Este será o primeiro de meus contos que coloco aqui para vocês.
Aquele ia ser um dia bem quente de verão. A seca já durava duas semanas e nem sinal de chuva. A Pajero preta cortava a estrada de terra, levantando uma densa nuvem de poeira. Tinha feito boas compras na cidade. Alaor estava gerenciando muito bem a pousada. Finalmente, depois de cinco anos tentando ser conhecida como ponto de referência em turismo ecológico, estava conseguindo atrair até uma equipe de produtores de cinema americanos, a procura de locações para seu próximo filme. Alaor tinha sido fundamental para que isto ocorresse, com seus conhecimentos no exterior, onde fizera seus cursos de especialização. Tinha tido sorte de contratá-lo. Além disso, ele era uma pessoa excelente e muito simpática. “Ooops! Nada de envolvimentos, D. Elisa. É um longo tempo sem ninguém, mas não vai ser agora, para estragar todo o seu trabalho. Homens só atrapalham. Estou indo muito bem, com relacionamentos apenas profissionais com eles.”
Hoje deveria vir o rapaz que contratara para cuidar dos jardins, da horta e dos cães. Não era muita coisa, mas estava fazendo falta. Ela já não dava conta sozinha. Com o aumento de movimento de hóspedes, sempre tinha muitas atividades onde precisava dar assistência, fazendo uma "social" ou servindo como guia. Talvez devesse pensar em ter mais guias fixos. Só o Alex e o Ricardo já não eram mais suficientes, na maioria das vezes.
Estava chegando. Ah! Lá estava o seu fiel gerente, aguardando.
Estacionou a camionete nos fundos da casa, para descarregar as compras.
_ Os americanos já estão a caminho. O Ricardo foi buscá-los com a van, no aeroporto.
_ Ótimo! E o novo funcionário? Já chegou? – perguntou, abrindo o bagageiro.
_ Já! Foi dar uma olhada na horta enquanto te esperava. Correu tudo bem na cidade? Você saiu bem cedo, não?
_ É. Eu queria voltar cedo, por causa dos novos hóspedes
_Certo! Então deixa que eu guardo as compras na despensa. Vá se refrescar. Pedi para a Marlene preparar um chá gelado para aguardar os visitantes. Mas, eu deixo você tomar um pouquinho.
_ Ahahaha! Obrigada, senhor. É muito gentil!
Realmente, Alaor era um tipo bem legal e interessante. Alto, moreno, um belo sorriso, porte elegante. “Elisa, Elisa, olha as regras de manter distância. Não caia em tentação... Não vai perder o gerente, para ganhar uma dor de cabeça”.
Tentando não deixar o "jejum prolongado" tomar conta da razão, correu para sua cabana, que ficava a cerca de 200 metros da sede principal. A visão do cânion estava demais. O céu estava claro proporcionando uma vista deslumbrante. Fizera um ótimo negócio com o dinheiro que seu pai lhe deixara, ao conseguir comprar aquelas terras, praticamente entre os paredões de pedra do cânion Malacara, por um preço razoável. Ainda não havia uma grande valorização da região na época da compra.
Tomou um banho refrescante, pôs seus jeans e uma camiseta branca, que realçavam sua bela forma física, com simplicidade. Deixaria os cabelos escuros e cacheados secarem ao natural. Era como melhor ficavam, adornando seu rosto.
Voltou para a sede e pediu que Alaor guardasse seu carro. Depois do almoço, foi para o computador para verificar saldos bancários, pagamentos, etc. Estava distraída, quando ouviu um barulho às suas costas, na porta do escritório. Pensou ser o novo contratado, Sérgio. Sem olhar, passou a perguntar:
_ E aí? Tudo bem? Já viu a nossa horta? Ela está precisando de cuidados. Com a seca as hortaliças estão sofrendo. Espero que você cuide bem delas. O jardim também está precisando de podas. Já viu os cães? – Nenhuma resposta.
_ Hei, você não fala nada? – Disse virando-se, com um sorriso nos lábios, pensando em encontrar o tímido jovem que conhecera dois dias atrás.
Quase caiu da cadeira giratória, tamanho o susto. A sua frente, erguia-se um homem completamente estranho, com um olhar cativante, com lindos olhos verdes, barba por fazer, com um sorriso irresistível nos lábios.
_ Hi! – ele falou, rindo do modo como ela ficara, de queixo caído, ao vê-lo.
_ Oi! – disse, tentando encontrar a voz perdida.
_ Quem é você?
Ele a olhava como se não tivesse entendido. Só então ela conseguiu conectar-se com a realidade e deu-se conta que ele a tinha cumprimentado em inglês. “Claro! Ele devia ser da equipe de filmagem”.
_ Hi!! Sorry – Ainda bem que o seu inglês era bom, graças aos estágios feitos nos EUA, durante sua formação em Biologia.
_ Desculpe! Eu não quis assustá-la. Você estava esperando outra pessoa? – falou, com um estranho sotaque, que mais tarde eu reconheceria como escocês.
_ Sim, não, quer dizer... Ah! Deixa prá lá. Você é...?
_ James Hewitt. Jim, para os amigos.
_ Então, vocês chegaram. Não ouvi o som do motor da van. Desculpe! Eu estava distraída. Onde estão os outros?
No mesmo instante, Alaor surgiu na porta.
_ Li (este era o meu apelido), chegaram! Ah! Pelo visto você já foi avisada – falou, sorrindo.
Levantou e estendeu a mão para cumprimentá-lo
_ Sr. Hewitt, muito prazer! Elisa.
_ Jim, por favor – falou com voz cálida, e apertou sua mão entre as dele, deixando seus joelhos enfraquecidos. Completamente aparvalhada, tropeçou na cadeira onde estava antes e quase foi ao chão, não fossem aqueles braços fortes que a seguraram. Corou. Imaginou que deveria estar da cor de suas toalhas de mesa vermelhas. Ele sorriu malicioso. Ela podia sentir e o olhar de desaprovação do meu gerente. Fazer o quê? Depois de cinco anos, colocam um homem daqueles na sua frente. Impossível não reagir tontamente.
Agradeceu a gentileza e saiu olhando reto para a recepção, tentando manter um pouco da elegância que ainda lhe restava, apesar daquele tremor nas pernas.
Havia um grupo de cinco pessoas, duas mulheres e três homens, admirando o salão principal da pousada. Realmente, aquele ambiente ficara muito lindo. Com a grande lareira no centro da sala, sofás e poltronas confortáveis, com tecidos coloridos, almofadões jogados informalmente no chão, os grandes janelões que se abriam para o cânion com a mata verde e suas várias quedas d'água. Era muito aconchegante. Na volta das trilhas, ao final do dia, após um merecido banho quente, os hóspedes deleitavam-se naquele salão, na companhia uns dos outros, contando suas aventuras do dia, enquanto aguardavam o jantar. No inverno e, mesmo no verão, quando as temperaturas podiam ser mais baixas à noite, a lareira acesa tornava tudo ainda mais aprazível. Ali, as pessoas reencontravam o prazer de se relacionar, trocar idéias ou, simplesmente ficar observando o ambiente ao seu redor. Sem televisão, jornais ou rádio, o relacionamento interpessoal era o principal entretenimento por ali.
_ Wonderful! - disse o senhor que parecia ser o mais velho deles.
Alaor veio apresentar os recém chegados.
_ Este é o Sr. Joel Cameron, o diretor.
_ Muito prazer! Elisa.
_ Aqui é a Sra. Mary Dawson e sua filha , Michele Dawnson. Elas são as produtoras. Estes são os Srs. Neil Stevenson, diretor de fotografia, e seu assistente, o Sr. Michel. O Sr. Hewitt, pelo jeito já se apresentou.
_ Sim... É um prazer recebê-los na nossa pousada. Estejam à vontade. O nosso gerente, o Sr. Alaor, vai mostrar os seus apartamentos. Espero que gostem. Qualquer dúvida ou solicitação especial podem dirigir-se a um de nós – Sentia o olhar de Jim analisando-a por inteiro. Sentia-se sendo despida, peça por peça de roupa. Corou, novamente. Como se não bastasse esta situação, resolveu abrir a boca mais uma vez, criando um mal estar.
_ E, o sr. Hewitt? O que faz na equipe?
Sentiu um constrangimento no ar e, o único que sorria, divertindo-se com a situação, era o próprio Jim.
Alaor tentou salvá-la, dizendo:
_ Ele é ator e vai ser o protagonista do filme, Elisa. Ele também quis conhecer o local para se ambientar melhor.
Quem mandava se enfiar no meio do mato, sem comunicações com o meio externo. Há anos não ia a um cinema, pois lá não havia nada disso. Os jornais locais eram muito limitados, digamos assim. Mesmo quando ia à capital, não ficava muito tempo, pois se irritava com a movimentação. Era um "bicho-do-mato" legítimo.
_ Maravilha! Sejam bem-vindos, então! – exagerou na voz e nas palmas...
E aquele sorriso irritante que não abandonava os lábios (que lábios...) do sr. Hewitt, Jim, seja lá quem for. Ele conseguia deixá-la nervosa, com certeza. Logo ela, que tinha fama de durona entre seus conhecidos. Passara de durona a palhaça, num piscar de olhos verdes. Com certeza, os olhos verdes mais lindos que já tinha visto.
Deu um jeito de sair em direção à cozinha, rapidamente, para molhar a garganta, pois tinha a sensação de ter engolido uma espada em chamas.
Lá, Marlene veio comentar a chegada dos "gringos".
_ E aquele alto, bonitão? Viu?
_ Qual? - disse, tentando disfarçar.
_ Ah! Vai dizer que não viu aquele "deus"?
_ D. Marlene, a senhora não tem mais idade para essas coisas. Compostura!
_ Quem disse que isso tem idade? Olha, o José, lá em casa, não tem do que se queixar...
_ Marlene!!
_ É, eu acho que não fui só eu que fiquei embasbacada, não.
_ Olha o respeito, Marlene.
_ Tá bom! Tá bom! Vou cozinhar, que faço melhor. Eles vão estar morrendo de fome logo mais, porque dizem que essa comidas de avião são horríveis. Deixa eles provarem meus quitutes para verem o que é comida de verdade. Aliás, Li, vou fazer mais dois pratos, além daqueles que você tinha escolhido. Polenta aos quatro queijos e berinjela de forno. Tudo bem?
_ Ótimo, Marlene. Tudo que você faz é maravilhoso. Não sei nem porque ainda me preocupo com a cozinha. Só por causa das sobremesas, mesmo, que não são o seu forte. Aliás, vou fazer uma mousse de maracujá para servir junto com o pudim de leite. É bom ter mais uma opção de doce. Pode pegar os ingredientes para mim, por favor?
_ É! É bom distrair a cabeça e o coração na cozinha. Acalma um pouco os "ânimos".
_ Marlene! – disse, sem conseguir segurar o riso. A sua cozinheira era um doce de pessoa, mas tinha uma língua muito afiada, às vezes.
Cerca de quarenta e cinco minutos mais tarde, Alaor a procurou para dizer que já estavam todos acomodados, orientados sobre os horários e, que tinham combinado uma reunião para depois do jantar, a fim de escolher os locais para visitar no dia seguinte.
_ Pelo que entendi, ficaram interessados na área superior dos cânions e nas trilhas de pedras no leito dos rios. As cachoeiras também podem agradar. Eles terão um semana inteira para visitar e escolher as locações ideais. Viram as fotos no site e ficaram deslumbrados com a região. Estão encantados, também, com a pousada. Fizeram muitos elogios ao seu bom gosto. "Um lugar muito charmoso... Uma surpresa muito agradável para quem não esperava nada além de mosquitos e mato", disseram.
_ Ótimo para eles e, principalmente, para nós, meu caro. Nossa pousada está ficando famosa!
_ SUA pousada, Li. Você é a responsável por tudo isto aqui e merece cada elogio – disse ele com uma ternura, até então desconhecida, no olhar.
_ Obrigada, Alaor. Você é um amor.
Ao dizer isto, ouviu um ranger na porta às suas costas. Virou-se e deu com Jim parado na porta, com olhar sério.
_ Desculpe interromper, mas ouvi dizer que tem uma sauna por aqui. É possível usá-la agora?
_ Perdão, Sr. Hewitt, mas precisamos ligá-la com uma hora de antecedência, antes do uso. Se o senhor quiser, poderá estar disponível dentro deste tempo.
_ Gostaria sim, por favor.
_ Ótimo! Depois lhe forneceremos roupão e toalhas adequadas, ok?
_ Ok! Ah! Por favor, para duas pessoas.
Ficou curiosa para saber quem seria a 2ª pessoa.
Uma hora mais tarde, ficou tristemente surpresa ao saber que ele estaria acompanhado pela Srta. Michele Dawnson. Será que eles tinham alguma coisa? Seriam amantes?
Ouviu os risos altos, ela se arreganhando toda para ele. E ele sabia que agradava às mulheres. Tudo nele seduzia e encantava. Não pode conter a inveja daquela loura aguada.
Começou a ficar agitada com a possibilidade de bisbilhotar o que estaria acontecendo naquela sauna. Como quem não quer nada, esgueirou-se até lá. A construção nova, onde se localizava a sauna, ficava a poucos metros da sede. Lá encontrou uma escada, deitada no chão. Colocou-a de pé, com todo o cuidado. Subiu, pensando se poderia ver alguma coisa através das telhas de vidro que mandara colocar para a entrada de luz, Tentando equilibrar-se, como uma menina travessa, olhou para baixo. Não conseguiu ver nada, devido ao vapor que cobria o ambiente lá embaixo.
De repente, a escada desequilibrou-se e, se não fosse sua agilidade, teria caído de costas no solo. Conseguiu cair de pé, mas a escada fez um terrível barulho ao ir de encontro a uma pilha de lenha que estava encostada na parede. Com medo de ser pega, tratou de sair correndo dali, mas não teve tempo de dar os primeiros passos. Mal tinha pensado nisso, Jim apareceu enrolado em uma toalha, perguntando quem era, com cara de poucos amigos. Assim que a viu, a boca se abriu em um sorriso, misto de surpresa e malícia.
Rapidamente, se refazendo do susto, ela tentou falar calmamente (como se isso fosse possível) e disse:
_ Eu vim ver se estava tudo funcionando bem. A sauna está adequada?
Tentava parecer calma, mas seu rosto pegava fogo. Será que ele podia perceber isto?
Achou que sim, quando ele deu uma bela risada e falou, sarcástico, dando duplo sentido ao que disse:
_Claro! Está TUDO funcionando perfeitamente bem por aqui. Mas porque este barulho todo. Gostaria de ter um pouco de privacidade, por favor – parecia tentar segurar uma gargalhada.
“Canalha! Ainda por cima fica me gozando", pensou.
_ A escada estava mal colocada e caiu quando passei – “Que mentira deslavada!O que estava acontecendo? Ficara louca de vez? O que eles iriam pensar ?”
Aí, neste instante, apareceu a loura aguada, também só de toalha enrolada no corpo, a perguntar o que estava havendo. Essa foi demais!
Pediu desculpas e saiu em passos rápidos, em direção a sua cabana, tropeçando no caminho de pedras.
Chegou e foi direto ao banheiro olhar-se no espelho. Parecia ter acabado de participar de uma corrida de obstáculos. O rosto afogueado, totalmente descabelada e suada. Era a própria imagem do desespero. "Oh, Deus! O que está acontecendo ? Aquilo tinha de parar!". Foi tomar um banho gelado.
Só foi reaparecer próxima à hora do jantar. Já estavam todos reunidos no salão principal, conversando animadamente. O sr. Neil e o Sr. Michel olhavam, curiosos, os álbuns de fotos da pousada. Ao verem Elisa, foram saber se aqueles lugares ficavam longe dali. Ela passou a dar informações sobre as distâncias, dificuldades de acesso, etc. Contou sobre a minissérie que havia sido rodada por ali há alguns anos atrás que contava sobre uma antiga revolução desencadeada no estado vizinho, o Rio Grande do Sul. Ficaram surpresos ao saber que toda a parte de cima dos cânions pertencia ao Rio Grande e que a parte de baixo, onde eles estavam, pertencia à Santa Catarina.
Engoliu em seco quando viu Jim entrar de braços dados com Michele, lindo, em um abrigo de malha azul, exalando um perfume divino, acabado de sair do banho.
Pediu licença aos senhores e dirigiu-se para a cozinha. Antes de entrar lá, Alaor segurou-a pelo braço.
_ Li, ao menos disfarça. Não dá tanta bandeira prá este cara.
_ Como assim, bandeira? Acho que você está vendo coisas. Vou ver como está o pessoal na cozinha. Com licença.
_ Tudo bem! Só quero te ajudar – falou em tom bem baixo.
Entrou na cozinha, tentando se acalmar. "Só o que faltava agora ser controlada pelo gerente!” Sem querer esbarrou numa panela vazia que caiu no chão com grande espalhafato.
_ Calma, menina! O que houve? Você está com uma cara péssima! Sente aqui para se acalmar. Parece que engoliu um formigueiro inteirinho. – exclamou Marlene.
Respirou fundo e conseguiu falar:
_ O jantar já está pronto?
_ Sim, "madame". É só servir. Vai ser servido como buffet, como sempre. Podemos levar os pratos lá para fora?
_ Claro!
Enquanto Marlene e sua ajudante, Vanda, colocavam suas iguarias caseiras sobre a bancada na sala de jantar, Elisa tentava recuperar a calma. Precisava estar de cabeça fria para a reunião depois do jantar. Tinha de se controlar. Não podia mais olhar para Jim. Ele a tirava totalmente de si.
O jantar transcorreu sem problemas. Elisa ficou administrando o serviço de buffet, ajudando a servir os hóspedes, atrás da bancada. Todos pareciam estar adorando os pratos preparados por Marlene. Alguns se serviram mais de duas vezes. Realmente, as saladas tinham um gosto especial, sem uso de agrotóxicos. Tudo era feito com produtos da terra, de qualidade. Este pessoal não devia estar acostumado com esses sabores. Este era um dos atrativos de sua pousada. A comida. As sobremesas foram igualmente elogiadas, até mesmo pelas mulheres, que comeram um pouco menos que os homens. "Eu deveria ter colocado cicuta na sobremesa dela", pensou Li, querendo eliminar aquela loura sem graça, que se jogava descaradamente encima de Jim e, até de Alaor. Como se isso não bastasse para irritar Elisa, até Alaor se mostrava muito simpático com a sirigaita. "Homens!!!" Tentava não manter contato visual com Jim.
Finalmente, após o jantar, sentaram-se animadamente na sala de estar para conversar. A reunião iniciou-se, informalmente, ali mesmo. Elisa tomou a palavra, perguntando ao sr. Cameron, qual exatamente o tipo de locação que tinham em mente. Ele começou a fazer um resumo do que seria o filme e que precisavam de locais que lembrassem o interior de uma ilha, com mata densa, e imagens grandiosas tipo aquela que se encontrava a sua frente, no cânion. O filme seria sobre piratas, estilo os filmes antigos de Errol Flynn. Jim faria o chefe de um bando de piratas e a ilha seria o seu refúgio. Uma boa parte do filme seria realizada por ali. Era interessante conhecer as cachoeiras de que tinha ouvido falar e também os leitos dos rios. Enfim. Achava que tudo que tínhamos para mostrar seria interessante conhecer.
Teriam tempo suficiente para conhecer tudo? Elisa achava que sim. Poderiam começar no dia seguinte, visitando os locais mais próximos à pousada, como o Morro do Pinto, pela manhã. Era uma caminhada, morro acima, de mais ou menos,4 horas, entre ida e volta. Se saíssem cedo, em torno de 9 horas, poderiam perfeitamente estar de volta para o almoço e aproveitar a tarde, dependendo da animação para caminhar, para ir até o poço Malacara, que era uma grande piscina natural, entre as rochas do rio e os paredões do cânion. Outra opção menos cansativa para a tarde, era visitar uma cachoeira próxima dali. Então ficou tudo resolvido para o dia seguinte. As próximas visitas seriam programadas posteriormente. Encerrada a reunião, todos permaneceram sentados, conversando. Nisso, Jim fez menção de acender um cigarro. Elisa quase desmaiou. Ele fumava!Que horror! Imediatamente, jogou-se na direção dele, informando que não era permitido fumar dentro da pousada. Se fosse alguma necessidade urgente, que o fizesse na rua, por obséquio. Pediu desculpas a todos, mas que aquela era uma regra em várias pousadas da região, devido ao caráter ecológico do local. Ele pareceu não gostar muito da sua intromissão, mas guardou o cigarro. Os demais pareceram apreciar aquele tipo de proibição.
_ Pode ser que o Jim, finalmente, deixe de fumar. Seria muito bom para ele. Quem sabe você não consegue esta difícil façanha, Elisa? - falou o senhor Cameron.
_ Seria um prazer eliminar um vício de alguém como o senhor Hewitt – falou, finalmente conseguindo encará-lo e receber um fulminante olhar, que logo transformou-se num sorriso arrebatador.
_ Talvez. Eu permito que a senhorita Elisa continue tentando. Vou ficar encantado com a sua ajuda – disse isso e encaminhou-se para uma pequena lixeira ao lado da recepção, onde jogou fora a carteira de Marlboro que estava em sua mão.
Elisa não teve como esconder a satisfação de vê-lo tomando aquela atitude. Ela não era o que chamavam de ecologista radical, mas ficava muito satisfeita em poder ajudar as pessoas a se livrarem de um vício como aquele.
_ Obrigada, senhor Hewitt.
_ Jim, por favor.
Neste momento, Alaor resolveu interferir e convidou a todos para uma caminhada até um mirante próximo, onde poderiam ter uma bela visão dos cânions à noite, sob a luz do luar. Ainda teriam lua cheia por mais dois dias e deveriam aproveitar a oportunidade.
Elisa ficou grata a ele e ficou satisfeita por mostrar a todos como ficara agradável aquela área, que mandara "limpar" três semanas atrás, para reuniões ao ar livre, realização de luaus ou, simplesmente a observação das estrelas à noite.
Todos pareceram animados com a idéia e saíram atrás do gerente para a curta caminhada que levava até o mirante.
Marlene e Vanda vieram despedir-se, dizendo que já estava tudo arrumado para o café na manhã seguinte. Elas moravam na vila, há cerca de 8 km distantes da pousada. Alex iria levá-las, para depois voltar e recolher-se à cabana reservada aos funcionários que moravam ali. Atualmente, lá moravam Ricardo, Alex e Alaor. As duas camareiras e Sérgio, o novo funcionário, eram nativos e já tinham voltado para a vila, mais cedo, em suas bicicletas.
Sozinha, no grande salão, resolveu ir até a área de descanso, que ficava de frente para o cânion, com espreguiçadeiras estofadas, para maior conforto. Ela mandara construir há 1 ano para ter mais opção de repouso e observação de toda aquela beleza natural, que ela não cansava de admirar. Antes, foi até a lixeira, onde Jim havia jogado a carteira de cigarros. Ao verificar o conteúdo, viu que ela tinha apenas três cigarros. Por isso tinha sido tão fácil jogá-la fora. Ele devia ter um estoque. Mas, ela não ia desistir fácil desta batalha. Depois, sentiu-se ridícula em estar remexendo numa lixeira a procura do lixo daquele homem. Até que ponto chegara por ele. Deu um longo suspiro e seguiu para a área externa.
Apenas iluminada pelo luar, estava extremamente relaxante ficar ali. A construção lembrava uma varanda aberta. Sentou-se, confortavelmente reclinada, ouvindo apenas o som das inúmeras cachoeiras e da leve brisa correndo entre os desfiladeiros. Fechou os olhos para curtir melhor o "silêncio".
Ali ficou por alguns minutos, até que sentiu a aproximação de alguém.
_ Alaor? – chamou, sem abrir os olhos.
_ Não é Alaor.
A voz rouca, com aquele sotaque, soou como música em seus ouvidos, alarmando todos os seus sentidos. Sentiu um tremor percorrer todo o seu corpo, deixando-a alerta e excitada. Como ele conseguia aquilo?
_Ah! É você? Não gostou do passeio ao mirante? - tentando disfarçar a excitação.
_ Achei muito lindo e romântico. Aliás , eu pude perceber que você construiu vários pontos interessantes para se ficar, principalmente se estiver bem acompanhado.
_ Acho que nossos pontos de vista são diferentes. Estes locais foram erguidos com o intuito de observar as belezas naturais, que não são poucas, neste lugar. Eu diria que é o modo de mostrar como sou apaixonada por tudo isto aqui. Não tive a intenção de ser romântica. Apenas contemplativa.
_ Talvez as duas coisas possam vir associadas, não? Paixão sempre é um sentimento interessante, em todos os sentidos. Pessoas apaixonadas são interessantes.
Encostou-se na cerca de madeira trabalhada à sua frente e ficou encarando-a. Ainda bem que estava escuro e ele não tinha como ver seu rosto arder em chamas.
_ Bem, acho que está ficando tarde. Amanhã tenho que levantar cedo para me preparar para o nosso passeio.
Dizendo isso, levantou-se agilmente da espreguiçadeira, mas logo em seguida foi segura pelo braço, por mãos de aço, que a impediram de continuar em frente.
_ Porque você está fugindo?
_ Não estou fugindo de nada. Por favor, solte o meu braço. Você está louco?
_ Talvez – falou mostrando aquele sorriso maroto.
Sem poder resistir, sentindo-se enfraquecida, foi puxada para junto daquele corpo másculo, que também parecia exalar fogo. Seus braços a envolveram num abraço e sua boca iniciou a aproximação. Quando achava que já estava perdida, quase fechando os olhos para receber aquele hálito quente e úmido, foi abruptamente tirada do devaneio por uma voz áspera.
_ O que está havendo aqui? Li? Está precisando de ajuda?
Jim afrouxou seu abraço e fez uma cara péssima. Achei que ele ia bater em Alaor, naquele momento. Mas, foram alguns segundos de irritação, que ele conseguiu disfarçar atrás de um sorriso amarelo.
_ Não, senhor Alaor. Ninguém está precisando da sua ajuda por aqui.
_ Alaor, o senhor Hewitt só estava dando boa noite. E eu já estou de saída. Todos temos que dormir cedo para estarmos descansados para a caminhada de amanhã.
Elisa sentia-se completamente idiota tendo que dar satisfações ao seu gerente, como uma adolescente que havia sido pega em flagrante com o namoradinho, precisando dar explicações ao pai.
Para piorar a situação, ouviu-se a voz esganiçada de Michele:
_ Olá rapazes! O que está acontecendo aqui? - disse alegremente.
Era demais. Mais uma testemunha indesejável.
_ Boa noite para todos. Com licença!
Desvencilhou-se do abraço, já frouxo de Jim, virou-se e saiu rapidamente em direção a sua casa. Tão rápido, que acabou tropeçando ao sair da varanda, quase caindo. Mas conseguiu equilibrar-se e seguir, sem olhar para trás. Estava ficando mestre em sair-se bem de tropeços e esbarrões.
Enquanto isso, na varanda, Alaor e Jim despediam-se secamente. Michele, ainda com cara de dúvida, perguntou novamente sobre o que tinha acontecido, ao que recebeu uma resposta em uníssono dos dois homens:
_ Nada!
Alaor ainda tentou disfarçar com um sorriso e tentou mudar de assunto, perguntando sobre as impressões dela sobre o lugar. Ficaram conversando mais algum tempo.
Jim foi fumar um cigarro antes de ir para o seu apartamento. Ficou andando sem rumo, olhando em direção à cabana de Elisa. Aí, lembrou-se da conversa sobre abandonar aquele vício e jogou fora o cigarro, ainda pela metade. "Ela tinha razão sobre parar com aquela droga". Ficou perdido em pensamentos, até que resolveu ir tentar dormir.
Lá na cabana, Elisa tomava outro banho frio. "Desse jeito vou me diluir e desaparecer, o que não seria má idéia na atual situação".
Colocou sua camiseta preferida de dormir e foi para a cama, tentar ler um livro para pegar no sono.
“O que estava acontecendo? Aquilo não podia continuar assim. Mal conhecera aquele homem e já estava totalmente enrolada, se colocando em saias justas a todo instante”.
Começou a ler, mas não conseguia sair das cinco primeiras linhas da página. Não conseguia concentrar-se na leitura. Só lembrava o momento em que Jim quase a beijara e do que sentira naquela hora. O cansaço finalmente a venceu, cerca de 1 hora depois.
