perderia o seu vôo. Foi exatamente o que ocorreu. Sentada numa desconfortável cadeira, sozinha em uma saleta, com vontade de chorar, o que estava se tornando uma coisa absurdamente comum nos últimos dias, viu um homem em roupas civis surgir e convidá-la para segui-lo. A princípio teve medo de que fosse alguma vingança dos contrabandistas que tinham ficado sem seu líder, mas o ar aparentemente inocente do sujeito a tranquilizou. Ainda temerosa, foi avisada de que, como havia perdido seu vôo por culpa da Polícia Federal, eles a recolocariam em outro avião. Mais tranquila, pois o que desejava era voltar o mais breve possível para o Brasil, continuou seguindo o estranho funcionário. Surpreendeu-se ao ver que o novo avião, não pertencia a nenhuma das linhas aéreas conhecidas. Era um jatinho particular que não tinha nenhuma identificação conhecida. Suas pernas bambearam e o medo de um sequestro ou de uma vingança voltaram. Paralisou no meio da pista onde o jato estava estacionado, mas acabou por ser gentilmente convencida pelo jovem que não havia perigo algum. Foi então que se lembrou de suas malas que deviam ter sido despachadas no vôo da American Airlines que perdera.
- E as minhas malas, senhor? – podia funcionar como desculpa para retardar a sua entrada no avião – Talvez seja melhor eu avisar sobre as malas...
- No se preocupe, señorita... Está todo bien.
Continuando em seu modo delicado, ele pegou em seu braço e aos poucos foi levando-a para o interior da aeronave. Despediu-se e deixou-a lá dentro.
Havia poucos lugares e todos estavam vazios. Sentou-se em estado de alerta em uma das confortáveis poltronas, virada para a cabine de comando, a espera que dali saísse a qualquer instante um bandido armado, ameaçando-a de morte. Tensa, ouviu a porta da nave se fechar às suas costas e ficou esperando pelo pior.
- Tenho a impressão que esse lugar é meu, senhorita – vibrou a voz rouca tão conhecida dela, fazendo-a estremecer.
Virou-se imediatamente encontrando o rosto de Bryan muito próximo ao dela.
- O que você está fazendo aqui? – perguntou com dificuldade devido à momentânea falta de ar, quase sem acreditar no que estava acontecendo.
- Terei que lembrar à senhorita de que não respondeu a minha última pergunta?
- Pergunta? Que pergunta? – Não conseguia desviar-se daquele rosto, acorrentada pelo brilho das íris verdes que a fitavam intensamente, principalmente quando ele se ajoelhou a sua frente.
- Ainda pensa em viajar sem conversarmos?
- Bryan... Eu não imaginava que essa conversa fosse tão importante a ponto de...
- A ponto de raptá-la? – completou com um sorriso malicioso – Foi a única maneira que encontrei para dizer que te amo – declarou-se diante do olhar pasmado de Júlia.
- Bryan, eu não sei o que dizer...
Seu semblante anuviou-se ao ouvir as palavras de Júlia, fazendo-o baixar o olhar e pegar nas mãos crispadas dela sobre o colo.
- Se não me quiser, se ainda ama o Miguel... Entenderei e sumirei da sua vida.
Emocionada com a declaração, desvencilhou uma das mãos e com ela acariciou-lhe a face, forçando-o a olhar em seus olhos novamente.
- Eu nunca amei o Miguel. Achei que o amava, mas só descobri o que isso significava quando conheci você. Infelizmente, as coisas se complicaram... Eu sofri muito quando pensei que tinha sido usada por você...
Não resistindo mais, Bryan lançou-se sobre ela, abraçando-a com força e cobrindo seu rosto com beijos cálidos e ternos até chegar à boca que o esperava ansiosa e sedenta de prazer.
- Acho que me apaixonei quando você deu aquela cabeçada em meu queixo e ainda me olhou com raiva, como se eu fosse culpado de alguma coisa – brincou, assim que seus lábios se separaram.
- Pois eu não lembro quando foi... Só recordo que senti ciúmes quando aquela aeromoça se jogou em cima de você.
- Aeromoça?
- MAE...
- Mae? Que Mae? – disse aproximando as sobrancelhas ao franzir da testa.
- Isso não interessa mais... Me beija...
- Nem precisa mandar, senhorita...
O novo beijo foi interrompido pelo piloto que surgiu na porta da cabine de comando, trajando jeans e camiseta, e anunciou sua presença arranhando a garganta
- Bryan? Podemos partir? A torre já nos liberou.
Levantando-se, mas ainda segurando a mão de Júlia, respondeu:
- Podemos sim, Leon. Obrigado.