No meio da noite, ouviu um barulho e a porta do quarto se abriu. Viu o vulto de um homem alto e forte entrando e deitando-se ao seu lado. Viu aqueles olhos verdes, queimando de desejo e aqueles braços envolvendo-a. Ele estava completamente nú. Começou a despí-la, a beijá-la nos seios, descendo ao seu ventre, chegando ao púbis. Seu corpo sofria espasmos de prazer com aquele contato. Gemia seu nome "Jim, Jim..." Suas mãos corriam por todo o seu corpo.
De repente, a luz acendeu e viu Alaor, parado na porta do quarto, com olhar desvairado, gritando o seu nome "Elisa! Elisa!”.
Aquela voz foi aumentando de intensidade e passou a ouvir uma batida surda, contínua, como um martelo na sua cabeça. Levantou-se confusa da cama. Tinha sido um sonho."Deus! Parecia tão real” .
Sua cabeça latejava. Quem estava batendo na porta daquele jeito? Reconheceu a voz de Alaor. Vestiu seu roupão e foi abrir a porta.
_ O que houve?
_ Elisa, o seu despertador não tocou? Já são mais de 8:00 horas. Os americanos já estão tomando café. Marlene e Vanda já estão lá, servindo. Você vai ser a guia da trilha ou não? Posso pedir para o Ricardo ir em seu lugar..
_ Calma! Acabei de acordar e estou com uma terrível dor de cabeça. Me dê uns minutos para me recuperar e num instante estarei pronta. Espere-me no salão. Claro que vou guiá-los! O Ricardo pode ir junto para levar os lanches de trilha e ajudar com o pessoal. Mas a guia serei eu, certo?
_ Ok! Você está bem mesmo?
_ Estou ótima! Por favor, pare de se preocupar comigo, como se fosse meu pai. Está bem?
_ Está bem. Desculpe – e saiu em passadas largas, cabisbaixo, em direção à sede.
Ela arrependeu-se de falar com ele daquele jeito. “Agora, azar!”
Sua boca estava seca , ao contrário de suas partes íntimas. Que sonho!!
Ainda podia sentir as mãos de Jim em seu corpo. Parecia tão real... "Preciso de outro banho frio!"
Em pouco mais de 30 minutos, Elisa já estava pronta, no salão da pousada. Ingerira rapidamente um suco e uma fatia do pão caseiro de Marlene na cozinha, pois precisava de energia para subir o morro.
Jim parecia ter obedecido à risca as orientações de vestir roupas leves e tênis usados. Estava com uma bermuda de sarja bege, uma camiseta verde de aspecto envelhecido e um velho par de tênis encardidos.Mesmo assim, continuava elegante. Já a sua amiguinha, Michele, mais parecia pronta para um safári na África. Para completar, calçava um tênis preto envernizado. Certamente, seria a última vez que ele seria usado. Elisa deu as últimas orientações. Sentia o olhar de Jim insistente sobre ela. Tentava não olhar para ele para não perder a concentração no que estava falando.
Finalmente, saíram. Após uma caminhada de 500 metros, iniciaram a subida, pelo meio da mata fechada. Várias vezes tiveram de parar para descansar. Tirando Ricardo, Elisa e Jim, os demais pareciam totalmente fora de forma. Ainda assim, estavam extasiados com a aventura. Ao longo do caminho, puderam observar belos pássaros e as bromélias que cresciam no alto das árvores. Até um guaxinim e um mico puderam ser vistos, o que era raro de acontecer. Depois de quase três horas de subida, finalmente chegaram ao topo do Morro do Pinto. A vista era fantástica e todo o cansaço logo deu lugar ao deslumbramento e às interjeições do tipo “ooohhhh”.
Foram distribuídos sanduíches e sucos para todos. Ficariam ali o tempo que desejassem.
Elisa ainda conversou com Cameron e com Neil, dando mais informações sobre o lugar. Depois, foi sentar-se junto a Ricardo para lanchar. Não demorou muito e Jim aproximou-se, e perguntou se podia sentar-se ali.
_ Claro, fique à vontade – falou Ricardo.
Logo em seguida, provavelmente sentindo alguma coisa no ar, levantou-se para conversar com alguém do grupo, deixando Elisa e Jim sozinhos.
_ Você tem razão de ser apaixonada por estes cânions. Isso aqui é demais. Lembra um pouco a Escócia, na região das Highlands.
Ela notou certa nostalgia na sua voz.
_ Você é escocês, não?
_ Sim...
_ Faz muito tempo que não vai lá?
_ Já faz alguns meses. Sinto falta de casa. Ultimamente tenho ficado mais tempo em Los Angeles. Minha mãe é que não pára de se queixar – disse sorrindo, com olhar maroto.
Sentiu uma onda de ternura por ele, difícil de disfarçar. Ficou com vontade de abraçá-lo, mas conseguiu segurar-se.
_ Mas, pelo menos você está fazendo o que gosta? Quero dizer, ser ator?
_ Ah, sim! Com certeza. Batalhei muito por esta profissão e, agora estou começando a colher os frutos do meu trabalho. Não tenho do que me queixar.
A conversa entre eles começou a fluir, como se já fossem velhos conhecidos.
Tudo parecia perfeito. O dia de sol radiante, aquele homem maravilhoso conversando descontraidamente com ela, naquele lugar que ela amava tanto.
O tempo passou e eles nem perceberam. Ricardo acabou interrompendo-os, para lembrar que deveriam voltar. Já estava ficando tarde.
_ Ok! Vamos lá, senhor Hewitt? - disse animadamente. Sentia-se mais tranqüila ao seu lado. A inquietude e o desejo descontrolado haviam sido acalmados, pelo menos momentaneamente. Ele se tornara mais palpável, menos ameaçador, mas não menos encantador ou desejável.
_ Vamos lá, senhorita Elisa - disse, levantando-se como um grande felino e estendendo a sua mão para ajudá-la a levantar-se. Ao erguer-se do chão, perdeu o equilíbrio e ele a segurou em seus braços, evitando que ela caísse. Ficaram muito próximos, sorrindo um para o outro. Sentiu uma onda de eletricidade atravessar seu corpo, mas conseguiu afastar-se e continuar a caminhar em direção ao resto do grupo, deixando-o para trás, mas sentindo seu olhar a segui-la.
Iniciaram a descida. Michele acabou grudada em Jim. Elisa seguiu na frente, conversando com os diretores. Resolveram que passariam para visitar a Cachoeira da Onça, que ficava no caminho para a pousada. Em determinado momento, a mãe de Michele, Mary Dawnson escorregou e caiu de mau jeito, torcendo o pé. Imediatamente foi socorrida por Elisa, que estava acostumada com aqueles acidentes. Verificou que não havia fratura ou luxação, apenas uma leve torção. De qualquer forma, ela teria dificuldade em caminhar. Pediu a Ricardo que a ajudasse, levando-a para a pousada, que já não estava muito longe, fizesse uma imobilização com atadura elástica e lhe desse um antiinflamatório. Todos os guias tinham feito cursos de primeiros socorros, estando aptos a resolver aquele tipo de problema. Mary foi levada por Ricardo e por Michele. Os demais, já devidamente tranquilizados, seguiram com Elisa até o caminho para a cachoeira. Livre de Michele, Jim pode seguir ao lado dela.
_ Você foi muito hábil em resolver esta situação. Gostei de ver – disse ele admirado com a sua desenvoltura diante do ocorrido.
_ Não foi nada. Aqui é comum que ocorram estes pequenos acidentes, quando os visitantes não estão habituados a fazer este tipo de trilha. Até hoje, não tivemos nenhum acidente grave, graças a Deus – dizendo isso, intimamente satisfeita por tê-lo agradado, fez um novo alerta ao grupo restante:
_ Cuidado ao descer esta nova trilha. Podem segurar-se nas árvores ou nas cordas que colocamos para facilitar a descida. Prestem atenção se não há espinhos nos troncos, antes de segurarem. Vamos descer devagar, para não termos mais nenhum acidente, ok?
Mesmo diante daquele imprevisto desagradável, todos mantinham o espírito de aventura, estando ansiosos para chegarem ao seu destino. Poucos minutos depois, puderam surpreender-se novamente com a esplêndida queda d'água que se abriu diante deles. A água límpida e gelada caía de uma altura de 30 metros, com força, do alto de um paredão de pedra. Abaixo dela formava-se uma imensa piscina natural. Após, passado o deslumbramento inicial, seguiu-se o desejo de banhar-se.
_ Elisa, você não se importa se ficarmos só com a roupa íntima para podermos desfrutar deste banho? – perguntou o simpático senhor Cameron.
_ Não, claro que não. Podem ficar à vontade. Eu posso me afastar e vocês ficam mais à vontade. Não se preocupem comigo, por favor.
Tão logo ela se afastou, os quatro trataram de despir-se e atiraram-se no poço de água gélida. Davam gritos de alegria, como se fossem meninos travessos, quebrando regras. Elisa estava acostumada a ver estas reações nas pessoas. As quedas d'água, as piscinas naturais e os "escorregas" nos leitos dos rios tinham o poder de fazer ressurgir a criança adormecida dentro de cada um. Isto a fazia sentir-se muito feliz.
Em determinado momento, não conseguiu resistir ao som das risadas e dos pulos na água e foi dar uma discreta espiadinha no grupo. Eles realmente haviam tirado toda a roupa. Seus olhos, imediatamente correram a procura de Jim, instintivamente. Lá estava ele, subindo nas pedras para novamente atirar-se dentro da piscina. Quase perdeu a respiração, ao ver aquele corpo atlético, com tórax e braços musculosos, sem exagero, as magníficas coxas e... uau... "aquilo”. Era de perder o fôlego.
Ela não podia ver aquele tipo de coisa, ainda mais na secura em que andava. Era um atentado aos bons costumes e à sua racionalidade. Quase caiu para trás, envergonhada, ao perceber que Jim a tinha visto espiando e soltou uma gargalhada, gritando alto:
_ Venha, Li! Não precisa ficar com vergonha! A água está uma delícia!
Parecia que ele estava adorando deixá-la sem jeito.
_ Não! Obrigada! Podem aproveitar o tempo que quiserem. Eu espero aqui! - gritou, escondendo-se, novamente, atrás das árvores.
_ Não sabe o que está perdendo! - disse ele, continuando a rir.
Claro que sabia.
Estava distraída em seus pensamentos, quando ouviu a voz de Jim bem próxima a ela. Virou-se e deu de cara com ele, totalmente nú, com um sorriso escancarado, deixando-a completamente desorientada.
_ O que você está fazendo aqui? Volte logo para lá!
_ Vamos, Li! Não fique encabulada. Ninguém vai te atacar. Venha aproveitar a água. Está ótima. Com este calor que está fazendo, você merece se refrescar.
Quase entrando em estado convulsivo, Elisa começou a afastar-se um pouco mais dele. "Se ele chegar mais perto, estou perdida. Não vou resistir".
Ele a segurou pelo braço, gentilmente e, mais uma vez, insistiu. Ela pensou que fosse esvair-se chão adentro.
_ Jim, por favor! Não insista. Sei que a água deve estar uma delícia, mas não quero atrapalhar este momento de vocês. Olha, tem senhores de idade ali. Não quero deixá-los encabulados. Você é um amor por querer que eu me divirta também, mas não é hora prá isso. Tá bom?
Não sabia como conseguira encontrar aquelas palavras, no estado em que se encontrava, tendo ele, naqueles "trajes", na sua frente.
Ele se aproximou mais um pouco e pousou um beijo no seu rosto, carinhosamente.
_ Está certo. Não vou insistir... Da próxima vez aconselhe a usar trajes de banho sob as roupas, está bem? Ahahahaah! – e saiu rindo, direto para a água.
" Crianção! Parece que ele não tem idéia do efeito que causava ao aparecer pelado daquele jeito perto de uma mulher. Mais parece um moleque brincalhão. Será? Tudo nele exala sensualidade . Seus movimentos são elegantes, o sorriso inebriante, aqueles olhos que fazem a gente querer se perder. Será que ele tem idéia disso? Ele parece realmente só querer brincar, como uma criança inocente, sem malícia”. Seu coração estava se derretendo. “PERIGO! PERIGO! Cuidado, Elisa, não caia nessa. Não baixe as defesas... Mas ele é tão... (suspiro)".
Ficou quieta, por ali, até que foi obrigada a chamá-los, pois precisavam voltar à pousada. Ela ainda tinha que organizar o jantar e resolver algumas coisas burocráticas pendentes. Eles teriam de descansar, caso contrário, não agüentariam o dia seguinte, principalmente os mais velhos. Além disso, tinha de saber como estava a sra. Dawnson. Era isso! Tinha de trabalhar para voltar à razão e esquecer esses devaneios.
A muito custo, conseguiu que eles recolocassem suas roupas e a seguissem de volta para casa. Chegaram exaustos, molhados e um pouco embarrados, mas com um ar de contentamento indisfarçável.
Alaor veio ao meu encontro para saber se tinha corrido tudo bem. Estava preocupado com nossa demora.
_ Porque você não levou o rádio?
_ Ah, Alaor! Esqueci. Hoje iniciei o meu dia tão na corrida, que esqueci de levar o rádio. Prometo que, na próxima vez, não esqueço. Tá bom? E a sra. Dawnson? Como está?
_ Ela está bem. Realmente parece ter sido só uma entorse leve. De qualquer jeito telefonei para o Dr. Melo, o ortopedista da cidade, para que ele desse uma olhada nela. Acho que vamos ter de arcar com esta despesa. O que você acha?
_ Acho que você agiu corretamente. Como sempre. Olha, desculpa qualquer coisa que eu tenha falado hoje cedo, viu? Eu estava mal humorada, com dor de cabeça e chateada por ter acordado tarde. Desculpa-me?
_ Não tenho nada a desculpar. Eu entendi... Olha, acho que o Dr. Melo está chegando – disse, ao ouvir o motor de um carro aproximando-se.
O Dr. Melo era um senhor de meia idade, calvo, tranqüilo, como todo o médico de interior. Falava mansamente, em tom baixo, como se estivesse nos corredores de um hospital. Depois de nos cumprimentar e ser colocado a par do ocorrido, foi levado por Alaor até o apartamento das Dawnson.
Cerca de 20 minutos depois, saiu, nos tranquilizando a respeito do estado de Mary. Nada grave. Eles tinham agido corretamente. No dia seguinte, ela já poderia estar andando. Devia continuar com o antiinflamatório e o uso da atadura por mais quatro dias. Recomendou que evitasse qualquer esforço maior com os pés. Portanto, estava proibida de fazer qualquer um dos próximos passeios, subindo e descendo morros ou andando em leitos de rios. Teria que se contentar com pequenas caminhadas próximas à pousada, em áreas mais planas ou algum passeio de carro. Poderiam pensar em algo para distraí-la.
Assim que o Dr. Melo despediu-se, Elisa notou que Jim havia desaparecido. "Deve ter ido tomar um banho e descansar um pouco. Acho que vou fazer o mesmo", pensou.
Tão logo ficou pronta, foi para o escritório para fazer algumas verificações. Antes, passou na horta para ver como estava indo o trabalho de Sérgio. Constatou que o rapaz parecia saber o que fazia. Ficou satisfeita com o que viu e dirigiu-se para o escritório.
Já estava sentada à escrivaninha há alguns minutos quando sentiu alguém se aproximando. Pensou que fosse Alaor e perguntou:
_ Alaor, você já encomendou as lâmpadas para substituir as queimadas lá do jardim?
_ Você deveria olhar primeiro para ver com quem está falando.
_ Ah! É você? Desculpe. Realmente eu tenho esta mania. E então? Já descansou? Daqui a pouco vamos servir um café da tarde. Todos devem estar famintos Não é muita coisa, mas dá para acalmar o apetite até a hora do jantar".
_ Vim ver se você estaria disponível para dar um volta pelas redondezas.
_ Ora, sem problemas! Quem mais quer ir?
_ Só eu. Algum problema?
_ Nãao! Claro que não.
Já ficando em estado de alerta, de novo."Ele era só mais um hóspede. Ela não podia negar-se a acompanhá-lo", pensou.
_ Acho que o Alex está disponível, no momento. Eu posso pedir para ele te levar até o leito do rio Malacára, que fica aqui nos fundos da pousada. É bem próximo daqui.
_ Eu não quero ir com Alex. Quero ir com você.
_ Bem , se você faz questão.
Tentou manter a voz o mais natural possível.
_ Faço. A não ser que você esteja muito ocupada com os negócios - falou, amenizando um pouco o tom imperativo.
Nesse momento, Marlene surgiu na porta.
_ Desculpe interromper. Só vim avisar que o café já está servido.
_ Obrigada, Marlene. Pode ir . Eu vou dar uma saída, mas devo voltar em 1 hora, para
os preparativos do jantar . Você viu o cardápio que deixei ontem?
_ Sim. Já está tudo em andamento. Não se preocupe. Vá tranqüila, que da cozinha cuido eu.
_ Marlene, por favor, fala para o Alaor cuidar de tudo até minha volta, está bem?
_ E precisa dizer isto prá ele? É óbvio que ele vai cuidar de tudo. Vá tranqüila!
_ Tá bom! Então, tchau!
Virou-se para Jim e disse:
_Tive uma idéia. Vou te mostrar uma coisa que eu acho você vai gostar.
_ Humm.! Já fiquei interessado.
_ Jim! Comporte-se! É sério! Vou te levar para conhecer o alto do Cânion dos Índios. A vista é esplêndida. Acho que vai gostar.
_ Tenho certeza que sim.
_ Está bem, então. Vamos pegar o meu carro.
Ele a seguiu até a entrada de sua cabana onde se encontrava a camionete preta. Dali seguiram pela estrada de terra que levava até o alto do Parque Nacional de Aparados da Serra.
Durante o início do percurso, permaneceram quietos. Quem primeiro puxou conversa foi Jim.
_ Como é que você veio parar aqui? Porque alguém como você fica se escondendo neste fim de mundo?
_ Quem disse que estou me escondendo? Eu adoro isto aqui. Sempre sonhei em viver num lugar como esse. Tornei-me bióloga por causa deste sonho. Quer coisa melhor do que tornar o seu sonho também na sua fonte de renda?
_ Ah! Disso eu entendo.
Então, Jim passou a lhe contar o seu passado como engenheiro
e da infelicidade que o acompanhava. Só quando resolveu largar tudo e seguir a carreira de ator é que começou a viver de verdade. Ela se admirou com este outro lado dele. Não tinha idéia do que ele tinha enfrentado até chegar ao estrelato.
Já estavam chegando ao início do Parque e tiveram de deixar o carro no portão que dava acesso ao cânion. Foram caminhando lado a lado, com Elisa contando como conseguira comprar as terras para construir sua pousada.
O papo ia muito animado até que foram chegando perto da beirada do cânion. Ali se abriu uma vista alucinante. Lá do alto podiam ser vistos os paredões do cânion Malacára cobertos por uma vegetação baixa. Fora isso, uma enorme queda d'água bem a sua frente. Era de perder o fôlego, tal a beleza do lugar.
_ E aí? Que achou daqui? Valeu a pena vir ?
_ Realmente, isso é lindo demais.
_ Isto é só uma pequena amostra desta serra. Vocês ainda têm o cânion Fortaleza , o próprio Malacara e o Itaimbezinho para conhecer. Sem contar com a trilha do Rio do Boi, que fica no fundo do cânion do Itaimbezinho, que é fantástica. Acho que o sr. Neil vai ficar enlouquecido com todo o potencial deste lugar para as suas locações".
_ Vai ser muito difícil alguém tirá-la daqui, não?
_ Como assim, me tirar daqui?
_ Nada! Bobagem minha - falou, com certa tristeza no olhar.
Ela ficou intrigada com aquela meio afirmação, meio pergunta dele. No que ele estava pensando para dizer aquilo? Resolveu deixar este pensamento prá lá e curtir o cair do sol, que já se iniciava. Aí, ele a convidou para sentarem-se sobre uma rocha, próxima à beirada do precipício. Uma sensação muito agradável de intimidade e cumplicidade foi tomando conta de Elisa. A paisagem nunca fora tão bela como naquele momento. Sem perceber, seus braços se tocaram de leve e seus olhares se cruzaram. Os lábios de Jim pousaram suavemente em sua face, seguindo para a boca. Neste instante, como fogo num pavio de pólvora, uma onda de desejo foi desencadeada, e aqueles braços fortes a envolveram mais uma vez, como na noite anterior, buscando seu corpo ardentemente. Ela não conseguiu resistir e também o procurou, acariciando-o, delineando aqueles músculos com as mãos ávidas. Não cansava de beijar sua boca macia, cálida e úmida. Como ele era lindo. Marlene tinha razão. Parecia um deus. E, naquele momento, era todo seu.
Quando se deu conta, ele tentava levantar sua camiseta. Aí, a razão voltou a incomodá-la e ela teve de pedir que ele parasse.
_ Por favor, Jim. Pare... Pare! Está ficando noite e temos que voltar – disse , quase não acreditando que estava dizendo aquilo, quando a sua vontade era de tirar a camiseta dele também e fazer amor ali mesmo. Mas o bom senso falava mais alto.
_ Você vai ter coragem de me deixar neste estado e ir embora?
Uma sombra de dúvida passou na expressão de Elisa, mas ela resolveu brincar com a situação para acalmá-lo, e disse:
_ Se a gente continuar aqui desse jeito, nós vamos rolar precipício abaixo e não vamos fazer mais nada, por muito tempo.
Não conseguiu arrancar nenhum sorriso dele. Aí, para animá-lo um pouco, acabou por dizer:
_ Não há de faltar outra oportunidade. Pode considerar isto como uma ameaça...
_ Olha que vou cobrar depois.
"Eu devia ter fechado essa boca. Agora, o enchi de esperança. Além do mais vai pensar que sou a mulher mais fácil do mundo. Será?”, pensou arrependida do que acabara de insinuar. Mas, lá no fundo, estava gostando da idéia.
_ Não é bom descer esta serra no escuro. A estrada é perigosa à noite. É melhor irmos logo.
_ Está bem – falou a contragosto, ajudando-a a levantar-se – Além do mais, o Alaor pode não gostar, não é?
_ Que estória é essa de colocar o Alaor no meio da conversa? – disse irritada com o comentário – Ele é gerente da pousada, não da minha vida!
_ Mas que ele se preocupa demais com você, é inegável. Parece ser seu namorado. Não é?
_ De onde você tirou um absurdo destes? Só o que me faltava!
_ Está bem! Já não está mais aqui quem falou.
Tomaram o caminho de volta sem se falar, quase correndo pela vegetação rasteira.
Entraram na camionete e voltaram para a pousada em silêncio.
Quando chegaram, ele a beijou no rosto e perguntou:
_ Não está chateada comigo, está?
Sua voz era tão doce e o olhar tão meigo, que ela sentiu derreter o gelo, imediatamente.
_ Não, claro que não. Desculpe a minha reação lá em cima. O dia hoje foi um pouco cansativo e cheio de surpresas.
Tocou com a mão no rosto dele.
_ De agradáveis surpresas.
Não houve como evitar o encontro de seus lábios. Já esquecidos de onde estavam, ouviram alguém batendo nos vidros do carro. Era Alaor, com uma cara feia, praticamente gritando o nome de Elisa.
Ela abriu a porta pronta para ouvir um sermão sobre o horário, compromissos, etc.
_ Boa noite! Estávamos preocupados com vocês. O jantar já está servido.
Saiu pisando duro, deixando Jim com um sorriso de vencedor nos lábios.
Depois de tanto tempo sem ninguém, via-se disputada por dois homens. Ou seria sua imaginação de solteira praticamente "virgem" correndo solta?
Resolveu parar de pensar nisto e ir lavar-se para o jantar. Teria outra reunião informal com a equipe para resolverem o passeio do dia seguinte. Assim que se despediu de Jim, na porta principal da pousada, foi de carro até sua cabana.
Ao voltar, entrou cumprimentando a todos. Especialmente a senhora Dawnson, que já estava sentada à mesa, com um grande sorriso. Parece que já transformara o seu acidente em algo para relembrar como uma aventura exótica, e não como uma desgraça.
Foi colocar-se atrás da bancada do buffet, como sempre. Comeria alguma coisa mais tarde.
Cada vez que Jim vinha servir-se, trocavam olhares e sorrisos discretos.
Mais uma vez, após o jantar, com todos satisfeitos e felizes, iniciou a discussão para resolver o próximo local de visitação. Elisa deu alguns esclarecimentos e acabaram por escolher o cânion Fortaleza, que era um passeio que durava praticamente o dia todo, mas onde teriam belas paisagens. Este cânion tinha uma extensão de mais ou menos 5.800 metros e chamava-se assim devido ao aspecto de suas paredes entalhadas verticalmente na rocha. Talvez fosse o cânion mais impressionante, dos inúmeros daquela região. Deveriam sair na van, na manhã seguinte, o mais cedo possível. O percurso até o local de início da trilha ficava há cerca de 60 km dali.
Os mais velhos resolveram recolher-se aos apartamentos mais cedo, enquanto, na sala, ficaram Michele e Jim. Alaor acabou sendo, praticamente agarrado por Michele para conversar. Pelo jeito ela estava se agradando dele. "Pelo menos larga do pé do Jim".
Assim que ela ficou liberada da movimentação da cozinha, vendo que ele estava distraído olhando algumas revistas, foi comer alguma coisa na cozinha. Marlene havia deixado o seu prato pronto. Um pouco exagerado, como sempre. Ela nunca conseguia comer toda aquela quantidade. Ainda estava sentada, remexendo em seu prato, mergulhada em pensamentos, quando ouviu a porta, que vinha da sala, se abrir. Desta vez, olhou para ver quem era.
_ Ah! Finalmente aprendeu a olhar antes de conversar. Se eu fosse chamado de Alaor agora, ficaria muito zangado e estragaria a minha noite.
_ Não exagera! Mas eu, na verdade, achei que era você. Pude sentir o seu perfume...
Ele foi se aproximando, como quem não quer nada e, por fim, sentou-se junto a ela, tocando-a de leve com seu braço.
_ Que tal uma volta depois que você acabar o seu jantar?
_ Pode ser. Só não podemos dormir muito tarde, pois o passeio de amanhã é muito cansativo, certo?
_ Juro que você vai prá cama cedo – disse com jeito brincalhão e continuou:
_ Parece que ainda temos uma linda lua esta noite. Podíamos ir naquele mirante de ontem?
_ Pode ser.
_ Talvez eu o ache mais interessante hoje.
_ Jim, Jim... Você se comporte, ouviu?
Ele sorriu, provavelmente achando divertida aquela conversa de "gato e rato".
Resolveu jogar fora o resto de comida que tinha sobrado no prato e foi lavar a pouca louça que sujara, enquanto ele a observava. Era uma sensação boa aquela, como se eles fossem um casal, na cozinha de sua casa, fazendo coisas rotineiras. "Elisa, cuidado! É uma armadilha! Ah! deixa o barco correr. Só não quero me machucar feio. Se for só atração física, resolvemos isso e deu. Será? Ai, meu Deus! Pára de pensar bobagens."
Olhou para ele e sentiu uma fraqueza nas pernas e um leve tremor percorrendo o seu corpo. O modo como ele a observava era tão, tão... Que vontade de dar um beijo naquela boca. Mas, dissimulando, falou:
_ Então, vamos? – e pensou: "Seja o que Deus quiser!”.
Na sala, Alaor continuava em animada conversa com Michele. Chegou a nos olhar de soslaio, mas continuou no seu "tête a tête" com a loura.
Saíram da pousada em direção ao mirante. A noite estava lindamente adornada pela lua. As estrelas pareciam mais brilhantes que nunca.
Momentos depois, sentiu Jim segurar sua mão.
_ Posso?
Seu coração acelerou-se. Como ele conseguia deixar ela daquele jeito? Sentia-se como uma colegial em seu primeiro encontro.
_ Pode.
Agora, andavam como um casal de namorados
De repente, lhe deu uma vontade de falar o que estava sentindo. "Não faça isso sua louca! Abrir o jogo. Não vai dar certo!" Vencendo a resistência de sua razão, acabou por falar:
_ Jim, posso te fazer uma pergunta?
_ Claro!
Passados alguns segundos, com ele encarando-a curioso, finalmente criou coragem e perguntou:
_ Você pode ter todas as mulheres que quiser. Porque eu? O que você pretende? - falou
com a voz trêmula.
_ Quer mesmo saber? - disse com um sorriso irônico.
_ Quero.
_ Minhas intenções são as piores possíveis. Depois vou embora e você fica aqui. Não é perfeito? Sem problemas.
Ele continuava com aquele sorriso estampado no rosto.
O sangue lhe subiu para a cabeça. Não sabia se chorava ou se batia nele. Soltou -se de sua mão e passou quase a gritar:
_ Então , é isso?? Você acha que vou aceitar uma coisa destas? O que você está pensando que eu sou? Vocês vêm aqui para o Brasil achando que vão ter sexo fácil. Mas você está enganado, ouviu?
Ele não a deixou continuar e cobriu a sua boca com um beijo. No início ela resistiu, mas acabou cedendo, diante de sua força. Era impossível resistir a ele.
Tão logo se afastou um pouco, ainda meio tonta, com aquela ação inesperada por parte dele, ouviu:
_ Sua boba! Você acha que é isso mesmo? E que pergunta foi essa? Você queria que eu respondesse o que? Que estou apaixonado e que quero casar com você e só transar depois? Ele falava sem irritação, calmo e com bom humor.
_ N-não, não é isso. Mas é que...
Ela sentiu que realmente a sua pergunta tinha sido ridícula.
_ Desculpe-me. Deve estar achando que sou uma idiota, caipira.
Queria fugir dali e, realmente preparava-se para isso, quando ele a puxou de leve, pelo braço, e falou, aproximando-se dela, novamente:
_ Li, se você quer esclarecer a nossa situação, então vamos lá. Eu acho que existe uma atração muito forte entre nós. Isto não tem como negar, não?
Ela assentiu com a cabeça, sem conseguir olhar para ele.
_ Não quero que isso seja um passatempo. Teremos algumas dificuldades em manter um relacionamento, por sermos de países distantes, profissões diversas, mas para tudo pode se dar um jeito se a gente resolver ficar junto. Não acha?
_ Ficar junto? Como assim? – perguntou surpresa.
_ Ora, Li. Ficar, namorar, transar, o que quer que seja.
Não acreditava que estava tendo aquela conversa com Jim. Eles se conheciam há apenas três dias.
_ Jim, sinto que você está sendo sincero. Portanto vou ser sincera também. Eu não tenho um relacionamento deste tipo, qualquer um desses que você falou agora, há mais de cinco anos.
_ Tudo isso? - falou, parecendo achar isso muito divertido.
_ Fica quieto! Deixe-me falar, antes que me arrependa.
Tentava encontrar coragem para falar tudo que estava sentindo. Há quanto tempo não se abria assim para alguém. Por que com ele? Como ele conseguia mexer tanto com ela? Continuou:
_ Desde que o vi, eu não consigo te tirar da minha cabeça. Sinto uma grande atração por você. Não adianta ficar com esse sorrisinho cretino no rosto, todo convencido. Você deve saber muito bem deste seu efeito sobre as mulheres. Você é lindo, sexy e muito cativante.
_ Obrigado.
_ Quieto! Tenho resistido muito à idéia de "ficar" com você. Mas se tiver de acontecer, quero que seja uma noite inesquecível. Não apenas uma transa rápida, feita encima de pedras, de qualquer jeito, como se fosse uma marginal.
Ele a olhava, muito atento e com uma doçura e uma compreensão no olhar, que a deixava à vontade para abrir seu coração. E, continuava:
_ Só não quero ser forçada a nada, antes do tempo. Tenha paciência comigo, tá bom?
_ Li, apesar de estar ficando cada vez mais difícil de me conter diante de você, principalmente depois de tudo que você disse, eu vou esperar o seu sinal. Mas... A gente pode ir “treinando”, não? E não vai dar para só “treinar” por muito tempo, porque só tenho mais 4 dias aqui - e abriu uma bela risada, quebrando a seriedade do momento. Ela não resistiu e acabou rindo também, pensando se não estava sendo ridícula com aquela conversa. Afinal, os dois eram maiores de idade, solteiros (será que ele era? !!!), estavam atraídos um pelo outro( e como !). Porque todo esse papo? Só rindo, mesmo.
_ Desculpe, querida. Estou brincando.
_ É , eu sou uma boba, mesmo! Você deve estar me achando totalmente idiota. Na minha idade, na atual situação, com este recato todo.
_ Isto não é ser idiota e nem questão de idade. Você tem o seu tempo e eu respeito isso, ok? Vamos deixar as coisas rolarem e ver no que dá.
Ele estava sendo tão compreensivo. Só a fazia sentir-se mais atraída por ele, tornando mais difícil uma futura separação. Se ele tivesse sido grosseiro, seria mais fácil de escapar, arranjar uma desculpa e fugir dele. Mas, não. Pressentia que ia sofrer um bocado quando ele tivesse de partir.
Ele pareceu ouvir seus pensamentos e a abraçou forte, enquanto voltavam a caminhar. Chegaram ao mirante e resolveram deitar-se sobre o gramado para observar as estrelas. Ali, ficaram por algum tempo, apenas abraçados, em silêncio.
Até que o som da voz de Michele chegou até eles.
__ Ah! Tiveram a mesma idéia que nós! Olha só, Alaor!
Como se tivesse levado um choque, a primeira reação de Elisa foi levantar-se, imediatamente. Jim a segurou pelo braço e acabaram ficando sentados, olhando o casal aproximar-se.
_ Está uma noite linda, não? - disse Alaor, sem a costumeira aspereza na voz, dos últimos dias.
_ Então, vieram curtir a noite também?
Jim falava sem constrangimento algum.
_ Pois é , querido. O Alaor só fica lá naquele escritório, trabalhando. Por isso o convidei para dar uma arejada. Você acha que fiz bem, Elisa?
_ C-como? Ah! Claro! O Alaor é muito trabalhador , mesmo. É bom para ele relaxar um pouco. Bom, gente ! Acho que está na hora de me recolher. Amanhã teremos um dia longo de caminhada.
Jim levantou-se e a ajudou a ficar de pé.
_ Você vai ao passeio amanhã, Michele? - perguntou Jim.
_ Não. Acho que vou ficar fazendo companhia para a mamãe e para o Alaor. Ele fica muito sozinho quando saímos para passear - disse Michele.
_ Mi, eu posso ficar fazendo companhia para a sua mãe enquanto você vai passear. Não tem problema algum - disse um Alaor, meio desconcertado.
“ Mi??? Alaor já estava com esta intimidade toda com a moça?” , pensei.
_ Meu querido. Eu vou adorar ficar com vocês... Vamos conversar um pouquinho -
disse Michele, se insinuando toda para ele.
Jim sorriu com o assanhamento da amiga e disse:
_ Então, uma boa noite para vocês. Até amanhã!
Pegou Elisa pela mão e caminharam em direção à pousada.
_ Eu vou com você até a sua cabana.
_ Não, Jim, não precisa se incomodar.
Ele soltou uma gargalhada.
_ Me incomodar? Li, você não é deste planeta. É claro que vou te acompanhar. Não se preocupe, que vou manter a minha parte no trato. Está bem?
_ Tá bom! Desculpe. Pode me acompanhar.
Assim que abriu a porta da entrada da cabana, Jim a abraçou e lhe deu um beijo de perder o fôlego.
Assim que conseguiu afastar-se dele, reclamou:
_ Jim, você prometeu...
_ Ah, Li. Estou só treinando um pouquinho. Um beijinho pode, não? - falava baixinho, quase no seu ouvido, fazendo cócegas no seu pescoço com a barba.
_ Ai, Jim! Não faz assim... Nós temos que descansar para amanhã. Além disso, você prometeu que esperaria o meu sinal.
_Se você visse o seu rosto agora. Para mim , ele está dando todos os sinais verdes possíveis - disse, rindo do rosto afogueado e olhos brilhantes de Elisa.
_ Está bom, está bom.Vou indo. Deu um beijo em sua face e virou-se na direção da pousada.
Elisa segurou-se para não correr atrás dele, lançar-se no seu pescoço e cobri-lo de beijos. Fechou a porta e seguiu em direção ao quarto.
Naquela noite, algumas pessoas custaram para achar o sono, no cânion Malacára.
Elisa ficou por algum tempo pensando em tudo que acontecera naquele dia e acabou por tomar uma resolução. Dependeria da disposição de Jim, depois do passeio ao cânion Fortaleza. Certificou-se de colocar o despertador, para não ter outro susto como o daquela manhã.
O dia seguinte amanheceu com algumas nuvens e um calor abafado. Talvez chovesse no meio da tarde. Elisa ficou preocupada. Tomara que a chuva não os pegasse quando estivessem voltando na trilha sobre a cachoeira do Tigre Preto, pois seria perigoso. Dependendo da precipitação, os rios ficavam muito cheios e difíceis de atravessar. Teriam que sair cedo e voltar mais cedo, antes da chuva.
Preparou sua mochila , com o cuidado de levar cordas e outros materiais de segurança. Falou com Alex, para que ele também estivesse bem preparado.
Os lanches de trilha foram distribuídos, para que cada um levasse o seu.
Elisa tomou a direção da van e seguiram rumo ao Parque Aparados da Serra. Jim quis sentar-se ao seu lado. Alex foi atrás com os outros três membros do grupo.
Em torno de 10 horas estavam chegando à entrada do parque. Deixaram a van estacionada e seguiram a pé pela trilha, em direção ao Fortaleza. Teriam uma caminhada de, mais ou menos 1 hora até chegar no arroio do Segredo . Dali até o alto da cachoeira do Tigre Preto seriam mais 800 metros pela trilha. Passariam por cima da cachoeira, sobre o rio, indo em direção à Pedra do Segredo. Mais uma caminhada de 30 minutos, mas que, ao final, teriam a visão de um bloco monolítico de cerca de 5m de altura, perfeitamente apoiado sobre uma área de 50 cm², o que era um dos mistérios da natureza. Logo chegariam na borda do cânion Fortaleza e veriam qual o motivo de seu nome.
Após estas explicações de Elisa, seguiram para aventura, todos ansiosos para conhecer aquelas maravilhosas paragens.
Tudo correu tranqüilamente. Às 13 h já estavam almoçando na borda do cânion, totalmente embasbacados com a beleza dos paredões, que realmente lembravam as muralhas de um enorme castelo, incrustado na rocha. Não se cansavam de elogiar o local, que logo foi escolhido como uma das locações, para tomadas de vista aérea e até para filmagem com os atores.
Jim também estava admirado de como um lugar podia ser tão lindo.
O tempo começou a se fechar. Elisa pediu que começassem a se arrumar para voltar, devido ao mau tempo que estava se apresentando.
Logo, iniciaram a caminhada de volta, mas a chuva começou, fina, e foi tornando-se mais intensa à medida que o tempo passava.
Ao chegarem no topo da cachoeira do Tigre Preto, o volume de água já tinha subido um pouco, mas ainda era possível atravessar com segurança, desde que tomassem os devidos cuidados.
Para prevenir, Elisa combinou com Alex que ela ia fixar alguns ganchos nas pedras maiores do rio e passaria cordas ao longo do trecho de travessia, para que todos pudessem ficar presos , sem correr o risco de cair, caso alguém escorregasse em algumas das pedras lisas do fundo do rio.
A chuva parecia estar mais forte. Elisa foi caminhando, com cuidado, e aos poucos fixando os ganchos e passando as cordas. Alex esperava com os outros a hora em que poderiam atravessar. Jim começou a ficar apreensivo, vendo-a sozinha no meio daquela cachoeira. Logo, ela conseguiu alcançar o outro lado e perguntou se Alex já tinha fixado as cordas na margem onde estavam.
_ Sim! Podemos ir?
_ Venham com cuidado. Todos com seus cinturões e enganchados com as cordas?
Alex fez sinal de positivo e iniciaram a travessia. Primeiro os mais velhos. A água batia nos tornozelos, com alguma pressão, mas nada que pudesse desequilibrá-los. O risco eram as pedras limosas.
Aos poucos todos foram passando. Chegou a vez de Jim. Alex ainda se encontrava na margem, segurando as cordas de apoio, quando Jim escorregou . Elisa soltou um grito, puxando as cordas com força.
_ Alex, segura firme!!
Não podia acontecer nada com ele, pensava desesperada com a idéia de perdê-lo. Nunca tinha acontecido nada por lá. Não seria agora, logo com ele.
Mas, Jim era forte e conseguiu levantar-se, apesar da correnteza que já aumentava sua força, indo devagar , na direção de Elisa. Tão logo ele chegou, sob os vivas dos companheiros e para alívio de Elisa, começou a caminhada de Alex. Sendo ele mais experiente, não teve dificuldades maiores em chegar até eles.
Logo estavam voltando para o início do parque, aproveitando o banho de chuva , como um bando de garotos animados, como no dia anterior. Só que desta vez, em trajes de banho. Estavam adorando sentir toda aquela adrenalina, sem perceber o perigo pelo qual tinham passado momentos antes.
Chegaram até a recepção do parque, onde foram secar-se. Depois de ficarem conversando um pouco e vendo algumas fotos , entraram na van e partiram em seu caminho de volta para a segurança da pousada de Elisa.
Ao chegarem, foram direto para seus apartamentos, para lavarem-se e prepararem-se para o gostoso café da tarde preparado por Marlene. Antes que Jim entrasse, Elisa o abraçou e disse:
_ Hoje você me deu um susto. Pensei que ia te perder.
_ Mas graças aos seus cuidados, não aconteceu nada. Além do mais, não pense que vai se livrar de mim fácil assim. Eu voltaria do além para te puxar a perna e exigir o cumprimento do nosso trato - falou, soltando uma risada gostosa.
_ Você não leva nada a sério, não é? - falou sorrindo, dando graças por ele estar ali ao seu lado.
_ Levo sim. Tem coisas que levo muito a sério.Você, por exemplo. Dizendo isto, abraçou-a, e deu-lhe outro daqueles beijos que a levavam ás nuvens.
_ Agora, acho melhor o sr. ir tomar um belo banho quente. Eu pretendo fazer o mesmo
_ Não quer ir junto comigo? Assim a gente economiza água, O que acha? Tudo pela ecologia! - falou com aquele olhar safado que só ele sabia dar.
_ Não acho uma boa. Nós acabaríamos gastando mais água e mais tempo tomando este banho juntos - falou, sorridente. - Vai logo para este banho e pára de me tentar!
_ Está bom! Já não está mais aqui quem falou. Mas você não sabe o que está perdendo.
_ Até posso imaginar - falou, perdendo-se em "maus" pensamentos.
_ Bom, então você fica imaginando aí, enquanto eu vou indo.
Deu-lhe outro beijo e saiu, rindo, sabendo que a estava deixando mais excitada ainda.
Com uma sensação de felicidade porejando, Elisa , antes de sair para o seu banho, cruzou com Alaor. Ele parecia bem satisfeito da vida e com cara menos sisuda.
_ Então, como foram de passeio?
Ela lhe contou o susto que tinham levado, mas que tudo acabara bem.
_ E, você? Como vai com a Michele? Parece que estão se dando muito bem. Estou enganada?
_ Olha, ela é uma ótima pessoa. Sei que você não gosta muito dela, mas se a conhecer melhor , sei que vai mudar de idéia.
_ Alaor, você está realmente interessado nela? Que bom. Fico muito contente com isso.
_ É, Elisa. Acho que decidi deixar de me fixar só em você. Vi que não ia dar em nada mesmo.
_ Que é isso, Alaor. Você sabe que eu sempre gostei muito de você, mas só como amigo. Já estava na hora de você se interessar por alguém que realmente o mereça.
_ NÓS estamos precisando, Elisa. A gente passa a viver aqui, longe de qualquer vida social. O mundo fica muito reduzido. Já notei que você e o Jim também estão se dando bem e, realmente, fico contente com isso. Te quero muito bem. Só não quero que sejas magoada. Cuidado!
_ Oh, meu amigo, pode deixar. Tudo vai ficar bem. Qualquer coisa , depois a gente pode chorar as mágoas juntos, não é?
_ Sempre que precisar.
_ Bom, eu vou tomar o meu banho e volto antes do jantar. Desculpe estar deixando tudo na sua mão nos últimos dias.
_ Para isso que serve um gerente. È ou não é? Se houver algum problema que eu não possa resolver, te aviso. Fique descansada.
_ Aliás, acho que a temperatura vai baixar hoje à noite. Você podia providenciar o acendimento da lareira, por favor?
_ Já mandei buscar a lenha.
_ É, assim vou poder tirar férias muito em breve - falou rindo e satisfeita com a eficiência do amigo.
Foi em direção à sua casa. Após o banho, tratou de separar uma linda camisola que havia comprado alguns meses atrás, em Florianópolis, e que nunca havia usado. Ela era tão linda , branca , rendada, que não resistiu e a comprou, mesmo não tendo para quem mostrar. Hoje teria.
Colocou algumas velas aromáticas espalhadas, estrategicamente, pelo quarto. Ele ficava no segundo piso da cabana, com uma lareira em frente à cama, para aquecer nas noites frias. Hoje, além de aquecer, comporia um ambiente bem romântico. Chegava a se arrepiar com a expectativa de ter Jim ali no seu quarto, a sós. Aquela seria uma noite para lembrar toda a vida, caso não pudesse tê-lo mais.
A chuva havia parado e a temperatura baixara para 10 graus. No salão principal da sede, a lareira estava ardendo, com todos muito alegres, contando suas aventuras do dia. Havia o cansaço físico, mas a emoção era maior.
Jim estava lá, chamando sua atenção em uma calça jeans , daquelas rasgadas em pontos estratégicos, muito sensual, e um moletom verde que realçava ainda mais a cor de seus olhos. Acenou para ele e foi para o escritório ver se tinha alguma coisa pendente nos negócios, para resolver. Sentiu que Jim a seguiu com o olhar. Depois sentiu a sua presença logo atrás de sua cadeira, o que a deixou em alerta total. Ele chegou de mansinho e acabou por lhe dar um beijo na nuca, que se achava liberada pelo cabelo preso no alto da cabeça.
_ Resolveu prender o cabelo hoje? Ficou muito bem.
_ Obrigada, senhor Hewitt.
_ Conseguiu descansar?
_ Sim. E o senhor?
_ O "senhor" está muito bem descansado - falou debochado. Logo em seguida, o sorriso foi posto de lado e falou com uma seriedade incomum:
_ Eu preciso te falar uma coisa.
Elisa ficou com medo do que viria após esta afirmação tão séria, por isso, resolveu adiantar-se e falou:
_ Posso te fazer um convite indecoroso , antes?
A estas alturas, ela já só pensava com seu coração e seu desejo. Nada importava mais. Não deixaria nada interferir com seus planos para a noite. Levantou-se da cadeira, aproximando os lábios do seu ouvido:
_ Te espero lá na minha cabana às 10 horas, depois do jantar. Você é meu convidado especial. Posso esperar?
O semblante de Jim desanuviou-se para dar lugar a um ar de alegre surpresa e um intenso brilho no olhar. Enlaçou-a pela cintura e a aproximou de seu corpo.
_ Então vamos deixar o treinamento de lado e partir para a ação real?
_ Acho que sim. Mas, não fala assim. Parece até que vai ser uma ação militar - disse rindo. Logo, sentiu sua boca pressionada por aqueles lábios quentes e macios.
Afastaram-se, procurando disfarçar um pouco aquela onda de desejo que insistia em aparecer a cada contato físico. Resolveram voltar para a sala. O jantar estava sendo servido. Ele a convidou para sentar-se na sua mesa.
_ Hoje, jantamos juntos, está bem?
Após o jantar, o grupo resolveu que ia conhecer algumas das cachoeiras da região. Com a chuva , o volume de água aumentado, estariam muito mais interessantes, além de proporcionarem um belo banho.
No meio das conversas, Elisa pediu licença e retirou-se. Antes de sair, aproximou-se de Jim e disse bem baixinho:
_ Estou te esperando às 10h.
Pontualmente, à 22 horas, Elisa ouviu a batida forte na porta. Olhou mais uma vez para o quarto. Um clima bem romântico e acolhedor. Estava vestida apenas com a sua camisola.
Desceu para abrir a porta. Lá estava ele, lindo como sempre, os olhos faiscando e um sorriso, misto de surpresa, admiração e aprovação.
_ Como você está linda.
_ Tudo para você.
_ Quanta honra. Dizendo isso fechou a porta e a abraçou com força, beijando-a ávidamente, carente por seu corpo, as mãos a acariciá-la através da seda.
_ Vamos para o quarto.
Subiram as escadas devagar. Jim não conseguia esconder a excitação que o ambiente e Elisa estavam provocando.
_ A senhorita está com péssimas intenções para comigo, não?
_ As piores possíveis, lembra?
Ele soltou uma gargalhada e continuou a abraçá-la com intensidade. Ela o afastou um pouco e começou a tirar o seu moletom bem devagar, sem deixar de olhar profundamente aquele "mar verde" onde queria afogar-se de todas as maneiras. Passou a desabotoar o botão do jeans e a abrir o fecho, lentamente. As luzes trêmulas das velas e o calor das chamas da lareira só faziam aumentar o desejo de ambos. Seus corpos vibravam, ansiosos pelo que viria a acontecer. Elisa queria prolongar aqueles momentos o maior tempo possível. Assim que o despiu completamente, deitou-o na cama, empurrando-o de leve com as mãos. Ele parecia enfeitiçado por todo aquele ritual.
Resolveu deixar Elisa no controle e deixar-se levar por ela. Estava sendo uma experiência totalmente inesperada e sensual.
Elisa mandou-o fechar os olhos . Sentada sobre suas coxas, começou a acariciá-lo muito suavemente, mal tocando sua pele, com as mãos, levando-as num passeio por todo o seu corpo, iniciando pela face, tocando de leve a sua barba, passando pelo seu pescoço, em lentos movimentos com a palma das mãos abertas. Elas seguiram através de seu peito , contornando o abdômen, em movimentos circulares, chegando ao púbis. Ele gemia, não controlando mais a excitação. As mãos de Elisa continuavam sua viagem, agora em torno do seu pênis rígido, ainda mal tocando a pele. Ele podia sentir a eletricidade passando das mãos dela para o seu corpo. Ela levantou-se um pouco e passou a acariciar suas coxas, seguindo pelas pernas, fazendo-o se arrepiar àquele toque cheio de desejo. Ele ainda estava de olhos fechados, quando ela voltou à posição anterior, iniciando carícias mais intensas. As mãos já tocavam a pele e faziam mais pressão nos seus músculos. Elisa, por sua vez, estava extasiada com a perfeição daquele corpo. Queria dar a ele o maior prazer possível, para deixar a sua marca nele. Ele não poderia esquecê-la tão facilmente.
Com os carinhos mais intensos, Jim acabou por abrir os olhos e a fazer parte ativa nas carícias. Ele já não agüentava mais não participar daquilo. Precisava sentir o corpo de Elisa junto ao seu, com urgência, mas sem tirá-la do controle. Ele levantou o tronco, mantendo-a sobre suas coxas. Começou a levantar a sua camisola e foi tirando-a com cuidado. Ao ver seu corpo firme e bem torneado, passou a acariciá-la , levando as mãos aos seus seios, descendo ao abdômen. Logo, passou a beijá-la. A princípio beijos suaves, que foram tornando-se mais e mais ávidos. Pouco depois, Elisa abandonou-se aos carinhos dele, que passou a abraçá-la com mais vigor. A partir daí, o desejo e a busca pelo prazer total assumiu as rédeas e seus corpos procuravam a fusão através das mãos e das bocas famintas. Em meio aos gemidos de prazer, Jim deitou-se sobre Elisa, tentando colocar-se dentro dela. Ela enlaçou suas pernas em torno da cintura dele, pressionando-o com as coxas. Logo, encaixaram-se perfeitamente e iniciaram-se os movimentos ondulatórios, cada vez mais rápidos e mais eficientes. Eles não percebiam mais nada além deles mesmos e daquela sensação de êxtase total. Uma força quase selvagem os levou ao delírio total, em meio a gemidos, gritos e suor. Em alguns minutos, extenuados e totalmente satisfeitos, caíram um sobre o outro, relaxada e prazerosamente, sentindo uma felicidade quase palpável.
Assim ficaram por um bom tempo, com medo que a separação dos corpos quebrasse aquele encantamento.
A chuva recomeçou forte, batendo contra as vidraças. Jim levantou-se, silenciosamente para não incomodar Elisa. Foi avivar a lareira, pois estava começando a ficar mais frio.
Elisa , que estava acordada, abriu os olhos, ao sentir a movimentação, e ficou olhando para ele. Seu corpo nu, forte, viril, realçado pela luz flamejante da lareira. Ela estava realmente se apaixonando por ele. Tudo o que mais temia estava acontecendo, e era maravilhoso.
_ Jim? Vem cá...
Ele virou-se. Ela não conseguia ver o seu rosto naquela penumbra, mas ele moveu-se na sua direção. Parecia triste ou era só uma impressão?
Sentou ao seu lado, na cama e começou a acariciá-la. Deitou-se por trás de Elisa, puxando-a contra seu corpo, de forma a encaixar-se perfeitamente nela. Abraçou-a, carinhosamente, acolhendo os seios dentro de suas mãos.
_ É impressão minha ou você está meio tristonho?
_ Não, não é impressão - sua voz estava mais rouca que o habitual.
_ Mas, o que houve? Você se decepcionou comigo? Não foi bom?
_ Ah, minha linda. Você foi maravilhosa. Eu nunca vou esquecer esta noite. Isto torna mais difícil o que eu tenho de dizer.
Elisa gelou. Tentou levantar-se, mas ele a manteve segura, colada a ele.
_ Como assim? O que você está querendo dizer?
_ Lembra que, hoje à tarde, tentei lhe falar alguma coisa e você quis fazer o convite para eu vir aqui primeiro?
_ Lembro...
_ Pois é. Eu recebi um telefonema do meu agente em Londres. Ele me pediu para voltar antes do tempo, pois resolveram iniciar as filmagens de um filme, para o qual eu fui contratado há mais ou menos uns 6 meses. Vou ter de estar em Londres em três dias , no máximo. Portanto terei de ir embora mais cedo, provavelmente depois de amanhã. Ele ficou de ver com a empresa aérea a antecipação dos meus vôos.
_ Porque não me falou?
_ Eu não tive coragem, depois daquele convite, que eu ansiava tanto. Tanto quanto você. Por favor, nem pense que eu estou fugindo. Elisa, você foi a melhor coisa que me aconteceu em muitos anos e não quero que isto acabe assim fácil.
Elisa sentiu as lágrimas brotando.
_ Como você quer que eu me sinta? Logo agora - falou, conseguindo segurar o choro.
_ Elisa, me ouça... - ele sussurrou ao seu ouvido, pressionando-a contra ele, causando um tremor em seu corpo.
_ Eu estou gostando muito de você. Acredite. Eu prometo que assim que as filmagens acabarem, venho correndo para cá. Preciso que confie em mim.Você confia?
Elisa sentiu uma esperança renovada com aquela declaração. Aquele abraço, aquela voz, mexendo com todos os seus sentidos.Sentiu novamente uma onda de desejo , difícil de conter. Ela precisava acreditar nele.
_ Eu confio - falou, aconchegando-se um pouco mais entre aquelas coxas e aqueles braços, firmes como rocha, que a envolviam, fazendo-o apertar um pouco mais seus seios. Pensou em falar que o amava, mas não quis pressioná-lo. Não era mulher de ficar chantageando emocionalmente alguém. O que tivesse de ser, seria... Ela já devia estar preparada para isso. Ela tinha tido a sua noite inesquecível, ou melhor, ainda estava tendo. Ela não acabaria ali, não. Pensando assim, virou-se para ele e disse:
_ Bom, você tem ainda, pelo menos 1 dia aqui, não? Então temos de aproveitar bem - e beijou-o, apaixonadamente, já o envolvendo num abraço e partindo para novas carícias.
_ Você tem razão. Não podemos perder muito tempo - disse, imediatamente substituindo a expressão de pesar de antes por um largo sorriso, e já respondendo animadamente aos carinhos de Elisa. Mais uma vez amaram-se como nunca, prolongando o prazer de estarem juntos, por toda noite. Depois de tudo, exaustos, adormeceram, entrelaçados e felizes.
O dia amanheceu. A chuva havia parado e havia uma densa neblina. Para quem conhecesse o Malacára, saberia que em, pouco tempo, um lindo dia de sol estaria escancarado. Elisa acordou, preguiçosa, e ficou olhando para Jim, deitado ao seu lado, adormecido. Sentiu uma ternura tão grande por ele. Ia ser duro vê-lo partir tão cedo. A vontade de chorar voltou e, desta vez não conseguiu represar as lágrimas. Quando ia levantar-se da cama, sentiu as mãos de Jim puxando-a. Ficou sobre ela, prendendo-a contra seu peito.