- Por favor, coloquem os cintos. – solicitou, enquanto atrás dele uma simpática jovem morena, também em roupas esportivas, abanava para os convidados – Ah! Essa é a minha esposa, Salma, que vai nos acompanhar até Curaçao.
- Curaçao? – exclamou Júlia, levantando-se da poltrona.
- Puxa! Foi mal, Bryan... Era para ser surpresa?
- Tudo bem, Leon. Acho que foi uma surpresa, não? – e olhou em direção a Júlia que meneava a cabeça em censura, mas com uma indisfarçável expressão de deleite.
- Fiquem à vontade. Vou iniciar a decolagem. Vocês têm duas horas livres – piscou um olho conivente. – Depois serviremos uma refeição leve. Chamem se precisarem de alguma coisa, ok? – saudou-os e desapareceu com Salma na cabine.
- Você planejou direitinho, não?
- Pensei em termos um bom recomeço e achei que Willemstad seria o local ideal.
- Mas como você conseguiu tudo isso em tão poucas horas?
- Tive muita sorte e bons contatos. Depois que Isabel conversou comigo, Soza conseguiu o avião com esse seu amigo, Leon. Ele costuma fazer vôos fretados para o Caribe e, coincidentemente, hoje estava livre.
- Só um pouquinho... Que história é essa de que Isabel conversou com você?
- Foi ela que me animou a não desistir de você.
- Quando? Como?
- Lá no cemitério. Eu também fiquei surpreso, mas ela disse que você estava gostando de mim e me convenceu a tentar esclarecer as coisas entre a gente... Acabamos combinando o seu atraso, para dar tempo de fazer os arranjos no aeroporto, com a ajuda de Soza e de alguns amigos da PF.
- Mas que danadinha...
Sentaram-se frente a frente nas poltronas e colocaram os cintos.
- E o seu trabalho com a CIA...?
- Eu já fui agente da CIA, mas fui desligado há três anos. Tudo aquilo que lhe contei sobre eu estar a serviço da ONU é verdade. Como a área em que atuo está ligada ao comércio ilegal de armas, me chamaram para uma última missão. Como pode ver você está diante de um simples funcionário público, numa profissão sem o mínimo glamour.
- Essa foi a melhor notícia que você poderia me dar. Não aguentaria viver pensando que você estaria correndo perigo por aí.
O avião começou a aumentar a velocidade gradualmente e logo rompeu o espaço aéreo, elevando-se nas alturas.
Tão logo puderam retirar os cintos, Bryan levantou-se de sua poltrona e levou Júlia até o sofá que havia no meio do corredor do jato.
- Vem cá – ordenou, ajudando-a a sentar-se ao seu lado e aconchegando-a em seus braços – Não quero perder mais um minuto longe de você. – E deu-lhe mais um longo beijo. Depois, com um olhar cheio de desejo e promessas, complementou – Não sei se vou resistir chegar a Willemstad...
- Nem eu... – “Agora sei o que Isabel queria dizer quando perguntou se eu já sentira los pelos de punta”, pensou sentindo um arrepio de prazer percorrer-lhe o corpo ao entregar-se nos braços de Bryan.
FIM
Nada como ter tempo livre para escrever... Nem eu imaginei que poderia terminar este romance tão cedo. Só espero que não se acostumem mal, pois a mamãe aqui vai voltar para casa e pegar no batente a todo vapor já na quarta-feira. Pelo menos, volto revigorada, já pensando na próxima história que vai enfeitar o blog. Vou tentar não desaparecer por muito tempo. Apenas o necessário para compor o novo romance e ter material suficiente para começar as postagens.
Antes de terminar, gostaria de dar às boas vindas à Pah (Paola), do blog literário Livros e Fuxicos, super interessante, que passou a nos acompanhar nesses devaneios romanticos.Um beijo, querida!
Outra novidade, é um blog que acabou de nascer. É o "SONHOSeSONS", pertencente à minha linda amiga e seguidora Nadja Castro, que pretende mostrar como viajar no mundo dos sonhos através da música.
Muito obrigada a vocês e até o próximo "romance ao vento".
Muito obrigada a vocês e até o próximo "romance ao vento".
Beijos!
Poxa Rô, você foi mesmo rápida em postar o final do romance, aiiii, tão lindo, não sou sádica mas adoro um pouquinho de sofrimento entre os personagens antes de os sentimentos serem expostos. Durante todo o romance fiquei nessa tensão de "será que é hoje?", rsrsrsrs.
ResponderExcluirAmei, amei mesmo amiga, você se saiu uma ótima escritora de ação e suspense.
Mas como eu disse antes, estava com pena que acabasse, tenta "não desaparecer por muito tempo", por favor!!!!
Brigadinha pela divulgação do meu blog, mas não cria expectativa nos outros também não tá? Tô tentando, mas ainda não sei no que isso vai dar.