_ Onde a senhora pensa que vai? - perguntou brincalhão. Aí ele percebeu o choro silencioso. Olhou-a comovido e passou a beijar o seu rosto, secando suas lágrimas com a boca.
_ Não chore , meu bem. Já lhe disse que volto. Se você continuar assim, quem vai chorar, daqui a pouco, sou eu. Se você não sabia, fique sabendo que eu sou meio chorão.
Elisa começou a rir.
_ Você tem razão. Eu tinha prometido a mim mesma de não fazer este papelão. Já passou. Olha, eu vou levantar, me arrumar e ver como estão os preparativos para o passeio às cachoeiras. Você vai?
_ Eu estava pensando em ficar com você. Só com você. O que sugere? - falou em tom provocante.
_ Tive uma idéia! Se você quiser ficar aqui mais um pouco, vou orientar os rapazes para onde levar o grupo, ver com Alaor se temos algum problema a resolver. Depois, volto aqui e podemos ir tomar café juntos. Aí, te conto a minha idéia e você vê se concorda ou não. O que acha?
_ Se a idéia for interessante como foi a da noite passada, estou dentro - falou, sussurrando em seu ouvido, sorrindo maliciosamente.
_ Assanhado! Pode ser. Depois te conto.
Agilmente, Elisa inverteu a posição em que estavam, ficando sobre ele, prendendo seus braços e, aproximando os lábios daquela boca deliciosamente sexy, deu-lhe um beijo ardente. Quando sentiu que o corpo de Jim começava a reagir, de um salto levantou-se, rindo, deixando-o com ar decepcionado e um meio sorriso.
_ Não demora.
Com energia renovada, Elisa arrumou-se rapidamente e, jogando um beijo de longe para Jim, saiu quase correndo em direção a sede.
Marlene já estava lá, arrumando os pães e os bolos na bancada, para o café. Ao ver Elisa, não pode deixar de fazer o comentário:
_ Parece que a noite foi muito boa. Está bem disposta e radiante. Foi só um bom sono relaxante ou teve mais alguma coisa? Eu nunca tinha te visto assim, desde que vim trabalhar aqui.
_ Ora, Marlene, não exagera. Uma chuva sempre é boa para se dormir melhor, você não acha? - disse tentando esconder o sorriso.
_ Chuva, é? Tá bom! Conta outra. Esse sorrisinho eu conheço . Já vi várias vezes no espelho lá de casa, depois de uma noitada boa com o maridão.
Elisa caiu na risada, vendo o jeito de Marlene falar.
_ Marlene, não seja maldosa. Você é muito metida.Vá cuidar da sua cozinha!
_ Pode deixar que eu vou.
E saiu, com um sorriso desconfiado.
As pessoas começaram a aparecer para o café, aos poucos. Primeiro foi o Sr. Neil e seu assistente. Logo em seguida, surgiram o Sr. Cameron e a Sra.Dawnson. Elisa cumprimentou-os. Perguntou por Michele, ao que Mary respondeu que a filha tinha ido dormir ás altas horas e, provavelmente viria mais tarde para tomar café.
_ Ela não vai ao passeio de hoje?
_ Parece que não. Resolveu ficar aqui pela pousada.
_ Está certo, então. Serão só três para o passeio. Vou falar com o Alex para que ele vá de guia. Hoje eu não poderei acompanhá-los. Tenho alguns problemas a resolver - mentiu.
_ Quem mais não vai ao passeio? - perguntou Cameron curioso. Elisa percebeu que tinha falado demais. Tentou imaginar como sairia daquela "saia justa".
_ Alguém mais desistiu? O Jim? Ele não está aqui - perguntou Joel mais uma vez.
_ O senhor Hewitt me disse que talvez não pudesse ir com vocês hoje. Podemos esperá-lo para ver - falou, achando que estava se enrolando cada vez mais.
Neste momento, Jim apareceu na soleira da porta de entrada.
_ Estão falando de mim?
_ Ei, Jim! Bom dia! - saudou Neil - A senhorita Elisa estava nos dizendo que talvez você não vá passear conosco hoje. É verdade?
_ É. Eu estou esperando um telefonema do meu agente em Londres. Talvez eu tenha de voltar para lá antes do esperado.
Novamente a tristeza tomou conta de sua voz.
_ Mas que pena. Ainda bem que já pôde conhecer uma boa parte dos locais em que filmaremos, ao final deste ano.
Elisa pensou: “Só no final do ano?? Vou morrer de saudades. Mas, pelo menos tenho certeza que ele voltará. Quase certeza...".
Jim pareceu ter percebido o olhar perdido de Elisa e falou:
_ Talvez eu volte bem antes de iniciarem as filmagens. Gostei muito daqui - e seu olhar se cruzou com o de Elisa, sorridente.
Após alguns instantes de silêncio constrangedor, pois todos notaram qual o real interesse de Jim naquele lugar, Alaor entrou, vindo da rua, para alívio de Elisa, que poderia mudar o motivo da conversa.
_ Bom dia para todos! - saudou.
Elisa pode escutar, atrás de si, o resmungo baixo de Marlene, que também estava na sala , servindo o café:
_ Mais um que teve uma “ótima noite de sono".
Elisa teve de controlar o riso."Essa Marlene".
Enquanto o pessoal terminava o seu café da manhã, Alex chegou. Elisa cumprimentou-o e pediu que fossem para o escritório, pois precisava falar com ele. Após uma rápida conversa, Alex foi preparar sua mochila e ver se os lanches estavam prontos. Chegou a vez de Elisa chamar Alaor para conversar.
_ Alaor, temos que fazer alguma coisa com relação a senhora Dawnson. A coitada está ficando isolada dentro da pousada. Que tal pedir para o Ricardo levá-la para um passeio de carro pela região? A Michele pode ir junto.
_ É. Também acho que a coitada fica mal, assim sem fazer nada. Ela diz que não sente mais dor alguma no tornozelo. Talvez uma ida ao Cânion dos Índios, onde a caminhada é curta, sem grandes obstáculos? Acho que vou ligar para o Dr. Melo e perguntar se ele a libera
_ Ótimo! Grande idéia! Ao menos ela pode ter uma idéia geral dos cânions vistos de cima, não? Se o Dr. Melo a liberar, providencie o passeio com o Ricardo.
_ E você? Vai sair? Com o Jim? - disse parecendo estar preocupado.
_ Vou. Talvez... Porque a preocupação?
_ Nada. Não quero me meter. Se cuida, tá?
_ Você também, com a Michele - falou, sorrindo.
Voltaram para o salão, onde os três amigos, animados, já se despediam e partiam para sua nova aventura.
_ Cuidem-se e bom passeio! - recomendou Elisa.
Assim que todos saíram, Elisa foi sentar-se ao lado de Jim na mesa onde ele a aguardava para tomar café.
_ E, então? Agora que já deu as ordens para seus comandados, quais as ordens para mim? - disse baixinho, com um sorrisinho nos lábios.
_ Primeiro vamos comer alguma coisa. Estou faminta. Você, não?
_ Completamente.
_ Depois, eu estava pensando em ir até uma cachoeira que fica aqui perto. A Cachoeira do Holandês.Ela é linda, tem uma piscina natural, maior que a da Onça e fica isolada. Já orientei o Alex a não aparecer por lá hoje. Teríamos ela todinha só para nós.O que você acha?
_ Já gostei do fato de ela ser "todinha só para nós".Você está se saindo muito bem no quesito " idéias interessantes" - falou, com malícia no olhar.
Elisa não conseguiu disfarçar o rubor nas maçãs do rosto, ao que ele sorriu, divertindo-se com o pudor demonstrado por ela.
_ Assim você me deixa sem jeito. Se quiser, vou trabalhar e você fica esperando o telefonema do seu agente.
_ Não precisa ficar brabinha. Adorei a sua idéia...Precisa levar trajes de banho? - e caiu na risada.
_ Jim!!! - tentou manter o tom de voz baixo, mas não pode conter o riso. Adorava este jeito brincalhão dele, mesmo quando a deixava envergonhada.
_ Li! - chamou Alaor.
_ Lá vem ele... - disse Jim "entre os dentes".
_ Falei com o Dr. Melo e ele liberou a senhora Dawnson. Ela já foi arrumar-se para a saída, feliz da vida. O Ricardo já foi avisado e logo estará aqui.
_ Que ótimo! Pode pegar as chaves da Pajero. Eu vou sair à pé. Ele pode usá-la para levar a Sra. Dawnson no passeio. A srta. Michele vai também?
_Não! Vou aproveitar para descansar um pouco mais, aqui mesmo, fazendo companhia ao Alaor - falou Michele, em alto e bom som.
"Mas que ouvido, não?", pensou Elisa.
_ O passeio é muito bonito. Tem certeza de que não quer ir? - perguntou Alaor, todo sorridente.
_ Tenho, meu querido. Acho que aqui vai estar muito mais interessante.
"Como uma mulher podia ser tão oferecida? Bem, não posso criticá-la. Pelo menos ela deixa bem claro, enquanto eu, fico me esgueirando", refletiu Elisa.
Ela quase ofereceu um guardanapo para Alaor limpar a baba, tal o olhar de bobo que fez ao ouvir a afirmação de Michele.
Assim, com tudo resolvido, Elisa e Jim foram aprontar-se para a caminhada até a cachoeira. Encontraram-se cerca de quinze minutos depois, na entrada da pousada.
O calor voltara e o sol já começara a surgir por trás da neblina, que ia desfazendo-se aos poucos. Saíram na direção do rio Malacára, que passava nos fundos da casa. Iam conversando, animadamente, sobre os projetos de filmes que Jim tinha agendados. Realmente estava cheio de compromissos. Por um lado, era bom. Por outro...
Andavam sobre as pedras do leito do rio. Elisa explicou que, há cerca de 1 ano, havia ocorrido uma grande tempestade, com fortes ventos, que haviam provocado o desmoronamento de vários pontos dos paredões. As pedras acabaram por rolar para o leito do rio, que acabou por diminuir suas margens, ficando quase seco em alguns locais. Isto acontecia ciclicamente, mudando a paisagem, ano a ano. Era a natureza em ação.
Finalmente, depois de mais ou menos 1 hora de caminhada, chegaram à cascata do Holandês. Jim quis saber o motivo do nome, mas Elisa disse que contaria depois.
Os jatos de água despencavam com força do alto , como duchas geladas naturais. A piscina que se formava abaixo estava cheia e muito convidativa.
_ E então? Vamos tomar um banho ? - perguntou Elisa, com um sorriso tentador.
_ Não precisa convidar outra vez - disse ele aproximando-se dela e começando a abraçá-la carinhosamente.
Aos poucos, suas mãos foram encarregando-se de despi-la, lentamente. Elisa curtia aquele momento, sentindo um prazer imenso àquele toque. O calor se espalhava por seu corpo. Quando sentiu que já não restava peça alguma de roupa, passou a retribuir o favor. Logo, estavam nus, misturando-se, entrelaçando-se bocas, mãos, coxas... Sob a cachoeira, o prazer aumentando, fluindo como a força das águas. Os gemidos confundiam-se com o barulho das corredeiras que caíam sobre eles. O tempo havia parado. Nada importava. No meio das insaciáveis carícias, Elisa levou-o para dentro da piscina. Sentia seu membro rijo encostando-se em seu ventre. Já não agüentava mais segurar a vontade de senti-lo dentro dela. Então, enroscou-se em seu quadril , passando as pernas em torno de sua cintura, tentando o encaixe perfeito. Sentia-se, literalmente, flutuando. Jim a segurou pela cintura, arremetendo-se contra seu púbis até penetrá-la, provocando gemidos suspirosos e crescentes. O êxtase chegou para os dois numa onda deliciosa de espasmos múltiplos, que foram diminuindo até o relaxamento total.
Após algum tempo descansando ao sabor das águas, Jim falou:
_ Vou sentir a sua falta, sabia?
_ Vai mesmo? A sua vida é tão mais interessante que a minha, cercado por atrizes lindas, festas, lugares diferentes no mundo, as fãs.
_ Pois eu, vou preocupado em deixar você aqui no meio deste bando de homens, se aventurando por aí, no meio do mato, rios e montanhas.
_ Deixa de ser bobo - falou, segurando o seu queixo e dando-lhe um beijo na boca.
_ Acho melhor sairmos daqui, antes de murcharmos totalmente - falou rindo - Além do mais, você está esperando o telefonema do seu agente - tentando se fazer de forte, apesar de estar em pedaços por dentro.
Vestiram-se e pegaram o caminho de volta. Foram conversando banalidades, tentando evitar o assunto da separação.
_ Você não me contou, ainda, o motivo do nome desta cachoeira.
_ Ah! Não quis contar porque o motivo é meio triste. Há alguns anos atrás um turista holandês veio conhecer esta cachoeira com um grupo guiado, durante a manhã. À tardinha, quando estavam todos acomodados a espera do jantar, ele saiu sem avisar, sozinho, e voltou até lá. No dia seguinte deram pela falta dele e iniciaram as buscas. Ele foi encontrado morto. Havia caído do alto da cascata. Até hoje não se sabe se foi acidente ou suicídio. Contam que ele era um sujeito muito estranho. Não era de conversar e estava sempre isolado do grande grupo. Enfim. Acabaram colocando o nome de Holandês à cachoeira. Foi isso. Satisfeito?
_ E você, me leva num lugar destes, para abusar de mim? - disse rindo e já a puxando contra si.
_ Ah! Mas o lugar é lindo e o fantasma dele nunca apareceu por lá... Pára de fazer cócegas, ahahahah! Pára!
Ele parou e beijou-a ternamente, sendo plenamente correspondido.
_ É melhor a gente ir andando, antes que eu perca a cabeça de novo - ela falou, afastando-o suavemente, tentando abafar a vontade de jogar-se naqueles braços e entregar-se mais uma vez.
Finalmente chegaram à pousada. Elisa pediu que Marlene preparasse uma salada especial para o almoço deles.
Neste momento , Alaor apareceu.
_ Jim! O seu agente ligou. Como você não estava, dei o nosso email para ele. Já chegou um mensagem para você. Quer ver?
_ Ah! Sim, claro. Por favor!
Lançou um olhar para ver como Elisa estava reagindo e foi ao escritório seguindo Alaor.
Elisa resolveu sair para arrumar-se em sua cabana, antes do almoço. Aproveitou isto como desculpa para que ele não visse seus olhos cheios de lágrimas.
Em 20 minutos, voltou, já refeita e arrumada. Jim já a esperava, olhando-a com intensidade, tentando descobrir o que se passava naquele coração.
Sentaram-se à mesa, já servida, com uma bela salada verde com lascas de peito de frango grelhado e queijo parmesão.
_ Você está bem?
_ Porquê? A minha cara está tão ruim assim?
_ Mais ou menos.
Ele pegou na mão dela, que estremeceu àquele toque macio.
"Aquele perfume, aqueles olhos, aquela boca. Estou perdida. Será que vou agüentar? Estou sentindo minhas forças se esvaírem. Ah, meu amor..."
_ O que o seu agente mandou dizer? – conseguiu forças para fazer a pergunta.
_ Ele conseguiu um vôo para São Paulo hoje à noite. Amanhã pego o vôo para Londres bem cedo.
_ Hoje??? Tão ...Desculpe... Eu esperava que você partisse só amanhã. Fazer o quê, não é mesmo?
Sentiu os olhos marejarem de novo. Jim apertou sua mão com força.
_ Nós ainda temos a tarde para ficarmos juntos. Terei de sair daqui em torno das 18 horas, para chegar a tempo de pegar o avião às 23 horas. Você me ajuda a fazer a mala? - perguntou com um meio sorriso e uma pontinha de malicia na voz.
_ Claro, ajudo sim.
Tentaria ficar o maior tempo possível perto dele antes de despedir-se. Terminaram o almoço.
_ Vem cá... Vamos lá para o meu quarto?
_ Será que não vai pegar mal? - disse, falsamente preocupada com a opinião dos outros.
_ Olha, provavelmente toda a pousada já sabe de nós. É só ver o olhar da sua cozinheira, que me olha como se fosse me cozinhar vivo numa frigideira.
_ Tá bom! Vamos lá... arrumar a sua mala.
Elisa conseguiu esboçar um sorriso, prevendo o que aconteceria naquele quarto.
Saíram abraçados, sem se importar com as aparências.
Realmente, arrumaram a mala de Jim, que não tinha muito o que ajeitar. Ele havia levado pouca roupa. Assim, puderam aproveitar o resto do tempo trocando beijos e intimidades.
Em torno das 17:30h, ouviram uma batida na porta. Era Alaor, para avisar que o carro estava pronto para a viagem.
_ Bem, está chegando a hora - Elisa tentava manter a calma.
_ Tenho que me despedir do resto do pessoal. Quer me esperar aqui? Eu me despeço e volto para pegar a mala - Ele também não conseguia disfarçar a tristeza.
_ Está bem. Eu te espero.
Estavam todos reunidos no salão. Tinham chegado do cânion e acabavam de tomar o café da tarde. Animados com o passeio daquele dia, despediram-se efusivamente de Jim, lamentando a sua ida prematura, mas já combinando novos contatos antes das filmagens no final do ano.
Voltou ao seu apartamento. Quando Elisa o viu entrar, jogou-se em seus braços, tentando sorrir. Ele a abraçou com força e cobriu seu rosto com beijos.
_ Pode me esperar que eu volto. É uma promessa... Assim que eu conseguir me desembaraçar dos compromissos - falou olhando dentro de seus olhos, muito sério.
_ Espero sim. Não se preocupe comigo. Vou ficar bem. Tenho o meu trabalho. Se puder, me liga, tá?
Ela sentia o coração disparar aflito. A boca seca, trêmula, segurando o choro. Então, Jim aproximou seus lábios e deu-lhe um beijo na boca, profundo, quente, úmido, demorado e delicioso.
_ É melhor você ir, senão pode perder o avião. Eu vou ficar aqui. Não vou agüentar ficar junto com os outros na despedida. Você entende, não?
_ Claro. Eu vou indo, então. Até a volta...
Abraçaram-se e beijaram-se mais uma vez. Jim pegou sua mala e abriu a porta. Elisa teve de empurrá-lo para fora, tentando brincar:
_ Vai logo, senão eu vou ter um enfarte. Vai!
Ele sorriu meio sem graça e lhe deu as costas, em direção à saída. Ela fechou a porta. Aí pode extravasar tudo que estava sentindo, controlando para que o choro não fosse ouvido do lado de fora do quarto. Ouviu as vozes despedindo-se e o barulho do motor partindo.
Não saberia dizer quanto tempo ficou ali, depois que ele se foi.
Ouviu uma batida de leve, na porta. Foi ver quem era. Marlene estava do outro lado.
_ Oh, minha querida. Posso entrar?
_ Pode.
_ Sei que não devia me meter, mas sabe que gosto de você como uma filha. Não quero que fique triste. Nenhum homem merece isso.
_ Pois é, Marlene. Mas ele é tão maravilhoso. De qualquer jeito, foi muito bom. Vou guardar ótimas lembranças. Não precisa se preocupar comigo. Isto vai passar. Acredite.
_ Pode contar comigo, viu? Se quiser conversar.
_ Obrigada. Pode deixar que me aprumo de novo.
Depois desta conversa, Elisa, já refeita, externamente, foi para a cozinha, ver como estava o andamento do jantar.
"Ao trabalho. A vida tem de seguir " – pensou.
Os dias se passavam mais lentamente. Elisa andava mais distraída que o normal. Cada vez que o telefone tocava, seu coração se agitava, esperando que a voz de Jim viesse aquecê-lo do outro lado da linha. Mas, não. "Ele deve andar muito ocupado. Pode ser que estejam filmando em algum lugar longe de recursos. Pára de pensar nele, Elisa! Controle-se!"
Chegou o dia em que o resto da equipe ia partir. Nem tinha notado o ar triste de Alaor no dia anterior. Só se deu conta disso, quando o pegou aos beijos e abraços com Michele, uma hora antes da partida.
Emocionou-se com os agradecimentos de todos. Tinham gostado imensamente da pousada, do lugar e das pessoas que encontraram ali. Logo entrariam em contato para combinar a volta para as filmagens.
Partiram. Uma sensação de vazio pareceu tomar conta do salão. Ficaram Elisa e Alaor a se olharem. Olhos tristes, corações partidos. Depois de algum tempo, Elisa resolveu falar:
_ Pois é, meu amigo. Voltamos a ficar sozinhos. Não tinha idéia que você e a Michele estavam tão íntimos.
_ Você também estava tão ocupada com o Jim - falou, com um sorriso amarelo nos lábios.
_ Esta visita dos americanos acabou nos deixando ligeiramente arrasados, não? Mas acho que a gente se recupera. A Michele ficou de voltar ou ligar?
_ Ela estava pensando em mudar-se para o Brasil. Disse que ia pesquisar se havia possibilidade de trazer parte de sua produtora para cá. Imagina! Ela é meio maluquinha... Acho que estava tentando ser gentil comigo. Quem sabe? E o Jim?
_ Ficou de voltar, sabe-se lá, quando. O jeito é a gente ir tocando o nosso negócio e não pensar muito sobre isso. O que você acha? - tentava animá-lo um pouco.
_ Você tem razão. Vamos trabalhar! Por falar nisso, hoje à tarde devem chegar novos hóspedes. Parecem que são do Nordeste. Tem também um casal em lua-de-mel. Pediram para reservar a suíte maior.
Novos hóspedes, novas caras, novas histórias.
Os dias continuaram passando. Os corações já não se agitavam tanto ao som do telefone.
Um mês se passou. As esperanças diminuíam a cada dia. O desapontamento e a tristeza também. O trabalho e o grande fluxo de novos visitantes serviam para ocupar nossas mentes e acalmar nossos corações.
O Outono estava chegando. O movimento diminuira um pouco. A baixa temporada se iniciava.
Numa certa manhã, o telefone toca. Alaor atende, ainda com uma pontinha de esperança. Elisa, já na porta do escritório, curiosa para saber quem era. Ao desligar, diz:
_ Parece que teremos um casal vindo de São Paulo, amanhã. Foi a agência de turismo que ligou para avisar. Parece que vão ficar alguns dias. Ficaram de confirmar amanhã.
_ Está bem. Por enquanto só estes?
_ É. Por enquanto.
No dia seguinte, Ricardo saiu com a van, bem cedo, para buscar o casal no aeroporto. Ela estava no escritório, revendo suas contas e contatos com fornecedores. Ouviu o ronco do motor da van. "Alaor já deve estar lá para recebê-los. Depois eu vou" - pensou distraidamente.
Sentiu a aproximação de alguém, às suas costas.
_ E aí, Alaor? Chegaram bem? Já vou lá para cumprimentá-los...
_ Você continua falando sem olhar antes - falou uma conhecida voz ,com sotaque escocês, quase dentro de seu ouvido. Elisa pulou da cadeira, quase caindo ao chão. Foi segura pelos braços de Jim, que a envolveu num abraço cheio de calor, seguido de um beijo de tirar o fôlego. Ela tinha a sensação de que ia explodir de alegria.
_ Desculpe, não ter ligado, nem dado notícias este tempo todo, mas é que surgiram novos compromissos e filmagens. Perdão! Sei que não tem desculpa. Olha, eu não conseguia te tirar da minha cabeça. A minha vontade era largar tudo e vir correndo. Assim que deu uma brecha naquela loucura toda, voei para cá.
Elisa mal conseguia falar. Não conseguia tirar os olhos daquele rosto tão amado, de seus olhos verdes. Não conseguia sentir mágoa pelos quase dois meses que ficara sem notícias.... O que importava era que ele estava ali. Palpável, presente.
_ Ah, meu amor! Nem acredito que você está aqui de novo. Fiquei preocupada, sem notícias. Já não tinha mais esperanças da sua volta.
_ Li, nós temos muito que conversar.
_ Depois, depois. Agora só quero te beijar , muito...
De repente, lembrou-se. Um casal...
_ Com quem você veio? Disseram que era um casal.
Sentiu um medo arrasador apossando-se do seu pensamento. "Ele trouxe outra mulher para cá?".
_ Não precisa ficar com este olhar de desespero - Jim falava em tom alegre.
_ Oi, querida! Sou eu.
_Michele???
Elisa quase caiu para trás. Logo, surgiu Alaor, com o melhor sorriso estampado no rosto.
_ Li, Michele está de muda para o Brasil! Imagine!
_ Pois é. Esse bonitão aqui tirou o meu sossego. Minha mãe não via a hora de me despachar para cá. Consegui ótimos contatos com os cineastas daqui e estou vindo com minha produtora para me estabelecer em São Paulo. Pelo menos vou estar mais perto do meu amorzinho... Se ele ainda me quiser, é claro. Alaor não conseguia disfarçar a alegria em ter Michele ali, ao seu lado.
_ Bem, vamos lá! Vamos acomodá-los.
_ Posso ficar com você, na cabana? - Jim sussurrou no seu ouvido, fazendo-a arrepiar-se.
_ Não pensava em outra coisa.
Alaor acomodou Michele num dos apartamentos da pousada, enquanto Jim seguiu com Elisa para a cabana.
Ao chegarem lá, ele fechou a porta e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a abraçou com ardor, tentando matar a saudade .
_Li, eu te amo. Não sei como consegui ficar tanto tempo longe de você. Preciso saber se você ainda me quer. Não tenho muito tempo aqui. Alguns dias. Quero que você volte comigo. O que você me diz? - ele falava ansioso, devorando-a com os olhos. Olhos apaixonados.
_ Jim... eu não sei o que dizer. É tão inesperado.Eu acho que passei estas semanas todas esperando para ouvir alguma coisa assim, e agora ...
Custava a acreditar nas palavras dele. Parecia um sonho. Tinha medo de acordar...
_ Sim ou não?
Aqueles olhos. Como não acreditar naquela paixão.
_ Eu também te amo muito, Jim. A gente dá um jeito. Estou para tirar férias há muito tempo. Vamos encontrar alguma maneira de combinar a vida da gente. Você tem certeza mesmo, do que está me dizendo? - perguntou, ainda temerosa da realidade que se apresentava.
_ Só uma vez tive tanta certeza de uma escolha, como agora. Foi quando escolhi a carreira de ator. E deu certo. Portanto, não tenho nenhuma dúvida. Acho que você vai ter que me agüentar por muito, muito tempo. Será que você suporta isso? - falou com aqueles olhos faiscando, cheio de segundas intenções.
_ Claro que eu agüento.
Dizendo isto, agarrou-se ao seu pescoço e beijou-lhe a boca, já sentindo o calor subindo , o desejo acumulado naquelas semanas de espera, pronto para ser extravasado. Sentia que, de agora em diante, começava um novo tempo em sua vida. Tempo de compartilhar com alguém todos as suas alegrias e tristezas, com muito amor. Ela não estava mais sozinha.
FIM
Aquele ia ser um dia bem quente de verão. A seca já durava duas semanas e nem sinal de chuva. A Pajero preta cortava a estrada de terra, levantando uma densa nuvem de poeira. Tinha feito boas compras na cidade. Alaor estava gerenciando muito bem a pousada. Finalmente, depois de cinco anos tentando ser conhecida como ponto de referência em turismo ecológico, estava conseguindo atrair até uma equipe de produtores de cinema americanos, a procura de locações para seu próximo filme. Alaor tinha sido fundamental para que isto ocorresse, com seus conhecimentos no exterior, onde fizera seus cursos de especialização. Tinha tido sorte de contratá-lo. Além disso, ele era uma pessoa excelente e muito simpática. “Ooops! Nada de envolvimentos, D. Elisa. É um longo tempo sem ninguém, mas não vai ser agora, para estragar todo o seu trabalho. Homens só atrapalham. Estou indo muito bem, com relacionamentos apenas profissionais com eles.”
Hoje deveria vir o rapaz que contratara para cuidar dos jardins, da horta e dos cães. Não era muita coisa, mas estava fazendo falta. Ela já não dava conta sozinha. Com o aumento de movimento de hóspedes, sempre tinha muitas atividades onde precisava dar assistência, fazendo uma "social" ou servindo como guia. Talvez devesse pensar em ter mais guias fixos. Só o Alex e o Ricardo já não eram mais suficientes, na maioria das vezes.
Estava chegando. Ah! Lá estava o seu fiel gerente, aguardando.
Estacionou a camionete nos fundos da casa, para descarregar as compras.
_ Os americanos já estão a caminho. O Ricardo foi buscá-los com a van, no aeroporto.
_ Ótimo! E o novo funcionário? Já chegou? – perguntou, abrindo o bagageiro.
_ Já! Foi dar uma olhada na horta enquanto te esperava. Correu tudo bem na cidade? Você saiu bem cedo, não?
_ É. Eu queria voltar cedo, por causa dos novos hóspedes
_Certo! Então deixa que eu guardo as compras na despensa. Vá se refrescar. Pedi para a Marlene preparar um chá gelado para aguardar os visitantes. Mas, eu deixo você tomar um pouquinho.
_ Ahahaha! Obrigada, senhor. É muito gentil!
Realmente, Alaor era um tipo bem legal e interessante. Alto, moreno, um belo sorriso, porte elegante. “Elisa, Elisa, olha as regras de manter distância. Não caia em tentação... Não vai perder o gerente, para ganhar uma dor de cabeça”.
Tentando não deixar o "jejum prolongado" tomar conta da razão, correu para sua cabana, que ficava a cerca de 200 metros da sede principal. A visão do cânion estava demais. O céu estava claro proporcionando uma vista deslumbrante. Fizera um ótimo negócio com o dinheiro que seu pai lhe deixara, ao conseguir comprar aquelas terras, praticamente entre os paredões de pedra do cânion Malacara, por um preço razoável. Ainda não havia uma grande valorização da região na época da compra.
Tomou um banho refrescante, pôs seus jeans e uma camiseta branca, que realçavam sua bela forma física, com simplicidade. Deixaria os cabelos escuros e cacheados secarem ao natural. Era como melhor ficavam, adornando seu rosto.
Voltou para a sede e pediu que Alaor guardasse seu carro. Depois do almoço, foi para o computador para verificar saldos bancários, pagamentos, etc. Estava distraída, quando ouviu um barulho às suas costas, na porta do escritório. Pensou ser o novo contratado, Sérgio. Sem olhar, passou a perguntar:
_ E aí? Tudo bem? Já viu a nossa horta? Ela está precisando de cuidados. Com a seca as hortaliças estão sofrendo. Espero que você cuide bem delas. O jardim também está precisando de podas. Já viu os cães? – Nenhuma resposta.
_ Hei, você não fala nada? – Disse virando-se, com um sorriso nos lábios, pensando em encontrar o tímido jovem que conhecera dois dias atrás.
Quase caiu da cadeira giratória, tamanho o susto. A sua frente, erguia-se um homem completamente estranho, com um olhar cativante, com lindos olhos verdes, barba por fazer, com um sorriso irresistível nos lábios.
_ Hi! – ele falou, rindo do modo como ela ficara, de queixo caído, ao vê-lo.
_ Oi! – disse, tentando encontrar a voz perdida.
_ Quem é você?
Ele a olhava como se não tivesse entendido. Só então ela conseguiu conectar-se com a realidade e deu-se conta que ele a tinha cumprimentado em inglês. “Claro! Ele devia ser da equipe de filmagem”.
_ Hi!! Sorry – Ainda bem que o seu inglês era bom, graças aos estágios feitos nos EUA, durante sua formação em Biologia.
_ Desculpe! Eu não quis assustá-la. Você estava esperando outra pessoa? – falou, com um estranho sotaque, que mais tarde eu reconheceria como escocês.
_ Sim, não, quer dizer... Ah! Deixa prá lá. Você é...?
_ James Hewitt. Jim, para os amigos.
_ Então, vocês chegaram. Não ouvi o som do motor da van. Desculpe! Eu estava distraída. Onde estão os outros?
No mesmo instante, Alaor surgiu na porta.
_ Li (este era o meu apelido), chegaram! Ah! Pelo visto você já foi avisada – falou, sorrindo.
Levantou e estendeu a mão para cumprimentá-lo
_ Sr. Hewitt, muito prazer! Elisa.
_ Jim, por favor – falou com voz cálida, e apertou sua mão entre as dele, deixando seus joelhos enfraquecidos. Completamente aparvalhada, tropeçou na cadeira onde estava antes e quase foi ao chão, não fossem aqueles braços fortes que a seguraram. Corou. Imaginou que deveria estar da cor de suas toalhas de mesa vermelhas. Ele sorriu malicioso. Ela podia sentir e o olhar de desaprovação do meu gerente. Fazer o quê? Depois de cinco anos, colocam um homem daqueles na sua frente. Impossível não reagir tontamente.
Agradeceu a gentileza e saiu olhando reto para a recepção, tentando manter um pouco da elegância que ainda lhe restava, apesar daquele tremor nas pernas.
Havia um grupo de cinco pessoas, duas mulheres e três homens, admirando o salão principal da pousada. Realmente, aquele ambiente ficara muito lindo. Com a grande lareira no centro da sala, sofás e poltronas confortáveis, com tecidos coloridos, almofadões jogados informalmente no chão, os grandes janelões que se abriam para o cânion com a mata verde e suas várias quedas d'água. Era muito aconchegante. Na volta das trilhas, ao final do dia, após um merecido banho quente, os hóspedes deleitavam-se naquele salão, na companhia uns dos outros, contando suas aventuras do dia, enquanto aguardavam o jantar. No inverno e, mesmo no verão, quando as temperaturas podiam ser mais baixas à noite, a lareira acesa tornava tudo ainda mais aprazível. Ali, as pessoas reencontravam o prazer de se relacionar, trocar idéias ou, simplesmente ficar observando o ambiente ao seu redor. Sem televisão, jornais ou rádio, o relacionamento interpessoal era o principal entretenimento por ali.
_ Wonderful! - disse o senhor que parecia ser o mais velho deles.
Alaor veio apresentar os recém chegados.
_ Este é o Sr. Joel Cameron, o diretor.
_ Muito prazer! Elisa.
_ Aqui é a Sra. Mary Dawson e sua filha , Michele Dawnson. Elas são as produtoras. Estes são os Srs. Neil Stevenson, diretor de fotografia, e seu assistente, o Sr. Michel. O Sr. Hewitt, pelo jeito já se apresentou.
_ Sim... É um prazer recebê-los na nossa pousada. Estejam à vontade. O nosso gerente, o Sr. Alaor, vai mostrar os seus apartamentos. Espero que gostem. Qualquer dúvida ou solicitação especial podem dirigir-se a um de nós – Sentia o olhar de Jim analisando-a por inteiro. Sentia-se sendo despida, peça por peça de roupa. Corou, novamente. Como se não bastasse esta situação, resolveu abrir a boca mais uma vez, criando um mal estar.
_ E, o sr. Hewitt? O que faz na equipe?
Sentiu um constrangimento no ar e, o único que sorria, divertindo-se com a situação, era o próprio Jim.
Alaor tentou salvá-la, dizendo:
_ Ele é ator e vai ser o protagonista do filme, Elisa. Ele também quis conhecer o local para se ambientar melhor.
Quem mandava se enfiar no meio do mato, sem comunicações com o meio externo. Há anos não ia a um cinema, pois lá não havia nada disso. Os jornais locais eram muito limitados, digamos assim. Mesmo quando ia à capital, não ficava muito tempo, pois se irritava com a movimentação. Era um "bicho-do-mato" legítimo.
_ Maravilha! Sejam bem-vindos, então! – exagerou na voz e nas palmas...
E aquele sorriso irritante que não abandonava os lábios (que lábios...) do sr. Hewitt, Jim, seja lá quem for. Ele conseguia deixá-la nervosa, com certeza. Logo ela, que tinha fama de durona entre seus conhecidos. Passara de durona a palhaça, num piscar de olhos verdes. Com certeza, os olhos verdes mais lindos que já tinha visto.
Deu um jeito de sair em direção à cozinha, rapidamente, para molhar a garganta, pois tinha a sensação de ter engolido uma espada em chamas.
Lá, Marlene veio comentar a chegada dos "gringos".
_ E aquele alto, bonitão? Viu?
_ Qual? - disse, tentando disfarçar.
_ Ah! Vai dizer que não viu aquele "deus"?
_ D. Marlene, a senhora não tem mais idade para essas coisas. Compostura!
_ Quem disse que isso tem idade? Olha, o José, lá em casa, não tem do que se queixar...
_ Marlene!!
_ É, eu acho que não fui só eu que fiquei embasbacada, não.
_ Olha o respeito, Marlene.
_ Tá bom! Tá bom! Vou cozinhar, que faço melhor. Eles vão estar morrendo de fome logo mais, porque dizem que essa comidas de avião são horríveis. Deixa eles provarem meus quitutes para verem o que é comida de verdade. Aliás, Li, vou fazer mais dois pratos, além daqueles que você tinha escolhido. Polenta aos quatro queijos e berinjela de forno. Tudo bem?
_ Ótimo, Marlene. Tudo que você faz é maravilhoso. Não sei nem porque ainda me preocupo com a cozinha. Só por causa das sobremesas, mesmo, que não são o seu forte. Aliás, vou fazer uma mousse de maracujá para servir junto com o pudim de leite. É bom ter mais uma opção de doce. Pode pegar os ingredientes para mim, por favor?
_ É! É bom distrair a cabeça e o coração na cozinha. Acalma um pouco os "ânimos".
_ Marlene! – disse, sem conseguir segurar o riso. A sua cozinheira era um doce de pessoa, mas tinha uma língua muito afiada, às vezes.
Cerca de quarenta e cinco minutos mais tarde, Alaor a procurou para dizer que já estavam todos acomodados, orientados sobre os horários e, que tinham combinado uma reunião para depois do jantar, a fim de escolher os locais para visitar no dia seguinte.
_ Pelo que entendi, ficaram interessados na área superior dos cânions e nas trilhas de pedras no leito dos rios. As cachoeiras também podem agradar. Eles terão um semana inteira para visitar e escolher as locações ideais. Viram as fotos no site e ficaram deslumbrados com a região. Estão encantados, também, com a pousada. Fizeram muitos elogios ao seu bom gosto. "Um lugar muito charmoso... Uma surpresa muito agradável para quem não esperava nada além de mosquitos e mato", disseram.
_ Ótimo para eles e, principalmente, para nós, meu caro. Nossa pousada está ficando famosa!
_ SUA pousada, Li. Você é a responsável por tudo isto aqui e merece cada elogio – disse ele com uma ternura, até então desconhecida, no olhar.
_ Obrigada, Alaor. Você é um amor.
Ao dizer isto, ouviu um ranger na porta às suas costas. Virou-se e deu com Jim parado na porta, com olhar sério.
_ Desculpe interromper, mas ouvi dizer que tem uma sauna por aqui. É possível usá-la agora?
_ Perdão, Sr. Hewitt, mas precisamos ligá-la com uma hora de antecedência, antes do uso. Se o senhor quiser, poderá estar disponível dentro deste tempo.
_ Gostaria sim, por favor.
_ Ótimo! Depois lhe forneceremos roupão e toalhas adequadas, ok?
_ Ok! Ah! Por favor, para duas pessoas.
Ficou curiosa para saber quem seria a 2ª pessoa.
Uma hora mais tarde, ficou tristemente surpresa ao saber que ele estaria acompanhado pela Srta. Michele Dawnson. Será que eles tinham alguma coisa? Seriam amantes?
Ouviu os risos altos, ela se arreganhando toda para ele. E ele sabia que agradava às mulheres. Tudo nele seduzia e encantava. Não pode conter a inveja daquela loura aguada.
Começou a ficar agitada com a possibilidade de bisbilhotar o que estaria acontecendo naquela sauna. Como quem não quer nada, esgueirou-se até lá. A construção nova, onde se localizava a sauna, ficava a poucos metros da sede. Lá encontrou uma escada, deitada no chão. Colocou-a de pé, com todo o cuidado. Subiu, pensando se poderia ver alguma coisa através das telhas de vidro que mandara colocar para a entrada de luz, Tentando equilibrar-se, como uma menina travessa, olhou para baixo. Não conseguiu ver nada, devido ao vapor que cobria o ambiente lá embaixo.
De repente, a escada desequilibrou-se e, se não fosse sua agilidade, teria caído de costas no solo. Conseguiu cair de pé, mas a escada fez um terrível barulho ao ir de encontro a uma pilha de lenha que estava encostada na parede. Com medo de ser pega, tratou de sair correndo dali, mas não teve tempo de dar os primeiros passos. Mal tinha pensado nisso, Jim apareceu enrolado em uma toalha, perguntando quem era, com cara de poucos amigos. Assim que a viu, a boca se abriu em um sorriso, misto de surpresa e malícia.
Rapidamente, se refazendo do susto, ela tentou falar calmamente (como se isso fosse possível) e disse:
_ Eu vim ver se estava tudo funcionando bem. A sauna está adequada?
Tentava parecer calma, mas seu rosto pegava fogo. Será que ele podia perceber isto?
Achou que sim, quando ele deu uma bela risada e falou, sarcástico, dando duplo sentido ao que disse:
_Claro! Está TUDO funcionando perfeitamente bem por aqui. Mas porque este barulho todo. Gostaria de ter um pouco de privacidade, por favor – parecia tentar segurar uma gargalhada.
“Canalha! Ainda por cima fica me gozando", pensou.
_ A escada estava mal colocada e caiu quando passei – “Que mentira deslavada!O que estava acontecendo? Ficara louca de vez? O que eles iriam pensar ?”
Aí, neste instante, apareceu a loura aguada, também só de toalha enrolada no corpo, a perguntar o que estava havendo. Essa foi demais!
Pediu desculpas e saiu em passos rápidos, em direção a sua cabana, tropeçando no caminho de pedras.
Chegou e foi direto ao banheiro olhar-se no espelho. Parecia ter acabado de participar de uma corrida de obstáculos. O rosto afogueado, totalmente descabelada e suada. Era a própria imagem do desespero. "Oh, Deus! O que está acontecendo ? Aquilo tinha de parar!". Foi tomar um banho gelado.
Só foi reaparecer próxima à hora do jantar. Já estavam todos reunidos no salão principal, conversando animadamente. O sr. Neil e o Sr. Michel olhavam, curiosos, os álbuns de fotos da pousada. Ao verem Elisa, foram saber se aqueles lugares ficavam longe dali. Ela passou a dar informações sobre as distâncias, dificuldades de acesso, etc. Contou sobre a minissérie que havia sido rodada por ali há alguns anos atrás que contava sobre uma antiga revolução desencadeada no estado vizinho, o Rio Grande do Sul. Ficaram surpresos ao saber que toda a parte de cima dos cânions pertencia ao Rio Grande e que a parte de baixo, onde eles estavam, pertencia à Santa Catarina.
Engoliu em seco quando viu Jim entrar de braços dados com Michele, lindo, em um abrigo de malha azul, exalando um perfume divino, acabado de sair do banho.
Pediu licença aos senhores e dirigiu-se para a cozinha. Antes de entrar lá, Alaor segurou-a pelo braço.
_ Li, ao menos disfarça. Não dá tanta bandeira prá este cara.
_ Como assim, bandeira? Acho que você está vendo coisas. Vou ver como está o pessoal na cozinha. Com licença.
_ Tudo bem! Só quero te ajudar – falou em tom bem baixo.
Entrou na cozinha, tentando se acalmar. "Só o que faltava agora ser controlada pelo gerente!” Sem querer esbarrou numa panela vazia que caiu no chão com grande espalhafato.
_ Calma, menina! O que houve? Você está com uma cara péssima! Sente aqui para se acalmar. Parece que engoliu um formigueiro inteirinho. – exclamou Marlene.
Respirou fundo e conseguiu falar:
_ O jantar já está pronto?
_ Sim, "madame". É só servir. Vai ser servido como buffet, como sempre. Podemos levar os pratos lá para fora?
_ Claro!
Enquanto Marlene e sua ajudante, Vanda, colocavam suas iguarias caseiras sobre a bancada na sala de jantar, Elisa tentava recuperar a calma. Precisava estar de cabeça fria para a reunião depois do jantar. Tinha de se controlar. Não podia mais olhar para Jim. Ele a tirava totalmente de si.
O jantar transcorreu sem problemas. Elisa ficou administrando o serviço de buffet, ajudando a servir os hóspedes, atrás da bancada. Todos pareciam estar adorando os pratos preparados por Marlene. Alguns se serviram mais de duas vezes. Realmente, as saladas tinham um gosto especial, sem uso de agrotóxicos. Tudo era feito com produtos da terra, de qualidade. Este pessoal não devia estar acostumado com esses sabores. Este era um dos atrativos de sua pousada. A comida. As sobremesas foram igualmente elogiadas, até mesmo pelas mulheres, que comeram um pouco menos que os homens. "Eu deveria ter colocado cicuta na sobremesa dela", pensou Li, querendo eliminar aquela loura sem graça, que se jogava descaradamente encima de Jim e, até de Alaor. Como se isso não bastasse para irritar Elisa, até Alaor se mostrava muito simpático com a sirigaita. "Homens!!!" Tentava não manter contato visual com Jim.
Finalmente, após o jantar, sentaram-se animadamente na sala de estar para conversar. A reunião iniciou-se, informalmente, ali mesmo. Elisa tomou a palavra, perguntando ao sr. Cameron, qual exatamente o tipo de locação que tinham em mente. Ele começou a fazer um resumo do que seria o filme e que precisavam de locais que lembrassem o interior de uma ilha, com mata densa, e imagens grandiosas tipo aquela que se encontrava a sua frente, no cânion. O filme seria sobre piratas, estilo os filmes antigos de Errol Flynn. Jim faria o chefe de um bando de piratas e a ilha seria o seu refúgio. Uma boa parte do filme seria realizada por ali. Era interessante conhecer as cachoeiras de que tinha ouvido falar e também os leitos dos rios. Enfim. Achava que tudo que tínhamos para mostrar seria interessante conhecer.
Teriam tempo suficiente para conhecer tudo? Elisa achava que sim. Poderiam começar no dia seguinte, visitando os locais mais próximos à pousada, como o Morro do Pinto, pela manhã. Era uma caminhada, morro acima, de mais ou menos,4 horas, entre ida e volta. Se saíssem cedo, em torno de 9 horas, poderiam perfeitamente estar de volta para o almoço e aproveitar a tarde, dependendo da animação para caminhar, para ir até o poço Malacara, que era uma grande piscina natural, entre as rochas do rio e os paredões do cânion. Outra opção menos cansativa para a tarde, era visitar uma cachoeira próxima dali. Então ficou tudo resolvido para o dia seguinte. As próximas visitas seriam programadas posteriormente. Encerrada a reunião, todos permaneceram sentados, conversando. Nisso, Jim fez menção de acender um cigarro. Elisa quase desmaiou. Ele fumava!Que horror! Imediatamente, jogou-se na direção dele, informando que não era permitido fumar dentro da pousada. Se fosse alguma necessidade urgente, que o fizesse na rua, por obséquio. Pediu desculpas a todos, mas que aquela era uma regra em várias pousadas da região, devido ao caráter ecológico do local. Ele pareceu não gostar muito da sua intromissão, mas guardou o cigarro. Os demais pareceram apreciar aquele tipo de proibição.
_ Pode ser que o Jim, finalmente, deixe de fumar. Seria muito bom para ele. Quem sabe você não consegue esta difícil façanha, Elisa? - falou o senhor Cameron.
_ Seria um prazer eliminar um vício de alguém como o senhor Hewitt – falou, finalmente conseguindo encará-lo e receber um fulminante olhar, que logo transformou-se num sorriso arrebatador.
_ Talvez. Eu permito que a senhorita Elisa continue tentando. Vou ficar encantado com a sua ajuda – disse isso e encaminhou-se para uma pequena lixeira ao lado da recepção, onde jogou fora a carteira de Marlboro que estava em sua mão.
Elisa não teve como esconder a satisfação de vê-lo tomando aquela atitude. Ela não era o que chamavam de ecologista radical, mas ficava muito satisfeita em poder ajudar as pessoas a se livrarem de um vício como aquele.
_ Obrigada, senhor Hewitt.
_ Jim, por favor.
Neste momento, Alaor resolveu interferir e convidou a todos para uma caminhada até um mirante próximo, onde poderiam ter uma bela visão dos cânions à noite, sob a luz do luar. Ainda teriam lua cheia por mais dois dias e deveriam aproveitar a oportunidade.
Elisa ficou grata a ele e ficou satisfeita por mostrar a todos como ficara agradável aquela área, que mandara "limpar" três semanas atrás, para reuniões ao ar livre, realização de luaus ou, simplesmente a observação das estrelas à noite.
Todos pareceram animados com a idéia e saíram atrás do gerente para a curta caminhada que levava até o mirante.
Marlene e Vanda vieram despedir-se, dizendo que já estava tudo arrumado para o café na manhã seguinte. Elas moravam na vila, há cerca de 8 km distantes da pousada. Alex iria levá-las, para depois voltar e recolher-se à cabana reservada aos funcionários que moravam ali. Atualmente, lá moravam Ricardo, Alex e Alaor. As duas camareiras e Sérgio, o novo funcionário, eram nativos e já tinham voltado para a vila, mais cedo, em suas bicicletas.
Sozinha, no grande salão, resolveu ir até a área de descanso, que ficava de frente para o cânion, com espreguiçadeiras estofadas, para maior conforto. Ela mandara construir há 1 ano para ter mais opção de repouso e observação de toda aquela beleza natural, que ela não cansava de admirar. Antes, foi até a lixeira, onde Jim havia jogado a carteira de cigarros. Ao verificar o conteúdo, viu que ela tinha apenas três cigarros. Por isso tinha sido tão fácil jogá-la fora. Ele devia ter um estoque. Mas, ela não ia desistir fácil desta batalha. Depois, sentiu-se ridícula em estar remexendo numa lixeira a procura do lixo daquele homem. Até que ponto chegara por ele. Deu um longo suspiro e seguiu para a área externa.
Apenas iluminada pelo luar, estava extremamente relaxante ficar ali. A construção lembrava uma varanda aberta. Sentou-se, confortavelmente reclinada, ouvindo apenas o som das inúmeras cachoeiras e da leve brisa correndo entre os desfiladeiros. Fechou os olhos para curtir melhor o "silêncio".
Ali ficou por alguns minutos, até que sentiu a aproximação de alguém.
_ Alaor? – chamou, sem abrir os olhos.
_ Não é Alaor.
A voz rouca, com aquele sotaque, soou como música em seus ouvidos, alarmando todos os seus sentidos. Sentiu um tremor percorrer todo o seu corpo, deixando-a alerta e excitada. Como ele conseguia aquilo?
_Ah! É você? Não gostou do passeio ao mirante? - tentando disfarçar a excitação.
_ Achei muito lindo e romântico. Aliás , eu pude perceber que você construiu vários pontos interessantes para se ficar, principalmente se estiver bem acompanhado.
_ Acho que nossos pontos de vista são diferentes. Estes locais foram erguidos com o intuito de observar as belezas naturais, que não são poucas, neste lugar. Eu diria que é o modo de mostrar como sou apaixonada por tudo isto aqui. Não tive a intenção de ser romântica. Apenas contemplativa.
_ Talvez as duas coisas possam vir associadas, não? Paixão sempre é um sentimento interessante, em todos os sentidos. Pessoas apaixonadas são interessantes.
Encostou-se na cerca de madeira trabalhada à sua frente e ficou encarando-a. Ainda bem que estava escuro e ele não tinha como ver seu rosto arder em chamas.
_ Bem, acho que está ficando tarde. Amanhã tenho que levantar cedo para me preparar para o nosso passeio.
Dizendo isso, levantou-se agilmente da espreguiçadeira, mas logo em seguida foi segura pelo braço, por mãos de aço, que a impediram de continuar em frente.
_ Porque você está fugindo?
_ Não estou fugindo de nada. Por favor, solte o meu braço. Você está louco?
_ Talvez – falou mostrando aquele sorriso maroto.
Sem poder resistir, sentindo-se enfraquecida, foi puxada para junto daquele corpo másculo, que também parecia exalar fogo. Seus braços a envolveram num abraço e sua boca iniciou a aproximação. Quando achava que já estava perdida, quase fechando os olhos para receber aquele hálito quente e úmido, foi abruptamente tirada do devaneio por uma voz áspera.
_ O que está havendo aqui? Li? Está precisando de ajuda?
Jim afrouxou seu abraço e fez uma cara péssima. Achei que ele ia bater em Alaor, naquele momento. Mas, foram alguns segundos de irritação, que ele conseguiu disfarçar atrás de um sorriso amarelo.
_ Não, senhor Alaor. Ninguém está precisando da sua ajuda por aqui.
_ Alaor, o senhor Hewitt só estava dando boa noite. E eu já estou de saída. Todos temos que dormir cedo para estarmos descansados para a caminhada de amanhã.
Elisa sentia-se completamente idiota tendo que dar satisfações ao seu gerente, como uma adolescente que havia sido pega em flagrante com o namoradinho, precisando dar explicações ao pai.
Para piorar a situação, ouviu-se a voz esganiçada de Michele:
_ Olá rapazes! O que está acontecendo aqui? - disse alegremente.
Era demais. Mais uma testemunha indesejável.
_ Boa noite para todos. Com licença!
Desvencilhou-se do abraço, já frouxo de Jim, virou-se e saiu rapidamente em direção a sua casa. Tão rápido, que acabou tropeçando ao sair da varanda, quase caindo. Mas conseguiu equilibrar-se e seguir, sem olhar para trás. Estava ficando mestre em sair-se bem de tropeços e esbarrões.
Enquanto isso, na varanda, Alaor e Jim despediam-se secamente. Michele, ainda com cara de dúvida, perguntou novamente sobre o que tinha acontecido, ao que recebeu uma resposta em uníssono dos dois homens:
_ Nada!
Alaor ainda tentou disfarçar com um sorriso e tentou mudar de assunto, perguntando sobre as impressões dela sobre o lugar. Ficaram conversando mais algum tempo.
Jim foi fumar um cigarro antes de ir para o seu apartamento. Ficou andando sem rumo, olhando em direção à cabana de Elisa. Aí, lembrou-se da conversa sobre abandonar aquele vício e jogou fora o cigarro, ainda pela metade. "Ela tinha razão sobre parar com aquela droga". Ficou perdido em pensamentos, até que resolveu ir tentar dormir.
Lá na cabana, Elisa tomava outro banho frio. "Desse jeito vou me diluir e desaparecer, o que não seria má idéia na atual situação".
Colocou sua camiseta preferida de dormir e foi para a cama, tentar ler um livro para pegar no sono.
“O que estava acontecendo? Aquilo não podia continuar assim. Mal conhecera aquele homem e já estava totalmente enrolada, se colocando em saias justas a todo instante”.
Começou a ler, mas não conseguia sair das cinco primeiras linhas da página. Não conseguia concentrar-se na leitura. Só lembrava o momento em que Jim quase a beijara e do que sentira naquela hora. O cansaço finalmente a venceu, cerca de 1 hora depois.
No meio da noite, ouviu um barulho e a porta do quarto se abriu. Viu o vulto de um homem alto e forte entrando e deitando-se ao seu lado. Viu aqueles olhos verdes, queimando de desejo e aqueles braços envolvendo-a. Ele estava completamente nú. Começou a despí-la, a beijá-la nos seios, descendo ao seu ventre, chegando ao púbis. Seu corpo sofria espasmos de prazer com aquele contato. Gemia seu nome "Jim, Jim..." Suas mãos corriam por todo o seu corpo.
De repente, a luz acendeu e viu Alaor, parado na porta do quarto, com olhar desvairado, gritando o seu nome "Elisa! Elisa!”.
Aquela voz foi aumentando de intensidade e passou a ouvir uma batida surda, contínua, como um martelo na sua cabeça. Levantou-se confusa da cama. Tinha sido um sonho."Deus! Parecia tão real” .
Sua cabeça latejava. Quem estava batendo na porta daquele jeito? Reconheceu a voz de Alaor. Vestiu seu roupão e foi abrir a porta.
_ O que houve?
_ Elisa, o seu despertador não tocou? Já são mais de 8:00 horas. Os americanos já estão tomando café. Marlene e Vanda já estão lá, servindo. Você vai ser a guia da trilha ou não? Posso pedir para o Ricardo ir em seu lugar..
_ Calma! Acabei de acordar e estou com uma terrível dor de cabeça. Me dê uns minutos para me recuperar e num instante estarei pronta. Espere-me no salão. Claro que vou guiá-los! O Ricardo pode ir junto para levar os lanches de trilha e ajudar com o pessoal. Mas a guia serei eu, certo?