Beijossss amiga querida!!!!!
Obrigada, Nadja!Deixei recado prá ti lá no Orkut a respeito da divulgaçao. Espero a tua resposta.
ResponderExcluirQue bom que gostaste do final. Acabou por näo ter cenas muito hot. Só a insinuaçäo...kkkkk
Beijinhos!
Li ontem mesmo, mas só vim comentar hoje por conta de tempo!
ResponderExcluirAdorei a história, super bem narrada, os personagens muito bem construidos. Mas achei ela rápida! Acho que foi a história mais curta que você escreveu, não?
Levou muito jeito para escrever suspense e ação, amei a descrição das cenas. Mas posso dizer uma coisa?
Senti mais falta de romance!
Sabe aquele gosto de ficar querendo saber o quê aconteceu com os personagens?
Se a Isabel ficou com o Soza, como ia ficar o romance entre a Júlia e o Bryan, se ele ia morar no Rio ou se ela ia se mudar!
Aiii muitas dúvidas. E devo dizer que por uma leitora fiel à suas histórias que já li quase todas, - acho que faltam umas 3 p/ coleção - rsrsrs, fiquei na falta das cenas de amor entre os dois, que são sempre lindas e maravilhosas!!!!
Acho que você seguiu um caminho ótimo e que deve explorar esse lado... Mas não podia deixar de dizer que senti falta das cenas "hots" hauhauhauhau
Ansiosa por mais, espero que não demore a voltar!
Bjos
Oi, Taty! Concordo contigo plenamente. Tens razão quando dizes que foi uma história mais curta, mas não muito. "Na Rede do Pescador" foi mais curta que essa. No entanto, quanto a ter faltado algumas complementações, também senti falta disso. Cheguei a começar a escrever um epílogo onde os dois apareceriam no hotel em Willemstad, falaria sobre a Isabel e o Soza(que ficou subentendido que ficariam juntos, não?) e explicar que a Júlia ia ser promovida para trabalhar em Nova Yorque e eles poderiam finalmente "juntar os trapinhos"...hihihi... Quanto a falta de cenas hot, realmente não teve como, devido ao curso da história, mas prometo que na próxima o clima vai esquentar mais...kkkkkk.
ResponderExcluirAdorei o teu comentário. É disso que preciso para melhorar, Taty. Juntamente com os elogios,que adoro, a crítica construtiva tb é necessária, principalmente quando ela vem de encontro ao que eu imaginei.
Por falar em escrever, quando a senhora vai nos dar a honra de nos brindar com um romance? Estamos esperando, viu?
Beijos, querida!!
Rosane: estou sinceramente emocionada com esse seu romance. Uma história de amor e aventura... já nem sei quantas vezes disse isso, mas reforço: é meu estilo favorito. Você está de parabéns! Mal posso esperar pela próxima!
ResponderExcluirBjs!!!
Ai, Aline! Nem sabes como me animas com o teu comentário, pois achei, como estava comentando com a Taty, que ficou faltando alguma coisa nesse romance. Não sei se colaborou o fato de eu querer terminar ele logo, aproveitando o meu último período de folga (por isso escrevi tão rápido o final) ou se porque eu realmente quis fazer algo diferente dos outros.
ResponderExcluirQuando eu fizer a revisão ortográfica dele(está cheio de erro, de acordo com a nova ortgrafia)vou reler e ver o que ficou faltando. De repente para transformar em livro eu refaça agumas coisas. Não sei...
De qualquer forma, muito obrigada pelo carinho.
Estou voltando a contratacar o nosso lindinho K. Espero dar notícias em breve.
Beijo!!
Rosane!!
ResponderExcluirAdorei o final do romance,ficou bem bacana e bem amarrado.Estou esperando anciosa o próximo.
Continuo sendo uma seguidora fiel de seus romances.Não me esqueço de ler não.
Bjs,
Cris.
Cris, querida!Bom te ver aqui de novo. Estava sentindo falta da minha leitora e colaboradora. Estou em gestação do próximo romance. Espero não demorar muito, mas com a inspiração nunca dá para se ter uma certeza.
ResponderExcluirObrigada pelo carinho.
Beijinhos!
Yupiiiii estupendo vc surpreende muito bem pensei num final e acabou sendo outro totalmente diferente e bem melhor como sempre... Nossa agora vou dormir aérea pensando na turbulência dos finalmentes... kkk
ResponderExcluirEspero que vc ñ demore muito, mas se for necessário estarei sempre aqui fiel escudeira esperando!
Até o próximo!!!
* * *Beijiskiss* * *
OWN!
ResponderExcluirAdorei!
Que pena que acabou, rs.
Beijos,
Mi
Inteiramente Diva