_ Ok! Você está bem mesmo?
_ Estou ótima! Por favor, pare de se preocupar comigo, como se fosse meu pai. Está bem?
_ Está bem. Desculpe – e saiu em passadas largas, cabisbaixo, em direção à sede.
Ela arrependeu-se de falar com ele daquele jeito. “Agora, azar!”
Sua boca estava seca , ao contrário de suas partes íntimas. Que sonho!!
Ainda podia sentir as mãos de Jim em seu corpo. Parecia tão real... "Preciso de outro banho frio!"
Em pouco mais de 30 minutos, Elisa já estava pronta, no salão da pousada. Ingerira rapidamente um suco e uma fatia do pão caseiro de Marlene na cozinha, pois precisava de energia para subir o morro.
Jim parecia ter obedecido à risca as orientações de vestir roupas leves e tênis usados. Estava com uma bermuda de sarja bege, uma camiseta verde de aspecto envelhecido e um velho par de tênis encardidos.Mesmo assim, continuava elegante. Já a sua amiguinha, Michele, mais parecia pronta para um safári na África. Para completar, calçava um tênis preto envernizado. Certamente, seria a última vez que ele seria usado. Elisa deu as últimas orientações. Sentia o olhar de Jim insistente sobre ela. Tentava não olhar para ele para não perder a concentração no que estava falando.
Finalmente, saíram. Após uma caminhada de 500 metros, iniciaram a subida, pelo meio da mata fechada. Várias vezes tiveram de parar para descansar. Tirando Ricardo, Elisa e Jim, os demais pareciam totalmente fora de forma. Ainda assim, estavam extasiados com a aventura. Ao longo do caminho, puderam observar belos pássaros e as bromélias que cresciam no alto das árvores. Até um guaxinim e um mico puderam ser vistos, o que era raro de acontecer. Depois de quase três horas de subida, finalmente chegaram ao topo do Morro do Pinto. A vista era fantástica e todo o cansaço logo deu lugar ao deslumbramento e às interjeições do tipo “ooohhhh”.
Foram distribuídos sanduíches e sucos para todos. Ficariam ali o tempo que desejassem.
Elisa ainda conversou com Cameron e com Neil, dando mais informações sobre o lugar. Depois, foi sentar-se junto a Ricardo para lanchar. Não demorou muito e Jim aproximou-se, e perguntou se podia sentar-se ali.
_ Claro, fique à vontade – falou Ricardo.
Logo em seguida, provavelmente sentindo alguma coisa no ar, levantou-se para conversar com alguém do grupo, deixando Elisa e Jim sozinhos.
_ Você tem razão de ser apaixonada por estes cânions. Isso aqui é demais. Lembra um pouco a Escócia, na região das Highlands.
Ela notou certa nostalgia na sua voz.
_ Você é escocês, não?
_ Sim...
_ Faz muito tempo que não vai lá?
_ Já faz alguns meses. Sinto falta de casa. Ultimamente tenho ficado mais tempo em Los Angeles. Minha mãe é que não pára de se queixar – disse sorrindo, com olhar maroto.
Sentiu uma onda de ternura por ele, difícil de disfarçar. Ficou com vontade de abraçá-lo, mas conseguiu segurar-se.
_ Mas, pelo menos você está fazendo o que gosta? Quero dizer, ser ator?
_ Ah, sim! Com certeza. Batalhei muito por esta profissão e, agora estou começando a colher os frutos do meu trabalho. Não tenho do que me queixar.
A conversa entre eles começou a fluir, como se já fossem velhos conhecidos.
Tudo parecia perfeito. O dia de sol radiante, aquele homem maravilhoso conversando descontraidamente com ela, naquele lugar que ela amava tanto.
O tempo passou e eles nem perceberam. Ricardo acabou interrompendo-os, para lembrar que deveriam voltar. Já estava ficando tarde.
_ Ok! Vamos lá, senhor Hewitt? - disse animadamente. Sentia-se mais tranqüila ao seu lado. A inquietude e o desejo descontrolado haviam sido acalmados, pelo menos momentaneamente. Ele se tornara mais palpável, menos ameaçador, mas não menos encantador ou desejável.
_ Vamos lá, senhorita Elisa - disse, levantando-se como um grande felino e estendendo a sua mão para ajudá-la a levantar-se. Ao erguer-se do chão, perdeu o equilíbrio e ele a segurou em seus braços, evitando que ela caísse. Ficaram muito próximos, sorrindo um para o outro. Sentiu uma onda de eletricidade atravessar seu corpo, mas conseguiu afastar-se e continuar a caminhar em direção ao resto do grupo, deixando-o para trás, mas sentindo seu olhar a segui-la.
Iniciaram a descida. Michele acabou grudada em Jim. Elisa seguiu na frente, conversando com os diretores. Resolveram que passariam para visitar a Cachoeira da Onça, que ficava no caminho para a pousada. Em determinado momento, a mãe de Michele, Mary Dawnson escorregou e caiu de mau jeito, torcendo o pé. Imediatamente foi socorrida por Elisa, que estava acostumada com aqueles acidentes. Verificou que não havia fratura ou luxação, apenas uma leve torção. De qualquer forma, ela teria dificuldade em caminhar. Pediu a Ricardo que a ajudasse, levando-a para a pousada, que já não estava muito longe, fizesse uma imobilização com atadura elástica e lhe desse um antiinflamatório. Todos os guias tinham feito cursos de primeiros socorros, estando aptos a resolver aquele tipo de problema. Mary foi levada por Ricardo e por Michele. Os demais, já devidamente tranquilizados, seguiram com Elisa até o caminho para a cachoeira. Livre de Michele, Jim pode seguir ao lado dela.
_ Você foi muito hábil em resolver esta situação. Gostei de ver – disse ele admirado com a sua desenvoltura diante do ocorrido.
_ Não foi nada. Aqui é comum que ocorram estes pequenos acidentes, quando os visitantes não estão habituados a fazer este tipo de trilha. Até hoje, não tivemos nenhum acidente grave, graças a Deus – dizendo isso, intimamente satisfeita por tê-lo agradado, fez um novo alerta ao grupo restante:
_ Cuidado ao descer esta nova trilha. Podem segurar-se nas árvores ou nas cordas que colocamos para facilitar a descida. Prestem atenção se não há espinhos nos troncos, antes de segurarem. Vamos descer devagar, para não termos mais nenhum acidente, ok?
Mesmo diante daquele imprevisto desagradável, todos mantinham o espírito de aventura, estando ansiosos para chegarem ao seu destino. Poucos minutos depois, puderam surpreender-se novamente com a esplêndida queda d'água que se abriu diante deles. A água límpida e gelada caía de uma altura de 30 metros, com força, do alto de um paredão de pedra. Abaixo dela formava-se uma imensa piscina natural. Após, passado o deslumbramento inicial, seguiu-se o desejo de banhar-se.
_ Elisa, você não se importa se ficarmos só com a roupa íntima para podermos desfrutar deste banho? – perguntou o simpático senhor Cameron.
_ Não, claro que não. Podem ficar à vontade. Eu posso me afastar e vocês ficam mais à vontade. Não se preocupem comigo, por favor.
Tão logo ela se afastou, os quatro trataram de despir-se e atiraram-se no poço de água gélida. Davam gritos de alegria, como se fossem meninos travessos, quebrando regras. Elisa estava acostumada a ver estas reações nas pessoas. As quedas d'água, as piscinas naturais e os "escorregas" nos leitos dos rios tinham o poder de fazer ressurgir a criança adormecida dentro de cada um. Isto a fazia sentir-se muito feliz.
Em determinado momento, não conseguiu resistir ao som das risadas e dos pulos na água e foi dar uma discreta espiadinha no grupo. Eles realmente haviam tirado toda a roupa. Seus olhos, imediatamente correram a procura de Jim, instintivamente. Lá estava ele, subindo nas pedras para novamente atirar-se dentro da piscina. Quase perdeu a respiração, ao ver aquele corpo atlético, com tórax e braços musculosos, sem exagero, as magníficas coxas e... uau... "aquilo”. Era de perder o fôlego.
Ela não podia ver aquele tipo de coisa, ainda mais na secura em que andava. Era um atentado aos bons costumes e à sua racionalidade. Quase caiu para trás, envergonhada, ao perceber que Jim a tinha visto espiando e soltou uma gargalhada, gritando alto:
_ Venha, Li! Não precisa ficar com vergonha! A água está uma delícia!
Parecia que ele estava adorando deixá-la sem jeito.
_ Não! Obrigada! Podem aproveitar o tempo que quiserem. Eu espero aqui! - gritou, escondendo-se, novamente, atrás das árvores.
_ Não sabe o que está perdendo! - disse ele, continuando a rir.
Claro que sabia.
Estava distraída em seus pensamentos, quando ouviu a voz de Jim bem próxima a ela. Virou-se e deu de cara com ele, totalmente nú, com um sorriso escancarado, deixando-a completamente desorientada.
_ O que você está fazendo aqui? Volte logo para lá!
_ Vamos, Li! Não fique encabulada. Ninguém vai te atacar. Venha aproveitar a água. Está ótima. Com este calor que está fazendo, você merece se refrescar.
Quase entrando em estado convulsivo, Elisa começou a afastar-se um pouco mais dele. "Se ele chegar mais perto, estou perdida. Não vou resistir".
Ele a segurou pelo braço, gentilmente e, mais uma vez, insistiu. Ela pensou que fosse esvair-se chão adentro.
_ Jim, por favor! Não insista. Sei que a água deve estar uma delícia, mas não quero atrapalhar este momento de vocês. Olha, tem senhores de idade ali. Não quero deixá-los encabulados. Você é um amor por querer que eu me divirta também, mas não é hora prá isso. Tá bom?
Não sabia como conseguira encontrar aquelas palavras, no estado em que se encontrava, tendo ele, naqueles "trajes", na sua frente.
Ele se aproximou mais um pouco e pousou um beijo no seu rosto, carinhosamente.
_ Está certo. Não vou insistir... Da próxima vez aconselhe a usar trajes de banho sob as roupas, está bem? Ahahahaah! – e saiu rindo, direto para a água.
" Crianção! Parece que ele não tem idéia do efeito que causava ao aparecer pelado daquele jeito perto de uma mulher. Mais parece um moleque brincalhão. Será? Tudo nele exala sensualidade . Seus movimentos são elegantes, o sorriso inebriante, aqueles olhos que fazem a gente querer se perder. Será que ele tem idéia disso? Ele parece realmente só querer brincar, como uma criança inocente, sem malícia”. Seu coração estava se derretendo. “PERIGO! PERIGO! Cuidado, Elisa, não caia nessa. Não baixe as defesas... Mas ele é tão... (suspiro)".
Ficou quieta, por ali, até que foi obrigada a chamá-los, pois precisavam voltar à pousada. Ela ainda tinha que organizar o jantar e resolver algumas coisas burocráticas pendentes. Eles teriam de descansar, caso contrário, não agüentariam o dia seguinte, principalmente os mais velhos. Além disso, tinha de saber como estava a sra. Dawnson. Era isso! Tinha de trabalhar para voltar à razão e esquecer esses devaneios.
A muito custo, conseguiu que eles recolocassem suas roupas e a seguissem de volta para casa. Chegaram exaustos, molhados e um pouco embarrados, mas com um ar de contentamento indisfarçável.
Alaor veio ao meu encontro para saber se tinha corrido tudo bem. Estava preocupado com nossa demora.
_ Porque você não levou o rádio?
_ Ah, Alaor! Esqueci. Hoje iniciei o meu dia tão na corrida, que esqueci de levar o rádio. Prometo que, na próxima vez, não esqueço. Tá bom? E a sra. Dawnson? Como está?
_ Ela está bem. Realmente parece ter sido só uma entorse leve. De qualquer jeito telefonei para o Dr. Melo, o ortopedista da cidade, para que ele desse uma olhada nela. Acho que vamos ter de arcar com esta despesa. O que você acha?
_ Acho que você agiu corretamente. Como sempre. Olha, desculpa qualquer coisa que eu tenha falado hoje cedo, viu? Eu estava mal humorada, com dor de cabeça e chateada por ter acordado tarde. Desculpa-me?
_ Não tenho nada a desculpar. Eu entendi... Olha, acho que o Dr. Melo está chegando – disse, ao ouvir o motor de um carro aproximando-se.
O Dr. Melo era um senhor de meia idade, calvo, tranqüilo, como todo o médico de interior. Falava mansamente, em tom baixo, como se estivesse nos corredores de um hospital. Depois de nos cumprimentar e ser colocado a par do ocorrido, foi levado por Alaor até o apartamento das Dawnson.
Cerca de 20 minutos depois, saiu, nos tranquilizando a respeito do estado de Mary. Nada grave. Eles tinham agido corretamente. No dia seguinte, ela já poderia estar andando. Devia continuar com o antiinflamatório e o uso da atadura por mais quatro dias. Recomendou que evitasse qualquer esforço maior com os pés. Portanto, estava proibida de fazer qualquer um dos próximos passeios, subindo e descendo morros ou andando em leitos de rios. Teria que se contentar com pequenas caminhadas próximas à pousada, em áreas mais planas ou algum passeio de carro. Poderiam pensar em algo para distraí-la.
Assim que o Dr. Melo despediu-se, Elisa notou que Jim havia desaparecido. "Deve ter ido tomar um banho e descansar um pouco. Acho que vou fazer o mesmo", pensou.
Tão logo ficou pronta, foi para o escritório para fazer algumas verificações. Antes, passou na horta para ver como estava indo o trabalho de Sérgio. Constatou que o rapaz parecia saber o que fazia. Ficou satisfeita com o que viu e dirigiu-se para o escritório.
Já estava sentada à escrivaninha há alguns minutos quando sentiu alguém se aproximando. Pensou que fosse Alaor e perguntou:
_ Alaor, você já encomendou as lâmpadas para substituir as queimadas lá do jardim?
_ Você deveria olhar primeiro para ver com quem está falando.
_ Ah! É você? Desculpe. Realmente eu tenho esta mania. E então? Já descansou? Daqui a pouco vamos servir um café da tarde. Todos devem estar famintos Não é muita coisa, mas dá para acalmar o apetite até a hora do jantar".
_ Vim ver se você estaria disponível para dar um volta pelas redondezas.
_ Ora, sem problemas! Quem mais quer ir?
_ Só eu. Algum problema?
_ Nãao! Claro que não.
Já ficando em estado de alerta, de novo."Ele era só mais um hóspede. Ela não podia negar-se a acompanhá-lo", pensou.
_ Acho que o Alex está disponível, no momento. Eu posso pedir para ele te levar até o leito do rio Malacára, que fica aqui nos fundos da pousada. É bem próximo daqui.
_ Eu não quero ir com Alex. Quero ir com você.
_ Bem , se você faz questão.
Tentou manter a voz o mais natural possível.
_ Faço. A não ser que você esteja muito ocupada com os negócios - falou, amenizando um pouco o tom imperativo.
Nesse momento, Marlene surgiu na porta.
_ Desculpe interromper. Só vim avisar que o café já está servido.
_ Obrigada, Marlene. Pode ir . Eu vou dar uma saída, mas devo voltar em 1 hora, para
os preparativos do jantar . Você viu o cardápio que deixei ontem?
_ Sim. Já está tudo em andamento. Não se preocupe. Vá tranqüila, que da cozinha cuido eu.
_ Marlene, por favor, fala para o Alaor cuidar de tudo até minha volta, está bem?
_ E precisa dizer isto prá ele? É óbvio que ele vai cuidar de tudo. Vá tranqüila!
_ Tá bom! Então, tchau!
Virou-se para Jim e disse:
_Tive uma idéia. Vou te mostrar uma coisa que eu acho você vai gostar.
_ Humm.! Já fiquei interessado.
_ Jim! Comporte-se! É sério! Vou te levar para conhecer o alto do Cânion dos Índios. A vista é esplêndida. Acho que vai gostar.
_ Tenho certeza que sim.
_ Está bem, então. Vamos pegar o meu carro.
Ele a seguiu até a entrada de sua cabana onde se encontrava a camionete preta. Dali seguiram pela estrada de terra que levava até o alto do Parque Nacional de Aparados da Serra.
Durante o início do percurso, permaneceram quietos. Quem primeiro puxou conversa foi Jim.
_ Como é que você veio parar aqui? Porque alguém como você fica se escondendo neste fim de mundo?
_ Quem disse que estou me escondendo? Eu adoro isto aqui. Sempre sonhei em viver num lugar como esse. Tornei-me bióloga por causa deste sonho. Quer coisa melhor do que tornar o seu sonho também na sua fonte de renda?
_ Ah! Disso eu entendo.
Então, Jim passou a lhe contar o seu passado como engenheiro
e da infelicidade que o acompanhava. Só quando resolveu largar tudo e seguir a carreira de ator é que começou a viver de verdade. Ela se admirou com este outro lado dele. Não tinha idéia do que ele tinha enfrentado até chegar ao estrelato.
Já estavam chegando ao início do Parque e tiveram de deixar o carro no portão que dava acesso ao cânion. Foram caminhando lado a lado, com Elisa contando como conseguira comprar as terras para construir sua pousada.
O papo ia muito animado até que foram chegando perto da beirada do cânion. Ali se abriu uma vista alucinante. Lá do alto podiam ser vistos os paredões do cânion Malacára cobertos por uma vegetação baixa. Fora isso, uma enorme queda d'água bem a sua frente. Era de perder o fôlego, tal a beleza do lugar.
_ E aí? Que achou daqui? Valeu a pena vir ?
_ Realmente, isso é lindo demais.
_ Isto é só uma pequena amostra desta serra. Vocês ainda têm o cânion Fortaleza , o próprio Malacara e o Itaimbezinho para conhecer. Sem contar com a trilha do Rio do Boi, que fica no fundo do cânion do Itaimbezinho, que é fantástica. Acho que o sr. Neil vai ficar enlouquecido com todo o potencial deste lugar para as suas locações".
_ Vai ser muito difícil alguém tirá-la daqui, não?
_ Como assim, me tirar daqui?
_ Nada! Bobagem minha - falou, com certa tristeza no olhar.
Ela ficou intrigada com aquela meio afirmação, meio pergunta dele. No que ele estava pensando para dizer aquilo? Resolveu deixar este pensamento prá lá e curtir o cair do sol, que já se iniciava. Aí, ele a convidou para sentarem-se sobre uma rocha, próxima à beirada do precipício. Uma sensação muito agradável de intimidade e cumplicidade foi tomando conta de Elisa. A paisagem nunca fora tão bela como naquele momento. Sem perceber, seus braços se tocaram de leve e seus olhares se cruzaram. Os lábios de Jim pousaram suavemente em sua face, seguindo para a boca. Neste instante, como fogo num pavio de pólvora, uma onda de desejo foi desencadeada, e aqueles braços fortes a envolveram mais uma vez, como na noite anterior, buscando seu corpo ardentemente. Ela não conseguiu resistir e também o procurou, acariciando-o, delineando aqueles músculos com as mãos ávidas. Não cansava de beijar sua boca macia, cálida e úmida. Como ele era lindo. Marlene tinha razão. Parecia um deus. E, naquele momento, era todo seu.
Quando se deu conta, ele tentava levantar sua camiseta. Aí, a razão voltou a incomodá-la e ela teve de pedir que ele parasse.
_ Por favor, Jim. Pare... Pare! Está ficando noite e temos que voltar – disse , quase não acreditando que estava dizendo aquilo, quando a sua vontade era de tirar a camiseta dele também e fazer amor ali mesmo. Mas o bom senso falava mais alto.
_ Você vai ter coragem de me deixar neste estado e ir embora?
Uma sombra de dúvida passou na expressão de Elisa, mas ela resolveu brincar com a situação para acalmá-lo, e disse:
_ Se a gente continuar aqui desse jeito, nós vamos rolar precipício abaixo e não vamos fazer mais nada, por muito tempo.
Não conseguiu arrancar nenhum sorriso dele. Aí, para animá-lo um pouco, acabou por dizer:
_ Não há de faltar outra oportunidade. Pode considerar isto como uma ameaça...
_ Olha que vou cobrar depois.
"Eu devia ter fechado essa boca. Agora, o enchi de esperança. Além do mais vai pensar que sou a mulher mais fácil do mundo. Será?”, pensou arrependida do que acabara de insinuar. Mas, lá no fundo, estava gostando da idéia.
_ Não é bom descer esta serra no escuro. A estrada é perigosa à noite. É melhor irmos logo.
_ Está bem – falou a contragosto, ajudando-a a levantar-se – Além do mais, o Alaor pode não gostar, não é?
_ Que estória é essa de colocar o Alaor no meio da conversa? – disse irritada com o comentário – Ele é gerente da pousada, não da minha vida!
_ Mas que ele se preocupa demais com você, é inegável. Parece ser seu namorado. Não é?
_ De onde você tirou um absurdo destes? Só o que me faltava!
_ Está bem! Já não está mais aqui quem falou.
Tomaram o caminho de volta sem se falar, quase correndo pela vegetação rasteira.
Entraram na camionete e voltaram para a pousada em silêncio.
Quando chegaram, ele a beijou no rosto e perguntou:
_ Não está chateada comigo, está?
Sua voz era tão doce e o olhar tão meigo, que ela sentiu derreter o gelo, imediatamente.
_ Não, claro que não. Desculpe a minha reação lá em cima. O dia hoje foi um pouco cansativo e cheio de surpresas.
Tocou com a mão no rosto dele.
_ De agradáveis surpresas.
Não houve como evitar o encontro de seus lábios. Já esquecidos de onde estavam, ouviram alguém batendo nos vidros do carro. Era Alaor, com uma cara feia, praticamente gritando o nome de Elisa.
Ela abriu a porta pronta para ouvir um sermão sobre o horário, compromissos, etc.
_ Boa noite! Estávamos preocupados com vocês. O jantar já está servido.
Saiu pisando duro, deixando Jim com um sorriso de vencedor nos lábios.
Depois de tanto tempo sem ninguém, via-se disputada por dois homens. Ou seria sua imaginação de solteira praticamente "virgem" correndo solta?
Resolveu parar de pensar nisto e ir lavar-se para o jantar. Teria outra reunião informal com a equipe para resolverem o passeio do dia seguinte. Assim que se despediu de Jim, na porta principal da pousada, foi de carro até sua cabana.
Ao voltar, entrou cumprimentando a todos. Especialmente a senhora Dawnson, que já estava sentada à mesa, com um grande sorriso. Parece que já transformara o seu acidente em algo para relembrar como uma aventura exótica, e não como uma desgraça.
Foi colocar-se atrás da bancada do buffet, como sempre. Comeria alguma coisa mais tarde.
Cada vez que Jim vinha servir-se, trocavam olhares e sorrisos discretos.
Mais uma vez, após o jantar, com todos satisfeitos e felizes, iniciou a discussão para resolver o próximo local de visitação. Elisa deu alguns esclarecimentos e acabaram por escolher o cânion Fortaleza, que era um passeio que durava praticamente o dia todo, mas onde teriam belas paisagens. Este cânion tinha uma extensão de mais ou menos 5.800 metros e chamava-se assim devido ao aspecto de suas paredes entalhadas verticalmente na rocha. Talvez fosse o cânion mais impressionante, dos inúmeros daquela região. Deveriam sair na van, na manhã seguinte, o mais cedo possível. O percurso até o local de início da trilha ficava há cerca de 60 km dali.
Os mais velhos resolveram recolher-se aos apartamentos mais cedo, enquanto, na sala, ficaram Michele e Jim. Alaor acabou sendo, praticamente agarrado por Michele para conversar. Pelo jeito ela estava se agradando dele. "Pelo menos larga do pé do Jim".
Assim que ela ficou liberada da movimentação da cozinha, vendo que ele estava distraído olhando algumas revistas, foi comer alguma coisa na cozinha. Marlene havia deixado o seu prato pronto. Um pouco exagerado, como sempre. Ela nunca conseguia comer toda aquela quantidade. Ainda estava sentada, remexendo em seu prato, mergulhada em pensamentos, quando ouviu a porta, que vinha da sala, se abrir. Desta vez, olhou para ver quem era.
_ Ah! Finalmente aprendeu a olhar antes de conversar. Se eu fosse chamado de Alaor agora, ficaria muito zangado e estragaria a minha noite.
_ Não exagera! Mas eu, na verdade, achei que era você. Pude sentir o seu perfume...
Ele foi se aproximando, como quem não quer nada e, por fim, sentou-se junto a ela, tocando-a de leve com seu braço.
_ Que tal uma volta depois que você acabar o seu jantar?
_ Pode ser. Só não podemos dormir muito tarde, pois o passeio de amanhã é muito cansativo, certo?
_ Juro que você vai prá cama cedo – disse com jeito brincalhão e continuou:
_ Parece que ainda temos uma linda lua esta noite. Podíamos ir naquele mirante de ontem?
_ Pode ser.
_ Talvez eu o ache mais interessante hoje.
_ Jim, Jim... Você se comporte, ouviu?
Ele sorriu, provavelmente achando divertida aquela conversa de "gato e rato".
Resolveu jogar fora o resto de comida que tinha sobrado no prato e foi lavar a pouca louça que sujara, enquanto ele a observava. Era uma sensação boa aquela, como se eles fossem um casal, na cozinha de sua casa, fazendo coisas rotineiras. "Elisa, cuidado! É uma armadilha! Ah! deixa o barco correr. Só não quero me machucar feio. Se for só atração física, resolvemos isso e deu. Será? Ai, meu Deus! Pára de pensar bobagens."
Olhou para ele e sentiu uma fraqueza nas pernas e um leve tremor percorrendo o seu corpo. O modo como ele a observava era tão, tão... Que vontade de dar um beijo naquela boca. Mas, dissimulando, falou:
_ Então, vamos? – e pensou: "Seja o que Deus quiser!”.
Na sala, Alaor continuava em animada conversa com Michele. Chegou a nos olhar de soslaio, mas continuou no seu "tête a tête" com a loura.
Saíram da pousada em direção ao mirante. A noite estava lindamente adornada pela lua. As estrelas pareciam mais brilhantes que nunca.
Momentos depois, sentiu Jim segurar sua mão.
_ Posso?
Seu coração acelerou-se. Como ele conseguia deixar ela daquele jeito? Sentia-se como uma colegial em seu primeiro encontro.
_ Pode.
Agora, andavam como um casal de namorados
De repente, lhe deu uma vontade de falar o que estava sentindo. "Não faça isso sua louca! Abrir o jogo. Não vai dar certo!" Vencendo a resistência de sua razão, acabou por falar:
_ Jim, posso te fazer uma pergunta?
_ Claro!
Passados alguns segundos, com ele encarando-a curioso, finalmente criou coragem e perguntou:
_ Você pode ter todas as mulheres que quiser. Porque eu? O que você pretende? - falou
com a voz trêmula.
_ Quer mesmo saber? - disse com um sorriso irônico.
_ Quero.
_ Minhas intenções são as piores possíveis. Depois vou embora e você fica aqui. Não é perfeito? Sem problemas.
Ele continuava com aquele sorriso estampado no rosto.
O sangue lhe subiu para a cabeça. Não sabia se chorava ou se batia nele. Soltou -se de sua mão e passou quase a gritar:
_ Então , é isso?? Você acha que vou aceitar uma coisa destas? O que você está pensando que eu sou? Vocês vêm aqui para o Brasil achando que vão ter sexo fácil. Mas você está enganado, ouviu?
Ele não a deixou continuar e cobriu a sua boca com um beijo. No início ela resistiu, mas acabou cedendo, diante de sua força. Era impossível resistir a ele.
Tão logo se afastou um pouco, ainda meio tonta, com aquela ação inesperada por parte dele, ouviu:
_ Sua boba! Você acha que é isso mesmo? E que pergunta foi essa? Você queria que eu respondesse o que? Que estou apaixonado e que quero casar com você e só transar depois? Ele falava sem irritação, calmo e com bom humor.
_ N-não, não é isso. Mas é que...
Ela sentiu que realmente a sua pergunta tinha sido ridícula.
_ Desculpe-me. Deve estar achando que sou uma idiota, caipira.
Queria fugir dali e, realmente preparava-se para isso, quando ele a puxou de leve, pelo braço, e falou, aproximando-se dela, novamente:
_ Li, se você quer esclarecer a nossa situação, então vamos lá. Eu acho que existe uma atração muito forte entre nós. Isto não tem como negar, não?
Ela assentiu com a cabeça, sem conseguir olhar para ele.
_ Não quero que isso seja um passatempo. Teremos algumas dificuldades em manter um relacionamento, por sermos de países distantes, profissões diversas, mas para tudo pode se dar um jeito se a gente resolver ficar junto. Não acha?
_ Ficar junto? Como assim? – perguntou surpresa.
_ Ora, Li. Ficar, namorar, transar, o que quer que seja.
Não acreditava que estava tendo aquela conversa com Jim. Eles se conheciam há apenas três dias.
_ Jim, sinto que você está sendo sincero. Portanto vou ser sincera também. Eu não tenho um relacionamento deste tipo, qualquer um desses que você falou agora, há mais de cinco anos.
_ Tudo isso? - falou, parecendo achar isso muito divertido.
_ Fica quieto! Deixe-me falar, antes que me arrependa.
Tentava encontrar coragem para falar tudo que estava sentindo. Há quanto tempo não se abria assim para alguém. Por que com ele? Como ele conseguia mexer tanto com ela? Continuou:
_ Desde que o vi, eu não consigo te tirar da minha cabeça. Sinto uma grande atração por você. Não adianta ficar com esse sorrisinho cretino no rosto, todo convencido. Você deve saber muito bem deste seu efeito sobre as mulheres. Você é lindo, sexy e muito cativante.
_ Obrigado.
_ Quieto! Tenho resistido muito à idéia de "ficar" com você. Mas se tiver de acontecer, quero que seja uma noite inesquecível. Não apenas uma transa rápida, feita encima de pedras, de qualquer jeito, como se fosse uma marginal.
Ele a olhava, muito atento e com uma doçura e uma compreensão no olhar, que a deixava à vontade para abrir seu coração. E, continuava:
_ Só não quero ser forçada a nada, antes do tempo. Tenha paciência comigo, tá bom?
_ Li, apesar de estar ficando cada vez mais difícil de me conter diante de você, principalmente depois de tudo que você disse, eu vou esperar o seu sinal. Mas... A gente pode ir “treinando”, não? E não vai dar para só “treinar” por muito tempo, porque só tenho mais 4 dias aqui - e abriu uma bela risada, quebrando a seriedade do momento. Ela não resistiu e acabou rindo também, pensando se não estava sendo ridícula com aquela conversa. Afinal, os dois eram maiores de idade, solteiros (será que ele era? !!!), estavam atraídos um pelo outro( e como !). Porque todo esse papo? Só rindo, mesmo.
_ Desculpe, querida. Estou brincando.
_ É , eu sou uma boba, mesmo! Você deve estar me achando totalmente idiota. Na minha idade, na atual situação, com este recato todo.
_ Isto não é ser idiota e nem questão de idade. Você tem o seu tempo e eu respeito isso, ok? Vamos deixar as coisas rolarem e ver no que dá.
Ele estava sendo tão compreensivo. Só a fazia sentir-se mais atraída por ele, tornando mais difícil uma futura separação. Se ele tivesse sido grosseiro, seria mais fácil de escapar, arranjar uma desculpa e fugir dele. Mas, não. Pressentia que ia sofrer um bocado quando ele tivesse de partir.
Ele pareceu ouvir seus pensamentos e a abraçou forte, enquanto voltavam a caminhar. Chegaram ao mirante e resolveram deitar-se sobre o gramado para observar as estrelas. Ali, ficaram por algum tempo, apenas abraçados, em silêncio.
Até que o som da voz de Michele chegou até eles.
__ Ah! Tiveram a mesma idéia que nós! Olha só, Alaor!
Como se tivesse levado um choque, a primeira reação de Elisa foi levantar-se, imediatamente. Jim a segurou pelo braço e acabaram ficando sentados, olhando o casal aproximar-se.
_ Está uma noite linda, não? - disse Alaor, sem a costumeira aspereza na voz, dos últimos dias.
_ Então, vieram curtir a noite também?
Jim falava sem constrangimento algum.
_ Pois é , querido. O Alaor só fica lá naquele escritório, trabalhando. Por isso o convidei para dar uma arejada. Você acha que fiz bem, Elisa?
_ C-como? Ah! Claro! O Alaor é muito trabalhador , mesmo. É bom para ele relaxar um pouco. Bom, gente ! Acho que está na hora de me recolher. Amanhã teremos um dia longo de caminhada.
Jim levantou-se e a ajudou a ficar de pé.
_ Você vai ao passeio amanhã, Michele? - perguntou Jim.
_ Não. Acho que vou ficar fazendo companhia para a mamãe e para o Alaor. Ele fica muito sozinho quando saímos para passear - disse Michele.
_ Mi, eu posso ficar fazendo companhia para a sua mãe enquanto você vai passear. Não tem problema algum - disse um Alaor, meio desconcertado.
“ Mi??? Alaor já estava com esta intimidade toda com a moça?” , pensei.
_ Meu querido. Eu vou adorar ficar com vocês... Vamos conversar um pouquinho -
disse Michele, se insinuando toda para ele.
Jim sorriu com o assanhamento da amiga e disse:
_ Então, uma boa noite para vocês. Até amanhã!
Pegou Elisa pela mão e caminharam em direção à pousada.
_ Eu vou com você até a sua cabana.
_ Não, Jim, não precisa se incomodar.
Ele soltou uma gargalhada.
_ Me incomodar? Li, você não é deste planeta. É claro que vou te acompanhar. Não se preocupe, que vou manter a minha parte no trato. Está bem?
_ Tá bom! Desculpe. Pode me acompanhar.
Assim que abriu a porta da entrada da cabana, Jim a abraçou e lhe deu um beijo de perder o fôlego.
Assim que conseguiu afastar-se dele, reclamou:
_ Jim, você prometeu...
_ Ah, Li. Estou só treinando um pouquinho. Um beijinho pode, não? - falava baixinho, quase no seu ouvido, fazendo cócegas no seu pescoço com a barba.
_ Ai, Jim! Não faz assim... Nós temos que descansar para amanhã. Além disso, você prometeu que esperaria o meu sinal.
_Se você visse o seu rosto agora. Para mim , ele está dando todos os sinais verdes possíveis - disse, rindo do rosto afogueado e olhos brilhantes de Elisa.
_ Está bom, está bom.Vou indo. Deu um beijo em sua face e virou-se na direção da pousada.
Elisa segurou-se para não correr atrás dele, lançar-se no seu pescoço e cobri-lo de beijos. Fechou a porta e seguiu em direção ao quarto.
Naquela noite, algumas pessoas custaram para achar o sono, no cânion Malacára.
Elisa ficou por algum tempo pensando em tudo que acontecera naquele dia e acabou por tomar uma resolução. Dependeria da disposição de Jim, depois do passeio ao cânion Fortaleza. Certificou-se de colocar o despertador, para não ter outro susto como o daquela manhã.
O dia seguinte amanheceu com algumas nuvens e um calor abafado. Talvez chovesse no meio da tarde. Elisa ficou preocupada. Tomara que a chuva não os pegasse quando estivessem voltando na trilha sobre a cachoeira do Tigre Preto, pois seria perigoso. Dependendo da precipitação, os rios ficavam muito cheios e difíceis de atravessar. Teriam que sair cedo e voltar mais cedo, antes da chuva.
Preparou sua mochila , com o cuidado de levar cordas e outros materiais de segurança. Falou com Alex, para que ele também estivesse bem preparado.
Os lanches de trilha foram distribuídos, para que cada um levasse o seu.
Elisa tomou a direção da van e seguiram rumo ao Parque Aparados da Serra. Jim quis sentar-se ao seu lado. Alex foi atrás com os outros três membros do grupo.
Em torno de 10 horas estavam chegando à entrada do parque. Deixaram a van estacionada e seguiram a pé pela trilha, em direção ao Fortaleza. Teriam uma caminhada de, mais ou menos 1 hora até chegar no arroio do Segredo . Dali até o alto da cachoeira do Tigre Preto seriam mais 800 metros pela trilha. Passariam por cima da cachoeira, sobre o rio, indo em direção à Pedra do Segredo. Mais uma caminhada de 30 minutos, mas que, ao final, teriam a visão de um bloco monolítico de cerca de 5m de altura, perfeitamente apoiado sobre uma área de 50 cm², o que era um dos mistérios da natureza. Logo chegariam na borda do cânion Fortaleza e veriam qual o motivo de seu nome.
Após estas explicações de Elisa, seguiram para aventura, todos ansiosos para conhecer aquelas maravilhosas paragens.
Tudo correu tranqüilamente. Às 13 h já estavam almoçando na borda do cânion, totalmente embasbacados com a beleza dos paredões, que realmente lembravam as muralhas de um enorme castelo, incrustado na rocha. Não se cansavam de elogiar o local, que logo foi escolhido como uma das locações, para tomadas de vista aérea e até para filmagem com os atores.
Jim também estava admirado de como um lugar podia ser tão lindo.
O tempo começou a se fechar. Elisa pediu que começassem a se arrumar para voltar, devido ao mau tempo que estava se apresentando.
Logo, iniciaram a caminhada de volta, mas a chuva começou, fina, e foi tornando-se mais intensa à medida que o tempo passava.
Ao chegarem no topo da cachoeira do Tigre Preto, o volume de água já tinha subido um pouco, mas ainda era possível atravessar com segurança, desde que tomassem os devidos cuidados.
Para prevenir, Elisa combinou com Alex que ela ia fixar alguns ganchos nas pedras maiores do rio e passaria cordas ao longo do trecho de travessia, para que todos pudessem ficar presos , sem correr o risco de cair, caso alguém escorregasse em algumas das pedras lisas do fundo do rio.
A chuva parecia estar mais forte. Elisa foi caminhando, com cuidado, e aos poucos fixando os ganchos e passando as cordas. Alex esperava com os outros a hora em que poderiam atravessar. Jim começou a ficar apreensivo, vendo-a sozinha no meio daquela cachoeira. Logo, ela conseguiu alcançar o outro lado e perguntou se Alex já tinha fixado as cordas na margem onde estavam.
_ Sim! Podemos ir?
_ Venham com cuidado. Todos com seus cinturões e enganchados com as cordas?
Alex fez sinal de positivo e iniciaram a travessia. Primeiro os mais velhos. A água batia nos tornozelos, com alguma pressão, mas nada que pudesse desequilibrá-los. O risco eram as pedras limosas.
Aos poucos todos foram passando. Chegou a vez de Jim. Alex ainda se encontrava na margem, segurando as cordas de apoio, quando Jim escorregou . Elisa soltou um grito, puxando as cordas com força.
_ Alex, segura firme!!
Não podia acontecer nada com ele, pensava desesperada com a idéia de perdê-lo. Nunca tinha acontecido nada por lá. Não seria agora, logo com ele.
Mas, Jim era forte e conseguiu levantar-se, apesar da correnteza que já aumentava sua força, indo devagar , na direção de Elisa. Tão logo ele chegou, sob os vivas dos companheiros e para alívio de Elisa, começou a caminhada de Alex. Sendo ele mais experiente, não teve dificuldades maiores em chegar até eles.
Logo estavam voltando para o início do parque, aproveitando o banho de chuva , como um bando de garotos animados, como no dia anterior. Só que desta vez, em trajes de banho. Estavam adorando sentir toda aquela adrenalina, sem perceber o perigo pelo qual tinham passado momentos antes.
Chegaram até a recepção do parque, onde foram secar-se. Depois de ficarem conversando um pouco e vendo algumas fotos , entraram na van e partiram em seu caminho de volta para a segurança da pousada de Elisa.
Ao chegarem, foram direto para seus apartamentos, para lavarem-se e prepararem-se para o gostoso café da tarde preparado por Marlene. Antes que Jim entrasse, Elisa o abraçou e disse:
_ Hoje você me deu um susto. Pensei que ia te perder.
_ Mas graças aos seus cuidados, não aconteceu nada. Além do mais, não pense que vai se livrar de mim fácil assim. Eu voltaria do além para te puxar a perna e exigir o cumprimento do nosso trato - falou, soltando uma risada gostosa.
_ Você não leva nada a sério, não é? - falou sorrindo, dando graças por ele estar ali ao seu lado.
_ Levo sim. Tem coisas que levo muito a sério.Você, por exemplo. Dizendo isto, abraçou-a, e deu-lhe outro daqueles beijos que a levavam ás nuvens.
_ Agora, acho melhor o sr. ir tomar um belo banho quente. Eu pretendo fazer o mesmo
_ Não quer ir junto comigo? Assim a gente economiza água, O que acha? Tudo pela ecologia! - falou com aquele olhar safado que só ele sabia dar.
_ Não acho uma boa. Nós acabaríamos gastando mais água e mais tempo tomando este banho juntos - falou, sorridente. - Vai logo para este banho e pára de me tentar!
_ Está bom! Já não está mais aqui quem falou. Mas você não sabe o que está perdendo.
_ Até posso imaginar - falou, perdendo-se em "maus" pensamentos.
_ Bom, então você fica imaginando aí, enquanto eu vou indo.
Deu-lhe outro beijo e saiu, rindo, sabendo que a estava deixando mais excitada ainda.
Com uma sensação de felicidade porejando, Elisa , antes de sair para o seu banho, cruzou com Alaor. Ele parecia bem satisfeito da vida e com cara menos sisuda.
_ Então, como foram de passeio?
Ela lhe contou o susto que tinham levado, mas que tudo acabara bem.
_ E, você? Como vai com a Michele? Parece que estão se dando muito bem. Estou enganada?
_ Olha, ela é uma ótima pessoa. Sei que você não gosta muito dela, mas se a conhecer melhor , sei que vai mudar de idéia.
_ Alaor, você está realmente interessado nela? Que bom. Fico muito contente com isso.
_ É, Elisa. Acho que decidi deixar de me fixar só em você. Vi que não ia dar em nada mesmo.
_ Que é isso, Alaor. Você sabe que eu sempre gostei muito de você, mas só como amigo. Já estava na hora de você se interessar por alguém que realmente o mereça.
_ NÓS estamos precisando, Elisa. A gente passa a viver aqui, longe de qualquer vida social. O mundo fica muito reduzido. Já notei que você e o Jim também estão se dando bem e, realmente, fico contente com isso. Te quero muito bem. Só não quero que sejas magoada. Cuidado!
_ Oh, meu amigo, pode deixar. Tudo vai ficar bem. Qualquer coisa , depois a gente pode chorar as mágoas juntos, não é?
_ Sempre que precisar.
_ Bom, eu vou tomar o meu banho e volto antes do jantar. Desculpe estar deixando tudo na sua mão nos últimos dias.
_ Para isso que serve um gerente. È ou não é? Se houver algum problema que eu não possa resolver, te aviso. Fique descansada.
_ Aliás, acho que a temperatura vai baixar hoje à noite. Você podia providenciar o acendimento da lareira, por favor?
_ Já mandei buscar a lenha.
_ É, assim vou poder tirar férias muito em breve - falou rindo e satisfeita com a eficiência do amigo.
Foi em direção à sua casa. Após o banho, tratou de separar uma linda camisola que havia comprado alguns meses atrás, em Florianópolis, e que nunca havia usado. Ela era tão linda , branca , rendada, que não resistiu e a comprou, mesmo não tendo para quem mostrar. Hoje teria.
Colocou algumas velas aromáticas espalhadas, estrategicamente, pelo quarto. Ele ficava no segundo piso da cabana, com uma lareira em frente à cama, para aquecer nas noites frias. Hoje, além de aquecer, comporia um ambiente bem romântico. Chegava a se arrepiar com a expectativa de ter Jim ali no seu quarto, a sós. Aquela seria uma noite para lembrar toda a vida, caso não pudesse tê-lo mais.
A chuva havia parado e a temperatura baixara para 10 graus. No salão principal da sede, a lareira estava ardendo, com todos muito alegres, contando suas aventuras do dia. Havia o cansaço físico, mas a emoção era maior.
Jim estava lá, chamando sua atenção em uma calça jeans , daquelas rasgadas em pontos estratégicos, muito sensual, e um moletom verde que realçava ainda mais a cor de seus olhos. Acenou para ele e foi para o escritório ver se tinha alguma coisa pendente nos negócios, para resolver. Sentiu que Jim a seguiu com o olhar. Depois sentiu a sua presença logo atrás de sua cadeira, o que a deixou em alerta total. Ele chegou de mansinho e acabou por lhe dar um beijo na nuca, que se achava liberada pelo cabelo preso no alto da cabeça.
_ Resolveu prender o cabelo hoje? Ficou muito bem.
_ Obrigada, senhor Hewitt.
_ Conseguiu descansar?
_ Sim. E o senhor?
_ O "senhor" está muito bem descansado - falou debochado. Logo em seguida, o sorriso foi posto de lado e falou com uma seriedade incomum:
_ Eu preciso te falar uma coisa.
Elisa ficou com medo do que viria após esta afirmação tão séria, por isso, resolveu adiantar-se e falou:
_ Posso te fazer um convite indecoroso , antes?
A estas alturas, ela já só pensava com seu coração e seu desejo. Nada importava mais. Não deixaria nada interferir com seus planos para a noite. Levantou-se da cadeira, aproximando os lábios do seu ouvido:
_ Te espero lá na minha cabana às 10 horas, depois do jantar. Você é meu convidado especial. Posso esperar?
O semblante de Jim desanuviou-se para dar lugar a um ar de alegre surpresa e um intenso brilho no olhar. Enlaçou-a pela cintura e a aproximou de seu corpo.
_ Então vamos deixar o treinamento de lado e partir para a ação real?
_ Acho que sim. Mas, não fala assim. Parece até que vai ser uma ação militar - disse rindo. Logo, sentiu sua boca pressionada por aqueles lábios quentes e macios.
Afastaram-se, procurando disfarçar um pouco aquela onda de desejo que insistia em aparecer a cada contato físico. Resolveram voltar para a sala. O jantar estava sendo servido. Ele a convidou para sentar-se na sua mesa.
_ Hoje, jantamos juntos, está bem?
Após o jantar, o grupo resolveu que ia conhecer algumas das cachoeiras da região. Com a chuva , o volume de água aumentado, estariam muito mais interessantes, além de proporcionarem um belo banho.
No meio das conversas, Elisa pediu licença e retirou-se. Antes de sair, aproximou-se de Jim e disse bem baixinho:
_ Estou te esperando às 10h.
Pontualmente, à 22 horas, Elisa ouviu a batida forte na porta. Olhou mais uma vez para o quarto. Um clima bem romântico e acolhedor. Estava vestida apenas com a sua camisola.
Desceu para abrir a porta. Lá estava ele, lindo como sempre, os olhos faiscando e um sorriso, misto de surpresa, admiração e aprovação.
_ Como você está linda.
_ Tudo para você.
_ Quanta honra. Dizendo isso fechou a porta e a abraçou com força, beijando-a ávidamente, carente por seu corpo, as mãos a acariciá-la através da seda.
_ Vamos para o quarto.
Subiram as escadas devagar. Jim não conseguia esconder a excitação que o ambiente e Elisa estavam provocando.
_ A senhorita está com péssimas intenções para comigo, não?
_ As piores possíveis, lembra?
Ele soltou uma gargalhada e continuou a abraçá-la com intensidade. Ela o afastou um pouco e começou a tirar o seu moletom bem devagar, sem deixar de olhar profundamente aquele "mar verde" onde queria afogar-se de todas as maneiras. Passou a desabotoar o botão do jeans e a abrir o fecho, lentamente. As luzes trêmulas das velas e o calor das chamas da lareira só faziam aumentar o desejo de ambos. Seus corpos vibravam, ansiosos pelo que viria a acontecer. Elisa queria prolongar aqueles momentos o maior tempo possível. Assim que o despiu completamente, deitou-o na cama, empurrando-o de leve com as mãos. Ele parecia enfeitiçado por todo aquele ritual.
Resolveu deixar Elisa no controle e deixar-se levar por ela. Estava sendo uma experiência totalmente inesperada e sensual.
Elisa mandou-o fechar os olhos . Sentada sobre suas coxas, começou a acariciá-lo muito suavemente, mal tocando sua pele, com as mãos, levando-as num passeio por todo o seu corpo, iniciando pela face, tocando de leve a sua barba, passando pelo seu pescoço, em lentos movimentos com a palma das mãos abertas. Elas seguiram através de seu peito , contornando o abdômen, em movimentos circulares, chegando ao púbis. Ele gemia, não controlando mais a excitação. As mãos de Elisa continuavam sua viagem, agora em torno do seu pênis rígido, ainda mal tocando a pele. Ele podia sentir a eletricidade passando das mãos dela para o seu corpo. Ela levantou-se um pouco e passou a acariciar suas coxas, seguindo pelas pernas, fazendo-o se arrepiar àquele toque cheio de desejo. Ele ainda estava de olhos fechados, quando ela voltou à posição anterior, iniciando carícias mais intensas. As mãos já tocavam a pele e faziam mais pressão nos seus músculos. Elisa, por sua vez, estava extasiada com a perfeição daquele corpo. Queria dar a ele o maior prazer possível, para deixar a sua marca nele. Ele não poderia esquecê-la tão facilmente.
Com os carinhos mais intensos, Jim acabou por abrir os olhos e a fazer parte ativa nas carícias. Ele já não agüentava mais não participar daquilo. Precisava sentir o corpo de Elisa junto ao seu, com urgência, mas sem tirá-la do controle. Ele levantou o tronco, mantendo-a sobre suas coxas. Começou a levantar a sua camisola e foi tirando-a com cuidado. Ao ver seu corpo firme e bem torneado, passou a acariciá-la , levando as mãos aos seus seios, descendo ao abdômen. Logo, passou a beijá-la. A princípio beijos suaves, que foram tornando-se mais e mais ávidos. Pouco depois, Elisa abandonou-se aos carinhos dele, que passou a abraçá-la com mais vigor. A partir daí, o desejo e a busca pelo prazer total assumiu as rédeas e seus corpos procuravam a fusão através das mãos e das bocas famintas. Em meio aos gemidos de prazer, Jim deitou-se sobre Elisa, tentando colocar-se dentro dela. Ela enlaçou suas pernas em torno da cintura dele, pressionando-o com as coxas. Logo, encaixaram-se perfeitamente e iniciaram-se os movimentos ondulatórios, cada vez mais rápidos e mais eficientes. Eles não percebiam mais nada além deles mesmos e daquela sensação de êxtase total. Uma força quase selvagem os levou ao delírio total, em meio a gemidos, gritos e suor. Em alguns minutos, extenuados e totalmente satisfeitos, caíram um sobre o outro, relaxada e prazerosamente, sentindo uma felicidade quase palpável.
Assim ficaram por um bom tempo, com medo que a separação dos corpos quebrasse aquele encantamento.
A chuva recomeçou forte, batendo contra as vidraças. Jim levantou-se, silenciosamente para não incomodar Elisa. Foi avivar a lareira, pois estava começando a ficar mais frio.
Elisa , que estava acordada, abriu os olhos, ao sentir a movimentação, e ficou olhando para ele. Seu corpo nu, forte, viril, realçado pela luz flamejante da lareira. Ela estava realmente se apaixonando por ele. Tudo o que mais temia estava acontecendo, e era maravilhoso.
_ Jim? Vem cá...
Ele virou-se. Ela não conseguia ver o seu rosto naquela penumbra, mas ele moveu-se na sua direção. Parecia triste ou era só uma impressão?
Sentou ao seu lado, na cama e começou a acariciá-la. Deitou-se por trás de Elisa, puxando-a contra seu corpo, de forma a encaixar-se perfeitamente nela. Abraçou-a, carinhosamente, acolhendo os seios dentro de suas mãos.
_ É impressão minha ou você está meio tristonho?
_ Não, não é impressão - sua voz estava mais rouca que o habitual.
_ Mas, o que houve? Você se decepcionou comigo? Não foi bom?
_ Ah, minha linda. Você foi maravilhosa. Eu nunca vou esquecer esta noite. Isto torna mais difícil o que eu tenho de dizer.
Elisa gelou. Tentou levantar-se, mas ele a manteve segura, colada a ele.
_ Como assim? O que você está querendo dizer?
_ Lembra que, hoje à tarde, tentei lhe falar alguma coisa e você quis fazer o convite para eu vir aqui primeiro?
_ Lembro...
_ Pois é. Eu recebi um telefonema do meu agente em Londres. Ele me pediu para voltar antes do tempo, pois resolveram iniciar as filmagens de um filme, para o qual eu fui contratado há mais ou menos uns 6 meses. Vou ter de estar em Londres em três dias , no máximo. Portanto terei de ir embora mais cedo, provavelmente depois de amanhã. Ele ficou de ver com a empresa aérea a antecipação dos meus vôos.
_ Porque não me falou?
_ Eu não tive coragem, depois daquele convite, que eu ansiava tanto. Tanto quanto você. Por favor, nem pense que eu estou fugindo. Elisa, você foi a melhor coisa que me aconteceu em muitos anos e não quero que isto acabe assim fácil.
Elisa sentiu as lágrimas brotando.
_ Como você quer que eu me sinta? Logo agora - falou, conseguindo segurar o choro.
_ Elisa, me ouça... - ele sussurrou ao seu ouvido, pressionando-a contra ele, causando um tremor em seu corpo.
_ Eu estou gostando muito de você. Acredite. Eu prometo que assim que as filmagens acabarem, venho correndo para cá. Preciso que confie em mim.Você confia?
Elisa sentiu uma esperança renovada com aquela declaração. Aquele abraço, aquela voz, mexendo com todos os seus sentidos.Sentiu novamente uma onda de desejo , difícil de conter. Ela precisava acreditar nele.
_ Eu confio - falou, aconchegando-se um pouco mais entre aquelas coxas e aqueles braços, firmes como rocha, que a envolviam, fazendo-o apertar um pouco mais seus seios. Pensou em falar que o amava, mas não quis pressioná-lo. Não era mulher de ficar chantageando emocionalmente alguém. O que tivesse de ser, seria... Ela já devia estar preparada para isso. Ela tinha tido a sua noite inesquecível, ou melhor, ainda estava tendo. Ela não acabaria ali, não. Pensando assim, virou-se para ele e disse:
_ Bom, você tem ainda, pelo menos 1 dia aqui, não? Então temos de aproveitar bem - e beijou-o, apaixonadamente, já o envolvendo num abraço e partindo para novas carícias.
_ Você tem razão. Não podemos perder muito tempo - disse, imediatamente substituindo a expressão de pesar de antes por um largo sorriso, e já respondendo animadamente aos carinhos de Elisa. Mais uma vez amaram-se como nunca, prolongando o prazer de estarem juntos, por toda noite. Depois de tudo, exaustos, adormeceram, entrelaçados e felizes.
O dia amanheceu. A chuva havia parado e havia uma densa neblina. Para quem conhecesse o Malacára, saberia que em, pouco tempo, um lindo dia de sol estaria escancarado. Elisa acordou, preguiçosa, e ficou olhando para Jim, deitado ao seu lado, adormecido. Sentiu uma ternura tão grande por ele. Ia ser duro vê-lo partir tão cedo. A vontade de chorar voltou e, desta vez não conseguiu represar as lágrimas. Quando ia levantar-se da cama, sentiu as mãos de Jim puxando-a. Ficou sobre ela, prendendo-a contra seu peito.
_ Onde a senhora pensa que vai? - perguntou brincalhão. Aí ele percebeu o choro silencioso. Olhou-a comovido e passou a beijar o seu rosto, secando suas lágrimas com a boca.
_ Não chore , meu bem. Já lhe disse que volto. Se você continuar assim, quem vai chorar, daqui a pouco, sou eu. Se você não sabia, fique sabendo que eu sou meio chorão.
Elisa começou a rir.
_ Você tem razão. Eu tinha prometido a mim mesma de não fazer este papelão. Já passou. Olha, eu vou levantar, me arrumar e ver como estão os preparativos para o passeio às cachoeiras. Você vai?
_ Eu estava pensando em ficar com você. Só com você. O que sugere? - falou em tom provocante.
_ Tive uma idéia! Se você quiser ficar aqui mais um pouco, vou orientar os rapazes para onde levar o grupo, ver com Alaor se temos algum problema a resolver. Depois, volto aqui e podemos ir tomar café juntos. Aí, te conto a minha idéia e você vê se concorda ou não. O que acha?
_ Se a idéia for interessante como foi a da noite passada, estou dentro - falou, sussurrando em seu ouvido, sorrindo maliciosamente.
_ Assanhado! Pode ser. Depois te conto.
Agilmente, Elisa inverteu a posição em que estavam, ficando sobre ele, prendendo seus braços e, aproximando os lábios daquela boca deliciosamente sexy, deu-lhe um beijo ardente. Quando sentiu que o corpo de Jim começava a reagir, de um salto levantou-se, rindo, deixando-o com ar decepcionado e um meio sorriso.
_ Não demora.
Com energia renovada, Elisa arrumou-se rapidamente e, jogando um beijo de longe para Jim, saiu quase correndo em direção a sede.
Marlene já estava lá, arrumando os pães e os bolos na bancada, para o café. Ao ver Elisa, não pode deixar de fazer o comentário:
_ Parece que a noite foi muito boa. Está bem disposta e radiante. Foi só um bom sono relaxante ou teve mais alguma coisa? Eu nunca tinha te visto assim, desde que vim trabalhar aqui.
_ Ora, Marlene, não exagera. Uma chuva sempre é boa para se dormir melhor, você não acha? - disse tentando esconder o sorriso.
_ Chuva, é? Tá bom! Conta outra. Esse sorrisinho eu conheço . Já vi várias vezes no espelho lá de casa, depois de uma noitada boa com o maridão.
Elisa caiu na risada, vendo o jeito de Marlene falar.
_ Marlene, não seja maldosa. Você é muito metida.Vá cuidar da sua cozinha!
_ Pode deixar que eu vou.
E saiu, com um sorriso desconfiado.
As pessoas começaram a aparecer para o café, aos poucos. Primeiro foi o Sr. Neil e seu assistente. Logo em seguida, surgiram o Sr. Cameron e a Sra.Dawnson. Elisa cumprimentou-os. Perguntou por Michele, ao que Mary respondeu que a filha tinha ido dormir ás altas horas e, provavelmente viria mais tarde para tomar café.
_ Ela não vai ao passeio de hoje?
_ Parece que não. Resolveu ficar aqui pela pousada.
_ Está certo, então. Serão só três para o passeio. Vou falar com o Alex para que ele vá de guia. Hoje eu não poderei acompanhá-los. Tenho alguns problemas a resolver - mentiu.
_ Quem mais não vai ao passeio? - perguntou Cameron curioso. Elisa percebeu que tinha falado demais. Tentou imaginar como sairia daquela "saia justa".
_ Alguém mais desistiu? O Jim? Ele não está aqui - perguntou Joel mais uma vez.
_ O senhor Hewitt me disse que talvez não pudesse ir com vocês hoje. Podemos esperá-lo para ver - falou, achando que estava se enrolando cada vez mais.
Neste momento, Jim apareceu na soleira da porta de entrada.
_ Estão falando de mim?
_ Ei, Jim! Bom dia! - saudou Neil - A senhorita Elisa estava nos dizendo que talvez você não vá passear conosco hoje. É verdade?
_ É. Eu estou esperando um telefonema do meu agente em Londres. Talvez eu tenha de voltar para lá antes do esperado.
Novamente a tristeza tomou conta de sua voz.
_ Mas que pena. Ainda bem que já pôde conhecer uma boa parte dos locais em que filmaremos, ao final deste ano.
Elisa pensou: “Só no final do ano?? Vou morrer de saudades. Mas, pelo menos tenho certeza que ele voltará. Quase certeza...".
Jim pareceu ter percebido o olhar perdido de Elisa e falou:
_ Talvez eu volte bem antes de iniciarem as filmagens. Gostei muito daqui - e seu olhar se cruzou com o de Elisa, sorridente.
Após alguns instantes de silêncio constrangedor, pois todos notaram qual o real interesse de Jim naquele lugar, Alaor entrou, vindo da rua, para alívio de Elisa, que poderia mudar o motivo da conversa.
_ Bom dia para todos! - saudou.
Elisa pode escutar, atrás de si, o resmungo baixo de Marlene, que também estava na sala , servindo o café:
_ Mais um que teve uma “ótima noite de sono".
Elisa teve de controlar o riso."Essa Marlene".
Enquanto o pessoal terminava o seu café da manhã, Alex chegou. Elisa cumprimentou-o e pediu que fossem para o escritório, pois precisava falar com ele. Após uma rápida conversa, Alex foi preparar sua mochila e ver se os lanches estavam prontos. Chegou a vez de Elisa chamar Alaor para conversar.
_ Alaor, temos que fazer alguma coisa com relação a senhora Dawnson. A coitada está ficando isolada dentro da pousada. Que tal pedir para o Ricardo levá-la para um passeio de carro pela região? A Michele pode ir junto.
_ É. Também acho que a coitada fica mal, assim sem fazer nada. Ela diz que não sente mais dor alguma no tornozelo. Talvez uma ida ao Cânion dos Índios, onde a caminhada é curta, sem grandes obstáculos? Acho que vou ligar para o Dr. Melo e perguntar se ele a libera
_ Ótimo! Grande idéia! Ao menos ela pode ter uma idéia geral dos cânions vistos de cima, não? Se o Dr. Melo a liberar, providencie o passeio com o Ricardo.
_ E você? Vai sair? Com o Jim? - disse parecendo estar preocupado.
_ Vou. Talvez... Porque a preocupação?
_ Nada. Não quero me meter. Se cuida, tá?
_ Você também, com a Michele - falou, sorrindo.
Voltaram para o salão, onde os três amigos, animados, já se despediam e partiam para sua nova aventura.
_ Cuidem-se e bom passeio! - recomendou Elisa.
Assim que todos saíram, Elisa foi sentar-se ao lado de Jim na mesa onde ele a aguardava para tomar café.
_ E, então? Agora que já deu as ordens para seus comandados, quais as ordens para mim? - disse baixinho, com um sorrisinho nos lábios.
_ Primeiro vamos comer alguma coisa. Estou faminta. Você, não?
_ Completamente.
_ Depois, eu estava pensando em ir até uma cachoeira que fica aqui perto. A Cachoeira do Holandês.Ela é linda, tem uma piscina natural, maior que a da Onça e fica isolada. Já orientei o Alex a não aparecer por lá hoje. Teríamos ela todinha só para nós.O que você acha?
_ Já gostei do fato de ela ser "todinha só para nós".Você está se saindo muito bem no quesito " idéias interessantes" - falou, com malícia no olhar.
Elisa não conseguiu disfarçar o rubor nas maçãs do rosto, ao que ele sorriu, divertindo-se com o pudor demonstrado por ela.
_ Assim você me deixa sem jeito. Se quiser, vou trabalhar e você fica esperando o telefonema do seu agente.
_ Não precisa ficar brabinha. Adorei a sua idéia...Precisa levar trajes de banho? - e caiu na risada.
_ Jim!!! - tentou manter o tom de voz baixo, mas não pode conter o riso. Adorava este jeito brincalhão dele, mesmo quando a deixava envergonhada.
_ Li! - chamou Alaor.
_ Lá vem ele... - disse Jim "entre os dentes".
_ Falei com o Dr. Melo e ele liberou a senhora Dawnson. Ela já foi arrumar-se para a saída, feliz da vida. O Ricardo já foi avisado e logo estará aqui.
_ Que ótimo! Pode pegar as chaves da Pajero. Eu vou sair à pé. Ele pode usá-la para levar a Sra. Dawnson no passeio. A srta. Michele vai também?
_Não! Vou aproveitar para descansar um pouco mais, aqui mesmo, fazendo companhia ao Alaor - falou Michele, em alto e bom som.
"Mas que ouvido, não?", pensou Elisa.
_ O passeio é muito bonito. Tem certeza de que não quer ir? - perguntou Alaor, todo sorridente.
_ Tenho, meu querido. Acho que aqui vai estar muito mais interessante.
"Como uma mulher podia ser tão oferecida? Bem, não posso criticá-la. Pelo menos ela deixa bem claro, enquanto eu, fico me esgueirando", refletiu Elisa.
Ela quase ofereceu um guardanapo para Alaor limpar a baba, tal o olhar de bobo que fez ao ouvir a afirmação de Michele.
Assim, com tudo resolvido, Elisa e Jim foram aprontar-se para a caminhada até a cachoeira. Encontraram-se cerca de quinze minutos depois, na entrada da pousada.
O calor voltara e o sol já começara a surgir por trás da neblina, que ia desfazendo-se aos poucos. Saíram na direção do rio Malacára, que passava nos fundos da casa. Iam conversando, animadamente, sobre os projetos de filmes que Jim tinha agendados. Realmente estava cheio de compromissos. Por um lado, era bom. Por outro...
Andavam sobre as pedras do leito do rio. Elisa explicou que, há cerca de 1 ano, havia ocorrido uma grande tempestade, com fortes ventos, que haviam provocado o desmoronamento de vários pontos dos paredões. As pedras acabaram por rolar para o leito do rio, que acabou por diminuir suas margens, ficando quase seco em alguns locais. Isto acontecia ciclicamente, mudando a paisagem, ano a ano. Era a natureza em ação.
Finalmente, depois de mais ou menos 1 hora de caminhada, chegaram à cascata do Holandês. Jim quis saber o motivo do nome, mas Elisa disse que contaria depois.
Os jatos de água despencavam com força do alto , como duchas geladas naturais. A piscina que se formava abaixo estava cheia e muito convidativa.
_ E então? Vamos tomar um banho ? - perguntou Elisa, com um sorriso tentador.
_ Não precisa convidar outra vez - disse ele aproximando-se dela e começando a abraçá-la carinhosamente.
Aos poucos, suas mãos foram encarregando-se de despi-la, lentamente. Elisa curtia aquele momento, sentindo um prazer imenso àquele toque. O calor se espalhava por seu corpo. Quando sentiu que já não restava peça alguma de roupa, passou a retribuir o favor. Logo, estavam nus, misturando-se, entrelaçando-se bocas, mãos, coxas... Sob a cachoeira, o prazer aumentando, fluindo como a força das águas. Os gemidos confundiam-se com o barulho das corredeiras que caíam sobre eles. O tempo havia parado. Nada importava. No meio das insaciáveis carícias, Elisa levou-o para dentro da piscina. Sentia seu membro rijo encostando-se em seu ventre. Já não agüentava mais segurar a vontade de senti-lo dentro dela. Então, enroscou-se em seu quadril , passando as pernas em torno de sua cintura, tentando o encaixe perfeito. Sentia-se, literalmente, flutuando. Jim a segurou pela cintura, arremetendo-se contra seu púbis até penetrá-la, provocando gemidos suspirosos e crescentes. O êxtase chegou para os dois numa onda deliciosa de espasmos múltiplos, que foram diminuindo até o relaxamento total.
Após algum tempo descansando ao sabor das águas, Jim falou:
_ Vou sentir a sua falta, sabia?
_ Vai mesmo? A sua vida é tão mais interessante que a minha, cercado por atrizes lindas, festas, lugares diferentes no mundo, as fãs.
_ Pois eu, vou preocupado em deixar você aqui no meio deste bando de homens, se aventurando por aí, no meio do mato, rios e montanhas.
_ Deixa de ser bobo - falou, segurando o seu queixo e dando-lhe um beijo na boca.
_ Acho melhor sairmos daqui, antes de murcharmos totalmente - falou rindo - Além do mais, você está esperando o telefonema do seu agente - tentando se fazer de forte, apesar de estar em pedaços por dentro.
Vestiram-se e pegaram o caminho de volta. Foram conversando banalidades, tentando evitar o assunto da separação.
_ Você não me contou, ainda, o motivo do nome desta cachoeira.
_ Ah! Não quis contar porque o motivo é meio triste. Há alguns anos atrás um turista holandês veio conhecer esta cachoeira com um grupo guiado, durante a manhã. À tardinha, quando estavam todos acomodados a espera do jantar, ele saiu sem avisar, sozinho, e voltou até lá. No dia seguinte deram pela falta dele e iniciaram as buscas. Ele foi encontrado morto. Havia caído do alto da cascata. Até hoje não se sabe se foi acidente ou suicídio. Contam que ele era um sujeito muito estranho. Não era de conversar e estava sempre isolado do grande grupo. Enfim. Acabaram colocando o nome de Holandês à cachoeira. Foi isso. Satisfeito?
_ E você, me leva num lugar destes, para abusar de mim? - disse rindo e já a puxando contra si.
_ Ah! Mas o lugar é lindo e o fantasma dele nunca apareceu por lá... Pára de fazer cócegas, ahahahah! Pára!
Ele parou e beijou-a ternamente, sendo plenamente correspondido.
_ É melhor a gente ir andando, antes que eu perca a cabeça de novo - ela falou, afastando-o suavemente, tentando abafar a vontade de jogar-se naqueles braços e entregar-se mais uma vez.
Finalmente chegaram à pousada. Elisa pediu que Marlene preparasse uma salada especial para o almoço deles.
Neste momento , Alaor apareceu.
_ Jim! O seu agente ligou. Como você não estava, dei o nosso email para ele. Já chegou um mensagem para você. Quer ver?
_ Ah! Sim, claro. Por favor!
Lançou um olhar para ver como Elisa estava reagindo e foi ao escritório seguindo Alaor.
Elisa resolveu sair para arrumar-se em sua cabana, antes do almoço. Aproveitou isto como desculpa para que ele não visse seus olhos cheios de lágrimas.
Em 20 minutos, voltou, já refeita e arrumada. Jim já a esperava, olhando-a com intensidade, tentando descobrir o que se passava naquele coração.
Sentaram-se à mesa, já servida, com uma bela salada verde com lascas de peito de frango grelhado e queijo parmesão.
_ Você está bem?
_ Porquê? A minha cara está tão ruim assim?
_ Mais ou menos.
Ele pegou na mão dela, que estremeceu àquele toque macio.
"Aquele perfume, aqueles olhos, aquela boca. Estou perdida. Será que vou agüentar? Estou sentindo minhas forças se esvaírem. Ah, meu amor..."
_ O que o seu agente mandou dizer? – conseguiu forças para fazer a pergunta.
_ Ele conseguiu um vôo para São Paulo hoje à noite. Amanhã pego o vôo para Londres bem cedo.
_ Hoje??? Tão ...Desculpe... Eu esperava que você partisse só amanhã. Fazer o quê, não é mesmo?
Sentiu os olhos marejarem de novo. Jim apertou sua mão com força.
_ Nós ainda temos a tarde para ficarmos juntos. Terei de sair daqui em torno das 18 horas, para chegar a tempo de pegar o avião às 23 horas. Você me ajuda a fazer a mala? - perguntou com um meio sorriso e uma pontinha de malicia na voz.
_ Claro, ajudo sim.
Tentaria ficar o maior tempo possível perto dele antes de despedir-se. Terminaram o almoço.
_ Vem cá... Vamos lá para o meu quarto?
_ Será que não vai pegar mal? - disse, falsamente preocupada com a opinião dos outros.
_ Olha, provavelmente toda a pousada já sabe de nós. É só ver o olhar da sua cozinheira, que me olha como se fosse me cozinhar vivo numa frigideira.
_ Tá bom! Vamos lá... arrumar a sua mala.
Elisa conseguiu esboçar um sorriso, prevendo o que aconteceria naquele quarto.
Saíram abraçados, sem se importar com as aparências.
Realmente, arrumaram a mala de Jim, que não tinha muito o que ajeitar. Ele havia levado pouca roupa. Assim, puderam aproveitar o resto do tempo trocando beijos e intimidades.
Em torno das 17:30h, ouviram uma batida na porta. Era Alaor, para avisar que o carro estava pronto para a viagem.
_ Bem, está chegando a hora - Elisa tentava manter a calma.
_ Tenho que me despedir do resto do pessoal. Quer me esperar aqui? Eu me despeço e volto para pegar a mala - Ele também não conseguia disfarçar a tristeza.
_ Está bem. Eu te espero.
Estavam todos reunidos no salão. Tinham chegado do cânion e acabavam de tomar o café da tarde. Animados com o passeio daquele dia, despediram-se efusivamente de Jim, lamentando a sua ida prematura, mas já combinando novos contatos antes das filmagens no final do ano.
Voltou ao seu apartamento. Quando Elisa o viu entrar, jogou-se em seus braços, tentando sorrir. Ele a abraçou com força e cobriu seu rosto com beijos.
_ Pode me esperar que eu volto. É uma promessa... Assim que eu conseguir me desembaraçar dos compromissos - falou olhando dentro de seus olhos, muito sério.
_ Espero sim. Não se preocupe comigo. Vou ficar bem. Tenho o meu trabalho. Se puder, me liga, tá?
Ela sentia o coração disparar aflito. A boca seca, trêmula, segurando o choro. Então, Jim aproximou seus lábios e deu-lhe um beijo na boca, profundo, quente, úmido, demorado e delicioso.
_ É melhor você ir, senão pode perder o avião. Eu vou ficar aqui. Não vou agüentar ficar junto com os outros na despedida. Você entende, não?
_ Claro. Eu vou indo, então. Até a volta...
Abraçaram-se e beijaram-se mais uma vez. Jim pegou sua mala e abriu a porta. Elisa teve de empurrá-lo para fora, tentando brincar:
_ Vai logo, senão eu vou ter um enfarte. Vai!
Ele sorriu meio sem graça e lhe deu as costas, em direção à saída. Ela fechou a porta. Aí pode extravasar tudo que estava sentindo, controlando para que o choro não fosse ouvido do lado de fora do quarto. Ouviu as vozes despedindo-se e o barulho do motor partindo.
Não saberia dizer quanto tempo ficou ali, depois que ele se foi.
Ouviu uma batida de leve, na porta. Foi ver quem era. Marlene estava do outro lado.
_ Oh, minha querida. Posso entrar?
_ Pode.
_ Sei que não devia me meter, mas sabe que gosto de você como uma filha. Não quero que fique triste. Nenhum homem merece isso.
_ Pois é, Marlene. Mas ele é tão maravilhoso. De qualquer jeito, foi muito bom. Vou guardar ótimas lembranças. Não precisa se preocupar comigo. Isto vai passar. Acredite.
_ Pode contar comigo, viu? Se quiser conversar.
_ Obrigada. Pode deixar que me aprumo de novo.
Depois desta conversa, Elisa, já refeita, externamente, foi para a cozinha, ver como estava o andamento do jantar.
"Ao trabalho. A vida tem de seguir " – pensou.
Os dias se passavam mais lentamente. Elisa andava mais distraída que o normal. Cada vez que o telefone tocava, seu coração se agitava, esperando que a voz de Jim viesse aquecê-lo do outro lado da linha. Mas, não. "Ele deve andar muito ocupado. Pode ser que estejam filmando em algum lugar longe de recursos. Pára de pensar nele, Elisa! Controle-se!"
Chegou o dia em que o resto da equipe ia partir. Nem tinha notado o ar triste de Alaor no dia anterior. Só se deu conta disso, quando o pegou aos beijos e abraços com Michele, uma hora antes da partida.
Emocionou-se com os agradecimentos de todos. Tinham gostado imensamente da pousada, do lugar e das pessoas que encontraram ali. Logo entrariam em contato para combinar a volta para as filmagens.
Partiram. Uma sensação de vazio pareceu tomar conta do salão. Ficaram Elisa e Alaor a se olharem. Olhos tristes, corações partidos. Depois de algum tempo, Elisa resolveu falar:
_ Pois é, meu amigo. Voltamos a ficar sozinhos. Não tinha idéia que você e a Michele estavam tão íntimos.
_ Você também estava tão ocupada com o Jim - falou, com um sorriso amarelo nos lábios.
_ Esta visita dos americanos acabou nos deixando ligeiramente arrasados, não? Mas acho que a gente se recupera. A Michele ficou de voltar ou ligar?
_ Ela estava pensando em mudar-se para o Brasil. Disse que ia pesquisar se havia possibilidade de trazer parte de sua produtora para cá. Imagina! Ela é meio maluquinha... Acho que estava tentando ser gentil comigo. Quem sabe? E o Jim?
_ Ficou de voltar, sabe-se lá, quando. O jeito é a gente ir tocando o nosso negócio e não pensar muito sobre isso. O que você acha? - tentava animá-lo um pouco.
_ Você tem razão. Vamos trabalhar! Por falar nisso, hoje à tarde devem chegar novos hóspedes. Parecem que são do Nordeste. Tem também um casal em lua-de-mel. Pediram para reservar a suíte maior.
Novos hóspedes, novas caras, novas histórias.
Os dias continuaram passando. Os corações já não se agitavam tanto ao som do telefone.
Um mês se passou. As esperanças diminuíam a cada dia. O desapontamento e a tristeza também. O trabalho e o grande fluxo de novos visitantes serviam para ocupar nossas mentes e acalmar nossos corações.
O Outono estava chegando. O movimento diminuira um pouco. A baixa temporada se iniciava.
Numa certa manhã, o telefone toca. Alaor atende, ainda com uma pontinha de esperança. Elisa, já na porta do escritório, curiosa para saber quem era. Ao desligar, diz:
_ Parece que teremos um casal vindo de São Paulo, amanhã. Foi a agência de turismo que ligou para avisar. Parece que vão ficar alguns dias. Ficaram de confirmar amanhã.
_ Está bem. Por enquanto só estes?
_ É. Por enquanto.
No dia seguinte, Ricardo saiu com a van, bem cedo, para buscar o casal no aeroporto. Ela estava no escritório, revendo suas contas e contatos com fornecedores. Ouviu o ronco do motor da van. "Alaor já deve estar lá para recebê-los. Depois eu vou" - pensou distraidamente.
Sentiu a aproximação de alguém, às suas costas.
_ E aí, Alaor? Chegaram bem? Já vou lá para cumprimentá-los...
_ Você continua falando sem olhar antes - falou uma conhecida voz ,com sotaque escocês, quase dentro de seu ouvido. Elisa pulou da cadeira, quase caindo ao chão. Foi segura pelos braços de Jim, que a envolveu num abraço cheio de calor, seguido de um beijo de tirar o fôlego. Ela tinha a sensação de que ia explodir de alegria.
_ Desculpe, não ter ligado, nem dado notícias este tempo todo, mas é que surgiram novos compromissos e filmagens. Perdão! Sei que não tem desculpa. Olha, eu não conseguia te tirar da minha cabeça. A minha vontade era largar tudo e vir correndo. Assim que deu uma brecha naquela loucura toda, voei para cá.
Elisa mal conseguia falar. Não conseguia tirar os olhos daquele rosto tão amado, de seus olhos verdes. Não conseguia sentir mágoa pelos quase dois meses que ficara sem notícias.... O que importava era que ele estava ali. Palpável, presente.
_ Ah, meu amor! Nem acredito que você está aqui de novo. Fiquei preocupada, sem notícias. Já não tinha mais esperanças da sua volta.
_ Li, nós temos muito que conversar.
_ Depois, depois. Agora só quero te beijar , muito...
De repente, lembrou-se. Um casal...
_ Com quem você veio? Disseram que era um casal.
Sentiu um medo arrasador apossando-se do seu pensamento. "Ele trouxe outra mulher para cá?".
_ Não precisa ficar com este olhar de desespero - Jim falava em tom alegre.
_ Oi, querida! Sou eu.
_Michele???
Elisa quase caiu para trás. Logo, surgiu Alaor, com o melhor sorriso estampado no rosto.
_ Li, Michele está de muda para o Brasil! Imagine!
_ Pois é. Esse bonitão aqui tirou o meu sossego. Minha mãe não via a hora de me despachar para cá. Consegui ótimos contatos com os cineastas daqui e estou vindo com minha produtora para me estabelecer em São Paulo. Pelo menos vou estar mais perto do meu amorzinho... Se ele ainda me quiser, é claro. Alaor não conseguia disfarçar a alegria em ter Michele ali, ao seu lado.
_ Bem, vamos lá! Vamos acomodá-los.
_ Posso ficar com você, na cabana? - Jim sussurrou no seu ouvido, fazendo-a arrepiar-se.
_ Não pensava em outra coisa.
Alaor acomodou Michele num dos apartamentos da pousada, enquanto Jim seguiu com Elisa para a cabana.
Ao chegarem lá, ele fechou a porta e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a abraçou com ardor, tentando matar a saudade .
_Li, eu te amo. Não sei como consegui ficar tanto tempo longe de você. Preciso saber se você ainda me quer. Não tenho muito tempo aqui. Alguns dias. Quero que você volte comigo. O que você me diz? - ele falava ansioso, devorando-a com os olhos. Olhos apaixonados.
_ Jim... eu não sei o que dizer. É tão inesperado.Eu acho que passei estas semanas todas esperando para ouvir alguma coisa assim, e agora ...
Custava a acreditar nas palavras dele. Parecia um sonho. Tinha medo de acordar...
_ Sim ou não?
Aqueles olhos. Como não acreditar naquela paixão.
_ Eu também te amo muito, Jim. A gente dá um jeito. Estou para tirar férias há muito tempo. Vamos encontrar alguma maneira de combinar a vida da gente. Você tem certeza mesmo, do que está me dizendo? - perguntou, ainda temerosa da realidade que se apresentava.
_ Só uma vez tive tanta certeza de uma escolha, como agora. Foi quando escolhi a carreira de ator. E deu certo. Portanto, não tenho nenhuma dúvida. Acho que você vai ter que me agüentar por muito, muito tempo. Será que você suporta isso? - falou com aqueles olhos faiscando, cheio de segundas intenções.
_ Claro que eu agüento.
Dizendo isto, agarrou-se ao seu pescoço e beijou-lhe a boca, já sentindo o calor subindo , o desejo acumulado naquelas semanas de espera, pronto para ser extravasado. Sentia que, de agora em diante, começava um novo tempo em sua vida. Tempo de compartilhar com alguém todos as suas alegrias e tristezas, com muito amor. Ela não estava mais sozinha.
FIM
Gostaram? Espero que sim. No próximo mês colocarei um novo conto. Até lá, pretendo ir fazendo algumas melhorias no blog. Como sou iniciante nesta aventura, peço paciência a vocês.
Até mais!
Rosane
Oiê! Desculpe entrar assim de xereta no seu blog, mas qdo vi o endereço na página da Pati Regina, não resisti... Essa curiosidade ainda me mata! Mas, não me arrependo nem um pouquinho, pq essa nova fica está demais! Amei! Olha, eu já disse e repito: pra mim, vc é a Nora Roberts brasileira! Espero que tenha muita sorte e consiga tudo que deseja. Pode estar certa que voltarei aqui muuuuitas vezes! Adorei!! Parabéns, minha linda! Bjinhos.
ResponderExcluirCarel disse:
ResponderExcluirOi Ro!! Fiquei bem feliz que tu criou esse blog pra divulgar mais tuas fics, que são ótimas... Posso dar uma sugestão? Como tu tens um monte de fics pronta, pque não posta essas pra o pessoal te conhecer mesmo... conhecer teu talento... e ai sim, qdo estiver tudo ok tu posta um conto por mes... mas é só uma sugestão...
Bjkas e parabéns pelo blog
Rosane,
ResponderExcluirAdorei este romance, adorei a Elisa, engraçada, estabanada, competente e sonhadora!
Já tenho uma paixão violente pelo Rio Grande do Sul, agora lascou-se, não posso deixar de conhecer este estado maravilhoso, ainda mais com essas paisagens maravilhosas que você tão apaixonadamente descreveu, são lindas mesmo, e fui procurá-las para melhor visualizar a história!
Meu Deus, fico imaginando nosso lorde nessas paisagens, uau que coisa de louco!
Amei Ro! Amei muito! Parabéns!
Ro miga pena q ñ tem a opção exelente na votação abaixo. Magnifico se esse é só o inicio de muitos outros contos nem consigo imaginar o que está por vir.(aguenta coração)
ResponderExcluirDigno de aplausos de pé minha querida
P A R A B É N S!!!
PS: Obrigada por nós proporcionar e dividir esse seu talento romântico.
Bjkas.
OMG!!!
ResponderExcluirEstou sem ar...
Mas esse Jim me lembra alguem...
Ah lembrei...
Gerry!!!!
Me abana q eu to sem ar...
vo mudar minha tipica frase agora...
Ai que inveja da Elisa!!!
bjs
Oi, Rô! Linda história, me lembrou Danielle Steel,acho que é assim que se escreve o nome dela.Parabéns!Bjos
ResponderExcluirOi, Cacá! Fiquei muito feliz com o teu comentário, principalmente por ter sido feito sobre esse conto, que foi um dos primeiros que escrevi. Também adorei a comparação com Daniele Steel. Na verdade, só li um livro dela, no início deste ano, mas gostei muito do estilo dela, por isso agradeço. Espero que retornes mais vezes,leia meus outros romances e deixe comentado o que achaste.
ExcluirUm beijo!